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Em Outubro, foi lançado, em França, o livro “Les Portugais en France: une immigration invisible?” [“Os Portugueses em França: uma imigração invisível?”], editado pelas investigadoras Sónia Ferreira e Irene dos Santos. A obra reúne estudos de vários especialistas da emigração portuguesa e questiona o conceito de “imigração invisível” associado à comunidade portuguesa em França.
RFI: Como descreve, em poucas palavras, a obra “Les Portugais en France: une immigration invisible?”
Sónia Ferreira, Co-editora da obra “Les Portugais en France: une immigration invisible?”. É uma obra académica que reúne um conjunto de capítulos que são feitos por investigadores na área da antropologia, da sociologia, da história, e que são investigadores que têm trabalhado ao longo das últimas décadas sobre esta questão da imigração portuguesa em França. Mas também é um livro que visa ir para além da comunidade académica, ou seja, é um livro que também gostaria de chegar a um público mais alargado, precisamente para não se centrar apenas na discussão interna académica, mas para suscitar conversas e discussões sobre a imigração portuguesa em França, que vá para além desses círculos mais restritos.
Por isso, é uma publicação que é feita através de uma editora que tem a divulgação também de obras com outro tipo de características, mas com uma parceria com uma instituição académica. Portanto, tem esta dupla pertença, digamos assim.
Uma das perguntas que está no título é “imigração invisível?”. O sociólogo português Albano Cordeiro foi pioneiro nesse conceito, creio eu. O que significa essa noção?
Albano Cordeiro - a quem nós, aliás, dedicámos o livro devido ao seu falecimento recente e que foi uma pessoa muito importante a pensar a temática da migração portuguesa em França e foi pioneiro em muitos dos seus trabalhos sobre essa temática - tinha esse conceito do “paratonnerre maghrébin”, essa ideia de que muitas vezes os migrantes portugueses eram vistos como os bons migrantes, por oposição, à migração pós-colonial francesa, nomeadamente à migração magrebina, e portanto, havia essa ideia dos portugueses como católicos, como brancos, que estariam ao abrigo de muitas discussões sobre as questões religiosas, sobre as questões de racialização, em França.
Nós questionamos um pouco essa ideia, tentando mostrar que ela não é verdadeira e, portanto, de alguma forma há processos de invisibilização, mas também não é isso que faz com que os portugueses não tenham também, por exemplo, sofrido de processos discriminatórios no seu processo de instalação em França.
Ou seja, afinal não é uma imigração invisível como até agora se tem sustentado?
É uma imigração invisível nalguns aspectos ou uma emigração que ficou nalguns aspectos da sociedade francesa invisibilizada, mas, como sabemos, é uma imigração que tem um papel de visibilidade e destaque em muitas áreas da sociedade francesa. Muitas vezes essa questão do visível e invisível tem a ver até com aspectos negativos ou menos agradáveis e, portanto, é isso que nós questionamos. Ou seja, há processos de invisibilização da imigração portuguesa, mas até que ponto eles não devem ser também discutidos e questionados? E que repercussões é que isso tem para os próprios portugueses em França?
Todos estes processos que levam ao seu posicionamento na sociedade francesa e, portanto, há que questionar a sociedade francesa como um todo e não apenas olhar para os portugueses como um grupo isolado, mas pensar os portugueses na sua interacção com os outros grupos imigrantes em França, desde os europeus que chegam muito antes dos portugueses, como é o caso dos espanhóis ou dos italianos ou dos polacos, etc, às migrações pós-coloniais em França, principalmente aquelas que se dão nos processos de descolonização, que é quando a maior vaga de portugueses chega a França a partir dos anos 70.
Esta noção de bons imigrantes, de mão-de-obra dócil e silenciosa, não contribuiu até hoje para a instrumentalização desta imigração portuguesa por parte da extrema-direita francesa e não cultivou, de alguma forma, um certo racismo dos portugueses relativamente a outras migrações?
