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Na cidade alentejana de Mértola, sul de Portugal, a Escola Profissonal ALSUD acolhe um grupo de jovens provenientes de Cabo Verde.
O correspondente, Luís Guita, esteve no local a falar com a equipa docente e com os e as alunas.
A vontade de crescer, de estudar, de aprender, de colocar esperança num futuro, já imaginado ou não, podem ser os elementos que numa determinada conjuntura inspiram a capacidade de enfrentar desafios, dar um passo em frente e ir além fronteiras, por vezes no sentido mais literal.
As oportunidades nem sempre são óbvias ou se encontram nos contextos mais facilmente identificáveis ou reconhecidos. Em Mértola, no baixo Alentejo, 250 quilómetros a sul de Lisboa e a uma dúzia de quilómetros de Espanha, na Escola Profissional ALSUD, é onde um conjunto de jovens estudantes de Cabo Verde está actualmente a preparar-se para o futuro.
As estudantes, porque a turma é essencialmente formada por raparigas, decidiram aproveitar o melhor que a escola ALSUD tem para dar, a formação e as condições para durante três anos conquistarem a valorização académica e profissional.
Na área de formação profissional a ALSUD tem actualmente dois cursos, o de Técnico de Gestão Cinegética e o de Técnico de Geriatria, o curso frequentado pelas jovens de Cabo Verde.
A RFI foi até Mértola, falou com as estudantes Cláudia Feire e Mayra Tavares, da Ilha de Santiago, que avançaram para o segundo ano do curso de Geriatria, e testemunham o ambiente acolhedor que encontraram na vila do Sul de Portugal, e falou também com a directora da Escola Profissional ALSUD, Isabel Campos, que começa por nos explicar o tipo de ensino que a ALSUD oferece e como funcionam as parcerias com os PALOP [Países africanos de língua oficial portuguesa].
Directora da Escola ALSUD, Isabel Campos:
Neste momento, a Escola Profissional ALSUD, na sua valência dos cursos profissionais, tem dois cursos, o curso técnico de Gestão Cinegética e o curso técnico de Geriatria. No curso técnico de Gestão Cinegética, estão predominantemente jovens cujo perfil é gostarem do campo, gostarem da natureza, gostarem de cães, gostarem de animais, gostarem de pesca … . Enfim, é um nicho de jovens muito interessantes que têm uma motivação muito particular e muito importante para Portugal em geral e para o interior em particular, porque são jovens que gostam do campo e têm pretensões de se fixar nele, o que é um perfil que interessa muito neste panorama que vivemos de despovoamento do interior e de falta de fixação de jovens. O curso de Geriatria tem alguns jovens nacionais também, portugueses, e tem um grande número de alunos de Cabo Verde, que resulta de parcerias que a Escola tem tido ao longo do tempo. A Geriatria tem outro perfil de jovens, mais virados para a área social e do cuidado. A Geriatria é um curso vocacionado para formar pessoas para trabalharem, sobretudo em IPSS e em ERPI’s, que são as estruturas de acolhimento de idosos em contexto domiciliar ou de lar, os chamados antigos lares, agora não se chamam assim, chamam-se ERPI. E são jovens que visam estar preparados para o envelhecimento da população, para dar resposta a uma necessidade de pessoal qualificado nestas áreas, para cuidar de quem está mais velho, mais vulnerável e com necessidades muito específicas.
Nesta parceria temos jovens de Cabo Verde que vieram também através de uma instituição que em Cabo Verde também trabalha com idosos.
Portanto são duas áreas muito diferentes, a Geriatria e a Cinegética, mas que nós conseguimos compatibilizar e acima de tudo têm o mesmo objectivo, que é formar pessoas para áreas onde há necessidade de técnicos qualificados e preparados para os desafios, seja das alterações climáticas, seja do envelhecimento da população, seja da fixação de pessoas no interior, seja das alterações demográficas que estamos a ter em geral.
Esses jovens que vêm de Cabo Verde vêm através de parcerias, como é que funcionam essas parcerias? É possível que jovens de outros países dos PALOP possam vir através de parcerias ou não?
Nestas duas últimas edições do curso de Geriatria e de outros anos noutras áreas, nós trabalhamos sempre com uma entidade parceira, porque é uma entidade a quem nós damos a possibilidade de fazer o papel de mediador entre os jovens de lá e nós aqui.
