Olá, bem vindos.
Falar não me apetece mas poderia ficar horas a escrever, apesar de saber que, aquilo que escrevo, não vende. O Vida Instagramável foi um projecto do coração, empenhei-me como poucas vezes o faço e não morreu na praia, mas também não ficou no areal a apanhar sol. Gerou interesse, motivou alguma curiosidade mas na hora da verdade, pouco mais aconteceu. Curiosamente, hoje alguém recuperou uma entrevista minha dessa altura. Obrigada por isso, fez-me lembrar da razão pela qual escrevi.
Em Portugal lê-se muito pouco e ainda se vendem menos livros. Isso faz de nós o quê? Compreendo a razão para se venderem poucos livros, tenho dificuldade em compreender o desinteresse. Há um novo inquérito sobre práticas culturais em Portugal que diz que 61% dos portugueses não leram um livro em 2020, o que é diferente de se venderem poucos livros. Em duas mil pessoas inquiridas, mais de metade não leu um único livro, porque temos baixos níveis de escolaridade e recursos económicos escassos recursos económicos. Somos pobres, em todos os sentidos da palavra e ainda quero eu que as pessoas se preocupem com isso de instagramável e o que fazem as redes às nossas vidas.
Paula, acorda (ou será antes, pessoal, vamos acordar?)
Os jovens entre os 15 e os 24 anos são os que menos prazer retiram da leitura (43%).
O inquérito não explica, mas eu aposto que o excessivo tempo passado com ecrãs, num scroll infinito por videos que não têm mais do que uma frase e que, quando têm, o autor do video aparece em voz off a ler ou a explicar, poderá ter algo a ver com este (des)prazer. Os jovens passam 28h/semana na Internet em trabalho/estudo e/ou lazer. Mais de um dia inteiro na net é um bocado, não acham?
Este estudo também revela a centralidade da TV. Numa era em que apostamos forte na Internet, a TV continua a fazer parte do quotidiano de 90% dos inquiridos, que são os mais idosos e de menos recursos. Se pensarmos que a pirâmidade continua a diminuir na base, facilmente percebemos que estamos numa espécie de beco sem saida em relação a várias questões, uma delas a leitura. Se pensarmos que tipo de programação temos na TV nacional, que a maior fatia da população tem baixos recursos e baixa escolaridade então estamos perante uma espécie de tempestade perfeita que nos deixa, inevitavelmente, no mais do mesmo, para não dizer pior.
Há muitos anos - muitos, mesmo - li uma entrevista na qual uma artista afirmava que “há muito que me cansei de ser portuguesa e de cá viver” e eu, não estando cansada nem de uma, ou da outra, sinto-me cansada de um paradigma que não evolui, que está cristalizado entre as cunhas e o amiguismo, a notoriedade a qualquer preço, popularidade assente numa mão cheia de nada, e uma cultura que se divide entre o popular e o erudito sem espaço para algo que fique no meio, especialmente, uma cultura que critica o popular sem ser capaz de apreciar ou valorizar o erudito.
Tudo isto para falar do peso das palavras na nossa vida e da interpretação que delas fazemos, porque nem sempre nos tratamos bem, nem sempre somos os nossos melhores amigos. A negatividade infiltra-se no nosso pensamento num monólogo repetitivo que nos faz sentir que está tudo mal quando, possivelmente, nada está errado, apenas é o que é. Como o facto de em Portugal se ler pouco e se comprarem poucos livros, facto que inevitavelmente influencia o que se publica. Por isso, independentemente do que nos dizem, dos factos ou da situação, é importante redefinir a forma como falamos connosco porque esse monólogo pode tornar-se num ruido de fundo que nos acompanha, limita e, eventualmente, destroi. Por isso hoje, se daqui não retirares mais nada, lembra-te disto: a forma como falas contigo importa mais do que pensas. Tem atenção às palavras que usas sobre ti e contigo, analisa os teus pensamentos, encontra padrões de pensamento e discurso e, se te deitarem abaixo, pára. Substitui a negatividade por palavras de apoio. São essas as palavras que usas com os teus amigos, colegas de trabalho, ou até com os teus filhos ou sobrinhos não são? Então porque não as usas contigo, também? Substitui as palavras negativas, associadas à incompetência por aquelas que associamos ao processo de aprendizagem e imagina que estás a falar com o teu melhor amigo. Num momento difícil, irias dizer-lhe que é um idiota inútil? Creio que não.
A escolha é tua, sempre tua. Podes escolher falar de forma negativa ou usar palavras positivas quando falas contigo mesmo. Somos nós a dominar o nosso pensamento e, mesmo que tal não aconteça em todos os momentos, podemos identificar os nossos sentimentos, pedir ajuda e gerir o processo como se fosse uma situação de crise. Pode não ser, mas quando estamos na espiral do Calimento, é uma crise.
Vive a tua verdade, não o que os outros te dizem ou aquilo que as suas acções te fazem sentir ou pensar. Acredita em ti, no teu valor e concretiza. Nem tudo é para ser vendido, por vezes é apenas para ser apreciado.
Tem um bom fim de semana cheio de palavras bonitas de ti, para ti.
💋💋💋
P.
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