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No âmbito da rubrica Prime Minister’s Speaker Series, integrado no programa Cabo Verde Next que pretende projectar o futuro do país alicerçado na ciência, tecnologia, inovação e sustentabilidade. O primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, convidou a estar no arquipélago, o economista belga e especialista em Economia Azul Gunter Pauli, autor do livro The Blue Economy.
Especialista em Economia Azul, Gunter Pauli sugere a Cabo Verde a união entre turismo e ciência para explorar e proteger os mares e o governo acolhe o sugestão
No âmbito da rubrica Prime Minister’s Speaker Series, integrado no programa Cabo Verde Next que pretende projectar o futuro do país alicerçado na ciência, tecnologia, inovação e sustentabilidade. O primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, convidou a estar no arquipélago, o economista belga e especialista em Economia Azul Gunter Pauli, autor do livro The Blue Economy. Depois de estar numa conversa aberta com o chefe do governo sobre o potencial da Economia Azul para o desenvolvimento de Cabo Verde e de as ilhas de Santiago e São Vicente perguntámos qual é a ideia com que ficou de Cabo Verde. Gunter Pauli, disse que o país é desconhecido.
Desconhecido. É como uma mulher que você vê pela primeira vez e diz que beleza, que beleza ela ! Mas não sabia que existia. Isso é Cabo Verde, o desconhecido, o país desconhecido. E você tem guardado muitos segredos e você não partilha seus segredos, você precisa de partilhar. Ontem aprendi que a primeira igreja fora da Europa foi construída aqui em Cabo Verde. E eu, membro da fundação do Vaticano, não sabia, não sabia como é possível ? Ontem falámos de escravos e eu falei de Gorée. Vocês têm transportado três, quatro vezes mais escravos que a [a ilha senegalesa de ] Gorée. Mas você não tem a história da escravidão contada no mundo. Esse é um turismo com conteúdo. O turismo com conteúdo é compreender, entender como piratas, como Espanha, como Portugal, como os ingleses desenvolveram o seu negócio de escravos aqui. Por isso digo, vocês têm muitos segredos.
O especialista em Economia Azul, Gunter Pauli defende uma nova visão para o país, que junte o turismo à ciência, como forma de explorar e proteger os mares de Cabo Verde e que a estratégia de economia azul do país precisa de ser traduzida em projectos concretos para mobilizar investimentos.
Cabo Verde tem muitas oportunidades, mas temos que traduzir a oportunidade, que é um sonho, em uma realidade. E isso precisa de uma estratégia.
A estratégia, o país já tem uma estratégia de economia azul, mas a estratégia tem que traduzir em projectos concretos, um portfólio de oportunidades que podemos implementar. E a implementação precisa de um cliente, um cliente que paga, não é somente o governo, porque não tem que pagar tudo. O importante é desenvolver uma economia que tem clientes, e se você tem clientes você pode mobilizar investimentos.
Qual é o caminho que Cabo Verde deve percorrer agora?
Para mim, o mais importante é que você tem 730 mil quilómetros quadrados de mar. O mais importante é a vida no mar, e conhecer a vida no mar é conhecer o ADN, qual é a molécula da vida do mar. Você tem muitas espécies desconhecidas no mar e temos que descobrir a vida de Cabo Verde. Para mim, esse é um primeiro passo muito importante.
Segundo, o descobrimento do mar passa pelo turismo, um turismo, por exemplo, de mergulho. Temos que fazer uma nova experiência para poder mergulhar em Cabo Verde, com dez experiências diferentes em dez ilhas de Cabo Verde. Isso precisa de uma estratégia para mergulho que é diferente do que só passar tempo na praia e ao sol, mas isso vai levar mais ingressos e a um entusiasmo do mergulhador, porque hoje há poucos que conhecem a grande beleza do mar do Cabo Verde.
Outra oportunidade é a comunicação. Você precisa se comunicar, a comunicação hoje é com satélite, a nova tecnologia é com rádio AM, que se pode convergir em redes sociais, você pode ter luz como medium de comunicação na água, você pode nadar e falar com seus amigos na água, por graça de luz. A luz é uma técnica de comunicação. Penso que a estratégia da economia azul é uma estratégia de inovação com muita surpresa. Temos que sair do esquema tradicional de financiamento. No passado, a pesquisa era um custo. Temos que convergir pesquisa do mar em uma oportunidade de convidar mergulhadores profissionais da fora para mergulhar, para fotografar e filmar tudo e fazer o descobrimento de ADN. A nova técnica não é pensar em turismo e pesquisa, temos que unir num cluster, em uma agrupação de diferentes actividades, que permite que você possa ganhar dinheiro e fazer pesquisa.