Sim, é verdade. Nós temos que pensar que, por um lado, se podemos dizer que os migrantes portugueses foram alvo de racismo e discriminação em determinadas situações - que o foram e esse é um processo que também está bastante invisibilizado, essa dimensão da discriminação que os portugueses sofreram em França - isso não os isenta de serem eles também, muitas vezes, agentes de discriminação.
Não nos podemos esquecer que os portugueses que chegam a França nos anos 60 e 70 vêm do regime ditatorial salazarista colonial português e migram vindos de uma sociedade onde prevalecia uma ideologia racista. Muitas vezes, o que podemos detectar é que na imigração portuguesa, na sua relação, por exemplo, até com migrações pós-coloniais portuguesas que vão para França, como é o caso de cabo-verdianos e de outras migrações que vêm dos circuitos pós-coloniais portugueses e que se encontram, em França, por exemplo, em locais como o mercado de trabalho - como o BTP [construcção civil] em que partilham associativismo -os portugueses também são, muitas vezes, agentes de discriminação com essas populações e também na relação com os próprios povos do Magrebe.
Portanto, há essa herança ideológica da sociedade onde imperava uma ideologia racista no Estado Novo e depois em França, são também confrontados, obviamente, com as ideologias racistas e de racialização que se encontravam presentes em França, nomeadamente por relação às populações africanas, da África francófona, do Magrebe, etc.
Quando diz que os portugueses foram alvo de racismo e de discriminação, estamos a falar do quê?
Podemos falar no mercado de trabalho, por exemplo. Gostaria de citar o trabalho que tem sido desenvolvido, por exemplo, no âmbito da Associação Memória Viva e também alguns exemplos que têm sido visibilizados pelo Hugo dos Santos na sua página nas redes sociais. Ele tem dado a conhecer exemplos em locais de trabalho ou em interacções com a própria sociedade francesa e com as instituições francesas, nomeadamente as instituições do Estado, não só nos processos também de realojamento, como foi com os famosos “bidonvilles”, nas fábricas, etc.
Há algumas formas de discriminação contra os migrantes portugueses desse período que estão documentadas. Aliás, o próprio Victor Pereira refere isso e houve até uma coluna assinada há uns tempos num jornal [L’Humanité] em que precisamente se chamava a atenção para a não instrumentalização dos portugueses como os “bons migrantes”, dando exemplos concretos de situações em que eles também foram alvo de discriminação.
Mas aí eu acho que é preciso ver a discriminação que vem da relação quotidiana e a discriminação estrutural que é uma discriminação que é imposta e que é através das instituições do Estado.
Outro aspecto pouco falado que vocês abordam nesta obra é o papel das mulheres portuguesas imigrantes em França na transformação do modelo familiar rural português após o contacto com famílias francesas. Quer explicar?
Sim, nós pensamos que as questões de género têm sido pouco trabalhadas. Quando tentamos olhar para trás e vemos os trabalhos que têm sido feitos sobre a imigração portuguesa, as questões de género, nomeadamente os trabalhos sobre as mulheres, não têm tido muita preponderância, digamos assim.
Até porque quando se fala das mulheres portuguesas em França ainda persiste o estereótipo da “concierge”, da porteira ou da “femme de ménage”, mulher das limpezas. Mas há outro modelo, que acaba por ser o de um certo empoderamento que já começa com a emigração portuguesa das mulheres nos anos 70?
No fundo, há um pouco de tudo. Há um modelo familiar, que vem também do Portugal do Estado Novo, que é aquele que chega também a França juntamente com estes imigrantes. Há também, é verdade, a questão da “concierge”, aliás, há um texto de Dominique Vidal, no livro, que trabalha precisamente sobre a questão das porteiras portuguesas, mas estamos a falar da região parisiense, ou seja, é uma realidade relativamente circunscrita e mesmo dentro dessa realidade é preciso distinguir as mulheres que trabalham para o sector privado e as mulheres que trabalham para o sector público porque isso também tem influência, depois, para os bairros onde vão residir e trabalhar e com os projectos de mobilidade social, por exemplo, ascendente das suas famílias.
