(00:02) [Música] Bem-vindos e bem-vindas ao Café Segurança Legal, episódio 389, gravado em 11 de abril de 2025. Eu sou o Guilherme Goulart e, junto com Vinícius Serafim, vamos trazer para vocês algumas das notícias das últimas semanas. E aí, Vinícius, tudo bem? E aí, Guilherme, tudo bem? Olá aos nossos ouvintes e aos internautas que nos acompanham no YouTube. Esse é o nosso momento de conversarmos sobre algumas notícias e acontecimentos que nos chamaram a atenção.
(00:30) Então, pegue o seu café e vem conosco. Para entrar em contato conosco, você já sabe, envie uma mensagem para podcast@segurançalegal.com ou também lá no Mastodon, Instagram, Bluesky e YouTube. Já pensou em apoiar o projeto Segurança Legal? Você pode fazê-lo por meio do Apoia-se, em apoia.se/segurançalegal.
(00:48) Lá você escolhe a modalidade de apoio e também tem a chance de participar do nosso grupo exclusivo de apoiadores no Telegram. Inclusive, uma das mensagens aqui veio de lá do grupo, que a gente vai responder para eles hoje. Também tem o blog da Brownpipe Consultoria, que é a empresa mantenedora, junto com os apoiadores, do podcast Segurança Legal. Então, se você acessar www.brownpipe.com.br,
(01:13) você vai conseguir ver, além do conteúdo todo lá, o blog. Também consegue se inscrever na mailing semanal. Inclusive, uma das notícias que veremos aqui foi para a mailing semanal. Você fica sabendo antes se assinar a mailing da Brownpipe. Certo, Vinícius? Beleza.
(01:32) Guilherme, você queria mandar um abraço para o Alexandre? Não, um abraço tu mandas, eu vou mandar um 73, tá? Tu mandas um abraço para o Alexandre, eu mando um 73 para o Papa Papa 5, ou quinto, Papa Papa quinto, Índia Tango Tango. Um abraço do Papa Uniforme 3, Sierra Romeo Foxtrot. Eu tive que quase puxar da memória aqui o meu indicativo, porque faz um tempo que eu me mudei e não trouxe as antenas junto, viu, Alexandre? E quase não te mando esse 73, cara, porque eu estava viajando numa semana, na outra a gente não pôde gravar e acabou ficando.
(02:03) Então, para que fique o registro, Guilherme, um 73, então, para o Papa Papa 5, Índia Tango Tango, do Papa Uniforme 3, Sierra Romeo Foxtrot. Pelo visto o Alexandre é um classe B ou um classe A, cara. Eu sou um classe C lá do rádio amador.
(02:23) Isso é tipo uma maçonaria que vocês ficam falando em códigos? Sim. Não, não é, definitivamente não é. Legal, legal. E com a gente imaginando que o mundo eventualmente pode acabar numa guerra… É bom ser rádio amador. O rádio amador é útil. É os radiozinhos aqui, uma bateria e está feito, cara.
(02:46) Aqueles filmes que o mundo acaba, o pessoal ainda continua usando um pedaço de fio para cima e está feita a comunicação. Boa. Bom, eu então mando um abraço para o Alexandre Itner. Obrigado, Alexandre, pela mensagem. Fique sempre conosco. O pessoal lá do grupo, Vinícius, estava perguntando o que significa o cachimbo da Brownpipe. A gente falou um pouquinho sobre a Brownpipe ontem.
(03:05) A Brownpipe que está completando este ano 13 anos de operação. 13 anos. E o Segurança Legal também está completando 13 anos. Vinícius, eu não quero dizer nada, mas acho que é abril, domingo. Agora, domingo, completamos 13 anos. Nem nos preparamos para fazer… a gente pode fazer na semana que vem. E aí, Guilherme, o pessoal quer saber, a minha pergunta foi: “O que era o cachimbo da Brownpipe?”. Cara, o que significava o cachimbo? É o seguinte, é de uma serendipidade total o nome da Brownpipe,
(03:41) como já foram outros nomes que eu criei para outras situações. Mas Brownpipe vem deste cachimbo aqui, é deste cara aqui. Eu tive que criar o domínio da Brownpipe, na verdade, ele existe antes da Brownpipe. Foi um domínio. Eu precisava fazer um teste, uma brincadeira que eu ia fazer com um software e aí eu tinha que registrar um domínio e não sabia que nome botar. Vou botar o quê? Bobagem? Não sei.
(04:12) Vou botar alguma coisa. Aí eu olho na minha mesa, eu tinha este cachimbo, ele estava guardado numa caixa aqui, mas ele ficava num apoiadorzinho com descanso de cachimbo, de enfeite na mesa mesmo. Eu olhei para aquilo ali, cara, “brown pipe”, cachimbo marrom.
(04:38) Aí registrei o domínio Brownpipe, tanto que, se vocês forem ver, o domínio existe há muito mais tempo que a empresa. Foi por causa disso. E aí, esse domínio eu fiz o que eu queria fazer, botei para rodar o que eu queria rodar, não deu adiante e ficou o domínio registrado. Ficou lá. Mais tarde, quando a gente resolveu criar, fundar a Brownpipe, eu e o Guilherme, a gente pensou nesse domínio que a gente tinha ali.
(05:11) E aí a gente fez um link, e eu não lembro, Guilherme, bem sinceramente, eu não lembro se foi tu, se foi eu, qual de nós dois que se deu conta disso, mas a questão do cachimbo com o Sherlock Holmes, das histórias do Arthur Conan Doyle, que a marca registrada dele é um cachimbo. Então, o cachimbo, e aí junta a perspicácia, a questão de investigar e resolver os problemas que ninguém resolve.
(05:36) Foi nessa linha. Foi exatamente nessa linha. É, mas eu não lembro quem foi, se foste tu ou se fui eu. Mas foi um brainstorm nosso de você trazer essa, evocar essa memória da personagem para o nosso trabalho. Bom, se você gostou da história, visite brownpipe.com.br, conheça os serviços prestados.
(06:04) E antes que o YouTube nos incomode que a gente não está fazendo propaganda de fumo ou qualquer produto relacionado a tabaco. Pronto. Sim, porque a política deles proíbe esse tipo de coisa. Exatamente. “Tariffs”, nas últimas semanas foram as semanas das tarifas. Não sei se daria para traduzir literalmente, embora a gente esteja usando, e vamos usar aqui, o termo “tarifas”. Talvez não seja exatamente o termo técnico correto. E o objetivo da gente trazer este tema aqui é como o problema ou a questão das tarifas
(06:40) pode afetar o mercado de TI e, por vias indiretas, também o mercado de segurança. Porque, de maneira geral, a gente está vendo uma reformatação, eu não sei se é uma reformatação ainda concluída, Vinícius, porque é difícil falar sobre isso, ou seja, entender quais vão ser as consequências do que está acontecendo agora, porque não é uma coisa terminada, é uma questão que ainda está em andamento. Então, nós não sabemos, e talvez seja até um exagero alguns economistas dizerem: “Ah, nós estamos
(07:12) vendo uma reformatação da ordem econômica mundial”. Tu achas que é uma reformatação? Eu não acho nada porque não tenho conhecimento de economia ou coisa parecida, mas, do que eu já acompanhei e do que eu acompanho, principalmente da mídia norte-americana… mas a gente viu esses dias o primeiro-ministro de Singapura falando de uma maneira muito clara, muito franca.
(07:42) Aí tu vês o pessoal da União Europeia… claro que tem que dar um desconto aí que existe todo um jogo que a gente nem sabe, a gente está meio por fora, e se a gente acha que está entendendo, eu acho que é um efeito meio Dunning-Kruger, sabe? A gente acha que está entendendo porque não entende do negócio. Mas, no geral, se fala que é uma nova reorganização na qual os países não querem mais ter os Estados Unidos como… não é que não queiram ter como parceiro, querem ter como parceiro, mas não um parceiro sólido, (08:13) aquele único parceiro que eu vou ter. Eu tenho que ter opções, eu tenho que ter alternativas aos Estados Unidos e não posso confiar tanto assim nele. É mais ou menos isso, resumindo o que eu tenho ouvido dos analistas falando, que não são os caras que ficam falando assim: “Ah, tu viu que isso é uma jogada de gênio do Trump?”. Todo mundo sabe que não é.