Nós fornecemos um conjunto de vagas para inserirmos aqueles jovens no nosso grupo dos alunos profissionais e nesse conjunto de jovens que é seleccionado por essa entidade parceira. É um conjunto de jovens que, à partida, já foram escolhidos pelo seu perfil para fazerem esta viagem de Cabo Verde a Portugal, esta grande mudança, mas que também têm perfil para a área, têm a maturidade suficiente, têm um perfil também social que se adapta a esta nova realidade que vão encontrar.
Embora nós, pontualmente, também vamos lá, a Cabo Verde, até para conhecermos a realidade de base; essa entidade também vem cá para os acompanhar. Em caso de algum problema, alguma questão, temos mais uma pessoa na discussão, depois temos grupos WhatsApp para ir gerindo estas coisas, para fazer também a ponte com a embaixada de Portugal em Cabo Verde. Portanto há toda uma fase inicial em que a entidade parceira é muito importante e depois ao longo do tempo a entidade parceira também acompanha os alunos. No caso deste ano, em que a entidade parceira é o Lar de São Francisco Xavier, na cidade da Praia, vem a Mértola para acompanhar os alunos uma ou duas vezes por ano.
É possível virem outros jovens de outros contextos PALOP, mas nós não fazemos parcerias, digamos, individuais, fazemos parcerias com entidades, nesta perspectiva de haver um mediador lá, para que o processo seja bem planeado, bem vivido, bem preparado.
Quanto tempo é que dura o curso de Geriatria e qual é o tipo de apoio, se existe, que estes alunos podem ter?
Os alunos ficam cá três anos. Portanto, eles têm que ter o nono ano ou o secundário incompleto e vêm cá durante estes três anos fazer uma formação de nível 4, que é reconhecida na União Europeia como formação profissional e ao mesmo tempo ter a equivalência do 12º ano.
No fim desse percurso, os alunos podem ir trabalhar directamente para a área. No caso da Geriatria, os pedidos já existem e eles ainda nem sequer acabaram o curso, e também podem, no final do curso, seguir para o ensino superior. Enquanto eles cá estão e no período da formação, estes alunos estão, e muito justamente, equiparados a alunos nacionais. Eles têm o visto de estuddante, inicialmente dado pela Embaixada e depois pelos serviços da AIMA, que os acompanham, e a quem eles têm que submeter anualmente o seu pedido de autorização de residência.
Portanto, eles têm que passar por todo um processo burocrático, que tem muitos desafios, e nessa medida, a instituição que os acolhe lá também os ajuda, nós também os ajudamos, e a Embaixada de Portugal em Cabo Verde, numa fase inicial, é uma entidade fundamental. Depois, durante todo o processo, eles são apoiados, além obviamente da formação, do acompanhamento da entidade de Cabo Verde, acompanhamento presencial ou à distância. Eles são apoiados por nós na sua integração aqui em Mértola, que é um meio pequeno, e são apoiados também financeiramente para a questão da alimentação e para a questão do seu alojamento.
Esses apoios também são fundamentais para que eles tenham aqui uma vida bem integrada, tranquila, e para que o seu percurso seja tranquilo. Eles também têm famílias de acolhimento, que é a família que em Portugal se responsabiliza por eles. A maior parte deles já são maiores de idade, mas há alguns que são menores de idade, e, portanto, nesses casos, a família ainda é mais importante.
Essa família de acolhimento muitas vezes está em Lisboa, ou está normalmente numa cidade, e aos fins de semana e nas férias escolares, muitos deles também se juntam à família. Portanto, isso também é um elemento importante. Um outro elemento importante, que não é propriamente protocolado, mas que é muito importante, é que em Mértola nós já temos alguns ex-alunos que fizeram cá cursos de outras áreas e que por cá ficaram. Neste caso temos um grupo de ex-alunos de Cabo Verde, que fizeram as suas formações há 2, 3, 4, 5 anos, e que ficaram em Mértola. Aqui residem, aqui têm família, e são elementos também muito importantes, sobretudo na primeira integração, na chegada, que nos apoiam a receber estes seus conterrâneos, e que nos ajudam neste processo integrador inicial. São parceiros fundamentais nesse processo.