Mas uma das coisas que nós também quisemos questionar - e aí prende-se também com as questões de género – é que muitas vezes há um olhar maior e mais concentrado na região parisiense. E é preciso compreender que é preciso olhar também para outras regiões em França onde também existem bastantes portugueses e em que as formas de organização familiar e laboral não são exactamente as mesmas e podem estar mais ligadas às zonas rurais.
No que diz respeito aos papéis de género, é preciso discutir - e esta é uma discussão que se tem na área das migrações - até que ponto os projectos migratórios são ou não projectos emancipadores. É interessante, no livro, o texto da Yasmine Siblot, que trabalha sobre migrações mais recentes de mulheres e discute esta questão de o projecto migratório ser ou não um projecto emancipador, não só pela via do trabalho, mas também pela via do conjunto ou da teia de relações sociais que se estabelece no novo contexto. E aí também, no caso em que ela está a trabalhar, estamos a falar de mulheres também ligeiramente mais novas do que as mulheres da primeira geração que chega a França em finais dos anos 60, dos anos 70.
E depois há que também ver aquela geração que vai ainda pequena com os pais e que depois vão seguir caminhos e modelos de género diferentes, muitas vezes enveredando pela via artística, pela via académica, pela via política. E é aqui também importante referir o envolvimento dos portugueses nalguns movimentos sociais franceses, nomeadamente na Convergence 84, por exemplo, em que algumas mulheres portuguesas também se envolveram.
O que é importante, acima de tudo, é mostrar que isto é muito mais heterogéneo do que se possa pensar num primeiro olhar mais essencialista sobre a mulher portuguesa dona de casa, etc.
Faz sentido ainda hoje, estudar-se, ainda, a imigração portuguesa em França, um país onde o modelo da sociedade é fundado pela tentativa de assimilação dos imigrantes?
Acho que faz, claro. Do ponto de vista histórico, sem dúvida, do ponto de vista socio-antropológico também até porque, mesmo que se possa dizer que a partir das segundas ou terceiras gerações já não estamos a falar de migrantes - no sentido formal do termo, estamos a falar de indivíduos que têm a nacionalidade francesa - mas a questão da migração e da história da migração na família é algo que não se desvanece, não é?
E, portanto, as repercussões que a emigração tem numa família é algo que conseguimos e devemos ler e estudar no tempo longo, como um processo. Do nosso ponto de vista, enquanto académicos da antropologia, da sociologia, da história, não nos interessam só as categorias formais e estatísticas de quem é ou não é imigrante, mas também perceber como é que o fenómeno da migração configurou aquela família no passado e configura no presente e muitas vezes até configura expectativas de futuro, sejam expectativas de futuro para estar em França, viver em França, mas muitas vezes também expectativas de regressar a Portugal e do tipo de relação que se estabelece com Portugal.
Para nós, independentemente dos modelos e do modelo político francês no que diz respeito às questões migratórias, a migração é muito mais do que isso e a imigração é um processo que deve ser estudado a longo prazo e em todas as dimensões que a constituem.
A obra “Les Portugais en France: une immigration invisible?” foi publicada na editora “Le Cavalier Bleu” e conta com textos dos investigadores Sónia Ferreira, Irene dos Santos, Manuel Antunes da Cunha, Cristina Clímaco, Margot Delon, Inês Espírito Santo, Guillaume Étienne, Victor Pereira, Yasmine Siblot, Filomena Silvano, Dominique Vidal e Marie-Christine Volovitch-Tavares.