(08:40) Todo mundo sabe que foi improviso dele, todo mundo sabe que ele recuou porque o mercado começou a derreter, começou a dar a maior confusão lá e a galera já estava enchendo o saco dele e dos secretários dele. Então, tinha uma pressão muito forte e por isso ele cedeu. Fora esses caras que estão nessa bolha, as análises que a gente vê por aí, inclusive independentes e tudo mais, não dá nem para criticar os caras dizendo que são de um espectro político ou de outro, os caras são inclusive conservadores de direita e tal… é de que mudou o cenário.
(09:13) Mudou o cenário, mas eu não sou capaz de fazer essa avaliação. Estou indo na onda do que eu vi. Eu acho que a ideia de uma mudança de cenário, eu quero dizer, não sei se isso ainda aconteceu, porque ela ainda não está concluída e a gente tem visto, quem está acompanhando mais de perto, idas e vindas nas últimas duas, três semanas. Então, não é algo que foi anunciado e que… as últimas notícias dão conta de que Trump volta atrás das tarifas, suspendendo-as por 90 dias. O mercado
(09:48) começa… menos aqueles 10% e mantendo as da China, mantendo as de alumínio e aço. Sim. E qual é essa reformatação? Eu acho que o primeiro ponto é a gente ter visto o fato da WTO, World Trade Organization, que seria a perda do protagonismo ou da utilidade desse controle ou desse acordo mundial que se tinha, da organização do comércio internacional de maneira geral, que é uma organização que nasce depois da Segunda Guerra. E essa história é
(10:32) muito interessante, porque teve um outro salto lá na China na história deles, mas o salto que eles deram depois da Segunda Guerra até hoje é um negócio… Então, o que a gente está vendo, a gente viu esse salto porque a China, depois da Segunda Guerra Mundial, e aí tem todo o protagonismo dos Estados Unidos, seja pela via do Japão e o crescimento industrial dos Estados Unidos pós-Segunda Guerra, eles tendo que resolver e apoiar também os estados europeus que padeceram com a Segunda Guerra. A China, logo depois da Segunda Guerra, era uma economia
(11:12) agrária e continuou assim por… é um feudalismo estranho lá deles e, claro, aos trancos e barrancos também foram resolvendo por meio da revolução. Miséria, questão de miséria, a galera passando fome, um negócio muito… 90% das pessoas morando no campo e tudo mais. E aí, no final da década de 70, eles começam esse movimento de industrialização e de especialização, de investimento, fizeram uma reforma agrária ao mesmo tempo que começaram a se especializar em uma série de áreas.
(11:47) E aí, isso num resumo bem resumido, até porque não é a nossa área essa parte, mas o que acontece é que, a partir de 80, dá para se dizer que eles começaram esse movimento que os fizeram se tornar a potência que são hoje. E isso acabou levando à desindustrialização de alguns países, inclusive dos Estados Unidos também, quando a gente olha para um mercado globalizado e para a dependência que se criou das cadeias de suprimento. As discussões que se tem hoje, aquela
(12:20) história, poxa, é difícil você produzir algo completamente ou somente dentro do país, como se fazia, sei lá, na União Soviética, que era fechada. É. A gente foi fechado por muito tempo aqui no Brasil, até Collor. Era um atraso e tal.
(12:43) Lembra dos computadores Cobra? Computadores do Brasil. E outras coisas mais. Então, essa ordem econômica que está sendo desafiada, era esse acordo econômico entre as nações que está sendo totalmente desafiado, e isso causa incerteza. E a incerteza é ruim para os mercados. E se uma vez que ela é ruim para os mercados, elas vão acabar afetando relações negociais, e relações negociais que vão envolver contratações de serviços de novos projetos. Em última análise, o que a gente está vendo, se isso se confirmar, se essas tarifas se mantiverem como se
(13:30) pretende, é um rearranjo do mercado internacional. Mas nós vamos ter o aumento de preços de uma série de equipamentos tecnológicos, e aí vou indo um pouco mais para a nossa área. Não é só o telefone, é a preocupação dos… é só uma outra coisa, isso vai mexer também, tem o poder de mexer
(13:55) muito com o “American Way of Life”, com aquele jeito americano de viver e o jeito americano de consumir. É um país baseado no consumo amplo e bem incentivado de bens pessoais. Algo que a própria China também não conseguiu fazer e pode ser uma resposta. Eles podem virar e, caso deixem de vender para os Estados Unidos, começar a tentar aquecer o próprio mercado interno deles.
(14:23) É uma das saídas que eles já colocaram, sim, inclusive colocando isso para a União Europeia. Mas em que isso começa a nos afetar? Bom, em primeiro lugar, preços de produtos e de serviços. Claro, a gente estava discutindo antes aqui, qual é o papel da China, por exemplo, na produção geral de hardware, mas também, sobretudo, de processadores, que é a grande questão hoje com IA. Aí o Vinícius estava comentando um pouco aqui sobre isso, que ele conhece um pouco mais essa área.
(14:54) Embora eles não sejam líderes na fabricação de chips, eles têm um protagonismo em semicondutores e no refinamento de uma série de minerais que seriam depois usados para a fabricação de chips. É que a tecnologia para desenvolver os chips de alta densidade é uma tecnologia holandesa que está licenciada, está em uso pela TSMC, que fica em Taiwan, que a China quer, mas não tem ainda.
(15:33) Então, Taiwan é que produz esses tipos de alta densidade da Nvidia, esses tipos de processadores, de maneira geral. Esses caras são os líderes da fabricação. Então, uma Intel da vida projeta, uma AMD da vida projeta, esses caras projetam, mandam para eles, e eles vão lá e fazem a produção do chip em si. No entanto, a China não produz chips. Tanto é que naquela confusão lá do DeepFake, uma das discussões era que eles não teriam acesso aos chips H1 da Nvidia
(16:09) porque foi proibido que a Nvidia vendesse para a China e, obviamente, se a China fabricasse, ela teria acesso. E o negócio é tão sério, Guilherme, que nessa tecnologia da ASML, a empresa holandesa que tem a tecnologia que faz a litografia, se eu não estou enganado, dos chips, eles têm um “kill switch” lá. Eles têm uma medida de proteção para matar os equipamentos no eventual caso de uma invasão chinesa. Então, se a China tentar tomar a TSMC, essa tecnologia da
(16:48) ASML mata os equipamentos. Mas, então, tem isso. A gente tem que cuidar que esses processadores de alta densidade, de alta capacidade, são produzidos pela TSMC. A indústria chinesa se estima que ela está uns 5 anos atrás disso. O que ela produz hoje são os chips de 7 nanômetros, enquanto a TSMC está com tecnologia de 3 nanômetros. É tipo, menos da metade da densidade que a TSMC consegue, um chip mais de duas vezes mais denso do que um chip produzido pela China. Porém, entretanto, o computador, os eletrônicos que a gente
(17:35) utiliza não são só chips de alta densidade, que são os mais caros. Normalmente, CPUs, GPUs, etc. A gente tem um monte de circuito integrado, um monte de componente discreto, diodo, transistores em geral e não sei o quê. E para fazer essas coisas, tu precisas de alguns minerais, como o gálio e o germânio.
(17:57) E isso a China tem bastante. A China tem as principais reservas desses dois minerais. E a China refina e produz os componentes eletrônicos. Tanto é, eu curto eletrônica. Deixa eu te botar de volta aqui, Guilherme, desculpa. Eu curto eletrônica aqui.
(18:15) Sabe quem tem mais metais raros também? Quem? Ucrânia. Ucrânia. É, as tais das terras raras e como também os Estados Unidos começam a se interessar pelo acesso a essas tais terras raras. E aí o seguinte, quem curte eletrônica sabe muito bem que, se tu queres comprar componente eletrônico, é site chinês. Tu encontras o que tu precisares, muito barato.