Falando concretamente dos casos dos alunos que ainda estão a frequentar a ALSUD, como é que está a ser a integração desses alunos?
Muito boa. Em termos de escola, são alunos e alunas, a maior parte são raparigas, extremamente aplicadas, muito interessadas na área, que estão a fazer um caminho num tipo de ensino que para eles é muito novo, mas tem sido uma descoberta de parte a parte, muitíssimo interessante. Portanto, em termos escolares, são alunos até com muito boa média em termos de aproveitamento. Depois, em termos daquilo que é a sua integração em Mértola, também está a correr muito bem.
Há um momento cultural importante para os apresentar à comunidade, e há sempre essa preocupação de os inserir na comunidade, e isso tem corrido sempre bem. Primeiro, porque o perfil deles é um bom perfil, são miúdos calmos, curiosos, miúdos e miúdas. Agora, mesmo em termos daquilo que são as suas férias escolares, muitos deles até estão a ser contratados para pequenos trabalhos, ou na sua área, ou em áreas ligadas ao turismo, aos restaurantes. Estão adaptar-se bem, não só em termos daquilo que é a escola, como em termos daquilo que é a comunidade, e as oportunidades que a comunidade lhes dá também de se inserirem naquilo que é a vivência da comunidade.
Mayra e Cláudia, como é que está a ser a integração com a comunidade, com os alentejanos?
A comunidade de Mértola é uma comunidade muito acolhedora, as pessoas daqui são muito simpáticas, mesmo. Eles nos acolheram muito bem quando chegámos aqui.
Mayra Tavares:
São mais as pessoas mais velhas com quem nos damos bem. Assim, os mais jovens não. Os mais velhos são todos bem acolhedores e simpáticos, mesmo.
Já há alunos que vieram de Cabo Verde para estudar na ALSUD e que, entretanto, se estabeleceram aqui. Esse foi um contributo para vocês se sentirem mais integradas?
Cláudia:
Um excelente contributo, mesmo. Eles foram pai para a gente, mesmo.
Mayra:
Eles nos ajudaram muito, mesmo muito. No início, e até agora.
A gente sabe o que sabe mesmo só por causa deles.
A ALSUDE dá-vos algumas condições para virem estudar para cá, paga-vos alojamento e alimentação. Foi um contributo grande para vocês decidirem vir fazer este curso aqui em Mértola?
Cláudia:
Sim, foi uma ajuda muito grande, se não tínhamos essa ajuda seria impossível estudar, mesmo. Somos de família pobre em Cabo Verde. Estudar não é fácil aqui em Portugal.
Mayra:
Essa ajuda foi uma grande contribuição para estarmos aqui, porque sem ela era impossível estar cá a estudar.
O ano letivo está quase a arrancar. Como é que se perspectiva? Quais são as novidades da ALSUDE para este ano?
Isabel Campos:
A ALSUD, como uma entidade polivalente que é, e dedicada ao seu território, tem como ambição, agora no próximo ano lectivo, desenvolver projectos que possam aproximar estes técnicos de geriatria do terreno, como já o faz, e com as entidades que trabalham nesta área, mas também aproximar as duas áreas de formação, a cinegética e a geriatria, e as valências de cursos profissionais jovens, e a Universidade Sénior, que é um projeto centralizado fantástico que existe nesta entidade, que tem 240 pessoas espalhadas por 14 locais.
A nossa perspectiva é desenvolver mais projectos intergeracionais entre as duas valências, e juntar também a questão do idoso à questão ambiental. O nosso propósito, inclusive, é através de um projeto que temos que se chama Germinar, Germinar Sementes de Intergeracionalidade, que visa justamente criar jardins terapêuticos e valências de hortoterapia em quatro localidades do concelho. Portanto, em quatro espaços, nós vamos desenvolver jardins para serem usados pelos idosos, cuidados pelos idosos, e criados pelos idosos e pelos jovens. Queremos fazer disto um grande projecto intergeracional. Vai ser um projecto que nos vai dar a capacidade de integrar as principais valências da nossa escola, a valência da cinegética com a parte ambiental, a valência dos idosos com a Universidade Sénior e o curso de geriatria, os jovens de geriatria e de cinegética, todos a trabalhar para um propósito comum, que é criar espaços públicos, pensados para todos e resistentes.