No início do mês de Outubro, a WWF lançou um relatório em que dá conta de uma perda global de 73% da biodiversidade no Mundo, com a perda a ser ainda maior em África. A EcoAngola, uma organização não governamental, tenta travar este declínio de biodiversidade através de acções e projectos em que o foco é dirigido às populações e às autoridades.
Angola é o segundo país africano com maior número de bioregiões, 15, logo a seguir à África do Sul. Isto faz com que seja um dos países do Mundo com maior riqueza e diversidade de ambientes, com uma fauna e flora muito ricas que variam consoante as diferentes regiões. Esta riqueza natural está ameaçada como constata o relatório da WWF e faz com que a EcoAngola queira mais esforço por parte das autoridades para a conservação do meio-ambiente.
"Existe a necessidade de ter um esforço muito maior. Porque nós podemos ter algumas políticas, elas existem, mas precisamos de uma maior monitorização e capacitação pessoas que são responsáveis, por exemplo, pelos parques naturais de forma a exercerem o seu trabalho de protecção e conservação das espécies deste flora fauna", indicou Diana Lima, directora executiva da EcoAngola em entrevista à RFI.
Angola possui actualmente 14 parques nacionais, com 12,9% do território terrestre do país a ser protegido. A EcoAngola e outras organizações não governamentais ajudam no esforço de protecção, nomeadamente em articulação com o Instituto Nacional de Biodiversidade, de Conservação, mas vêm-se a braços com problemas como desflorestação, caça ou queimadas.
"Nós sabemos que um dos maiores problemas, tem a ver com a caça. Ao mesmo tempo, compreendemos que estas são as opções que existem para certas comunidades a nível económico, portanto as multas não chegam e sabemos que no terreno há uma uma cedência por parte de quem está a fazer esse controlo", explicou.
De forma a preservar as espécies, Angola precisa de maior incentivo à pesquisa científica - com Diana Lima a mencionar a descoberta de novas espécies de reptéis em certos parques naturais, mas também a própria organização administrativa do país que mudou recentemente e algo essencial é a sensibilização da sociedade civil.
"Acho que a primeira coisa a fazer para a conservação da biodiversidade seria sensibilizar a sociedade civil sobre a importância da biodiversidade. Para essa conservação, precisávamos de dados mais concretos da realidade da biodiversidade, para além de nós sabermos a realidade dos ecossistemas degradados", concluiu Diana Lima.
O Papa Francisco terminou hoje a visita a Timor-Leste, deixando palavras de encorajamento aos timorenses para manterem a sua liberdade e individualidade face a "crocodilos" que se querem apoderar da sua cultura. Timorenses viveram momento de "união" que vieram reforçar as celebrações dos 25 anos do referendo que levou à independência do país.
O Papa Francisco encerrou hoje a visita de três dias a Timor-Leste, mobilizando quase metade do país que o seguiu até à capital, Díli. Em entrevista à RFI, a a irmã Luciana, religiosa timorense da congregação Escravas da Santíssima Eucaristia e da Mãe de Deus, considerou que não há palavras para definir estes últimos dias em Timor-Leste.
"Esta visita para mim foi enorme satisfação em termos de ser como irmã, como também timorense. Sinto uma alegria enorme em participar aqui. Eu já participei nas Jornadas Mundiais em Portugal, mas é diferente viver uma visita do Santo Padre aqui em Timor. Sentir que aqui é mais uma confirmação de que a minha fé e também a fé católica aqui em Timor. Precisamos sobretudo este apoio cada vez mais do nosso líder. Sentimos esta emoção que não dá para descrever, não dá para falar, não dá para contar com em palavras", indicou.
A visita do Papa Francisco teve início na segunda-feira com uma cerimónia de boas-vindas na Presidência timorense e encontros com as autoridades, na terça-feira realizo uma grande missa em Tasi Tolu perante quase metade da população do país e hoje encontrou-se com a juventude antes de partir para Singurapura, última paragem deste périplo aisático.