O novo modelo económico: Não precisamos de novos modelos de business, precisamos de novas técnicas, de fazer um serviço ao cliente, pelo qual o cliente está disposto a pagar e, ao mesmo tempo, fazer estratégias de conservação do meio ambiente e de fazer o descobrimento da biodiversidade. Temos que combinar as coisas e não separar”.
A presença em Cabo Verde de Gunter Pauli, referência mundial no conceito de Economia Azul e reconhecido pela implementação de modelos de negócio que combinam sustentabilidade ambiental com crescimento económico, representa, segundo o governo de Cabo Verde uma oportunidade única de aprendizagem e inspiração.
A RFI conversou com o Primeiro-Ministro, Ulisses Correia e Silva e perguntámos ao chefe do governo como o país recebe as sugestões de Gunter Pauli e se pretende colocá-las na prática.
As sugestões do professor, Gunter Pauli, foram bem recebidas e com grande interesse porque são convergentes com a nossa estratégia nacional para a economia azul. Temos o IMAR, que é o Instituto do Mar, o Centro Oceanográfico do Mindelo, que intervem no domínio da investigação científica aplicada. Há muitas iniciativas em curso, mas nós precisamos estruturá-las para a criação de valor económico com maior impacto no crescimento e no emprego. Isto resultou um bocado daquilo que foi também conversa com o professor Gunter Pauli e a sua participação numa conferência aberta sobre a economia azul, em que nós acentuámos a possibilidade de desenvolvimento de nichos de turismo de alto valor, como a pesca desportiva e o mergulho. De certa forma, a pesca desportiva e o mergulho já se desenvolvem aqui em Cabo Verde, mas aquilo que foi resultado da conversa é que nós precisamos estruturá-la para criar ainda maior valor e desconcentrar e criar oportunidades também nas outras ilhas onde a actividade pode ser desenvolvida com qualidade e elevado valor em termos de retorno. E estivemos a conversar também sobre a biotecnologia azul, que é um domínio onde a investigação e a sua aplicação casam bem com a criação de valores e de economia acentuada, é algo que pode ter mercado e tem mercado externo importante, porque nós precisamos não só fazer a investigação, fazer a realização daquilo que é ensinado a preservação do nosso ecossistema, mas precisamos juntar tudo isto e transformar aquilo que são as potencialidades em produtos, em serviços que possam ser exportados e possam criar emprego, rendimento e desenvolvimento sustentável no país. Portanto, nós ficamos de estabelecer um quadro de colaboração e vamos continuar para aproveitar aquilo que é também a experiência vasta do professor Gunter, muito virado para questões muito pragmáticas, mas experiências comparadas também com outros sítios que tiveram sucesso.
Pode explicar para os ouvintes da RFI quais as estratégias que Cabo Verde tem para a economia azul?
Dispomos de uma estratégia nacional para o mar e de um plano de acção que está projectado para até 2033 orientar as políticas públicas e as oportunidades de investimentos privados, nomeadamente aumentar o potencial de crescimento e diversificar a economia e criar empregos dignos. Isto tudo com o objectivo de valorizar e gerir de uma forma sustentável os recursos marinhos, que é o que transforma a economia marítima em economia azul. E esta estratégia tem várias vertentes. O desenvolvimento de competências, investigação científica e literacia azul, acção climática e ambiental, nomeadamente nas questões que têm a ver com conservação e protecção da biodiversidade. Uma atenção muito especial tem sido dada à poluição por plásticos, apesar de ainda termos este problema visível em Cabo Verde. Água e energia num país que tem problemas relativamente à seca e tem que encontrar soluções alternativas para a produção de água para o consumo humano. Economia para a agricultura, portanto nós recorremos já desde há 50 anos à dessalinização da água do mar para o consumo humano, agora estamos a investir fortemente na dessalinização da água do mar para a agricultura. Ali está mais um caso em que o mar dá-nos soluções alternativas e associar cada vez mais essa dessalinização às energias renováveis. A própria produção de energia renovável é um recurso também disponível a nível do nosso vasto mar, incluindo hidrogénio verde, cujos estudos estão em curso. Depois há a vertente económica, turismo, ecoturismo aquático, pescas, indústria pesqueira, aquacultura, que já está em desenvolvimento aqui em Cabo Verde, particularmente em São Vicente, através da Nortuna, mas também através da Fazenda de Camarão. A Nortuna produz atum rabilho para exportação, a Fazendade Camarão produz em aquacultura camarão, que já está no mercado caboverdiano. A vertente da biotecnologia marinha e economia circular e, claramente, também os transportes e operações portuárias. Depois nós temos a vertente da segurança marítima, que é importantíssima, nós temos uma vasta zona económica exclusiva, temos que garantir a fiscalização, a prevenção e o combate à pesca ilegal e não declarada e fazer com que a nossa zona seja uma zona que seja cooperativa também a nível da segurança, com outros países tendo em conta aquilo que são vários fenómenos que acontecem nos corredores marítimos. Portanto, são estas as grandes áreas de intervenção estratégica que Cabo Verde definiu e tem estado a executar.
