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Em Portugal, milhares de bombeiros foram mobilizados esta terça-feira, 17 de Setembro, para combater os incêndios florestais que já provocaram 7 mortos, mais de 50 feridos e que devastaram, em três dias, uma área superior à que ardeu durante o resto do verão. As autoridades portuguesas activaram o Mecanismo Europeu de Protecção Civil para obter oito aviões bombardeiros. Dois Canadairs chegaram de Espanha e são esperados aviões disponibilizados pela França, Itália e Grécia.
Francisco Ferreira, presidente da ONG ambientalista portuguesa Zero, reconhece a falta de meios para combater os incêndios e defende a urgência de se repensar a gestão da floresta portuguesa.
RFI: Qual é o ponto de situação dos incêndios em Portugal?
Francisco Ferreira, dirigente da ONG portuguesa Zero: Temos um país que da zona centro do litoral, passando pelo interior e também no Norte regista um conjunto de ocorrências significativas muito grande. No momento, de um total de 151 ocorrências, há 20 que são consideradas ocorrências significativas. Todas elas são de incêndios rurais e, nestas ocorrências, há cinco que são de povoamentos florestais, as restantes são zonas de mato. Mas estamos a falar desde zonas que vão principalmente de Albergaria a Velha até ao Fundão. Portanto, aqui mostra bem as várias zonas a serem fustigadas por incêndios no Norte do país, com algumas ocorrências na zona do Alto Tâmega, em Trás-os-Montes.
Mas, neste momento, há localidades ameaçadas?
Na última noite e mesmo no dia de ontem, várias localidades tiveram casas que arderam e, principalmente, a noite foi muito mais violenta, pela simples razão de que estamos com o tempo muito seco, com muito pouca humidade relativa. Esta humidade pouco aumentou, durante a noite, e houve um vento muito forte em várias zonas. Depois não há capacidade para a actuação dos meios aéreos e isso, obviamente, faz toda a diferença no combate às chamas.
Fala-se muito na regra dos 30. Ou seja, temperaturas acima dos 30 graus, o vento superior a 30 quilómetros hora e a humidade inferior a 30. Esta situação já tinha sido anunciada pela Protecção Civil, no fim de semana. Porque é que mais uma vez não se reage a tempo?
São meras suspeitas, mas há claramente um padrão que nos indica que para além de eventuais acidentes- para além de negligência- haja efectivamente aqui um conjunto de actuação por parte de um “incendiarismo” que nós achamos que é crucial no facto de termos vários fogos a serem ateados em horas e em locais que pura e simplesmente nos parecem muito suspeitos para não ser fogo posto.
Está a referir-se a mão humana?
A mão humana é por negligência, outras vezes a mão humana é propositada e todos os alertas tiveram aqui um feedback, proporcionaram a quem, por motivos até por vezes psiquiátricos, acaba por encontrar as condições ideais para avançar com incêndios ou com fogo posto em vários locais. Não há outra explicação.
Até ao final de Agosto, tivemos realmente um período onde em Portugal tinham ardido apenas 10 ou 11 mil hectares. Para se ter uma ideia, em 2017 tivemos 440 mil hectares ardidos. Porém, nos últimos dois dias já vamos em mais de 20 mil hectares e as expectativas é que muitos destes incêndios têm um potencial para acrescentar, nos próximos dias, mais 30 mil hectares de zonas ardidas. Mas a questão é que muitos destes fogos estão realmente junto a povoações e, portanto, com prejuízos humanos já muito avultados e com perdas de vidas humanas.
Até ao momento, sete pessoas perderam a vida e mais de 50 ficaram feridas. Quais são as grandes preocupações neste momento?
As principais preocupações são realmente ver até que ponto é que se consegue limitar e gerir todas as ocorrências significativas que existem até o estado do tempo mudar, algo que só deverá acontecer na quinta feira.
O país está em alerta máximo?