(18:41) Mas sabe quando eles se deram conta, Guilherme, que era um problema essa questão dos processadores da TSMC? Foi na época da pandemia, que desorganizou toda a cadeia de suprimento internacional, global. Começou a faltar processador em tudo quanto foi canto, e os caras se ligaram, podia manter a multimídia dos carros.
(19:05) Carro é chip. Tem processadores que tu usas num Arduino, microcontrolador Arduino, eles são feitos para aplicação automotiva também. O mesmo processador. Então, tu tens esse momento da pandemia que o pessoal se dá conta disso.
(19:26) E antes mesmo, no final do governo Trump e no início do Biden, o pessoal já começa a se preocupar: “Opa, TSMC, vem para os Estados Unidos fabricar aqui”, já tentando se defender desse tipo de coisa. Então sim, no final das contas, os processadores de altíssima tecnologia, processador e GPU, é Taiwan. E componentes eletrônicos de maneira geral, circuitos integrados, o que tu imaginar,
(19:49) a China tem. Ela não só extrai, como refina, como fabrica e fornece para todo mundo. Então, não tem como, a China é muito importante nesse aspecto. Você nota que isso tem causado uma certa, não é bem uma preocupação, os analistas começam a ficar até perplexos.
(20:14) Porque tu tens cadeias de suprimentos muito complexas numa economia totalmente globalizada. Basta você pensar em qualquer coisa, praticamente, carro, por exemplo. Mas, trazendo para nossa área, TI de maneira geral, é óbvio, pensa na nuvem. A nuvem não é, como o nome sugere, algo que está no éter. Você tem um grande problema, inclusive ambiental, que é a manutenção de todos esses data centers que precisam manter serviços de nuvem utilizados por basicamente qualquer pessoa que tenha acesso à internet e
(20:55) empresas. Sim, quem tem um telefone. As empresas principalmente. E se você começa a mexer em custos de nuvem, você vai afetar, em maior ou menor grau, a operação de todas as empresas que têm na nuvem o seu, não é bem o insumo, mas é um serviço que vai ser utilizado.
(21:23) E aí, quando a gente começa a pensar quem são os líderes de serviços de nuvem hoje no mundo, se você pegar os três maiores, Amazon, Google e Microsoft, são empresas americanas. E se você começa a pegar também toda a preocupação europeia… os europeus usam lá 90% dos serviços que eles usam, como falou a von der Leyen, são americanos.
(21:48) Então você tem um potencial aí, o que tem deixado as pessoas sem entender direito qual é o objetivo disso tudo, de você começar a afetar esses serviços pelo viés do preço, porque os países afetados também podem impor tarifas nos serviços de nuvem americanos. Isso seria algo difícil de entender. Isso é um nó tão grande, porque tu vais ter um efeito em cascata aí, porque tem a própria construção do hardware. A fabricação de carro é muito utilizada, mas os hardwares que a gente utiliza também vão no mesmo caminho. Tu
(22:24) tens equipamentos cruzando fronteiras de um lado para o outro toda hora. Vai um certo conjunto de componentes da China para não sei aonde, aí o cara vai lá e faz uma plaquinha, não sei o quê. Aí esse cara entrega essa placa de volta para um cara na China, que vai para outro cara.
(22:42) Então, o produto não é tão simples assim, não é fabricado… manda os insumos todos para um lugar, fabrica lá e aí exporta. Tu tens, muitas vezes, equipamento que fica com pedaços dele indo e voltando, cruzando fronteiras até ter o produto completo. E aí tu tens o aumento do custo da tua infraestrutura, porque tudo que tu imaginar, roteadores, desde o que vai ligar tua fibra em casa, os teus celulares, as placas gráficas que tu precisas para rodar IA, disco, HD, SSD, memória, hack, tudo que tu
(23:28) precisas para sustentar essa estrutura vai aumentar. E são feitos em lugares diferentes, não é tudo feito na China. E vem tudo… se fosse feito na China, é pior ainda, porque se vier dos outros lugares, pelo menos dentro de 90 dias, é só os 10%. Você tem um aumento de só 10%.
(23:47) Tu tens um aumento de 10% e mais na China lá que é 125% agora. E aí tu tens esse aumento, o custo de quem fornece serviços. Tu tens uma infraestrutura de nuvem ali que vai ter seu custo aumentado. Esse custo vai ser repassado, óbvio, para quem usa a nuvem, para quem usa a nuvem para fornecer os seus serviços.
(24:13) E tem várias empresas que fornecem serviços ali que não usam só o serviço da nuvem em si, elas usam serviços de outras empresas. Nós, por exemplo, na Brownpipe, cara, pensa em todos. O mais básico: serviço de e-mail é americano. As ferramentas todas são todas americanas. A parte de… bom, qualquer ferramenta, CRM americano, ferramenta de edição, é americano. É tudo americano. E aí o que pode acontecer? Podem esses valores todos começar a aumentar para nós também.
(24:47) Hoje, uma conta no Google custa quanto por mês? É uns R$ 50, mais ou menos. É aproximadamente isso. Então, daqui a pouco, começa a ficar caro demais para eles manterem as coisas funcionando, eles vão começar a meter taxa, não taxa, mas um valor maior, e isso vai tendo um efeito em cascata. E isso nos coloca também no papel do Brasil ao longo dessa história. Na verdade, é um assunto superinteressante.
(25:14) Eu tenho achado assim. A história da economia, os economistas precisam estudar muito a história da economia. Porque toda pessoa que gosta de história já se deu conta como é importante. Você começa a ver alguns fatos, descobrir alguns fatos e pensa: “Puxa, mas isso já aconteceu, está se repetindo agora”.
(25:39) O Brasil também se estagnou. Pensa no papel que a China teve dos anos 80 para cá e pensa no caminho que a gente percorreu dos anos 80 para cá também. Todas as dificuldades que a gente tem, até mesmo com educação, ou a própria dependência que o comércio brasileiro tem de commodities. Muito bom e tal…
(26:03) Claro, exportar café, gêneros alimentícios e petróleo e tal, mas são produtos que não são especializados. Qual é a nossa atuação hoje no mercado de tecnologia? É muito pequena. Tanto de serviços um pouco maior, mas se tu fores pensar em equipamentos, é muito pequena.
(26:30) E isso nos deixa completamente vulneráveis a essa mudança de ventos. E veja, isso tem muito a ver com TI, isso tem a ver com segurança, pessoal. Porque se você tem um projeto que você precisa levar adiante e você vai ter menos dinheiro, não se enganem, as pessoas começam a cortar em coisas que não aparecem num primeiro momento. E segurança é uma delas. É a primeira a morrer.
(26:56) É a primeira a morrer. Não é segurança e conformidade, porque ela não vai aparecer. Eu tenho dois serviços, eles vão estar funcionando bonitinhos. Se eu só olhar para o serviço, eu não consigo saber qual teve segurança ou qual investiu mais em segurança. Tirar o airbag.
(27:16) Eu te vendo o carro que está escrito “airbag” no painel, está lá, mas não tem nada ali dentro. Está oco. Tu só vais descobrir se der um problema, senão tu não vais descobrir o que está acontecendo. Isso pode mexer em todo o cenário já complexo de regulação, sobretudo de IA e regulação de proteção de dados. Nós já tínhamos falado aqui, e é por isso que você escuta o Segurança Legal e contribui com o Segurança Legal, Vinícius. Tem coisas que você só ouve aqui. E nós já tínhamos antecipado, o que era meio óbvio até, que o novo governo Trump ia mexer muito na questão da governança dessas empresas, mas da
(27:52) regulação das empresas. Então, óbvio que as empresas vão se alinhar com o governo Trump se ele diz: “Olha, eu vou afrouxar aqui o controle de vocês para que vocês consigam crescer mais rápido e, assim como a Microsoft já fez no passado, ocupar mais facilmente posições de dominância”. Esta é a ideia.
(28:17) E pensa aí, você tira totalmente qualquer resquício de moralidade do mercado, dos governos e das empresas. A gente tem que olhar de uma forma meio fria. É uma coisa bem utilitarista, me parece. Claro que você pode ter lá os vieses ideológicos de cada um, mas é utilitarista. Pois bem, aí a União Europeia vem, e ela é reconhecida com o peso da sua regulação.