Como Cabo Verde pretende unir ciência, inovação e sustentabilidade?
O Campus do Mar, que se situa em São Vicente, foi criado precisamente com a intenção de unir a ciência, a inovação e a sustentabilidade. Temos a Universidade Técnica do Atlântico, que se dedica ao ensino superior, o EMAR, que é a Escola do Mar, que se dedica à formação profissional, o IMAR, que é o Instituto do Mar, que se dedica à investigação e desenvolvimento. Depois adicionamos ainda a literacia ambiental, climática e do oceano, que é importante que seja desenvolvida e, de certa forma, está a ser desenvolvida junto das escolas e das comunidades, porque uma atitude e comportamentos favoráveis à sustentabilidade é fundamental para que haja essa implicação social muito forte. Por outro lado, nós temos um ecossistema favorável ao empreendedorismo e ao fomento empresarial, que vai desde assistência técnica, financiamento e fiscalidade, para tornar realidades ou sonhos em projectos inovadores. Só com estes instrumentos que nós trabalhamos, temos esse sentido estratégico do desenvolvimento do Campus do Mar, para ser um grande promotor desta ligação e desta interacção, que depois cria soluções para transformação em projectos que sejam, de facto, criadores de valor económico e de valor ambiental integrado.
O especialista belga Gunter Pauli, para além de defender que o país deve transformar o conhecimento do mar em oportunidades concretas, com impacto no turismo, na inovação e na preservação ambiental, disse que Cabo Verde é desconhecido. Como o governo pretende mostrar o país mais ao mundo e ser mais conhecido?
Temos estado presentes e activos nos fóruns internacionais, como por exemplo a COP.
Temos uma participação activa ao nível dos Pequenos Estados Insulares em desenvolvimento, porque nós somos um dos SIDS. Ocean Week, que realizamos anualmente em Mindelo, tem sido um palco de notoriedade de Cabo Verde no o domínio da economia azul. Preciso lembrar que em janeiro de 2023 recebemos em Mindelo uma etapa da maior regata do mundo, Ocean Race, que simultaneamente teve a realização do Ocean Summit, que contou com a participação do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres. Só este facto foi revelador daquilo que é a capacidade de Cabo Verde que se mostrou ao mundo. E temos que continuar a promover eventos e a participar em eventos relacionados com a economia azul, que é uma forma de aumentar a notoriedade do país. Fazemos parte da voz e das vozes que defendem a sustentabilidade, que defendem o ecossistema que seja perene, que defende acções relacionadas com a acção climática e ambiental, porque Cabo Verde, com as suas vulnerabilidades em todos os SIDS, coloca esta questão como uma grande prioridade nacional.E, ao mesmo tempo, sermos palcos conhecidos para a atracção de investimentos e criação de mercados que interessam a Cabo Verde a nível da sua atenção e a nível da sua propensão para investir no país.
A visita do economista belga e especialista em Economia Azul Gunter Pauli, a Cabo Verde, que aconteceu, na última semana de Abril, reforça, segundo o governo o compromisso na transformação do país numa plataforma marítima e logística internacional, apostando em políticas de transição energética, turismo sustentável, formação e inovação tecnológica.