Esta visita decorreu poucos dias depois de Timor ter celebrado os 25 anos do referendo que levou à indendência do país e para a irmã Luciana esta visita veio coroar estas celebrações, reforçando a singularidade deste país onde 99,6% da população é católica.
"É um coroar e uma confirmação da própria identidade da nossa, que é cristã. Essa visita tão importante, para nós é a confirmação da nossa identidade timorense. Não só como nação. É sobretudo aquilo que o Papa Francisco falou de que a riqueza ou tesouro de uma sociedade não são as suas riquezas naturais. Digamos aqui em Timor, que é o caso do petróleo e gás natural e outras coisas, mas sobretudo o povo em si, o povo e as pessoas em si que vivem nesta nação. E para nós, sobretudo, é uma confirmação da independência", disse esta religiosa.
A irmã Luciana viveu ainda sob o domínio da Indonésia e lembrou o "medo" dos timorenses face às autoridades que os impediam de se exprimir em português e de manterem as suas tradições.
"Quando os indonésios estiveram cá, estávamos a viver debaixo do domínio dos indonésios e estávamos com medo. Eu ainda senti aquele medo em que expressava a nossa fé de uma forma muito tímida e também, sobretudo a palavra medo em si quase que cobre todo toda a religião católica. Aqui em Timor, quando viviam os indonésios, porque nós não podíamos rezar em português nem nada disso. Mas agora eu sinto essa liberdade de expressar a nossa fé de uma forma alegre e de uma forma convicta. Sentimo-nos unidos esses dias e eu estive fora de Timor durante 21 anos e sinto que Timor está muito avançado em termos de muitas coisas", concluiu.
A cerimónia de encerramento dos Jogos Paralímpicos 2024 colocou um ponto final dos Jogos de Paris 2024. Nesta emissão especial ouvimos os protagonistas, ou seja, os atletas paralímpicos, mas também a análise de Marco Martins, enviado especial da RFI que acompanhou tanto os Jogos Olímpicos como os Paralímpicos no último mês e meio, sobre as prestações dos atletas lusófonos e o que podemos esperar para o futuro do desporto paralímpico.
Em França, arrancou esta quinta-feira a Semana do Design de Paris que conta com uma exposição dedicada ao design português. Chama-se “Made in Portugal naturally” e é uma vitrina da produção artística do sector. Neste programa, visitamos a exposição com a curadora e arquitecta de interiores Margarida Moura Simão.
Há uma “casa portuguesa” na “Paris Design Week”, que arrancou a 5 de Setembro e decorre até dia 14. Nesta "casa", situada na Galerie Joseph, no bairro do Marais, há cerca de 60 peças que mostram o que é o design português de hoje, entre inovação e tradição, entre o clássico e o contemporâneo.
O “showroom” chama-se “Made in Portugal naturally” e foi concebido como um apartamento, por onde se deambula entre as peças expostas. A curadora é a arquitecta de interiores Margarida Moura Simão, que nos fez uma visita guiada pelas diferentes salas e obras, desenhando um “Portugal cosmopolita” que produz “um design autoral, irreverente e sofisticado”, com um “savoir-faire” que alia tradição e tecnologia. Na conversa que pode ouvir neste programa, fomos tentar perceber o que é que têm de tão “naturalmente” português as peças de mobiliário, de iluminação, de têxtil e outros objectos decorativos ali em destaque.
A Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) organizou a iniciativa para promover o design português, nomeadamente a qualidade do produto e do material, a sustentabilidade e o “savoir-faire” português, como explicou Mariana Vieira da Luz, gestora da fileira casa na AICEP.
