No episódio 27 do Podcast Texto Sentido falamos sobre o assunto Sexualidade com um texto de Silvio Carlos Ambrosini, mais conhecido como Sivuca.
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Sexualidade
“O que penso sobre o preconceito contra transexuais, Natura e Tammy Miranda.
Gostaria de ressaltar que embora devesse, iniciei esse texto com um discreto “O que penso…” e não com um “A verdade é…”. Então se você não pensa assim, paciência, né?
Nossa cultura vê o falo como símbolo do modelo masculino, porém um homem não é seu pênis. O gênero não se resume àquilo que está entre as pernas, a genitália. O gênero de uma pessoa é o retrato de uma mente, ou se preferir entender assim, de uma alma. Sendo assim, pessoas que nascem com um sexo e sentem que pertencem, se identificam com este mesmo sexo, como eu e você são pessoas cisgênero. Homens ou mulheres cisgênero, ou apenas cis.
Por outro lado existem aquelas pessoas que sentem que pertencem a um sexo diferente do sexo biológico. Estas pessoas são chamadas transgênero. Isso se chama Identidade Sexual, ou seja, o sexo a qual a pessoa sente que pertence.
Isso pode acontecer tanto com pessoas de um sexo quanto com pessoas do outro. Estas pessoas podem ser homens trans, como Tammy e vários outros, e também podem ser mulheres trans, como a cartunista Laerte, por exemplo. (lembre-se que Laerte transformou-se após os 65 anos de idade).
Quando uma pessoa transgênero decide passar a realmente identificar-se como pertencendo ao outro sexo, essa pessoa passa a ser transexual. Isso pode nunca acontecer, ou acontecer em qualquer fase da vida da pessoa, depende exclusivamente dela, das motivações interiores e exteriores a que esta pessoa está sujeita. Imagine que um número enorme de pessoas trans simplesmente não conseguem sentir-se seguras para assumir seu verdadeiro sexo e não há dúvida que estas pessoas passam por um sofrimento enorme até que esta questão tão grave possa quem sabe um dia, estar finalmente resolvida na vida dela.
A essa altura, o pênis ou a vagina, de fato torna-se um detalhe, afinal você não precisa ver o pênis para identificar um homem na rua e nem ver a vagina para concluir que está diante de uma mulher, basta olhar para a aparência. Homens gostam de se parecer com homens e mulheres sentem-se felizes parecidas com mulheres. É claro que isso não é binário, existem muitas graduações de uma ponta desse fio até o outro.
De fato, o pênis é hipervalorizado pela nossa cultura, e a verdade é que não importa se um homem trans o possui, pois mesmo sem um, ele ainda será um homem, da mesma maneira que se por exemplo, um homem cis sofrer um acidente e ter seu pênis cortado, ele não se transformará em uma mulher, ao contrário, seguirá sendo um homem, porém um homem sem um pênis.
Então, não vem ao caso se Tammy tem ou não pênis, Tammy é um homem trans. Sente-se homem, identifica-se como sendo um homem e ainda por cima é um homem heterossexual, pois casou-se com uma mulher e juntos, tiveram um filho (não vem ao caso de que forma a criança foi gerada, não é mesmo?).
Aproveito o detalhe para lembrar que a Identidade sexual não tem relação com a Preferência Sexual. A preferência é assim como diz o nome, com qual sexo a pessoa prefere se relacionar (ir pra cama). Quem prefere pessoas do outro sexo, como o Tammy (porque Tammy é homem) ou como muitos de vocês, são pessoas heterossexuais. Quem prefere pessoas do mesmo sexo como a Daniela Mercury ou eu ou muitos de nós, são pessoas homossexuais. Isso não tem relação com a identidade sexual. Daniela é uma mulher cisgênero homossexual. Há os homens cisgênero heterossexuais, Tammy é um homem transgênero heterossexual. Eu e muitos, somos homens cisgênero homossexuais.
Como comentei acima, estas pessoas não têm uma vida nada fácil, especialmente em um país machista e pouco culto como o nosso e são facilmente alvo de intolerância, desprezo e violência todos os dias.
Isso é lamentavelmente triste. Em minha opinião, todos os seres humanos são iguais e não cabe a mim ou a ninguém julgar ninguém por acreditar naquilo que sente na parte mais profunda de seu ser.
Transfobia, assim como homofobia, racismo ou qualquer outro tipo de preconceito, é uma merda, um inferno, um câncer que arruína nossa condição de seres humanos sociais e são comportamentos que devem ser insistentemente enfrentados e coibidos.
Não é suficiente fingir que não viu, que não é comigo, silenciar-se, porque quem cala, consente. Quem se cala diante do preconceito o avaliza. É sim preciso lutar, lutar pelo direito que todas as pessoas têm de serem tratadas como iguais, sejam elas quem forem, com quem ou o que se parecem, que cor têm, ou com quem elas vão para cama.”
Silvio Carlos Ambrosini, o Sivuca
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