Cão que só late, mas não morde, não assusta ninguém. Trump precisava cumprir alguma de suas ameaças de tarifas, em algum momento. Caso contrário, ameaças futuras não surtiriam efeito nos ameaçados. Taxando o Brasil, Trump tenta, ao mesmo tempo, proteger o próprio pescoço e manter a credibilidade de suas ameaças. A verdadeira razão pela qual o Brasil foi o primeiro país contra o qual Trump efetivamente aplicou as tarifas que ameaçou é o risco de criação aqui de um precedente de punição à invasão do Congresso pelo grupo de um Presidente derrotado nas urnas, o que – se efetivamente acontecer- pode, indiretamente, prejudicar o próprio Trump, nos EUA. Na verdade, Trump não está preocupado em defender Bolsonaro – que aliás, não estaria com tornozeleiras eletrônicas nesse momento não fosse a tentativa de interferência de Trump na Justiça brasileira – mas em se autodefender. O desafio jurídico a ser enfrentado por Trump quando deixar a Presidência é muito parecido ao de Bolsonaro: apoiadores de um presidente derrotado nas eleições, que já antes mesmo das próprias eleições questionava a legitimidade das eleições, invadem o Congresso, na tentativa de tomar o poder. Paradoxalmente, as tarifas tornam o primeiro objetivo mais difícil de ser atendido, uma vez que, ao tentar pressionar a Justiça brasileira, ele aumenta a probabilidade de que Justiça seja mais dura com Bolsonaro.

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