Por Rosmunda Cristiano
Todo maçom que conheci em meus trinta anos de militância maçônica em algum momento se viu fazendo um balanço de fazer parte da Instituição.
Eu também muitas vezes me questionei sobre isso, tive crises de identidade, segundas intenções, dúvidas, momentos de ênfase e desânimo.
Mas continuo aqui, falando e escrevendo sobre uma "fé" que se tornou um estilo de vida, uma forma de ser, de pensar, de ser comigo mesmo, mas sobretudo com os outros.
Se eu tivesse que resumir a filosofia maçônica vivida por um maçom, só poderia compará-la ao mito do Véu de Ísis:
Eu sou tudo o que foi, o que é e o que será e nenhum mortal ainda se atreveu a levantar meu véu.
Muitas vezes, em meus artigos, escrevi palavras destinadas a recordar a "consciência" de nós maçons", tentando sacudi-los onde eram necessários, despertá-los, onde cochilavam profundamente, atiçá-los ao vivo, caso eles estavam muito cheios de si mesmos.
Não devemos esquecer que juramos ser fiéis aos ideais, defendê-los até a morte.
O véu de Ísis representa o instrumento que serve para despertar o sentido de responsabilidade inerente a todo maçom, a quem é exigido responder a um apelo às gerações maçônicas, presentes e futuras, e na construção de uma sociedade respeitadora da dignidade, da justiça e solidariedade.
Heráclito dizia que nada permanece igual e estático, tudo flui, a mesma realidade que vivemos diariamente é marcada pela mudança. Muito menos o de um maçom que vive na soleira da porta do Templo, com um pé no mundo profano e outro no esotérico.
Nesse difícil equilíbrio, mesmo o mais experiente dos Mestres pode se confundir e esquecer, de fato, suas responsabilidades, que estão entre as mais belas maneiras pelas quais o maçom expõe seu ser na Obediência e no mundo e que faz dele o motor que gera palavra e ação.
Ser responsável significa responder a um inegável chamado pessoal, mas também expor-se ao que esse véu esconde com a liberdade de fuga e que, ao mesmo tempo, atrai a identidade humana como um ímã. Querendo parafrasear Rousseau, os maçons são seres humanos livres e rebeldes mas, "por toda parte acorrentados"... de responsabilidade!
A responsabilidade que se reacende diante daquele misterioso véu reveste cada Irmão de compromisso e consciência; encarná-lo significa remover o véu, sem medo, consciente de que você escolheu ouvir seu apelo e decidir levantá-lo para descobrir o que está por trás dele, entender que você pode usá-lo de uma maneira diferente pelo que ele contém e por sua imenso poder de ser gerido de forma responsável, ética e humana.
A Maçonaria é como um terceiro elemento que é tanto tremendum quanto fascinans: tremendum porque representa o risco para o indivíduo de se alienar e se perder e fascinans porque pode representar uma forma de recuperar a posse de si, redescobrindo o próprio valor.
A Maçonaria é aquele véu da deusa que, levantado por quem, movido pela paixão ou por uma questão existencial, quer se aproximar para encontrar a verdade, não mostra nada além da imagem de si mesmo.
Do olhar trêmulo daquele espelho vem a responsabilidade: um sentimento desesperado que assoma, desfaz e mostra a frágil nudez humana e seu modo de se doar nesta sociedade.
Como ser maçom de forma ética, particularmente no mundo profano, um lugar onde o ser é sufocado pelo fazer, onde se esconde atrás de uma atividade imersa em constante mudança?
Voltando a refletir sobre a própria ação, universalizando-a, fundando-a pessoalmente, abrindo-a ao futuro da vida de toda a humanidade, vai-se além de si mesmo e da realidade e estabelece uma nova ação laboral e social a partir do além e do caos.
No mito grego, o caos era imensidão e vazio e é precisamente a partir deste último sentido que devemos recomeçar. O vazio cósmico é um lugar de perdição onde, paradoxalmente, se geram energia e movimento e, portanto, vida, e justamente reivindica responsabilidade.
No trabalho, na vida privada e em todas as esferas, o ser humano precisa "ser", encher-se de ruídos e não de si