A musicalidade preta brasileira tem história. É uma enorme galeria, onde destacam-se nomes como Cartola, Tim Maia, Elza Soares, Jorge Ben, Clara Nunes, Nelson Sargento, Itamar Assumpção, Naná Vasconcelos, Clementina de Jesus, Luiz Gonzaga, Cassiano, Pixinguinha, Dom Salvador, e tantos outros que uniram experiência de vida ao lirismo mais puro de sua criatividade. Os nomes desses imortais transcendem o tempo e demarcam na cultura a importância das obras que criaram, como definidores identitários para aqueles que as admiram.
"Sobrevivendo no Inferno" disco lançado em 1997 pelos Racionais MC's se inscreve nessa galeria. É um disco que estabelece importantes marcas também: de vendagem, de produção, de linguagem e repercussão. Que emite uma mensagem que nos agarra pelo coração e pelo cérebro. Uma obra cheia de personagens que se não fossem feitos de letras e histórias, seriam de carne e osso, pois partes deles estão dentro de todos nós. Estão lá o moleque sonhador, o marginal reflexivo, o presidiário revoltado e o poeta bandido que mira as mazelas sociais. Que não nos deixa esquecer que a música é dor, denúncia e queixo erguido.
Obra fundamental, reconhecida academicamente, fonte de estudo e agora material escolar. Marco de transformação cultural, que levantou a autoestima de milhares de jovens nas periferias espalhadas pelo Brasil e obrigou a academia a entender o poder da rima e do beat. É obra onde o homem preto tem temporalidade e espaço, onde este não é coadjuvante e sim o âmago das histórias. É onde a periferia é feita centro do debate, o lugar em que a ruptura se transforma na construção de uma nova linhagem.
Nesse programa o convidado é Vinicius Rodrigues, produtor cultural, sociólogo e doutorando em Antropologia pela Universidade de São Paulo. Cria da Casa Verde, Viny tem pensado e discutido as variadas questões ligadas a negritude na cidade de São Paulo.
Aumente o som e boa audição!