É uma situação muito difícil, principalmente durante a noite, quando os meios aéreos não conseguem intervir. Portanto, claro que há aqui questões estruturais com as quais nós temos que lidar. Mesmo depois de 2017, nós ainda não conseguimos dar uma resposta àquilo que é o nosso ordenamento e gestão florestal. É preciso acelerar. Mas não é em poucos anos que se muda a forma como nós temos a gestão da propriedade e a presença da floresta em Portugal. Mas efectivamente, temos que ir muito mais depressa e continuamos com o mesmo tipo de problemas que temos desde há muito tempo.
As alterações climáticas obrigam a um arranque que comece mais cedo e que dure mais tempo para as épocas de incêndios florestais?
O que é facto é que nós temos que ter aqui várias vertentes: uma acção estrutural e outra acção- agora prioritária, de mobilização dos meios e de actuação por parte da proteção civil. E, nesse contexto, nós estamos a dar a resposta possível e a solicitar os meios à União Europeia, que rapidamente chegaram ou estão a chegar. Todavia, os meios são sempre insuficientes, como é evidente, e se não mudarmos estruturalmente a forma como gerimos a nossa floresta e o tipo de floresta que temos, não iremos longe.
Temos aqui realmente uma perda brutal do ponto de vista daquilo que são as matérias primas associadas à floresta, mas também no que refere às emissões de carbono, aquilo que é uma mais valia em termos de biodiversidade de muitas áreas florestais e, portanto, dos prejuízos humanos, materiais, mas também ambientais. É realmente sempre uma contabilidade dramática.
Quando se fala de incêndios, aponta-se muitas vezes o dedo aos eucaliptos. Os eucaliptos são, de facto, os principais responsáveis por esta situação?
As monoculturas são sem dúvida responsáveis. Quando eu tenho extensos povoamentos de eucalipto ou de pinheiro, por exemplo. O facto de eu não ter uma floresta diversificada e acima de tudo, ter uma floresta que não está a ser gerida, porque as pessoas saíram- e o centro de Portugal é muito baseado no minifúndio.
Uma floresta que não está a ser vigiada?
Nem vigiada nem que está a ser cuidada.
Em Portugal, milhares de bombeiros foram mobilizados esta terça-feira, 17 de Setembro, para combater os incêndios florestais que já provocaram 7 mortos, mais de 50 feridos e que devastaram, em três dias, uma área superior à que ardeu durante o resto do verão. As autoridades portuguesas activaram o Mecanismo Europeu de Protecção Civil para obter oito aviões bombardeiros. Dois Canadairs chegaram de Espanha e são esperados aviões disponibilizados pela França, Itália e Grécia.
Francisco Ferreira, presidente da ONG ambientalista portuguesa Zero, reconhece a falta de meios para combater os incêndios e defende a urgência de se repensar a gestão da floresta portuguesa.
RFI: Qual é o ponto de situação dos incêndios em Portugal?
Francisco Ferreira, dirigente da ONG portuguesa Zero: Temos um país que da zona centro do litoral, passando pelo interior e também no Norte regista um conjunto de ocorrências significativas muito grande. No momento, de um total de 151 ocorrências, há 20 que são consideradas ocorrências significativas. Todas elas são de incêndios rurais e, nestas ocorrências, há cinco que são de povoamentos florestais, as restantes são zonas de mato. Mas estamos a falar desde zonas que vão principalmente de Albergaria a Velha até ao Fundão. Portanto, aqui mostra bem as várias zonas a serem fustigadas por incêndios no Norte do país, com algumas ocorrências na zona do Alto Tâmega, em Trás-os-Montes.
Mas, neste momento, há localidades ameaçadas?
Na última noite e mesmo no dia de ontem, várias localidades tiveram casas que arderam e, principalmente, a noite foi muito mais violenta, pela simples razão de que estamos com o tempo muito seco, com muito pouca humidade relativa. Esta humidade pouco aumentou, durante a noite, e houve um vento muito forte em várias zonas. Depois não há capacidade para a actuação dos meios aéreos e isso, obviamente, faz toda a diferença no combate às chamas.
