Olá, bem vindos.
Vocês escolheram, eu respeito (e até me ajuda a pensar, honestamente!)
Começar pelo estafado “não há saúde sem saúde mental” não é o meu género e a saúde mental inclui vários temas, problemas e preocupações. Contudo, há um que nos é demasiado próximo, muito relacionado com a sociedade moderna e, erradamente, considerado uma responsabilidade individual: o burnout é um problema contemporâneo e já tocou a quase todos, mesmo que disso não tenhamos consciência. É um problema colectivo, social, sobretudo, de uma cultura profissional caduca. Fiquei a saber que Portugal é o 5º país da UE com maior prevalência de doenças mentais (e nem precisamos pensar muito na razão pela qual isso acontece, pois não?…) Sabe-se que metade da população já teve ou vai ter uma perturbação. Duro. Do outro lado do Atlântico, nos E.U.A., em 2021, 42% das mulheres assumem sentir-se esgotadas a maior parte do tempo.
a-maior-parte-do-tempo!
O cocktail mais perigoso de sempre mistura de tudo um pouco, inclusivamente cinismo e culpabilização, traduzindo-se num cansaço excessivo - exaustão ! - e muito stress - aquele que já nem percebemos ser stress ou identificar como começou.
Como a sustentabilidade, cuja responsabilidade as empresas empurram para o consumidor, também o burnout é culpa nossa. Please! Se é certo que temos de nos cuidar, também é certo que cabe às empresas definir políticas de desenvolvimento pessoal e uma estrutura que não condicione ninguém a trabalhar fora de horas. Por nós, os trabalhadores, o burnout seria inexistente, mas o tal cocktail que inclui o medo de perder o emprego, a vergonha de falhar, a pressão para os resultados, associada às comparações dos que tudo conseguem sem nada os afectar (sem sabermos que tipo de ajudas têm ou o preço que estão a pagar) é absurdo. Acredito que temos de ser capazes de definir regras e impor limites, mas também sei que somos confrontados com a ausência dessas regras e limites muito dilatados, que nos impedem de raciocinar, quanto mais perceber que aquilo que nos estão a fazer está errado. Depois vem a conversa da meditação e do yoga como solução, sendo que tem de ser cada um de nós a aprender a gerir a situação na qual o outro nos colocou. Metade verdade, porque há empresas que já perceberam o custo da substituição de um bom profissional e o impacto que a perda de talentos tem para o funcionamento e rentabilidade da organização. Contudo, são ainda muitas as empresas com problemas graves de liderança - ou a ausência dela - que resultam numa escalada de outros problemas, os quais tendem a resultar numa péssima cultura profissional em que o pessoal se mistura com o profissional, sem sabermos onde começa um e acaba o outro.
Semanas de 4 dias, empresas que escolhem fechar durante uns dias durante o ano para combater esta epidemia semi invisível, eliminar o número de reuniões, não multiplicar os métodos e formatos de envio de mensagens e programas de gestão de stress, são apenas alguns exemplos de boas práticas que todas as empresas deveriam aplicar, bem como a apreciação além da palmadinha nas costas, o aumento da confiança no desempenho, a definição planos de evolução pessoal e profissional, a par com a individualização do trabalho, para garantir pessoas felizes. E poder trabalhar a partir de casa sempre que seja possível. Pessoas felizes são mais saudáveis, e pessoas saudáveis trabalham mais. Equação (tão) simples!
Se não conhecem os sintomas, eis alguns: sentimento de tristeza, astenia, insónia ou continuamente com sono, dores de cabeça, aquele tremor que parece nervoso miudinho num músculo em particular, problemas grastrointestinais, problemas de pele, queda de cabelo e irritabilidade são muito comuns. Ou todos ao mesmo tempo, o que é um péssimo sinal!
O que eu faço para não endoidecer, com um ritmo profissional assim meio alucinante, a tentar manter todas as bolas no ar, a dar atenção em casa, à familia e aos amigos, e ainda, assim, cuidar de mim? Priorizar, apagar fogos, esticar a corda e estar atenta ao momento em que pode partir, para não abusar.
Na verdade não tenho regras fixas porque isso ainda aumenta o stress para as cumprir e, mais ainda, pelo seu incumprimento, mas aprendi a ler os sinais do cansaço - diário - e do outro, subtil, que se acumula. Se a um sábado me apetecer ficar no sofá a ver um filme que não obrigue a pensar, pois seja. Sem culpa, sem pensar que estou a desperdiçar o meu tempo ou que o frigorífico está vazio. Podemos querer fazer tudo, mas nunca conseguimos fazer tudo e cuidar de nós ao mesmo tempo, pelo que, para cuidarmos dos outros, temos de nos colocar em primeiro lugar. Confesso que, por vezes, sinto-me quase afogar com aquela sensação de distribuição de energia pelos outros, mas passei a ser melhor cuidadora quando aprendi a criar um espaço entre mim e o que os outros esperam de mim. Faz parte, não é egoísmo ou falta de consideração, é mesmo de coração, porque para dar, precisamos primeiro receber, entenda-se, estar em condições para dar - o que quer que seja - a alguém.
Exemplos?
Começar por um pequeno-almoço nutritivo. Até pode ser on the go, mas inclui hidratos de carbono de libertação lenta (i.e. cereais integrais), hidratação (chá, por exemplo) e fruta (açúcares naturais);
Parar para almoçar, respirar e, de preferência, apanhar ar;
Evitar multitasking porque produzimos mais quando nos concentramos numa tarefa de cada vez; bloquear notificações, ou tirar o som ao telefone e deixá-lo longe do olhar;
Terminar o mais cedo possível (gente, o dia não tem 24h de trabalho, parte dessas horas são para viver) e relaxar: uma caminhada junto ao mar, deitar numa rocha e ouvir o mar, praticar yoga ou conversar com um amigo são ideias gratuitas que funcionam comigo. Depois há toda uma lista de coisas da moda, como journaling que a mim só faz o cérebro voltar a funcionar. Também uso a app Calm e, apesar de ser apenas a versão gratuita, inclui meditações que me ajudam a relaxar. Posso não meditar, mas aqueles minutos são meus. Há também a Meditopia, cujas notificações estão activas, enviando-me, todas as manhãs, uma mensagem bonita. Também tenho playlists no Spotify (podem usar o YouTube para o mesmo efeito) que me isolam do mundo e garantem, por um lado, concentração, por outro, relaxamento. Tirando isto, é reduzir o tempo de ecrã. Sempre.
Um dia um amigo disse-me que gostaria de ver o por do sol tantas vezes quantas fosse possível. E eu adoptei essa ideia como #mottoforlife e a minha vida nunca mais foi a mesma. Vale a pena, garanto. Agora,
cuidem-se.
(e voltem para a semana!!)
Kiss, P.
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