(28:37) Peso esse que foi desdenhado pelo governo americano, mas o peso da regulação que vai fazer, em última análise, que nós tenhamos serviços mais seguros para as pessoas. Quando eu falo em regulação de serviços e produtos, estou falando desde controles de medicina, de alimentos e de produtos químicos, e também controles que deixem os sistemas que nós utilizamos e nos quais entregamos os nossos dados cotidianamente, mais seguros.
(29:09) Em última análise, é você promover um ambiente de negócios e de serviços que proteja as pessoas. E eu acho que é difícil você achar alguém que seja contra isso, a não ser as próprias empresas. Pois bem, então o que pode começar a acontecer é a própria União Europeia começar a usar da ampliação de uma regulação para afetar sobretudo os Estados Unidos. Enquanto os Estados Unidos vão no movimento de afrouxamento, o que pode parecer bom no primeiro momento, em algum momento passa a ser insustentável. Em algum momento isso pode trazer um problema muito grande para a
(29:47) humanidade. É, vai cobrar seu preço. Vai cobrar seu preço. É tipo remédio. Eu sempre uso, até nas aulas de direito do consumidor, o exemplo da talidomida. Era um remédio que causava uma má-formação congênita em crianças, era usado por grávidas.
(30:06) Depois do caso da talidomida, você teve uma verdadeira revolução na questão farmacêutica. Por quê? Porque hoje os estados buscam o bem comum das pessoas. Essa também é uma virada. É uma virada de você começar a promover um ambiente de negócios que, de forma ostensiva, não busca o bem das pessoas e nem finge que busca. É um negócio que, nesse sentido, também me deixa um pouco estupefato.
(30:35) E aí vêm os Estados Unidos, e é muito engraçado. A gente estava vendo um relatório, que é o “2025 National Trade Estimate Report on Foreign Trade Barriers”. É um documento de comércio internacional deles. Tem uma avaliação que eles fazem ali de vários países, inclusive o Brasil. E uma das preocupações, olha como as coisas, como esse ambiente de regulação, é complexo.
(31:01) Os Estados Unidos estão dizendo que estão preocupados com o fato de as autoridades, e aí seria a ANPD, mas do Brasil… não fala na ANPD, fala sobre LGPD, mas hoje quem é responsável por isso é a ANPD. Sobre a falta de regras claras para transferências internacionais de dados pessoais, que é uma coisa que já caminhamos, mas ainda tem todos aqueles acordos, cláusulas-padrão e tudo mais. E os próprios acordos de empresas, enfim. E ele está dizendo: “Olha, isso está criando um cenário de incerteza para nós lidarmos
(31:35) com negócios e com transferências muito rotineiras”. E esta é uma mensagem que eles deram para o Brasil. Você nota como esse afrouxamento e essa alteração desse balanço de poder… de repente, você está vendo um relatório de comércio internacional dos Estados Unidos, que não é nossa área aqui, mas você tem lá os Estados Unidos reclamando: “Olha, vocês têm que andar mais rápido aqui”.
(32:04) O próprio Brasil precisa andar muito mais rápido, tanto nessa questão do acompanhamento de dados pessoais quanto na própria regulação da IA. Claro, a regulação da IA agora dá uma arrefecida por conta do problema americano, mas nota que tudo isso está sendo afetado e tudo isso pode passar a ser reconfigurado diante dessas alterações que a gente está vendo.
(32:32) E aí, Guilherme, a gente vê algumas situações. A gente estava vendo um tempo atrás que o Banco Central estava pedindo, por exemplo, que as instituições financeiras tivessem uma nuvem alternativa por causa de indisponibilidade, não de queda de internet, mas de repente o serviço simplesmente não ser mais oferecido. E se a gente olhar o que já aconteceu, claro, a gente já viu aí essa discussão, por exemplo, do Twitter, do bloqueio do Twitter, da própria questão da Starlink,
(33:06) por exemplo, quando há essas discussões jurídicas, independente do que você pensa sobre isso, esses serviços podem ficar eventualmente indisponíveis. E se tu tens um negócio que depende do Twitter ou uma situação em que tu dependes de uma Starlink da vida e perdes acesso a esse serviço, teu negócio vai a zero, acabou. Agora, imagina uma situação em que tu tens a tua nuvem, tu usas serviço de nuvem para conseguir operar,
(33:36) tua estrutura toda na nuvem, tu dependes dessas empresas norte-americanas. E aí, cara, imagina uma situação numa guerra comercial agravada, que a gente perde o controle da coisa toda e simplesmente alguns serviços param de ser oferecidos ou, não precisa chegar a tanto, passam a ser oferecidos num valor absurdo. Valor absurdamente alto.
(34:09) Então, o que vai acontecer, para onde nós vamos correr? Claro que isso eventualmente vai acabar fazendo com que algumas empresas comecem a investir em estrutura local. Pode acontecer. Mas aí o Brasil já deveria estar preparado para isso. Sim. Só que, ao mesmo tempo, a gente já sofre com isso justamente por causa dessas tarifas de importação que existem e tudo mais, que tornam a tecnologia muito cara para a gente.
(34:40) E num mundo em que a tecnologia é essencial para os serviços andarem de forma ágil, para todo mundo conseguir trabalhar bem, etc., cara, é caríssimo ter um notebook decente. Tu tens que comprar um negócio meia-boca. Se tu queres gastar pouco, ainda assim não é pouco. Então, pensar para a população ter acesso a esses recursos é muito caro para nós.
(35:01) Qualquer coisa que tu vais comprar hoje já é muito caro, já atrapalha bastante. E aí tu imaginas uma situação em que esses serviços se tornam ainda mais caros. Os serviços em si. Como é que a gente vai substituir isso facilmente por coisas locais? Não vai.
(35:21) Aí nós vamos ter aquele aumento de preço, aquele problema todo em cascata de novo. Mas é uma estagnação, Vinícius, que sempre nos surpreende enquanto professores. Porque hoje a gente vê um protagonismo maior, não estou dizendo que apenas das universidades públicas, mas a gente vê na pesquisa brasileira um protagonismo maior das universidades públicas.
(35:52) Quando a gente olha para as universidades públicas, e a UFRGS é a que a gente tem mais contato aqui, dá muita pena. A gente já teve casos aqui na faculdade de direito dos professores terem que pagar para pintar uma sala. Ou salas históricas da faculdade de direito, um prédio que data do ano de 1900…
(36:19) Mas que seja, um prédio de mais de 100 anos, que você tem salas lá históricas que ainda estão sem poder ser utilizadas. Quando você olha para os próprios Estados Unidos, e hoje a gente vendo o próprio governo Trump querendo retirar dinheiro de algumas universidades… “Ó, se vocês não se alinharem comigo ou se vocês deixarem esses caras aí que são contra o que eu penso, eu vou tirar fundos da faculdade”.
(36:42) Você vai ver os fundos, cara, são bilhões de dólares. Ou seja, mexe na formação. Nós não chegamos nem perto. E essa é uma consequência de escolhas, não somente de escolhas políticas, mas de problemas muito fortes no Brasil. Então, alguns analistas dizendo: “Ah, o Brasil pode ganhar porque vai exportar mais, sei lá, café e tal”.
(37:10) Cara, não é possível saber, porque nem sempre o que é bom para o mercado, nem sempre o que é bom para a exportação, vai ser bom para o restante das áreas de negócio e também para as pessoas. E a gente já viu isso acontecendo. Às vezes, algo muito bom para a exportação pode fazer com que o preço de um determinado bem aumente no Brasil, como aconteceu com o café. Então, é muito difícil prever isso.
(37:31) A União Europeia, e isso é muito irônico, a gente falou da questão das nuvens, quem pode ser afetado num primeiro momento podem ser justamente os chamados “Tech Bros”, os “tech brothers”. Seria aquele grupo de empresas que se alinhou ao governo Trump e que, até o momento, está tomando prejuízo. Até o momento.
