As reclamações dentro da família são oportunidades valiosas para treinar a mente e desenvolver a inteligência emocional, ao transformar conflitos em crescimento interior e relacional.
Reclamar é um ato de sofrimento que expressa insatisfação em relação a algo que não corresponde às expectativas. No entanto, cada reclamação é uma porta aberta para compreendermos melhor uns aos outros.
O estoico aproveita as reclamações dentro da família para desenvolver relações mais saudáveis, em vez de fingir que não as ouve, responder com agressividade, mudar de assunto abruptamente ou reagir com o famoso “tu também…”.
A forma como reagimos a uma reclamação, revela muito do nível estoico em que nos encontramos.
A desconfortável reclamação “Deixas tudo para a última hora”, vista com olhos estoicos, proporciona uma oportunidade para treinar a paciência e o autocontrolo. Devemos começar por suspender o julgamento e a irritação. Se há verdade na afirmação, melhoramos a nossa conduta e respondemos: “Entendo que isso te incomoda. Vou ajustar o que for necessário.”
Na família, o comentário de vitimização “ninguém me ouve” é um pedido de reconhecimento. Não podemos alterar o passado, nem controlar a dor do outro, mas podemos escolher como reagir a esta situação. O estoicismo convida-nos a responder com domínio emocional. Suspender o impulso de reagir, não contrariar o outro e responder: “Estou aqui para ouvir o que estás a sentir.”
A queixa “nunca me ajudas” pode ferir, mas quem treina a mente aprende a não reagir com emotividade e a dominar o impulso de defesa. O estoico não se justifica. Observa a emoção que surge, sem ser dominado por ela. Evita o confronto, fala com clareza, sem ironia ou ressentimento e contrapõe: “Lamento que te sintas assim. Diz-me o que precisas.”
Estes são exemplos de reclamações que quase sempre têm um fundo de verdade. Convém avaliá-las, para melhorar o nosso comportamento. No entanto, há situações em que um familiar reclama por algo absurdo ou sem importância.
O estoicismo brilha justamente nestes momentos. Quando somos confrontados com o absurdo ou exagero, em vez de reagir com irritação, o estoico age com discernimento e domínio emocional. Perante uma reclamação sem sentido, concentra-se no facto de que não é o que foi dito que o afeta, mas o que escolhe pensar nessa situação.