By RFI PortuguêsNa cidade alentejana de Mértola, sul de Portugal, a Escola Profissonal ALSUD acolhe um grupo de jovens provenientes de Cabo Verde.
O correspondente, Luís Guita, esteve no local a falar com a equipa docente e com os e as alunas.
A vontade de crescer, de estudar, de aprender, de colocar esperança num futuro, já imaginado ou não, podem ser os elementos que numa determinada conjuntura inspiram a capacidade de enfrentar desafios, dar um passo em frente e ir além fronteiras, por vezes no sentido mais literal.
As oportunidades nem sempre são óbvias ou se encontram nos contextos mais facilmente identificáveis ou reconhecidos. Em Mértola, no baixo Alentejo, 250 quilómetros a sul de Lisboa e a uma dúzia de quilómetros de Espanha, na Escola Profissional ALSUD, é onde um conjunto de jovens estudantes de Cabo Verde está actualmente a preparar-se para o futuro.
As estudantes, porque a turma é essencialmente formada por raparigas, decidiram aproveitar o melhor que a escola ALSUD tem para dar, a formação e as condições para durante três anos conquistarem a valorização académica e profissional.
Na área de formação profissional a ALSUD tem actualmente dois cursos, o de Técnico de Gestão Cinegética e o de Técnico de Geriatria, o curso frequentado pelas jovens de Cabo Verde.
A RFI foi até Mértola, falou com as estudantes Cláudia Feire e Mayra Tavares, da Ilha de Santiago, que avançaram para o segundo ano do curso de Geriatria, e testemunham o ambiente acolhedor que encontraram na vila do Sul de Portugal, e falou também com a directora da Escola Profissional ALSUD, Isabel Campos, que começa por nos explicar o tipo de ensino que a ALSUD oferece e como funcionam as parcerias com os PALOP [Países africanos de língua oficial portuguesa].
Directora da Escola ALSUD, Isabel Campos:
Neste momento, a Escola Profissional ALSUD, na sua valência dos cursos profissionais, tem dois cursos, o curso técnico de Gestão Cinegética e o curso técnico de Geriatria. No curso técnico de Gestão Cinegética, estão predominantemente jovens cujo perfil é gostarem do campo, gostarem da natureza, gostarem de cães, gostarem de animais, gostarem de pesca … . Enfim, é um nicho de jovens muito interessantes que têm uma motivação muito particular e muito importante para Portugal em geral e para o interior em particular, porque são jovens que gostam do campo e têm pretensões de se fixar nele, o que é um perfil que interessa muito neste panorama que vivemos de despovoamento do interior e de falta de fixação de jovens. O curso de Geriatria tem alguns jovens nacionais também, portugueses, e tem um grande número de alunos de Cabo Verde, que resulta de parcerias que a Escola tem tido ao longo do tempo. A Geriatria tem outro perfil de jovens, mais virados para a área social e do cuidado. A Geriatria é um curso vocacionado para formar pessoas para trabalharem, sobretudo em IPSS e em ERPI’s, que são as estruturas de acolhimento de idosos em contexto domiciliar ou de lar, os chamados antigos lares, agora não se chamam assim, chamam-se ERPI. E são jovens que visam estar preparados para o envelhecimento da população, para dar resposta a uma necessidade de pessoal qualificado nestas áreas, para cuidar de quem está mais velho, mais vulnerável e com necessidades muito específicas.
Nesta parceria temos jovens de Cabo Verde que vieram também através de uma instituição que em Cabo Verde também trabalha com idosos.
Portanto são duas áreas muito diferentes, a Geriatria e a Cinegética, mas que nós conseguimos compatibilizar e acima de tudo têm o mesmo objectivo, que é formar pessoas para áreas onde há necessidade de técnicos qualificados e preparados para os desafios, seja das alterações climáticas, seja do envelhecimento da população, seja da fixação de pessoas no interior, seja das alterações demográficas que estamos a ter em geral.
Esses jovens que vêm de Cabo Verde vêm através de parcerias, como é que funcionam essas parcerias? É possível que jovens de outros países dos PALOP possam vir através de parcerias ou não?
Nestas duas últimas edições do curso de Geriatria e de outros anos noutras áreas, nós trabalhamos sempre com uma entidade parceira, porque é uma entidade a quem nós damos a possibilidade de fazer o papel de mediador entre os jovens de lá e nós aqui.