(37:55) E olha que interessante o que aconteceu há pouco tempo, três dias eu acho. O governo Trump chega e diz: “Olha, nós podemos isentar tarifas de algumas empresas americanas”. Depois de todo esse movimento tectônico que teve no mercado, ele chega e diz: “Nós podemos isentar algumas empresas”. E aí você fica pensando, se nós formos ter um pensamento bem pragmático, o que essa mensagem quer dizer? Isentaremos as empresas que estiverem alinhadas com o meu governo, como a primeira pessoa que eu penso é Elon Musk.
(38:34) Tesla, a primeira coisa, mas depois essas redes. Então, notem como a coisa ainda não está estabelecida, e isso cria uma insegurança, porque a cada dia se diz uma coisa diferente. Já não dá mais para saber nem se esses 90 dias vão ser 90 dias. E essa é a preocupação que a União Europeia está dizendo.
(39:00) “Olha, se por conta dessas tarifas, os produtos chineses começarem a invadir a União Europeia, nós não vamos aceitar isso”. E uma das coisas que podem fazer é impor tarifas nos serviços de nuvem prestados ou nos serviços americanos que atendem a União Europeia.
(39:25) Só que a União Europeia tem mais poder para, não para deixar de utilizar, porque ninguém conseguiria hoje deixar de utilizar serviços de nuvem americanos. Então, isso também está fervilhando dentro da União Europeia, claro, sem falar em todas as questões bélicas que já começam a aparecer também, mas isso está bem fora do nosso assunto. Mas o ponto, eu acho que já dá para concluir essa parte aqui, Vinícius, ou talvez até o próprio episódio. Já estamos há uma hora falando. Eu acho que 41 minutos. 41. Pois é.
(39:57) De maneira geral, nós estamos vendo, então, Vinícius, uma alteração nas próprias regras de direito, eu acho. Tudo isso que a gente tem visto de: “Olha, eu não vou respeitar ordens judiciais, eu vou me esquivar de cumprir ordens que já foram colocadas”. Um movimento que começa a mexer com o próprio estado de direito moderno.
(40:23) E como esses consensos legais que a gente tinha até agora também estão sendo colocados em xeque, com uma série de outras coisas que estão acontecendo nos Estados Unidos e que colocam até o devido processo em risco, pessoas sofrendo sanções sem nenhum tipo de controle de um processo adequado, perdendo direitos e tal.
(40:47) Então, isso cria um cenário de insegurança para as empresas e para as pessoas que têm uma dependência nesses serviços, porque eles podem se tornar mais caros, e isso pode influenciar inclusive a segurança. E isso também pode afetar, em última análise, a própria confiança nesses serviços, porque a gente não sabe o que eles poderiam fazer para se manter alinhados ao governo.
(41:10) Compreende? A gente falou no início do ano, e eu achei que fosse isso que fosse acontecer, mas nesse sentido, eu me enganei muito. O Trump falava em tarifa zero para a tecnologia, em liberar os caras, tirar, zerar imposto dessas empresas e fazer com que o pessoal produzisse. E essa desregulamentação… o que eu imaginei que fosse acontecer, que benéfico ou não, no cenário da IA, a gente chegou a comentar, eu lembro
(41:47) que a gente chegou a gravar aqui no podcast que teria um avanço, talvez até mais rápido, pela própria desregulamentação e pelo incentivo de investimento nessa área. O que as ações do Trump se mostraram contrárias agora, porque ele está atrapalhando o negócio, está dificultando o investimento.
(42:14) É contraditório. Está dificultando o investimento nisso. Os Estados Unidos têm um problema com energia. Eles não têm energia suficiente para conseguir fazer esse avanço em cima de IA que eles querem fazer. Eles não têm, eles precisam do Canadá, precisam de apoio de outros estados, e eles estão dando um tiro no pé com isso, estão avacalhando isso também. E agora, por último, ele está avacalhando o “supply chain”, a cadeia de fornecimento, que é de tudo,
(42:47) inclusive da área de tecnologia. Então, a IA, que eu achei que fosse avançar de uma maneira mais livre, para o bem ou para o mal… e eu acho que ao mesmo tempo para o bem e para o mal. E a gente está vendo as ferramentas de IA já estão mais soltas. Não sei se tu já percebeste isso, mas aquele controle que as empresas estavam fazendo nos modelos de linguagem de grande escala, esses controles começaram a ir para o pau. Ou seja, tu consegues agora gerar imagens que antes tu não
(43:19) conseguias gerar em certos modelos. Tu consegues gerar textos que antes não conseguias gerar em certos modelos, que começaram a ficar mais flexíveis. Então, tu já vês uma coisa nisso para o bem ou para o mal. E eu te dizia o seguinte: algumas coisas me incomodavam, porque às vezes eu queria fazer alguma coisa na IA que não tinha nada de errado, cara.
(43:43) E ficava o ChatGPT enchendo o saco, dizendo que ia contra as políticas dele, e não tinha nada de errado no que eu estava pedindo. Não tinha nada demais. Então, realmente tinha um certo excesso ali de alguma maneira, mas agora a coisa está se soltando de vez. E eu tinha a… e quando ele começou com esse papo de tarifa, o meu erro foi crer na música “agora estar ao seu lado bastaria”.
(44:09) Meu erro foi crer… só para quem nasceu em 1977 e poucos e 80 e poucos. Quem nasceu até 1990 não entende mais a referência. Mas tudo bem. Mas aí o seguinte, cara. O… agora até eu esqueci o que eu ia falar. O teu erro foi acreditar… ah, foi. Meu erro foi acreditar que o Trump estava sendo minimamente estratégico, coerente, ao vir com esse negócio das tarifas.
(44:42) Por exemplo, eu cheguei a pensar: “Bom, é capaz de a gente se beneficiar desse negócio?”. Porque, por exemplo, no Brasil a gente não fabrica notebook. A gente, quando muito, monta alguma coisa lá na Zona Franca de Manaus, certo? E mesmo assim a gente paga muito por notebook, por tecnologia de forma geral. Se o cara começar a encher o saco com esse negócio das tarifas recíprocas, tal, não sei quê, ele poderia negociar, por exemplo, uma tarifa mais baixa para a gente importar tecnologia dos Estados Unidos.
(45:07) Isso seria benéfico para nós, porque quando tu vais importar uma coisa, um notebook, seja lá o que for… eu falo do notebook porque a gente, volta e meia, ouve alguém dizer: “Ah, eu tenho um amigo indo para os Estados Unidos, vai trazer um notebook para mim ou um celular para mim”.
(45:25) Então, de repente, se forçasse uma redução das tarifas, do que a gente paga, a gente teria um certo benefício no acesso à tecnologia. Eu não sei quais seriam os impactos econômicos mais gerais, mas tu poderias comprar um relógio, um celular, um computador, a um preço relativamente menor do que a gente paga hoje. Porque tu pagas hoje 60% de imposto mais 19% do nosso estado aqui de ICMS, o que no final… e tu pagas ainda em cima do transporte. Então, quando tu vês, tu pagas cento e poucos por cento em cima
(46:03) desse tipo de produto. Mas a coisa é muito louca, né? Do jeito que ele está conduzindo, vai fazer tudo menos beneficiar alguém nessa história toda. Ninguém ganha, todo mundo perde. Não tem quem ganha.
(46:20) A China perde, os Estados Unidos perdem, a gente perde, todo mundo se ferra nessa história do jeito que está sendo conduzido. Mas qual o objetivo? O que ele quer? É óbvio que ele não quer, porque daí seria um psicopata, não quer destruir a situação nos Estados Unidos.
(46:38) Mas ele pode ter uma visão meio burra do que deveria ser. Sim. Mas o ponto é, e por isso essa reconfiguração de uma ordem de direito moderna, do tipo “eu vou destruir o comércio internacional para somente beneficiar o meu país”, ou seja, todo o restante do globo que arque com as consequências. Isso não dá certo.
