Por Edward A. Berry e George R. Adams
A Maçonaria e o Budismo estão ambos preocupados em alcançar a iluminação pessoal e em ajudar os outros a alcançar esse estado também. Embora possa parecer à primeira vista que os maçons e os budistas entendem o conceito de iluminação de maneiras diferentes, este artigo demonstrará que esse não é necessariamente o caso.
Os maçons são ensinados a olhar além do superficial e, em vez disso, buscar a verdade subjacente. Na verdade, esse era o objetivo principal do próprio Buda. Nascido como Príncipe Siddhartha Gautama, a lenda nos informa que ele foi criado por seu pai, um rei, protegido de todas as dificuldades do mundo. Siddhartha, entretanto, deixou seu palácio isolado. Uma vez no mundo, o jovem príncipe testemunhou pessoas sofrendo de doenças, velhice e morte, fazendo-o perceber sua profunda falta de compreensão. Ele então encontrou um monge itinerante que renunciou aos cuidados do mundo, inspirando Siddhartha a deixar o palácio permanentemente e começar sua busca pela verdade.
Depois de muitos anos de busca e extrema abnegação, Siddhartha sentou-se sob o sagrado Banyan, ou Bodhi, Árvore. Lá ele jurou: “Tomo meu assento sob esta figueira-de-bengala, deixo o vento secar minha carne, deixo o sol queimar meus ossos até virar cinzas, mas não me moverei deste lugar até que tenha alcançado a compreensão da verdade absoluta. ” (Swami Premananda, 33°, O Caminho da Lei Eterna: Dhammapada, p. 31). Ele então começou a meditar, culminando com uma epifania da natureza fundamental da existência. Assim, ele se tornou o Buda, que significa “o Desperto (ou Iluminado)”. Ele passou as décadas restantes de sua vida compartilhando sua descoberta das causas e alívio do sofrimento.
A experiência do iniciado maçônico é, em certo sentido, semelhante. O Maçom desperta para sua “busca” na “Loja simbólica dos Santos Santos João em Jerusalém”. Esta loja é o centro do seu coração, e ele bate à porta da sua loja interior. A porta da loja é aberta e ele começa sua jornada em direção à Luz, ou iluminação. Ao longo do caminho, ele é despertado para seus valores espirituais inatos, que incluem, entre outros, companheirismo e compaixão.
A Fundação: As Quatro Nobres Verdades
O Buda organizou sua compreensão da natureza da condição humana nas Quatro Nobres Verdades. A primeira verdade é que o sofrimento (ou, no sânscrito dos antigos textos budistas, duhkha) é característico da existência humana.
A segunda verdade é a origem ou as causas do sofrimento (em páli e sânscrito, samudaya). Em seu primeiro sermão, o Buda associou sofrimento com desejo e apego.
A terceira verdade é a verdade do fim do sofrimento, agora amplamente conhecida em inglês por sua palavra sânscrita nirvana. O nirvana não deve ser associado a um lugar, seja aqui ou no além, mas sim como um estado de consciência que resulta em equanimidade, no qual não há apego nem aversão.
A quarta e última verdade é o método de cessação do sofrimento (em páli, magga; em sânscrito, marga), que foi descrito pelo Buda em seu primeiro sermão.
A Jornada: O Caminho Óctuplo Budista
Dentro da quarta nobre verdade encontra-se o guia para o fim do sofrimento: o Nobre Caminho Óctuplo.
O Caminho Óctuplo Budista é organizado em três categorias: Sabedoria, Moralidade e Tranquilidade. Os oito estão contidos nestas três categorias: 1) Panna, ou Sabedoria — Entendimento Correto e Intenção Correta; 2) Sita, ou Moralidade - Fala Correta, Ação Correta e Meio de Vida Correto; e 3) Samadhi, ou tranqüilidade - Esforço Correto, Atenção Correta e Concentração Correta.
