Há trinta horas que só ouço falar a respeito desta. capital do Espírito Santo privada de seu teatro oficial, entregue a ganância de três cavalheiros, que criminosamente o transformaram num cinema.
O "Teatro Carlos Gomes" foi fundado pelo governador Jeronimo Monteiro, antepassado do atual governador Carlos Fernando Monteiro Lindenberg.
E' um dos mais belos teatros do Brasil. Está arrendado a Empresa Santos por Cr$ 3.300,00 mensais, conforme a informação que me deu, em conversa amável, o próprio governador Lindenberg.
Por causa de quantia tão miseravel, do qual não cabe culpa alguma o atual govêrno, um estado da importância do Espírito Santo rouba a sua gente a oportunidade de receber a visita de companhias itinerantes e de desenvolver, com o seu inteligente material humano, seu próprio teatro.
No contrato há uma cláusula insidiosa que diz "Caso o governo nao ao prévio aviso de seis meses antes de expirado o prazo dêste contrato, fica ele automáticamente prorrogado por mais três anos".
Antenor de Carvalho, presidente da Unido Espirito Santense de Estudantes; da Casa e do Teatro do Estudante, animador extraordinário da mocidade de seu Estado, assegura-me que a Empresa Santos é dirigida pelos seguintes senhores:
Marcondes Souza Junior, Heitor Santos e Francisco Cerqueira Lima.
O primeiro pertence ao PSD. O segundo é da UDN. E o terceiro é do PR. Dessa maneira a emprèsa, qualquer que seja o partido que tome conta do govérno, ficará bem.
Um jornalista de vinte anos irritou-se com as palavras que o vice-governador professor Sette, hábil e inteligentemente pronunciou depois de minha conferência. Dissera eu, recebendo generosa ovação dos presentes, que, casa de espetáculos e talentos nao faltavam em Vitória para possuir seu teatro-escola.
O "Teatro Carlos Gomes", graças a Deus, teria terminado seu contrato com os atuais arrendatários no fim dêste ano.
O governador Carlos Lindenberg me recebe, com aquela gentileza que é muito sua.
Nao lhe cabe culpa alguma do contrato do "Carlos Gomes".
Quando assumiu a liderança de seu Estado, ja encontrou o teatro oficial arrendado da Emprêsa Santos. Acompanha com interêsse tudo quanto se faz em teatro, no Rio e fora déle.
Seu governo desejaria amparar um movimento igual, dentro de seu Estado.
Elogia o esfôrço dos moços espiritosantenses, de alto espírito construtivo.
Saio do Palacio, come de uma batalha perdida. O Goverenador, Cartos Lindenberg nada pode faze para libertar o "Carlos Gomes".
Mas assisto, depois, uma reuniao de centenas de jovens e seus professores, que resolvem inaugurar brevemente a grande campanha contra os teatros da empresa Santos.
As maes, as irmás, as noivas, os parentes e os amigos desses moços deixarão vazios o "Carlos Gomes", "Gloria" e o "Politeama".
Talvez um movimento desse consiga despertar o patriotismo nos cavalheiros que se chamam Marcondes Souza Junior, Heitor Santos e Francisco Cerqueira Lima. Mas a patria desses senhores tem, desgraçadamente, a forma de uma cifra infinita.
PASCHOAL CARLOS MAGNO.