(47:06) É aquela história de ganha-ganha. Claro. Aí já é uma questão bem mais econômica aqui, dos efeitos e dos impactos. Mas aconteceu uma outra coisa também… eu tinha pensado em falar sobre isso, mas já passou agora, mas eu acho que foi algo grande que mexeu e não teve a devida atenção. Foram aquelas imagenzinhas do Studio Ghibli, dos japoneses, que o ChatGPT começou a copiar, numa clara demonstração de poder e de descumprimento. Desafio de “não cumprirei o básico de propriedade
(47:44) intelectual”. Essa pode ser uma outra coisa. E eu vi um analista dizendo isso esses dias. A China também pode fazer isso. “Então é assim? Então agora eu deixarei de cumprir a regra de direitos autorais para treinar as minhas IAs de uma forma que ninguém nunca antes imaginou? Não vou respeitar nada”.
(48:07) E aí, se você começa a entrar numa guerra desse tipo, aí sim… e quando eu digo que é uma reconfiguração ou uma desconsideração das regras de direito, eu quero dizer a desconsideração de um certo acordo que os países tinham de até onde eles podiam ir. E eu não estou falando de antes de uma guerra.
(48:26) Estou falando de: “nós temos uma Organização Mundial do Comércio, nós temos regras de direitos autorais que guiam as nossas operações até aqui”. E essas duas coisas estão desmoronando muito rapidamente. Nota, no fundo de tudo isso, a gente tem principalmente, e aí volta de novo ao podcast o porquê a gente está falando disso: a gente tem tecnologia. É uma guerra de mercado, mas é uma guerra que está mexendo primariamente com tecnologia. A gente está falando de chip,
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9:05) de IA, de serviço de nuvem, de semicondutores para carros. É um mercado de alta tecnologia também. E por isso que, repito, o nosso desleixo com o que o país deveria fazer com a formação das pessoas, com investimento em educação, em indústria, em tecnologia, essas coisas que outros países fizeram,
(49:35) nos deixa numa… por isso, “ah, vamos ganhar com alguma coisa”. De repente, a gente pode comprar um notebook mais barato, mas percebe que você está numa posição muito difícil, você não tem como barganhar. A China tem como barganhar, a União Europeia tem, a Alemanha tem, todo mundo tem. O Japão tem. O Japão está sendo afetado. O Japão teve 10%, não lembro agora. Teve, o Japão também. É que 10% é o mínimo.
(50:06) Agora ficou todo mundo com o mínimo, menos a China. Ficou todo mundo com a tarifa básica de 10%. Só a China que ficou com 125. E se a China trucar de novo, sabe-se lá o que vai acontecer. 24% no Japão. Não seria 24%? Imporiam. Antes da pausa dos 90 dias, seria 24. Depois,
(50:36) ficou os 10% básicos. Então, cara, a gente é muito dependente. Os nossos serviços, o ramo de serviços aqui no Brasil, de maneira geral, as empresas, cara, dependem muito, muito, muito de serviços que são todos oferecidos pelos Estados Unidos, por empresas norte-americanas. E olha o Japão… e eu não estou falando que eu… não é que eu esteja louco para usar o Alibaba de data center. Não.
(51:13) Eu digo assim, eu tenho uma confiança maior na Amazon. Talvez eu seja provado errado daqui a um tempo, mas eu tendo a confiar mais na Amazon do que, por exemplo, no Alibaba para botar servidores a rodar e tal. O Japão, que é a quarta economia… Estados Unidos, China, Alemanha e Japão.
(51:37) Está dizendo aqui, ó: “A Munro & Associates estimou que a tarifa recíproca original de 24%, combinada com os impostos sobre automóveis, aço e alumínio, reduziria o PIB do Japão em 0.8%, quase 1%”. Reduziria. O impacto seria maior em equipamentos de transporte, como automóveis, com uma queda de 3,5%, enquanto uma desaceleração de investimento afetaria os fornecedores de bens de capital de forma mais ampla ainda. Ou seja, uma tragédia para o Japão. Compreende? Sim. É, cara.
(52:12) E o pior é que assim: “eu quero reindustrializar os Estados Unidos”. Essa seria uma ideia. “Eu quero trazer as coisas para cá”. Cara, mesmo para os Estados Unidos, você não constrói de um dia para o outro uma fábrica para fazer iPhones nos Estados Unidos. Não.
(52:30) Isso, mesmo se acontecesse num mundo cor-de-rosa, como eu vi um analista americano mesmo falando, mesmo que no mundo cor-de-rosa todos os países cedessem, baixassem as tarifas e os Estados Unidos conseguissem reduzir um pouco o déficit da balança, em que, tipo, vender quase tanto quanto compra, que seria uma coisa quase impossível de fazer…
(53:04) Mas, ainda que isso acontecesse e ele ganhasse um fôlego para não ferrar tudo, não dar inflação, não dar recessão, etc., e as empresas começassem a pensar em trazer instalações para dentro dos Estados Unidos, ainda que isso acontecesse, o Trump não veria isso acontecer no seu mandato.
(53:28) Porque isso leva mais de 5 anos para acontecer. Mas, enfim, eu acho que a ideia de fundo, que seria fortalecer a indústria nacional de alguma maneira, eu acho que é positiva. Qualquer país vai querer isso. O detalhe é a forma que se está pretendendo fazer isso.
(53:47) E o que me preocupa, do ponto de vista de TI, mais especificamente em segurança, é que as tecnologias que a gente utiliza são todas essencialmente norte-americanas. E não só as empresas privadas, mas o próprio governo, as próprias estatais, toda a nossa estrutura depende de software, depende de serviços fornecidos por estrangeiros. Sim.
(54:20) E quer ver outra coisa para terminar, agora terminando de verdade? O Brasil já foi, em um determinado momento, um país muito promissor no uso de software livre. Sim. E a gente abandonou essa… não só a gente, vamos lá. O papel do software livre no mundo modificou-se muito também, nas próprias limitações do software livre e tudo mais. A gente tem que reconhecer isso. Tem coisas que você já não consegue mais fazer e tudo mais, enfim.
(54:49) Mas o Brasil tinha lá um uso, pelo menos do governo. Hoje não. Hoje tudo virou a chave para a Microsoft. Você está usando serviços, mesmo com políticas diferentes, com serviços prestados e com condições diferentes para governos. Esse é o ponto: a eventual retidão dessas empresas na manutenção dos seus negócios.
(55:14) Mais recentemente, se mostrou que talvez elas não sejam tão confiáveis assim, e não sei se algum dia foram, para você usar em governos. Você vai colocar todos os e-mails do teu governo dentro de uma ferramenta dessas, de uma empresa que se alinha de forma muito irrestrita com um governo e sem freios do cumprimento da norma de direito? “Rule of law. I love this word, law”.
(55:40) Agora, a melhor coisa, Vinícius, para a gente terminar, foi dessa história toda, é a imitação do Elon Musk e do Donald Trump. O Elon Musk imitado pelo Mike Myers no Saturday Night Live. Realmente, fica a dica. Procure lá SNL no YouTube, “Musk”, que realmente… inclusive o Mike Myers não é americano, ele é canadense.
(56:10) Então, ele está fazendo com gosto o papel ainda. É esse o ponto. Bom, era para ser um “café” que a gente tinha vários outros assuntos aqui, mas acabou virando um episódio normal, Vinícius.
(56:30) Então, vai ficar com o nome “café” ali, mas foi um episódio só sobre como as tarifas podem influenciar no mercado de TI и na segurança da informação. Lembrando, uma visão de pessoas que não são da área da economia, mas que têm percebido algumas coisas aí, nas coisas que a gente acompanha, assiste, lê e tal.
(56:56) Então, a ideia foi compartilhar um pouco com vocês algumas das nossas percepções. E a gente acerta aqui, viu, Vinícius? A gente не erra tanto assim quando a gente faz projeções. É, muito embora algumas coisas sejam meio na cara. Mas enfim, vamos aguardar e ver o que chega na gente. A gente vai vendo assim, parece uma coisa… isso me parece um pouco a pandemia, sabe? Quando davam os primeiros casos lá na Europa ainda, parecia aquele negócio longe, até que veio vindo, chegando perto da gente. Então, esse negócio, por enquanto, está me parecendo distante.