No âmbito da rubrica Prime Minister’s Speaker Series, integrado no programa Cabo Verde Next que pretende projectar o futuro do país alicerçado na ciência, tecnologia, inovação e sustentabilidade. O primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, convidou a estar no arquipélago, o economista belga e especialista em Economia Azul Gunter Pauli, autor do livro The Blue Economy.
Especialista em Economia Azul, Gunter Pauli sugere a Cabo Verde a união entre turismo e ciência para explorar e proteger os mares e o governo acolhe o sugestão
No âmbito da rubrica Prime Minister’s Speaker Series, integrado no programa Cabo Verde Next que pretende projectar o futuro do país alicerçado na ciência, tecnologia, inovação e sustentabilidade. O primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, convidou a estar no arquipélago, o economista belga e especialista em Economia Azul Gunter Pauli, autor do livro The Blue Economy. Depois de estar numa conversa aberta com o chefe do governo sobre o potencial da Economia Azul para o desenvolvimento de Cabo Verde e de as ilhas de Santiago e São Vicente perguntámos qual é a ideia com que ficou de Cabo Verde. Gunter Pauli, disse que o país é desconhecido.
Desconhecido. É como uma mulher que você vê pela primeira vez e diz que beleza, que beleza ela ! Mas não sabia que existia. Isso é Cabo Verde, o desconhecido, o país desconhecido. E você tem guardado muitos segredos e você não partilha seus segredos, você precisa de partilhar. Ontem aprendi que a primeira igreja fora da Europa foi construída aqui em Cabo Verde. E eu, membro da fundação do Vaticano, não sabia, não sabia como é possível ? Ontem falámos de escravos e eu falei de Gorée. Vocês têm transportado três, quatro vezes mais escravos que a [a ilha senegalesa de ] Gorée. Mas você não tem a história da escravidão contada no mundo. Esse é um turismo com conteúdo. O turismo com conteúdo é compreender, entender como piratas, como Espanha, como Portugal, como os ingleses desenvolveram o seu negócio de escravos aqui. Por isso digo, vocês têm muitos segredos.
O especialista em Economia Azul, Gunter Pauli defende uma nova visão para o país, que junte o turismo à ciência, como forma de explorar e proteger os mares de Cabo Verde e que a estratégia de economia azul do país precisa de ser traduzida em projectos concretos para mobilizar investimentos.
Cabo Verde tem muitas oportunidades, mas temos que traduzir a oportunidade, que é um sonho, em uma realidade. E isso precisa de uma estratégia.
A estratégia, o país já tem uma estratégia de economia azul, mas a estratégia tem que traduzir em projectos concretos, um portfólio de oportunidades que podemos implementar. E a implementação precisa de um cliente, um cliente que paga, não é somente o governo, porque não tem que pagar tudo. O importante é desenvolver uma economia que tem clientes, e se você tem clientes você pode mobilizar investimentos.
Qual é o caminho que Cabo Verde deve percorrer agora?
Para mim, o mais importante é que você tem 730 mil quilómetros quadrados de mar. O mais importante é a vida no mar, e conhecer a vida no mar é conhecer o ADN, qual é a molécula da vida do mar. Você tem muitas espécies desconhecidas no mar e temos que descobrir a vida de Cabo Verde. Para mim, esse é um primeiro passo muito importante.
Segundo, o descobrimento do mar passa pelo turismo, um turismo, por exemplo, de mergulho. Temos que fazer uma nova experiência para poder mergulhar em Cabo Verde, com dez experiências diferentes em dez ilhas de Cabo Verde. Isso precisa de uma estratégia para mergulho que é diferente do que só passar tempo na praia e ao sol, mas isso vai levar mais ingressos e a um entusiasmo do mergulhador, porque hoje há poucos que conhecem a grande beleza do mar do Cabo Verde.
Outra oportunidade é a comunicação. Você precisa se comunicar, a comunicação hoje é com satélite, a nova tecnologia é com rádio AM, que se pode convergir em redes sociais, você pode ter luz como medium de comunicação na água, você pode nadar e falar com seus amigos na água, por graça de luz. A luz é uma técnica de comunicação. Penso que a estratégia da economia azul é uma estratégia de inovação com muita surpresa. Temos que sair do esquema tradicional de financiamento. No passado, a pesquisa era um custo. Temos que convergir pesquisa do mar em uma oportunidade de convidar mergulhadores profissionais da fora para mergulhar, para fotografar e filmar tudo e fazer o descobrimento de ADN. A nova técnica não é pensar em turismo e pesquisa, temos que unir num cluster, em uma agrupação de diferentes actividades, que permite que você possa ganhar dinheiro e fazer pesquisa.
