Ciência

Em África "quando se fala em Clean Cooking, fala-se de mulher"


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Um terço da população mundial confecciona os alimentos com recurso a fogões rudimentares. Quatro em cada cinco pessoas em África utilizam fogões abertos e tradicionais a combustíveis poluentes, como carvão e lenha. A falta de acesso a uma confecção limpa de alimentos tem consequências na saúde, educação, clima e também na igualdade de género. A activista Graça Machel defendeu, em Paris, que as mulheres devem ser parte activa destas políticas e não meras receptoras ou beneficiárias. 

Actualmente, um terço da população mundial confecciona os seus alimentos com recurso a fogões rudimentares. Quatro em cada cinco pessoas em África utilizam fogões abertos e tradicionais que funcionam a combustíveis poluentes, como carvão e lenha.

A falta de acesso a uma cozinha limpa é a segunda maior causa de morte prematura em África, afectando principalmente mulheres e crianças de África subsaariana. Meio milhão de crianças e mulheres morrem prematuramente por ano em África por falta de acesso a energias limpas para cozinhar.

Em África, por dia, em média, meninas e mulheres perdem duas horas para recuperar combustível, como carvão ou lenha, e três horas para confeccionar a comida, a situação afasta-as da escola, das perspectivas de futuro, e coloca-as em posições de grande vulnerabilidade a ataques e violações. 

Numa tentativa de colocar a Clean Cooking na agenda climática, a Agência Internacional de Energia promoveu em Paris, a meio deste mês de Maio, uma cimeira alusiva ao tema, onde foram arrecadados mais de 2,2 mil milhões de dólares em promessas de financiamento. 

A falta de acesso a uma confecção limpa de alimentos tem consequências para a saúde, educação, para o clima e também para a igualdade de género.

A participar no encontro esteve activista Graça Machel que defendeu, em Paris, que as mulheres devem ser parte activa destas políticas e não meras receptoras ou beneficiárias. 

A mulher de Nelson Mandela, e antes do primeiro Presidente de Moçambique, Samora Machel, lembrou que no “continente africano, quando se fala em cozinha, fala-se de mulher. São as mulheres que cozinham.

É preciso olhar para a magnitude do problema que estamos a falar e, se o objectivo é 2030, a atribuição de recursos deve corresponder à magnitude do problema. É possível atingir esse objectivo em seis anos. 

Gostaria de sublinhar o facto de estarmos a falar de cozinha limpa, Clean Cooking. Por isso, todos têm de ter em mente quem cozinha. E, nestas discussões ouvimos falar de política, de sector privado... Mas o meu ponto principal são as próprias mulheres.

Sim, precisamos de políticas e do sector privado, mas precisamos de reforçar a capacidade das próprias mulheres para que não se tornem meras receptoras, mas que participem activamente e absorvam as tecnologias que são necessárias. Portanto, uma perspectiva de género no desenvolvimento e na atribuição de recursos a nível global. 

Depois, passamos ao nível nacional. Nós, como mulheres africanas, estamos a colocar em cima da mesa a consideração de que queremos ser investidoras, empresárias, gestoras e queremos ser, obviamente, as clientes, aquelas que utilizam a tecnologia. Por isso, qualquer política de qualquer governo tem de ter o rosto das mulheres na construção da capacidade de resposta. 

Mais uma vez, tendo em conta a magnitude do problema, somos milhões de mulheres em cada um dos nossos países. Não podemos ser vistas como marginais, porque nem governo nem o sector privado serão bem-sucedidos sem nós. 

Para sermos bem-sucedidos, temos de incluir as próprias mulheres nestas diferentes categorias, em toda a cadeia de valor, para que as mulheres participem activamente. 

Clean Cooking, cozinhar com recurso a energias limpas, é essencialmente sobre mulheres, mulheres africanas, a maioria delas residentes em zonas urbanas, que são pobres e não podem pagar, outras nas zonas rurais que são ainda mais pobres. 

Alberto Maverengue Augusto, embaixador de Moçambique em França, sublinhou tratar-se de um tema extremamente importante para Moçambique. Ressalva que o país ainda carece de infra-estruturas, todavia têm vindo a ser dados passos para suprir as carências energéticas. 

Creio que é um tema extremamente importante para nós. Certamente que temos alguns desafios. Temos de ter energia suficiente.

Estamos no processo de electrificação de todo o país. (...) Precisamos de mais barragens e de mais estradas.

Na Cimeira Clean Cooking in Africa, cozinhar com recurso a energias limpas em África, foram mobilizados 2,2 mil milhões de dólares em financiamento e investimentos provenientes de fontes governamentais e do sector privado.

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