O objectivo desta exposição é promover o design português e colocá-lo num patamar de relevância comparativo com grandes marcas e com a qualidade de outros grandes países nesta área do design de mobiliário, de iluminação, têxteis-lar e porque os nossos produtos têm muita qualidade. Nesta exposição temos cerca de 55 empresas e que foram todas escolhidas pela arquitecta Margarida Moura Simão e o que pretendemos promover é a qualidade do produto e do material que também é feito em Portugal, em conjunto com o design e a sustentabilidade. E daí vem o nome "Made in Portugal naturally" que faz justiça tanto à área da sustentabilidade que está muito em voga, mas também à parte do 'savoir-faire' português e da tradição.
De 5 a 9 de Setembro, o Parque de Exposições de Villepinte, nos arredores de Paris, também acolhe a feira internacional de mobiliário e decoração Maison&Objet, na qual Portugal também participa.
A artista moçambicana Eurídice Zaituna Kala desconstrói a imagem de Nova Iorque e até do “sonho americano” numa exposição patente na Galeria Anne Barrault, em Paris. As fotografias montadas em estruturas de vidro e metal mostram ausências, desigualdades, relações de poder entre os homens e entre estes e a natureza. Eurídice Zaituna Kala mostra como a arquitectura é mais uma ferramenta de implementação de disparidades sociais e como a cidade vai tapando as camadas do seu próprio passado.
A exposição "En quelques gestes : as if two suns were setting", patente até 5 de Outubro, é constituída por obras realizadas durante uma residência em Nova Iorque e questiona o peso que a arquitectura urbana tem sobre a natureza e sobre as próprias pessoas.
“Quando propus um projecto de pesquisa para ir a Nova Iorque, era para olhar para a arquitectura. Para olhar como a arquitectura, de uma forma violenta, ocupa o espaço natural e cria uma sensação de betão (...) Eu queria desconstruir essa noção e, ao mesmo tempo, olhar para os arquivos: como é que a cidade foi ocupada na época pré-colonial, no pós-guerra, no pós-Segunda Guerra Mundial, que tipos de arquitectura chegaram. E como eu tenho, na materialidade do meu trabalho, materiais como o metal e o vidro, era claro que eu queria entrar também nessa noção de como esses materiais interagem com a cidade. Quais são as janelas que esses materiais criam? Quais são os ecrãs que eles criam? Como é que esses objectos obstruem a possibilidade de comunicar uns com os outros? Em Nova Iorque, tu passas em frente a um prédio e tens a sensação que não podes interagir com as pessoas que estão no interior. Quer dizer, a interioridade é completamente coberta, submersa, a partir desses materiais”, descreve a artista.
Continuando as suas pesquisas em torno dos arquivos, a artista moçambicana estudou as raízes da cidade, originalmente habitada pelo povo autóctone Lenapes e desenhada com várias colinas e rios, hoje substituídos por arranha-céus. “Havia uma natureza, uma fauna ou uma flora que esteve lá antes de uma colonização violenta que mudou completamente a topografia da cidade”, recorda. Por outro lado, ela interessou-se pela relação entre Nova Iorque e a água, um elemento que outrora dominava a paisagem e que passou a ser dominado pelas ambições arquitectónicas.
“Chegar a Nova Iorque e falar em água é quase impossível. Nós imaginamos sempre uma cidade de betão, tudo coberto, tudo numa submersão, socialmente falando, uma submersão humana, densa. Mas a história topográfica de Nova Iorque é completamente oposta a essas paisagens que nós temos do nosso imaginário. Nessa oposição, tem a água que foi coberta pela arquitectura num plano de urbanização do Robert Moses, que veio obstruir essas fontes de água que atravessavam Manhattan, Brooklyn, Bronx para criar espaços de construção”, acrescenta.
Eurídice Zaituna Kala também explorou o conceito da arquitectura contemporânea como “soft power”, em que os arranha-céus luxuosos olham de cima para os prédios sociais, os quais são reservados aos pobres e sujeitos à subida das águas durante as inundações.