(57:28) A gente não está sentindo ainda efeitos diretos. Então, parece uma briga lá entre eles. Enfim, vamos ver o que chega dessa onda, o que chega até aqui. Agradecemos então a todos aqueles e aquelas que nos acompanharam até aqui e nos encontraremos no próximo episódio do podcast Segurança Legal. Até a próxima. Até a próxima.
(57:54) Tem uma música do Humberto Gessinger. Nem tão longe que eu não possa ver, nem tão perto que eu possa tocar. Nem tão longe que eu não possa crer que um dia chego lá. Humberto Gessinger. É, cuidado. Temos que ter cuidado para falar. Vamos falar sobre uma música aqui protegida.
(58:17) Aliás, os direitos autorais funcionam muito bem para algumas pessoas. Funciona bem. E quando você fala no que se tem feito hoje com direitos autorais, os absurdos que se têm feito… a forma como se lida com isso é muito diferente. O próprio Spotify nos exigiu que a gente tirasse uns episódios do ar por uns pedacinhos de música aqui ou acolá. A gente teve que baixar um por um, tirar e botar de volta. Nem sei se eles estão disponíveis de novo lá.
(58:47) Tem que ver depois se eles aparecem disponíveis lá no Spotify. O que aconteceu, galera, é que em alguns episódios, foram cerca de uns 10, eu acho… de quase 400 episódios. Uns 10, às vezes até um pouco mais, talvez, Guilherme, a gente eventualmente colocou alguma música no episódio, e estavam lá, alguns episódios até bem antigos. E agora, faz pouco tempo, a gente recebeu um e-mail do Spotify
(59:33) dizendo: “Ó, tu tens licença para usar isso aqui? Se tu não tens, tira. Se tu não disseres nada, a gente vai entrar em contato com os autores das músicas”. E sendo que é um uso bem incidental, uma coisa bem… a gente não fica transmitindo música e tal. Mas tudo bem. Eu vou te dizer. E aí?
(59:53) Termina. Conclui. Ah, e aí teve uma vez que não foi com o Spotify, foi com o YouTube, que a gente quis compartilhar com os nossos ouvintes uma cena do Homer Simpson. Ele mostrando o umbigo dele num leitor de íris,
(1:00:20) na biometria, lá na usina nuclear onde ele trabalha. Ele mostrando o umbigo lá no leitor de íris, conseguindo entrar, reconhecendo ele e entrando. E era um trecho de uns 20 segundos. Se isso era algo bem pequeno, a gente mal conseguiu subir o negócio no YouTube. E gente, não é agora, não estamos falando de 3 anos atrás, estamos falando de mais de 5 anos atrás.
(1:00:46) Início do podcast. É, então bobei aí, faz mais do que isso. E, cara, foi a gente botar o vídeo no YouTube e derrubaram na hora. Não teve história. E isso que pode.
(1:01:04) Os direitos autorais permitem que a gente faça isso, essa citação de trechos menores. Até o Guilherme foi atrás para ver. Artigo 46. Estou citando de cabeça aqui. Artigo 46 da lei, de passagem de qualquer obra para fins de estudo, crítica ou polêmica, na medida justificada para o fim de atingir lições e tal. Enfim, a gente poderia usar.
(1:01:46) Estávamos amparados pela lei, mas o Google não quis nem saber. Eu gostaria… eu não tenho Spotify, eu não gosto do Spotify. E eu gostaria que os nossos ouvintes nos ouvissem pelo feed. Eu acho que é mais democrático. No feed, ninguém está pegando os teus… quer dizer, dependendo do leitor de podcast que você… mas o nosso RSS não.
(1:02:18) No feed, a gente vai saber que alguém ouviu, que a gente teve tantas… não sabe quem, etc. Sabe de onde veio, de onde ouviu e qual foi a plataforma usada. É uma ferramenta mais sustentável, eu acho. Você não está compartilhando teus dados, você vai ali, ouve quando quer, ninguém vai ficar te enchendo o saco, não tem propaganda. É o feed. Na criação do RSS… porque a gente recebe quanto mesmo, hein, Guilherme? Quanto mesmo a gente recebe
(1:02:51) pelas propagandas feitas no meio do nosso podcast no Spotify? Deixa eu ver aqui, só um pouquinho. É zero. Nós recebemos zero. Então, a gente acaba colocando no Spotify porque tem uma base muito grande de usuários que a gente acaba atingindo.
(1:03:10) Então vocês que nos escutam pelo Spotify… se a gente não colocar ali, a gente não vai alcançar vocês, muitos de vocês. Então a gente acaba cedendo por causa disso, mas no final das contas, os caras metem propaganda ali no meio para quem ouve free, e a gente não recebe nada por isso.
(1:03:29) E você que paga para não ouvir propaganda, consome o nosso conteúdo na plataforma do Spotify, paga o Spotify por um conteúdo que o Spotify não está gerando. Então, assim, é o melhor negócio do mundo. Nossa, credo, isso é ótimo. E tu sabes que o Spotify… vocês podem pesquisar, galera, eu não vou estar com as fontes aqui na mão, mas vocês podem dar uma pesquisada.
(1:03:50) Descobriram que o Spotify estava “sanduichando” em playlists músicas feitas por IA, de artistas que não existem, para não ter que pagar direitos autorais. Estavam gerando a música. Então, tu ouves a música de um cara, ele tem que pagar aquele cara pela reprodução, mas depois começava a encher linguiça ali com coisas geradas por IA,
(1:04:10) para não pagar. Cara, eu ouvi essa história de que eles teriam umas playlists que eles recomendariam, que são músicas muito genéricas. E no final das contas, isso ainda contribui para uma piora da qualidade geral da música. Sim. Esse é o tipo de coisa, Guilherme, que assim, eu sou um entusiasta, digamos assim, do uso da IA, tu sabes disso. E a gente discute bastante sobre isso, mas eu percebo que tenho alguns limites. E entre esses limites está a questão da música. Eu
(1:04:42) não topo muito ficar ouvindo música feita por IA, sacas? Não topo muito não. Eu não topo nada. Não quero saber de música gerada por IA. A própria imagem… os ilustradores estão muito ferrados. Agora se foi, meu. Agora… a gente poderia trazer algum ilustrador aqui um dia para falar conosco sobre isso. É, cara, é um assunto bem complicado, porque é muito delicado.
(1:05:15) É muito delicado, porque se o nosso trabalho vai ser atingido, o nosso vai ser atingido. É uma questão de tempo. Mais adiante. O trabalho do ilustrador é agora. E a nova ferramenta, o Google lançou agora há pouco tempo, agorinha, agorinha. Lançou uma… eles lançaram a nova família de modelos deles. Entre eles, o Gemini 2.5 Pro, que dizem que é o melhor modelo.
(1:05:48) Eu estou usando ele no Perplexity e no Cursor, que eu uso para a parte de programação. Eu mudei o modelo do Claude para o Gemini 2.5 Pro para ver como é que é, para sentir qual que é. E comecei a usar o Gemini para coisas que eu usava só o Perplexity, para ver o que ele fazia, para comparar. Comecei a fazer isso hoje, na real. Não é o NotebookLM. Não, não é o NotebookLM, que já era bom. O NotebookLM sempre foi muito bom.
(1:06:20) Era a única ferramenta de IA do Google que prestava, era o notebooklm.google.com. O resto não prestava, mas agora parece que mudou de figura a coisa. Parece que mudou radicalmente. Então, estou testando para ver qual que é.
(1:06:38) Mas eles lançaram uma família de modelos, Guilherme, para imagem e para vídeo. Não só para imagem, mas para vídeo, que é muito, muito bom, cara. Eu ia usar outra palavra, mas vai que o YouTube nos derruba aqui. É muito, muito bom, cara. E aí, o exemplo que eles dão, pelo menos eu não usei, galera, mas o exemplo que eles dão no lançamento… e a gente sabe muito bem que tem que cuidar um pouco com essas festinhas de lançamento que eles fazem.
(1:07:10) Mas eles demonstraram um lance que tinha uma imagem de um palco meio escuro com gelo seco, onde estava uma guitarra num apoio de guitarra, em primeiro plano. E em segundo plano, passa um cara da equipe técnica com fone e tal.