Nós fornecemos um conjunto de vagas para inserirmos aqueles jovens no nosso grupo dos alunos profissionais e nesse conjunto de jovens que é seleccionado por essa entidade parceira. É um conjunto de jovens que, à partida, já foram escolhidos pelo seu perfil para fazerem esta viagem de Cabo Verde a Portugal, esta grande mudança, mas que também têm perfil para a área, têm a maturidade suficiente, têm um perfil também social que se adapta a esta nova realidade que vão encontrar.
Embora nós, pontualmente, também vamos lá, a Cabo Verde, até para conhecermos a realidade de base; essa entidade também vem cá para os acompanhar. Em caso de algum problema, alguma questão, temos mais uma pessoa na discussão, depois temos grupos WhatsApp para ir gerindo estas coisas, para fazer também a ponte com a embaixada de Portugal em Cabo Verde. Portanto há toda uma fase inicial em que a entidade parceira é muito importante e depois ao longo do tempo a entidade parceira também acompanha os alunos. No caso deste ano, em que a entidade parceira é o Lar de São Francisco Xavier, na cidade da Praia, vem a Mértola para acompanhar os alunos uma ou duas vezes por ano.
É possível virem outros jovens de outros contextos PALOP, mas nós não fazemos parcerias, digamos, individuais, fazemos parcerias com entidades, nesta perspectiva de haver um mediador lá, para que o processo seja bem planeado, bem vivido, bem preparado.
Quanto tempo é que dura o curso de Geriatria e qual é o tipo de apoio, se existe, que estes alunos podem ter?
Os alunos ficam cá três anos. Portanto, eles têm que ter o nono ano ou o secundário incompleto e vêm cá durante estes três anos fazer uma formação de nível 4, que é reconhecida na União Europeia como formação profissional e ao mesmo tempo ter a equivalência do 12º ano.
No fim desse percurso, os alunos podem ir trabalhar directamente para a área. No caso da Geriatria, os pedidos já existem e eles ainda nem sequer acabaram o curso, e também podem, no final do curso, seguir para o ensino superior. Enquanto eles cá estão e no período da formação, estes alunos estão, e muito justamente, equiparados a alunos nacionais. Eles têm o visto de estuddante, inicialmente dado pela Embaixada e depois pelos serviços da AIMA, que os acompanham, e a quem eles têm que submeter anualmente o seu pedido de autorização de residência.
Portanto, eles têm que passar por todo um processo burocrático, que tem muitos desafios, e nessa medida, a instituição que os acolhe lá também os ajuda, nós também os ajudamos, e a Embaixada de Portugal em Cabo Verde, numa fase inicial, é uma entidade fundamental. Depois, durante todo o processo, eles são apoiados, além obviamente da formação, do acompanhamento da entidade de Cabo Verde, acompanhamento presencial ou à distância. Eles são apoiados por nós na sua integração aqui em Mértola, que é um meio pequeno, e são apoiados também financeiramente para a questão da alimentação e para a questão do seu alojamento.
Esses apoios também são fundamentais para que eles tenham aqui uma vida bem integrada, tranquila, e para que o seu percurso seja tranquilo. Eles também têm famílias de acolhimento, que é a família que em Portugal se responsabiliza por eles. A maior parte deles já são maiores de idade, mas há alguns que são menores de idade, e, portanto, nesses casos, a família ainda é mais importante.
Essa família de acolhimento muitas vezes está em Lisboa, ou está normalmente numa cidade, e aos fins de semana e nas férias escolares, muitos deles também se juntam à família. Portanto, isso também é um elemento importante. Um outro elemento importante, que não é propriamente protocolado, mas que é muito importante, é que em Mértola nós já temos alguns ex-alunos que fizeram cá cursos de outras áreas e que por cá ficaram. Neste caso temos um grupo de ex-alunos de Cabo Verde, que fizeram as suas formações há 2, 3, 4, 5 anos, e que ficaram em Mértola. Aqui residem, aqui têm família, e são elementos também muito importantes, sobretudo na primeira integração, na chegada, que nos apoiam a receber estes seus conterrâneos, e que nos ajudam neste processo integrador inicial. São parceiros fundamentais nesse processo.
