O documentário “Apocalipse nos Trópicos”, de Petra Costa, estreou na Netflix no dia 14 de julho. Em menos de um mês, foi acessado mais de um milhão de vezes. O título da obra evoca o último livro do Novo Testamento e investiga como a perspectiva apocalíptica, que antevê o fim dos tempos e um posterior renascimento, se espraia entre os pobres, com a multiplicação de denominações evangélicas e neopentecostais. Não é estranha a esse ponto de vista a ideia do “aceleracionismo”: provocar eventos que possam literalmente acelerar o fim do mundo como o conhecemos em busca de um novo amanhecer, que trará Cristo de volta à Terra. Tal prefiguração vem marcada por um forte viés ideológico, de extrema direita, caudatária da “guerra cultural” contra o progressismo, originada nos Estados Unidos. Em “Democracia em Vertigem”, de 2019, Petra já havia exercitado com excelência o que chama “cinema de ensaio, não de tese” — vale dizer, ela não busca no que filma a manifestação exemplar de uma leitura preconcebida da realidade; são os acontecimentos, flagrados por sua câmera, que plasmam um pensamento e uma leitura da realidade. Assistam a uma das conversas mais fascinantes havidas neste podcast, em que a diretora também se mostra como talvez jamais o tenha feito em público. Sim, Petra já cuida do próximo filme e nos conta em primeira mão: “É um faroeste”. Imperdível.