O objetivo deste tópico é alertar que mesmo empresas com programas de Compliance implantados podem cometer erros no momento da identificação de um incidente de cunho patrimonial/financeiro ou assédio.
Para ilustrar, trago 04 cases:
1. Furto de produtos em uma fábrica. Indivíduos estavam saindo da fabrica com mochilas cheias de produtos pequenos de fácil transporte.
Decisão da empresa: Demitir apenas um dos indivíduos flagrados e chamar a polícia.
2. Furto de cobre destinados a sucata. Produtos eram retirados em caminhões e até vendidos de forma legal/lítica em comprador na cidade.
Decisão da empresa: Interromper a retirada de material. Tal postura alertou de forma não intencional os envolvidos que cessaram a conduta irregular e ficaram cautelosos.
3. Furto de produtos (líquidos inflamáveis). Os produtos eram retirados em veículos longos e saiam pela portaria.
Decisão da empresa: Demissão prematura de suspeitos (internos e terceirizados).
4. Empresa recebe várias denúncias via canal sobre suposto assédio.
Devido a quantidade de relatos, decide não apurar por completo ouvindo poucas pessoas e desligar o denunciado sem justa causa, alegando mudanças estruturais ou baixa performance. Entretanto, pouco tempo depois a empresa descobre que o indivíduo desligado não agia sozinho, isto é, tinham mais pessoas envolvidas.
Moral da história: Muitas empresas de grande porte com Compliance implantado, podem não tem um olhar adequado para suas filiais, ou seja, o Compliance é corporativo e muitas vezes o Compliance Officer nem conhece todas as filiais ou as visita muito pouco e não deixa uma pessoa treinada para fazer as vezes de Compliance no local. O que ocorre com frequência é a transferência da função para um representante do RH local, do jurídico ou até para o gerente ou diretor da unidade, e tais pessoas não tem preparo e experiência para lidar com casos de fraude ou assédio, por isso, na maioria das vezes tomam decisões precipitadas isoladas ou em conjunto, mas de forma local.
Tal situação me faz lembrar o trecho o livro “O Príncipe” de Nicolau Maquiavel.
Trecho: “Quando se conquistam estados numa região de língua, costumes e leis diferentes, aqui surgem as dificuldades e é necessário ter muita sorte e grande habilidade para mantê-los. E um dos maiores e mais eficazes remédios seria de o conquistador habitar neles. Isto tornaria mais segura e mais duradoura a posse. Isso porque, estando no local, pode-se ver como surgem as desordens e rapidamente reprimi-las. Não estando no local, delas somente se toma conhecimento quando já alastradas e sem solução. Além disso, a província conquistada não é saqueada por teus funcionários”.
“Não devem ter cuidado somente com as desordens presentes, mas também com as futuras, e enfrentar aquelas com toda a habilidade, porque, previstas a tempo, podem ser facilmente remediadas, mas esperando que se aproximem, o remédio não chega a tempo, porquanto a doença já se tornou incurável”.
Abraço a todos e até a próxima!!