hoje escrevo de coração nas mãos porque estou a estrear uma nova plataforma e, sinceramente, pode correr mal. Mas também pode correr bem e como a vida é feita destes pequenos riscos, aqui estou, de peito aberto às balas para experimentar aquilo que há muito procurava: design simples e integração da minha voz.
Se carregarem no play vão poder ouvir o último episódio do urbanista 2.0, num formato diferente do habitual, no qual me sento no lugar da entrevistada para uma conversa sobre um dos temas que ma fascina nos últimos tempos: as razões pelas quais nos tornámos tão dependentes dos media sociais e a forma como o instagram se tornou o ponto de encontro e centro da discussão sobre a comunicação digital.
Podem ver a live completa aqui
Para além disso, nesta época mais atípica do que o que consideramos atípico, com dois feriados que se transformaram em duas pontes que não nos permitem atravessar qualquer ponte, sobram temas para discutir que revelam a crise insustentável em que nos encontramos. Há dias, dizia-se assim, sobre o encerramento do Majestic no Porto: “nem na 2ª Guerra Mundial fomos obrigados a fechar”. Na 2º Guerra Mundial fugíamos de bombas, passámos fome por causa dessas bombas e, apesar da Guerra, estivemos em paz. Com fome e muitas limitações, bastantes precauções, mas em paz. A guerra foi mundial, envolvendo a maior parte dos países. A pandemia é global, envolvendo todos os países porque apenas em nações remotas o vírus ainda não chegou: Kiribati, as ilhas Marshall, Micronesia, Nauru, a Coreia do Norte, Palau, Samoa, Ilhas Salomão, Tonga, Turkemenistão e Tuvalu. Conhecem? Alguns provavelmente não.
Fugimos de algo que não se ouve e ainda menos se vê, que se propaga à velocidade da luz e cujo impacto é tão ou mais grave do que o das bombas entre 1939 e 1945. Estamos em guerra com um inimigo que nos conhece e do qual pouco ou nada sabemos, que é mutante e se configura mortal a vários níveis, aniquilando, à sua passagem, uma economia capitalista de mercado, sustentada numa sociedade de consumo que se consome a si própria.
Portugal é um país de baixos salários, de gente pobre e de uma geração de jovens que vai viver pior do que os seus pais. Não vale a pena esconder esta realidade através de filtros de instagram e de uma felicidade que se usa apenas nas redes. Estamos verdadeiramente tramados a menos que algo mude, estruturalmente, na nossa sociedade e na nossa economia. Em primeiro lugar, deixar esta ideia de coitadinhos que connosco vive e que se torna uma narrativa dominante: “que bom é ter qualquer coisa e poder trablahar” mesmo que em condições precárias ou mal pago.
Este ideal entranhou-se na sociedade e permite que a política laboral em Portugal e que de rendimentos apenas mude para pior. Posso ser idealista, fantasista, mas a qualidade das empresas, a qualidade dos nossos serviços, a qualidade das nossas contas públicas apenas pode dar o salto a partir do momento em que se paguem salários que permitam ter uma vida sem fazer contas (todos os dias) à vida. Não escondamos mais: não é com 600€/mês que se faz a vida, que se pode pensar no futuro, que se pode poupar algo para uma eventualidade (e elas existem). Em Portugal temos a tendência em falar do país maravilhoso graças ao sol e à luz. Apenas isso, porque no saldo do que entra nas nossas contas e aquilo que tem de sair, há muito pouco de maravilhoso e não há filtro que melhore esta questão.
Beijos (sem filtro) e até para a semana!
PS: agora podem deixar os vossos comentários directamente aqui, se quiserem.
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