(1:07:29) E aí a brincadeira… o exercício que eles fizeram foi: “Bah, o shot aqui, a imagem da guitarra ficou muito bonita, mas tem esse cara passando no fundo”. Então ele pega o primeiro frame… não, ele para no início, onde o cara aparece de corpo inteiro, e ele vai lá e só diz: “Eu quero apagar isso aqui”.
(1:07:48) E marca a área onde está o cara, dizendo: “Eu quero que tu tires isso aqui da imagem”. E ele remove o cara da cena toda, numa perfeição… Já faz isso, o Adobe já faz e tal. Mas o Google está vindo com um negócio que vai ser mais barato. Quem vai comprar o Premiere da Adobe para fazer esse tipo de coisa, ou o Photoshop, etc.?
(1:08:21) Mas assim, isso já está fazendo. E o Google fez mais uma coisa: tu desenhas o quadro inicial da animação, desenha ou gera por IA, tu é que sabes. Tu fazes o quadro inicial, fazes o quadro final e a IA faz a animação de um quadro até o outro. Então, tu podes chegar numa IA dessas agora, gerando imagem.
(1:08:45) Agora o GPT-4O, o gerador de imagem dele está melhor. Agora também tem esse gerador da… o Imagen 3, acho que é o nome do modelo novo do Google para gerar imagem. Tu pegas esses caras, geras uma imagem e aí tu dizes: “Agora eu quero que tu geres uma imagem desse personagem fazendo tal coisa”. Aí ele gera outra imagem.
(1:09:10) E aí tu podes pegar essas duas imagens e dizer o seguinte: “Agora eu quero que tu cries a cena em que esta aqui é a imagem de início e esta aqui é a imagem de fim”. E ele então faz uma animação para ti, cara. Mas tu sabes que… é um baita problema. Eu não quero consumir vídeo, foto e tal gerado por IA. Eu mudei a minha posição.
(1:09:37) A gente até já usou aqui no podcast umas capas e tal, e hoje eu não faria mais isso, viu? Eu não tenho nenhum interesse em assistir conteúdo gerado por IA. Não, cara. Eu gostaria que isso não estivesse acontecendo, inclusive. Eu vi ilustradores profissionais, por razões humanas. Sim.
(1:10:02) Eu vi ilustradores profissionais falando, radicalmente contra essa tecnologia, e naquela vibe de que isso é plágio. É plágio, aquele negócio, você aprende com o estilo e tal, que, aliás, foi o que a OpenAI… dizem, eu vi algumas coisas nesse sentido. A OpenAI copiando o estilo do Studio Ghibli lá com tamanha exatidão. Ou seja, os caras treinaram a valer para
(1:10:33) aquele tipo de imagem. Sim, eles estariam tentando provocar uma discussão jurídica para definir o que é, até onde vai a propriedade intelectual, se ela protege a obra feita ou se ela protege também o estilo. Eu tenho plena certeza de que essa discussão… eles não podem fazer isso. É que hoje o que eu ouvi é que eles tinham feito isso somente para fazer uma demonstração de poder, que eles vão fazer e não estão nem aí para os reflexos disso, entendeu? Porque basta tu descredibilizares todo o judiciário dos países, por exemplo, que daí tu descredibilizas
(1:11:18) os judiciários e aí tu perdes a legitimidade de adotar aqueles controles que vão ser impostos pelo judiciário. Então, o que eu vi foi isso, Vinícius, de que eles queriam uma demonstração de poder, entendeu? “A gente vai fazer, a gente está fazendo e vocês não podem fazer nada”.
(1:11:39) E assim, eu também vi o pessoal comentando que, por exemplo, o Guilherme copiar o estilo do Studio Ghibli, tu fazeres um desenho teu, à tua própria mão, copiando o estilo do Studio Ghibli, tu não estarias violando direitos ou coisa parecida. Propriedade intelectual, por você estar fazendo isso hoje.
(1:12:10) Tu aprendes, tu vais lá… só que, na hora de desenhar, tu vais ter o teu jeito de fazer, vais acabar tendo uma diferença, não vai ser exatamente igual. Talvez tu possas treinar muito para fazer uma coisa exatamente igual. E mesmo assim, quantos “Guilhermes” que treinaram muito e sabem fazer muito parecido vão existir pelo mundo? E quantas imagens esses “Guilhermes” vão conseguir gerar, não, desenhar, ao longo de um dia de trabalho? Então, tu vais ter que parar, desenhar, vais ter todo um trabalho ali. Com a IA, tu copias exatamente o
(1:12:45) estilo do cara e produzes, cara, centenas de imagens por segundo se tiveres acesso às ferramentas corretas. Centenas. É um outro cenário. Eu acho que é um daqueles momentos em que a gente tem que avaliar as leis que a gente tem e o novo cenário.
(1:13:10) Só que se antes as leis já estavam sempre correndo atrás da tecnologia, agora piorou, porque a IA a cada semana muda. A cada semana tem um negócio novo, uma situação nova, uma fronteira nova a ser discutida. O problema anterior: tu não poderias estar usando materiais protegidos por direitos autorais para treinamento. Exato.
(1:13:38) E aí tu tens todas algumas discussões em matéria de uso de fotos, por exemplo, mas numa perspectiva bem diferente, que era a possibilidade do Google mostrar “snippets” das fotos nas pesquisas, porque no final das contas, tu ainda estarias direcionando o cara para o site original.
(1:13:59) Era essa a discussão americana que havia em relação ao uso de fotos lá pelo Google. Agora, é inegável que a IA vai colocar uma necessidade de rediscutir e atualizar uma série de regras, porque em alguns casos ela é tão disruptiva e as coisas que ela pode fazer são tão inéditas… e isso é normal com o direito. O direito sempre resolve problemas depois que eles aparecem.
(1:14:32) Às vezes, os juristas ou os congressos, enfim, os legisladores tentam resolver problemas que não existem, como estão tentando fazer aqui ainda com a nossa atualização do nosso Código Civil na parte de digital. Mas o fato é que nasce o problema e é crucial… essa é uma outra coisa que o Brasil fez. Lá no Marco Civil, em 2014, uma das discussões era atualizar algumas regras de direitos autorais.
(1:14:58) E aí a questão foi: “Não, vamos fazer o Marco Civil aqui, a gente deixa os direitos autorais tudo como está e depois a gente vê”. Pois bem, não viu. Veio a IA e não vão ver de novo. Porque mesmo sem a presença de regras de direitos autorais, você tem ainda uma outra regra, pelo menos nos nossos sistemas de direito romano-germânico, mas de “civil law”… acho que também nos sistemas americanos e ingleses isso existe, que é um negócio de enriquecimento sem causa. Você não pode utilizar bens, e aí
(1:15:36) dentro de bens estaria a tua produção intelectual, para ganhar dinheiro em cima daquilo, muita quantidade de dinheiro, e não remunerar aquela pessoa de quem tu estás utilizando um bem. Então, tu terias… tem até um nome para isso dentro do enriquecimento sem causa que eu te confesso que não me lembro, alguns tipos lá, mas seria tipo um aproveitamento, não lembro o nome agora.
(1:16:04) Então, você tem outros caminhos dentro do direito civil para impedir que empresas, inclusive contra a tua vontade… não é só uma questão de direito autoral, é uma questão de direitos da personalidade. De repente, as nossas fotos estão treinando aquela coisa e você pode não querer que aquilo ocorra. Guilherme, não só as nossas fotos.
(1:16:25) No nosso caso aqui, quanto conteúdo em áudio a gente já gerou? Entende? O Google deve estar usando isso lá do YouTube, as nossas coisas que a gente põe. Vamos embora, cara. Vamos embora. Seguramos o pessoal no YouTube mais um pouco aqui. A gente falou que já estava parando, já estava na correria para parar. Acabamos segurando o pessoal.
(1:16:46) Saindo. Valeu, gente. Falou, gente. Obrigado por continuar até aqui. Abraço. Um abração. Falou, galera.