Falando concretamente dos casos dos alunos que ainda estão a frequentar a ALSUD, como é que está a ser a integração desses alunos?
Muito boa. Em termos de escola, são alunos e alunas, a maior parte são raparigas, extremamente aplicadas, muito interessadas na área, que estão a fazer um caminho num tipo de ensino que para eles é muito novo, mas tem sido uma descoberta de parte a parte, muitíssimo interessante. Portanto, em termos escolares, são alunos até com muito boa média em termos de aproveitamento. Depois, em termos daquilo que é a sua integração em Mértola, também está a correr muito bem.
Há um momento cultural importante para os apresentar à comunidade, e há sempre essa preocupação de os inserir na comunidade, e isso tem corrido sempre bem. Primeiro, porque o perfil deles é um bom perfil, são miúdos calmos, curiosos, miúdos e miúdas. Agora, mesmo em termos daquilo que são as suas férias escolares, muitos deles até estão a ser contratados para pequenos trabalhos, ou na sua área, ou em áreas ligadas ao turismo, aos restaurantes. Estão adaptar-se bem, não só em termos daquilo que é a escola, como em termos daquilo que é a comunidade, e as oportunidades que a comunidade lhes dá também de se inserirem naquilo que é a vivência da comunidade.
Mayra e Cláudia, como é que está a ser a integração com a comunidade, com os alentejanos?
A comunidade de Mértola é uma comunidade muito acolhedora, as pessoas daqui são muito simpáticas, mesmo. Eles nos acolheram muito bem quando chegámos aqui.
Mayra Tavares:
São mais as pessoas mais velhas com quem nos damos bem. Assim, os mais jovens não. Os mais velhos são todos bem acolhedores e simpáticos, mesmo.
Já há alunos que vieram de Cabo Verde para estudar na ALSUD e que, entretanto, se estabeleceram aqui. Esse foi um contributo para vocês se sentirem mais integradas?
Cláudia:
Um excelente contributo, mesmo. Eles foram pai para a gente, mesmo.
Mayra:
Eles nos ajudaram muito, mesmo muito. No início, e até agora.
A gente sabe o que sabe mesmo só por causa deles.
A ALSUDE dá-vos algumas condições para virem estudar para cá, paga-vos alojamento e alimentação. Foi um contributo grande para vocês decidirem vir fazer este curso aqui em Mértola?
Cláudia:
Sim, foi uma ajuda muito grande, se não tínhamos essa ajuda seria impossível estudar, mesmo. Somos de família pobre em Cabo Verde. Estudar não é fácil aqui em Portugal.
Mayra:
Essa ajuda foi uma grande contribuição para estarmos aqui, porque sem ela era impossível estar cá a estudar.
O ano letivo está quase a arrancar. Como é que se perspectiva? Quais são as novidades da ALSUDE para este ano?
Isabel Campos:
A ALSUD, como uma entidade polivalente que é, e dedicada ao seu território, tem como ambição, agora no próximo ano lectivo, desenvolver projectos que possam aproximar estes técnicos de geriatria do terreno, como já o faz, e com as entidades que trabalham nesta área, mas também aproximar as duas áreas de formação, a cinegética e a geriatria, e as valências de cursos profissionais jovens, e a Universidade Sénior, que é um projeto centralizado fantástico que existe nesta entidade, que tem 240 pessoas espalhadas por 14 locais.
A nossa perspectiva é desenvolver mais projectos intergeracionais entre as duas valências, e juntar também a questão do idoso à questão ambiental. O nosso propósito, inclusive, é através de um projeto que temos que se chama Germinar, Germinar Sementes de Intergeracionalidade, que visa justamente criar jardins terapêuticos e valências de hortoterapia em quatro localidades do concelho. Portanto, em quatro espaços, nós vamos desenvolver jardins para serem usados pelos idosos, cuidados pelos idosos, e criados pelos idosos e pelos jovens. Queremos fazer disto um grande projecto intergeracional. Vai ser um projecto que nos vai dar a capacidade de integrar as principais valências da nossa escola, a valência da cinegética com a parte ambiental, a valência dos idosos com a Universidade Sénior e o curso de geriatria, os jovens de geriatria e de cinegética, todos a trabalhar para um propósito comum, que é criar espaços públicos, pensados para todos e resistentes.

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