“Isso foi também um dos contextos que me interessava muito compreender. Eu tive a oportunidade de subir ao andar 86 de uma torre e de viver essa experiência. Foi super estranho porque são espaços que são vendidos muito caros e que representam um contexto de arquitectura, mas, ao mesmo tempo, representam um contexto de consumo espacial, um contexto de movimento, de liquidez de espaço. Quis compreender o que quer dizer essa disparidade entre esses prédios que hoje em dia são vendidos muito caros e os prédios sociais porque Nova Iorque é uma cidade de prédios, sempre teve uma relação com a verticalidade. Os prédios sociais que foram construídos para as famílias menos ricas são também arranha-céus, mas criaram uma completa desconexão entre gerações de famílias que não puderam entrar em relação, que causaram questões sociais complexas, criminalidade, uso de drogas, etc, etc. Quer dizer, esses dois contextos propõem duas formas de criar sociedade”, continua.
Outra linha de força da exposição são as ausências, figuradas por vidros sem imagens ou pelo simbólico capuz vazio de uma camisola encontrada numa rua qualquer. Esta é também uma homenagem ao jovem negro assassinado Trayvon Martin, ao movimento Black Lives Matter e ao artista David Hammons.
Há, ainda, uma imagem criada por Inteligência Artificial que ilustra os próprios limites da tecnologia, ainda que crie uma nova camada que tende para a abstração pictórica e fotográfica. Eurídice Zaituna Kala recolheu textos inscritos em monumentos de Nova Iorque a prestarem homenagem ao povo autóctone que, outrora, viveu naquela zona e pediu à Inteligência Artificial para criar imagens. O resultado são duas imagens sobrepostas, em que se percebe uma paisagem verde luxuriante e vários espectros pálidos.
Na segunda sala, há fotografias em tons azulados que remetem, mais uma vez, para o universo da água, mas também para o imaginário cinematográfico de Nova Iorque. A artista conta-nos que se inspirou nos tons do filme “La Nuit Américaine” de François Truffaut para mostrar que a sensação de se estar numa "cidade que não dorme" pode ser esgotante e uma metáfora de que o “sonho americano” é impossível.
“Tem uma certa referência a “La Nuit Américaine”, que é este filtro usado no cinema que projecta uma sensação de noite, uma sensação de estar no exterior, de uma continuidade do dia. Eu acho que Nova Iorque tem essa forma de se querer projectar como algo que não acaba, como um dia que não acaba. Há também a questão do conceito americano que fala do sonho americano porque se o dia não acaba e se não podemos descansar, quer dizer que não temos tempo para sonhar! Ou seja, o fim desse sonho americano é mesmo uma consciência de como vivemos nestas cidades”, conclui.
É a primeira vez que a Galeria Anne Barrault acolhe uma exposição a solo de Eurídice Zaituna Kala, depois de ter apresentado uma obra dela no Jardim das Tulherias, na FIAC Hors Les Murs, em 2021.
“É verdade que a obra dela tem uma vertente de denúncia, mas é mais do que isso. Nesta exposição vemos – e é bastante impressionante –várias camadas e há um lado pictórico muito presente. Ou seja, podemos abordar o trabalho dela de diferentes maneiras. Claro que ela fala das suas origens, da colonização, mas não fala só sobre isso. Por isso é tão interessante este trabalho na cidade de Nova Iorque, que não é a cidade onde ela cresceu, mas ela cria elos com a sua própria história, com Moçambique que também foi colonizado e com a América que é também um território que foi colonizado. Estes paralelos são apaixonantes e permitem olhar para o seu trabalho sob diferentes ângulos”, descreveu Anne Barrault à RFI.
No âmbito desta exposição, inaugurada a 31 de Agosto e que decorre até 5 de Outubro, Eurídice Zaituna Kala teve "carta branca" do Cinema L'Archipel em Paris para apresentar um filme a 3 de Setembro e escolheu "AI: African Intelligence" de Manthia Diawara.
Actualmente, a artista participa na exposição "Passengers in Transit" à margem da Bienal de Veneza (até 24 de Novembro de 2024).
