As avaliações formativas são aquelas checagens menores de compreensão que fazemos ao longo de uma unidade de ensino. Por exemplo: passei algumas semanas trabalhando um determinado tema, então provavelmente eu vou aplicar duas ou três avaliações formativas ao longo desse período — talvez um quiz, um Kahoot (ou Blooket, como meus alunos preferem), uma autoavaliação ou um simples bilhete de saída (exit ticket) — para ter uma ideia de como os alunos estão progredindo.
Esse tipo de avaliação é um recurso poderoso, mas vejo muita gente cometer um erro básico após avaliações formativas — e que, sinceramente, eu mesmo já cometi várias vezes: tratamos essas avaliações como se fossem tarefas tradicionais e esquecemos delas - ou, em outras realidades que não a minha, viram notas para o boletim. O aluno fez, recebeu uma nota, seguimos adiante. Mas… será que esse é mesmo o papel da avaliação formativa?
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A essência da avaliação formativa não está em gerar uma nota, e sim em oferecer um retrato rápido da compreensão dos alunos, para que possamos ajustar nossa prática. Em outras palavras: ela é um instrumento para o professor, não um instrumento de classificação.
O maior erro: não fazer nada com os resultados
O erro ainda mais grave, no entanto, é não fazer nada com os resultados. Imagine a seguinte cena: ao final da aula, aplico um exit ticket para verificar se os alunos entenderam determinado conceito ou ponto gramatical. Ao corrigir, percebo que um terço da turma não demonstrou domínio suficiente. Mesmo assim, sigo com o planejamento do dia seguinte como se nada tivesse acontecido. Quem nunca?
Quando fazemos isso, a avaliação formativa perde completamente o sentido e serviu de nada.
O verdadeiro poder dessas avaliações está em informar nossas próximas ações pedagógicas. Se identifico que uma parte significativa dos alunos está com dificuldades, minha próxima decisão precisa ser intencional: retomar o conteúdo, oferecer uma explicação alternativa, propor uma atividade diferente ou, quem sabe, reunir esses alunos para um atendimento em grupo reduzido ou até um encontro individual.
Planejar a resposta com antecedência
O ideal é que essa resposta não seja improvisada, mas planejada. Se sei que, ao aplicar determinado quiz, existe a possibilidade de alguns alunos não atingirem os objetivos, já [idealmente] preparo, com antecedência, materiais ou estratégias de apoio: um vídeo explicativo, uma nova atividade prática, atividades extras no Google Classroom ou uma conversa individual para diagnosticar o que está atrapalhando o aprendizado.
Há um ano, tive uma aluna que, quase reprovou o semestre anterior porque, ao fazer atividades de listening, ela errava tudo. Conversando com ela, entendi que ela percebia os audios como os adultos do Charlie Brown.
Montei para ela, avisando aos pais, uma bateria de exercícios de listening, no Google Classroom, com atividades de Cambridge Learning. No fim do semestre, ela estava conseguindo passar com notas até decentes. Hoje, quando encontro com ela pelos corredores da escola, ela fala aponta para mim e diz para as colegas “esse teacher salvou a minha vida!”
Fica a lição de que muitas vezes não precisamos de uma intervenção grandiosa. Uma breve conferência, uma escuta atenta ou algumas perguntas direcionadas podem revelar rapidamente a origem do equívoco ou da dificuldade.
E depois? Verifique se funcionou
Depois de oferecer essa intervenção, é essencial verificar se ela surtiu efeito. Não estou dizendo que devemos aplicar uma nova prova formal — basta uma checagem rápida: uma pergunta oral, uma atividade em dupla, ou mesmo observar se, na sequência da aula, os alunos estão aplicando corretamente aquele conceito que tinha dado dificuldades.
Esse ciclo — avaliar, intervir, avaliar — deveria ser o motor da nossa prática pedagógica. É ele que transforma a avaliação formativa em um verdadeiro instrumento de aprendizagem.
Em sala de aula: o que você pode fazer já?
* Use quizzes ou bilhetes de saída com frequência, mas não se sinta obrigado a transformá-los em nota.
* Ao planejar avaliações formativas, já pense no que fará caso os resultados indiquem dificuldades.
* Reserve tempo para intervenções rápidas e personalizadas.
* Não siga adiante sem checar se os alunos que estavam com dificuldades conseguiram superar seus desafios.
Na pressa do dia a dia, é natural esquecermos esse processo e apenas “cumprirmos o conteúdo”. Mas quando transformamos as avaliações formativas em um momento real de diagnóstico e intervenção, elas deixam de ser um ritual vazio e se tornam uma das ferramentas mais potentes para promover a aprendizagem.
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