Fala-se muito na regra dos 30. Ou seja, temperaturas acima dos 30 graus, o vento superior a 30 quilómetros hora e a humidade inferior a 30. Esta situação já tinha sido anunciada pela Protecção Civil, no fim de semana. Porque é que mais uma vez não se reage a tempo?
São meras suspeitas, mas há claramente um padrão que nos indica que para além de eventuais acidentes- para além de negligência- haja efectivamente aqui um conjunto de actuação por parte de um “incendiarismo” que nós achamos que é crucial no facto de termos vários fogos a serem ateados em horas e em locais que pura e simplesmente nos parecem muito suspeitos para não ser fogo posto.
Está a referir-se a mão humana?
A mão humana é por negligência, outras vezes a mão humana é propositada e todos os alertas tiveram aqui um feedback, proporcionaram a quem, por motivos até por vezes psiquiátricos, acaba por encontrar as condições ideais para avançar com incêndios ou com fogo posto em vários locais. Não há outra explicação.
Até ao final de Agosto, tivemos realmente um período onde em Portugal tinham ardido apenas 10 ou 11 mil hectares. Para se ter uma ideia, em 2017 tivemos 440 mil hectares ardidos. Porém, nos últimos dois dias já vamos em mais de 20 mil hectares e as expectativas é que muitos destes incêndios têm um potencial para acrescentar, nos próximos dias, mais 30 mil hectares de zonas ardidas. Mas a questão é que muitos destes fogos estão realmente junto a povoações e, portanto, com prejuízos humanos já muito avultados e com perdas de vidas humanas.
Até ao momento, sete pessoas perderam a vida e mais de 50 ficaram feridas. Quais são as grandes preocupações neste momento?
As principais preocupações são realmente ver até que ponto é que se consegue limitar e gerir todas as ocorrências significativas que existem até o estado do tempo mudar, algo que só deverá acontecer na quinta feira.
O país está em alerta máximo?
É uma situação muito difícil, principalmente durante a noite, quando os meios aéreos não conseguem intervir. Portanto, claro que há aqui questões estruturais com as quais nós temos que lidar. Mesmo depois de 2017, nós ainda não conseguimos dar uma resposta àquilo que é o nosso ordenamento e gestão florestal. É preciso acelerar. Mas não é em poucos anos que se muda a forma como nós temos a gestão da propriedade e a presença da floresta em Portugal. Mas efectivamente, temos que ir muito mais depressa e continuamos com o mesmo tipo de problemas que temos desde há muito tempo.
As alterações climáticas obrigam a um arranque que comece mais cedo e que dure mais tempo para as épocas de incêndios florestais?
O que é facto é que nós temos que ter aqui várias vertentes: uma acção estrutural e outra acção- agora prioritária, de mobilização dos meios e de actuação por parte da proteção civil. E, nesse contexto, nós estamos a dar a resposta possível e a solicitar os meios à União Europeia, que rapidamente chegaram ou estão a chegar. Todavia, os meios são sempre insuficientes, como é evidente, e se não mudarmos estruturalmente a forma como gerimos a nossa floresta e o tipo de floresta que temos, não iremos longe.
Temos aqui realmente uma perda brutal do ponto de vista daquilo que são as matérias primas associadas à floresta, mas também no que refere às emissões de carbono, aquilo que é uma mais valia em termos de biodiversidade de muitas áreas florestais e, portanto, dos prejuízos humanos, materiais, mas também ambientais. É realmente sempre uma contabilidade dramática.
Quando se fala de incêndios, aponta-se muitas vezes o dedo aos eucaliptos. Os eucaliptos são, de facto, os principais responsáveis por esta situação?
As monoculturas são sem dúvida responsáveis. Quando eu tenho extensos povoamentos de eucalipto ou de pinheiro, por exemplo. O facto de eu não ter uma floresta diversificada e acima de tudo, ter uma floresta que não está a ser gerida, porque as pessoas saíram- e o centro de Portugal é muito baseado no minifúndio.
Uma floresta que não está a ser vigiada?
Nem vigiada nem que está a ser cuidada.
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