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Você já imaginou como seria viver a vida de um grande artista? E de um grande estadista ou um grande pensador? E que tal tudo isso numa única vida? O ideal do “homem universal” foi consagrado no Renascimento, mas é plausivelmente tão antigo quanto a humanidade. É curioso, contudo, que dentre todos os bilhões e bilhões de seres humanos que já existiram haja tão raros candidatos a este título. Platão foi o patriarca dos filósofos e um escritor de talento, mas um político frustrado que expulsou os poetas de sua República ideal. Pascal, um grande cientista, filósofo e teólogo, mas demasiado atormentado e recluso. Mesmo o ícone Leonardo da Vinci foi um pintor extraordinário, mas produziu pouco nas outras artes. Suas invenções são sonhos irrealizáveis e não deixou nada digno de nota na filosofia.
Johann Wolfgang von Goethe também tinha suas limitações. Ele desconfiava das abstrações da filosofia. Foi administrador público – mas de um ducado menor. Um cientista dedicado – mas mais inspiracional que efetivo. Um pintor amador, um historiador diletante, um diplomata de ocasião. Mas de todos os “homens universais” foi o maior dos poetas. Primeiro escritor alemão de estatura inquestionável e o mais celebrado desde então, talvez nenhum outro em todos os tempos e lugares tenha o seu alcance e variedade. Ele produziu obras primas em praticamente todos os gêneros: poesia lírica, épica, dramática, erótica, romances, autobiografia, aforismos, ensaios, crônica, crítica literária e artística. Ele é para o Iluminismo o que Shakespeare foi para o Renascimento e Dante para a Idade Média. Seu Fausto, foi o maior poema longo desde a Divina Comédia e o Paraíso Perdido de Milton, e o drama mais emblemático da era moderna.
Sua vida coincidiu com o período mais excitante e criativo desde o Renascimento. Ele atravessou da Revolução Francesa às guerras napoleônicas até a eclosão da burguesia industrial e das democracias liberais. Usando sua experiência e criatividade, radiografou estas metamorfoses e fascinou os maiores artistas, estadistas e filósofos. “Eis um homem!” exclamou Napoleão aos seus oficiais. Para Marcel Proust, é “a maior inteligência que já existiu”. Para Stefan Zweig, “o mais sábio dos sábios”. “Minha ambição, meu tormento e minha alegria”, disse Nietzsche, era “viajar por toda a circunferência da alma moderna e ter sentado em todos os cantos … Verdadeiramente superar o pessimismo, e, como resultado, adquirir os olhos de Goethe – cheios de amor e boa vontade”. Em Goethe, o ideal do homem universal atingiu seu auge e seu fim. Mas ele deixa a cada um de nós uma provocação que reverberará pelos séculos: você pode viver a vida como uma obra de arte?
Convidados
Daniel Martineschen: professor de língua e literatura alemã da Universidade Federal de Santa Catarina e tradutor do Divã ocidento-oriental de Goethe.
Marcus Mazzari: professor de literatura comparada da Universidade de São Paulo e presidente da Associação Goethe do Brasil.
Sylk Schneider: curador, tradutor, intérprete e autor de Viagem de Goethe ao Brasil.
Referências
A dupla noite das tílias: história e natureza no Fausto de Goethe, de Marcus Mazzari. Viagem de Goethe ao Brasil, de Sylk Schneider. Divã Ocidento-Oriental (West–östlicher Divan), introdução, tradução e notas por Daniel Martineschen.Ensaios Reunidos: Escritos sobre Goethe, de Walter Benjamin.Goethe e seu Tempo (Goethe und seine Zeit), de György Lukács. Deus e o Diabo no Fausto de Goethe, de Haroldo de Campos.Dinheiro e Magia. Uma crítica da economia moderna à luz do Fausto de Goethe (Geld und Magie), de Hans Christoph Binswanger. The Cambridge Companion to Goethe, ed. Por Lesley Sharpe. Goethe. Life as a work of art, de Rüdiger Safranski. Goethe: A Very Short Introduction, de Ritchie Robertson. De Leibnitz a Goethe, de Wilhelm Dilthey. Goethe, Kant and Hegel, de Walter Kaufmann. Reading Goethe. A critical introduction to the literary work, de M. Swales e E. Swales. Rousseau, Kant, Goethe, de Ernst Cassirer. Tres poetas filosofos. Lucrécio, Dante, Goethe, de George Santayana. Goethe. The Poet and the Age, de Nicholas Boyle. Goethe. His Life and Times, de Richard Friedenthal.Der Briefschreiber Goethe, de Albrecht Schöne.Michael Jaeger: Wanderers Verstummen, Goethes Schweigen, Fausts Tragödie. Oder: Die grosse Transformation der Welt, de Michael Jaeger.Mit einer Art von Wut – Goethe in der Revolution, de Gustav Seibt.Goethe-Lexikon, ed. por Gero von Wilpert.Goethes Faust. Erster und Zweiter Teil. Grundlagen. Werk. Wirkung, de Jochen Schmidt. Ilustração: Goethe em Weimar, aos 30 anos. Por Georg Melchior Kraus (1778, Wikimedia Commons).
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