Segue a gravação de uma aula em que lemos um trecho de Eiruvin a partir do conceito do 'Erro como mensagem' de Lacan e Zizek e da inevitabilidade do erro de acordo com o Baal Shem Tov.
“Disse Rav Yehuda, disse Shmuel, em nome de Rabi Meir: “Quando estudava diante do Rabi Akiva, eu colocava o Kankantóm (fixador) na tinta, e não me disse nada. Quando fui estudar diante do Rabi Ishmael, ele me perguntou:
‘Meu filho, qual é o seu trabalho?`
E eu lhe respondi: ‘Sou um escriba’.
Então ele me disse: ‘Meu filho, sê cuidadoso em seu trabalho, pois o seu trabalho é um trabalho dos céus, se você deixar de escrever uma letra, ou escrever uma letra a mais, você estará destruindo um mundo inteiro’.
Disse a ele: ‘Eu tenho um material, cujo nome é Kankantóm
(fixador), e eu o coloco dentro da tinta’.
Ele me contestou: ‘Mas será que é permitido utilizar esse fixador? Eis que a Torá disse “E escreverá...E apagará”, no que entendemos que a escrita deve ser tal que poderá ser apagada.
[Pergunta a guemará] O que o Rabi Ishamel disse, e o que o Rabi Meir repondeu? Mas foi essa a resposta de Rabi Meir: Não se preocupe com as letras que podem faltar ou ser acrescidas, porque eu sou um perito, mas estou protegido também sobre os erros que podem acontecer em razão de um mosquito que venha a tocar em uma letra e tirar um pouco de tinta, transformando um dálet (ד) em um reish (ר) pois eu tenho um material chamado Kankantóm que eu coloco sobre a tinta.
Estudaram: disse Rabi Iehuda, disse Rabi Meir: Todos os escritos podem ser escritos com uma tinta em que foi aplicado o Kankantóm, exceto a porção da Sotá. Rabi Iacov disse em nome dele: exceto o pergaminho da porção de Sotá que se usava no Templo com a própria Sotá.
[Pergunta o Talmud] Qual é a diferença entre ambas as opiniões: Seria o uso de um pergaminho da própria Torá para a sotá [de acordo com a primeira versão seria permitido; de acordo com a segunda, não].
E essa divergência de opiniões se corresponde com outra, conforme estudamos: “É proibido usar um pergaminho de Sotá escrito a uma mulher à outra mulher; Rabi Achi filho de Ioshaia permite. [Ou seja, quem permite o uso da Torá entende que o pergaminho a ser usado com a sotá não precisa ter sido escrito com a intenção de ser usado com a própria mulher, diferentemente da outra opinião].
Disse Rav Papa: Talvez não é assim: a opinião de quem proíbe se utilizar uma meguilát sotá de uma mulher à outra, apenas então a proibiu, e não teria porque proibir quando esse pergaminho foi escrito à uma Torá, sem o pensamento em nenhuma mulher específica, mas sendo uma Torá não teria problema em apagar esse trecho.
E Rav Nachman bar Itschak [complementou o raciocínio para o outro lado e] disse: Talvez não é assim: até aqui o Rabi Achi filho de Ioshaia permitiu em um caso que o pergaminho foi escrito para ser apagado, mas não quando o pergaminho fazia parte de um rolo de Torá.
[Pergunta a guemará]: E o Rabi Achi filho de Ioshaiá não concorda com o que foi dito que um guêt não pode servir a outra mulher? Responde a guemará: ele concorda, mas no caso do guet foi dito na Torá que a escritura deve ser em nome da mulher, enquanto no caso da Sotá é o apagamento que é feito em nome da mulher.