Este arranjo tripartido do caminho se alinha bem com os ensinamentos maçônicos de Sabedoria, Força e Beleza. Os maçons são ensinados que deve haver Sabedoria para inventar, Força para apoiar e Beleza para adornar todos os grandes e importantes empreendimentos. Ao buscar entender as coisas como elas são e nos despojar das superfluidades da vida, desenvolvemos a Sabedoria, ou panna. Mantendo uma boa reputação, agindo de acordo com a esquadria e focando em ser um Construtor, descobrimos nossa bússola moral e desenvolvemos Força moral (moralidade ou sita). Ao aplicar nossas ferramentas de trabalho, subjugar nossas paixões e colocar nossos projetos em nossos cavaletes, adornamos nossas mentes e todos os nossos empreendimentos com beleza e harmonia, de modo que os vários componentes de nossas vidas se encaixem com exatidão exata, alcançando idealmente a tranquilidade, ou samadhi.
O caminho do meio
O Caminho Óctuplo Budista ou Caminho Nobre muitas vezes é referido como “O Caminho do Meio”. O Buda ensinou a trilhar um caminho sem luxo nem privação. Ao equilibrar esses elementos, o praticante desenvolve equanimidade - um estado em que não há aversão nem desejo. Esse estado de equilíbrio é bastante familiar ao maçom, que entende que manter o equilíbrio em todas as coisas é o caminho para a iluminação maçônica.
Após sua primeira admissão em uma Loja Maçônica, um novo Maçom fica entre os pilares Terrestre e Celestial, “simbolizando o equilíbrio que explica os grandes Mistérios da Natureza”, como Albert Pike, expressa em sua palestra do 26º Grau (“Príncipe da Misericórdia,” Morals and Dogma, edição clássica, p. 547). Como tal, ele representa o terceiro, ou meio, pilar da loja pelo qual todo o edifício é sustentado.
Ainda no tópico Moral e Dogma, não podemos deixar de notar que o autor Albert Pike tem inúmeras referências respeitosas ao budismo nesta obra seminal do Rito Escocês, chegando a descrever o Buda como “o primeiro legislador maçônico cuja memória é preservada para nós pela história”. (18º Grau, “Knight Rose Croix”, edição clássica, pag. 277). Aqui Pike usa “legislador” em um sentido muito amplo para se referir a Buda ignorando a “distinção de casta” e abrindo “o caminho mais amplo” para todos os homens, características que a própria Maçonaria promove ao reunir homens de diversos credos e estilos de vida que compartilham uma crença em uma Deidade benevolente.
As ferramentas de trabalho
O Maçom emprega suas ferramentas de trabalho para buscar o equilíbrio e “aprimorar-se na Maçonaria”. Como um Aprendiz Iniciado, ele recebe o martelo comum e a bitola de vinte e quatro polegadas para quebrar os “cantos” do silhar bruto de seu personagem. No Grau de Companheiro, ele é presenteado com o esquadro, nível e prumo, para calibrar sua pedra. Finalmente, no Grau de Mestre Maçom, recebe a espátula para espalhar o cimento do amor fraterno. Para desenvolver a equanimidade, pode-se dizer que o budista emprega a ferramenta de trabalho da meditação e o que alguns chamam de “atenção plena” – a “lembrança correta [Samma Sati] de seu verdadeiro eu”, como estudioso de religião comparada e maçom Swami Premananda , o denomina em O Caminho da Sabedoria e Auto-Liberação (1949, pag. 14). Esses caminhos, quando tomados com preocupação pelos outros, são de fato caminhos para a iluminação. Encerramos com estas observações sobre como o budismo pode trazer mais luz à Maçonaria a partir dos escritos de nosso falecido doente Andre G. Salmon, deão emérito do Colégio de Filosofia do Rito Escocês do Distrito de Columbia:
Existem forças dentro de nós (maya) que instintivamente nos impedem de escapar deste mundo de aparências contraditórias (samsara), sem as quais nos sentiríamos desorientados e assustados. No entanto, sempre que o Homem está determinado a se libertar da ilusão samsárica [...] podem diferir, ou até mesmo se opor, em um grupo pertinente perdem sua aparente diferença ou oposição para constituir uma única realidade superior. (André G. Salmon, 33°, Salmon, 2015)