O novo modelo económico: Não precisamos de novos modelos de business, precisamos de novas técnicas, de fazer um serviço ao cliente, pelo qual o cliente está disposto a pagar e, ao mesmo tempo, fazer estratégias de conservação do meio ambiente e de fazer o descobrimento da biodiversidade. Temos que combinar as coisas e não separar”.
A presença em Cabo Verde de Gunter Pauli, referência mundial no conceito de Economia Azul e reconhecido pela implementação de modelos de negócio que combinam sustentabilidade ambiental com crescimento económico, representa, segundo o governo de Cabo Verde uma oportunidade única de aprendizagem e inspiração.
A RFI conversou com o Primeiro-Ministro, Ulisses Correia e Silva e perguntámos ao chefe do governo como o país recebe as sugestões de Gunter Pauli e se pretende colocá-las na prática.
As sugestões do professor, Gunter Pauli, foram bem recebidas e com grande interesse porque são convergentes com a nossa estratégia nacional para a economia azul. Temos o IMAR, que é o Instituto do Mar, o Centro Oceanográfico do Mindelo, que intervem no domínio da investigação científica aplicada. Há muitas iniciativas em curso, mas nós precisamos estruturá-las para a criação de valor económico com maior impacto no crescimento e no emprego. Isto resultou um bocado daquilo que foi também conversa com o professor Gunter Pauli e a sua participação numa conferência aberta sobre a economia azul, em que nós acentuámos a possibilidade de desenvolvimento de nichos de turismo de alto valor, como a pesca desportiva e o mergulho. De certa forma, a pesca desportiva e o mergulho já se desenvolvem aqui em Cabo Verde, mas aquilo que foi resultado da conversa é que nós precisamos estruturá-la para criar ainda maior valor e desconcentrar e criar oportunidades também nas outras ilhas onde a actividade pode ser desenvolvida com qualidade e elevado valor em termos de retorno. E estivemos a conversar também sobre a biotecnologia azul, que é um domínio onde a investigação e a sua aplicação casam bem com a criação de valores e de economia acentuada, é algo que pode ter mercado e tem mercado externo importante, porque nós precisamos não só fazer a investigação, fazer a realização daquilo que é ensinado a preservação do nosso ecossistema, mas precisamos juntar tudo isto e transformar aquilo que são as potencialidades em produtos, em serviços que possam ser exportados e possam criar emprego, rendimento e desenvolvimento sustentável no país. Portanto, nós ficamos de estabelecer um quadro de colaboração e vamos continuar para aproveitar aquilo que é também a experiência vasta do professor Gunter, muito virado para questões muito pragmáticas, mas experiências comparadas também com outros sítios que tiveram sucesso.
Pode explicar para os ouvintes da RFI quais as estratégias que Cabo Verde tem para a economia azul?
Dispomos de uma estratégia nacional para o mar e de um plano de acção que está projectado para até 2033 orientar as políticas públicas e as oportunidades de investimentos privados, nomeadamente aumentar o potencial de crescimento e diversificar a economia e criar empregos dignos. Isto tudo com o objectivo de valorizar e gerir de uma forma sustentável os recursos marinhos, que é o que transforma a economia marítima em economia azul. E esta estratégia tem várias vertentes. O desenvolvimento de competências, investigação científica e literacia azul, acção climática e ambiental, nomeadamente nas questões que têm a ver com conservação e protecção da biodiversidade. Uma atenção muito especial tem sido dada à poluição por plásticos, apesar de ainda termos este problema visível em Cabo Verde. Água e energia num país que tem problemas relativamente à seca e tem que encontrar soluções alternativas para a produção de água para o consumo humano. Economia para a agricultura, portanto nós recorremos já desde há 50 anos à dessalinização da água do mar para o consumo humano, agora estamos a investir fortemente na dessalinização da água do mar para a agricultura. Ali está mais um caso em que o mar dá-nos soluções alternativas e associar cada vez mais essa dessalinização às energias renováveis. A própria produção de energia renovável é um recurso também disponível a nível do nosso vasto mar, incluindo hidrogénio verde, cujos estudos estão em curso. Depois há a vertente económica, turismo, ecoturismo aquático, pescas, indústria pesqueira, aquacultura, que já está em desenvolvimento aqui em Cabo Verde, particularmente em São Vicente, através da Nortuna, mas também através da Fazenda de Camarão. A Nortuna produz atum rabilho para exportação, a Fazendade Camarão produz em aquacultura camarão, que já está no mercado caboverdiano. A vertente da biotecnologia marinha e economia circular e, claramente, também os transportes e operações portuárias. Depois nós temos a vertente da segurança marítima, que é importantíssima, nós temos uma vasta zona económica exclusiva, temos que garantir a fiscalização, a prevenção e o combate à pesca ilegal e não declarada e fazer com que a nossa zona seja uma zona que seja cooperativa também a nível da segurança, com outros países tendo em conta aquilo que são vários fenómenos que acontecem nos corredores marítimos. Portanto, são estas as grandes áreas de intervenção estratégica que Cabo Verde definiu e tem estado a executar.
