A Província do Espírito Santo
Vitória, 11 de maio de 1883
Notas do dia
Última palavra. Dissemos ontem, em nossa crônica dos jornais, que de todas as agressões feitas na assembleia e na imprensa aos atos do Dr. Chefe de Polícia na questão Pissarra, o único lado digno de contestação é a insinuação de sua parcialidade no modo de proceder contra liberais e conservadores.
Entretanto, apesar de que nenhum dos fatos arguidos a liberais tem a gravidade daquele que tanto se tem comentado, podemos asseverar que, em todos os casos denunciados na assembleia, aquela autoridade agiu com a mesma energia e hombridade, mandando fazer corpo de delito sempre que lhe chegava a notícia de algum acontecimento dessa ordem; e asseveramos ainda que na secretaria da polícia existem todos os papéis e documentos relativos às diligências realizadas, do que melhor poderá informar-se quem interessar, requerendo as certidões precisas.
Um só dos fatos arguidos tinha alcance idêntico ao que atribuíram ao Major Pissarra: é o da castração de um escravo, que segundo o jornal que o noticiou, deu-se na freguesia de Santa Leopoldina.
Estava na administração da polícia então o Sr. Dr. Epaminondas de Gouvêa, justamente considerado um magistrado probo; procederam-se às averiguações indispensáveis, ordenando-se às autoridades que investigassem o ocorrido, e em 6 de dezembro de 1881, enviou-se ofício à presidência da província remetendo-lhe as informações colhidas, das quais se depreendia a inverdade do pedido do Espírito Santense de 5 de novembro daquele ano.
As partes oficiais da polícia que publicamos diariamente testemunham o zelo com que o honrado Dr. Pitanga atende e providencia sobre todas as reclamações editoriais e inéditas das folhas da capital.
No fato, por exemplo, do Capitão Meirelles, com que tanto têm argumentado os conservadores, o digno funcionário fez efetuar o exame legal, no qual os peritos João Aguirre e Dr. Goulart declararam legítimos os ferimentos, moderados, como se exigia, avaliando o dano em 12; e, se havia ali mais que o suficiente para oferecer à justiça, desde que o senhor estava dentro da lei, e o Dr. Promotor Público mandou arquivar os papéis.
Apontem um só caso em que essa autoridade houvesse claudicado dos seus deveres, e então dar-lhes-emos motivos de clamar porque na questão Pissarra o honesto cidadão não recuou, em respeito à sua toga, diante da ideia de chamar à sua presença um potentado da localidade, cuja inocência absoluta ou cuja criminalidade efetiva só no decorrer do processo poderiam ser acentuadas.
Deixamos, portanto, aqui consignado que essa evasiva invocada, da parcialidade do ilustrado Dr. Pitanga quando se trata de liberais, não passa de uma ideia mesquinha e ridícula, contrária aos fatos e reveladora da desconfiança com que os adversários olham para si, sem argumentos na questão Pissarra, procurando neste atacar a memória do infeliz indiciado.
Jornal "A Província do Espirito-Santo", periódico fundado por Cleto Nunes Pereira e José de Mello Carvalho Muniz Freire.