Em 2025, Eurídice Zaituna Kala vai apresentar o seu trabalho no Centro de Arte Contemporâneo de Rennes (La Criée) de 7 de Fevereiro a 27 de Abril e vai também ter uma exposição na Ferme du Buisson, em Noisiel, de 15 de Março a 13 de Julho.
Portugal teve ontem uma medalha muito esperada para o ciclismo, com prata para Iuri Leitão na prova de ciclismo de pista. Foi uma prova emocionante até ao final e Maroc Martins esteve presente no Velodrome de Saint Quentin d’Yvelines. Já hoje, na canoagem, João Ribeiro e Messias Baptista, na categoria de K2 500 de canoagem, tiveram uma decepção chegando em sexto lugar. Toda a actualidade dos Jogos Olímpicos com Marco Martins.
Nos jogos Olímpicos de Paris, as provas sucedem-se. Na canoagem, três atletas lusofonos estiveram hoje na competição. Dois apuraram-se para as meias-finais, a portuguesa Teresa Portela e o português Fernando Pimenta, enquanto o angolano Benilson Sanda caiu para a final B. Já o triplo salto, com o atleta português Pedro Pichardo, está a causar polémica entre atletas cubanos. Oiça o resumo do dia olímpico com Marco Martins.
A França vai defrontar a Espanha na final olímpica de futebol. Já a medalha de bronze será disputada entre Marrocos e Egipto. Ainda hoje nos 400 metros barreiras, a portuguesa Fatoumata Diallo vai correr as semi-finais às 20h locais. Marco Martins, que está a acompanhar os Jogos Olímpicos em diferentes pontos de Paris e arredores, faz o resumo deste dia olímpico.
Neste nono dia de competição dos Jogos Olímpicos de Paris, o pugilista cabo-verdiano, David de Pina, está nas meias-finais e procura a primeira medalhar para Cabo Verde.
O pugilista cabo-verdiano, David de Pina, está nas meias-finais e procura a primeira medalhar para Cabo Verde?
Marco: Cabo Verde já garantiu pelo menos uma medalha de bronze com David de Pina, mas o pugilista cabo-verdiano quer mais e tem pela frente o segundo cabeça de série, o atleta do Uzbequistão, Hasanboy Dusmatov. O encontro vai decorrer na Arena Norte, em Villepinte, no norte de Paris.
Nesta meia-final tudo é possível e resta saber em que metal vai ser a medalha, será bronze em caso de derrota, ou então prata ou ouro se David de Pina conseguir vencer o atleta do Uzbequistão.
Este domingo, 4 de Agosto, decorre a prova dos 158 quilómetros de bicicleta, feminino, em Paris, com muitas ruas cortadas na capital francesa. Temia-se o caos durante este Jogos olímpicos, mas esta primeira semana de provas olímpicas provou o contrário e em Paris "reina" uma calma pouco habitual.
Marco: Sim, muitos parisienses decidiram ir de férias, visto que foram as indicações dadas pelas autoridades francesas. O Estado francês pediu para que os parisienses fossem de férias se não quisessem viver no caos dos Jogos Olímpicos. Muitos optaram por ficar e aperceberam-se que depois da cerimónia de abertura, durante a qual houve muitas restrições, sobretudo perto do rio Sena, foram levantadas as restrições. Desde então, há zonas com mais controlo são as que se situam perto dos estádios, das arenas, onde decorrem competições. Mas à parte isso, a vida está mais ou menos tranquila para os parisienses. Eu até diria que por um lado há coisas melhores: os transportes estão melhores do que ao longo do ano. Por exemplo, ao sábado e o domingo, em que podia se esperar mais de dez minutos, desta vez não é o caso, visto que há competições em várias partes de Paris e basta esperar três, quatro ou cinco minutos no máximo para ter um transporte público. Algo inacreditável para uma cidade como Paris.
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