Como Cabo Verde pretende unir ciência, inovação e sustentabilidade?
O Campus do Mar, que se situa em São Vicente, foi criado precisamente com a intenção de unir a ciência, a inovação e a sustentabilidade. Temos a Universidade Técnica do Atlântico, que se dedica ao ensino superior, o EMAR, que é a Escola do Mar, que se dedica à formação profissional, o IMAR, que é o Instituto do Mar, que se dedica à investigação e desenvolvimento. Depois adicionamos ainda a literacia ambiental, climática e do oceano, que é importante que seja desenvolvida e, de certa forma, está a ser desenvolvida junto das escolas e das comunidades, porque uma atitude e comportamentos favoráveis à sustentabilidade é fundamental para que haja essa implicação social muito forte. Por outro lado, nós temos um ecossistema favorável ao empreendedorismo e ao fomento empresarial, que vai desde assistência técnica, financiamento e fiscalidade, para tornar realidades ou sonhos em projectos inovadores. Só com estes instrumentos que nós trabalhamos, temos esse sentido estratégico do desenvolvimento do Campus do Mar, para ser um grande promotor desta ligação e desta interacção, que depois cria soluções para transformação em projectos que sejam, de facto, criadores de valor económico e de valor ambiental integrado.
O especialista belga Gunter Pauli, para além de defender que o país deve transformar o conhecimento do mar em oportunidades concretas, com impacto no turismo, na inovação e na preservação ambiental, disse que Cabo Verde é desconhecido. Como o governo pretende mostrar o país mais ao mundo e ser mais conhecido?
Temos estado presentes e activos nos fóruns internacionais, como por exemplo a COP.
Temos uma participação activa ao nível dos Pequenos Estados Insulares em desenvolvimento, porque nós somos um dos SIDS. Ocean Week, que realizamos anualmente em Mindelo, tem sido um palco de notoriedade de Cabo Verde no o domínio da economia azul. Preciso lembrar que em janeiro de 2023 recebemos em Mindelo uma etapa da maior regata do mundo, Ocean Race, que simultaneamente teve a realização do Ocean Summit, que contou com a participação do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres. Só este facto foi revelador daquilo que é a capacidade de Cabo Verde que se mostrou ao mundo. E temos que continuar a promover eventos e a participar em eventos relacionados com a economia azul, que é uma forma de aumentar a notoriedade do país. Fazemos parte da voz e das vozes que defendem a sustentabilidade, que defendem o ecossistema que seja perene, que defende acções relacionadas com a acção climática e ambiental, porque Cabo Verde, com as suas vulnerabilidades em todos os SIDS, coloca esta questão como uma grande prioridade nacional.E, ao mesmo tempo, sermos palcos conhecidos para a atracção de investimentos e criação de mercados que interessam a Cabo Verde a nível da sua atenção e a nível da sua propensão para investir no país.
A visita do economista belga e especialista em Economia Azul Gunter Pauli, a Cabo Verde, que aconteceu, na última semana de Abril, reforça, segundo o governo o compromisso na transformação do país numa plataforma marítima e logística internacional, apostando em políticas de transição energética, turismo sustentável, formação e inovação tecnológica.
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