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Terminal (O Estado do Mundo) de Inês Barahona e Miguel Fragata é o segundo espectáculo de um díptico que aborda a crise climática. A criação mostra-nos uma “grande crise” que assenta em “desigualdades” e “escolhas políticas e económicas”, num lugar de onde “não há saídas”. A peça pode ser vista até ao próximo domingo, 21 de Julho, no Festival de Avignon.
Terminal (O Estado do Mundo) de Inês Barahona e Miguel Fragata é o segundo espectáculo de um díptico que aborda a crise climática. A criação mostra-nos uma “grande crise” que assenta em “desigualdades” e “escolhas políticas e económicas”, num lugar de onde “não há saídas”.
“Terminal (O Estado do Mundo)” é precisamente este espaço de tensão entre, por um lado, a aceitação e a resignação e, por outro, o desejo de “mudar o mundo”, rumo a uma saída.
Miguel Fragata: Quando nos decidimos lançar nesta aventura de criar, de pensar teatralmente sobre a crise climática, ficou logo muito claro que nos interessava esta dimensão do díptico. Ou seja, por um lado, de pensar como é que se podia falar sobre esta questão tão avassaladora com as crianças e pensá-lo numa escala que fosse mais reduzida, mais intimista, que pusesse também em cena - e essa era a premissa para o primeiro espectáculo - grandes catástrofes naturais numa pequena escala. O espectáculo joga muito nessa dimensão de manipulação de miniaturas, no sentido de criar grandes catástrofes.
Depois, criar um segundo espectáculo que fosse para o público adulto e que tivesse uma outra escala e que pudesse abordar a crise climática de uma outra forma.
Para o espectáculo “O Estado do Mundo (Quando acordas)” foi muito importante fazermos uma pesquisa em torno de estudos científicos, de uma dimensão objectiva da crise climática, também no sentido de criar um chão comum e democrático para todos. Uma necessidade de que todas as crianças e adultos possam ter domínio sobre o assunto para depois poder falar sobre ele. Esse primeiro espectáculo passa muito por essa premissa.
Para o “Terminal (O Estado do Mundo)” interessava-nos muito escutar aquilo que as pessoas no território tinham a dizer sobre a crise climática. Então, ao longo de todo o ano de 2023, nós levamos a cabo uma longa pesquisa em que lançámos muitas propostas diferentes, que envolveram também outros artistas, outros pensadores, outras pessoas de várias áreas do conhecimento, para auscultar os públicos de maneiras muito, muito diversas. Ao longo do ano, íamos fazendo estações, de uma semana em cada local, em que levávamos a cabo uma série de actividades, desde teatro que acontecia sem aviso prévio em lugares não convencionais, em que auscultávamos as pessoas de uma forma directa, interpelando-as. Tínhamos ocupações de rádios locais, bibliotecas itinerantes. Tínhamos a construção de dois documentários que exibimos agora também aqui, no âmbito do Festival de Avignon, no Cinema Utopia, e que são os dois resultados diferentes desse trabalho.
Um deles [“Regresso ao Futuro”] tem a ver com a relação de pessoas com lugares e relações emocionais com lugares que se alteram drasticamente ao longo da passagem do tempo, da passagem climática pelos lugares. O outro, os “Improváveis de costas voltadas” é um trabalho em que púnhamos pessoas improváveis de terem uma conversa em conjunto em diálogo. Todo esse trabalho alimentou o pensamento para a construção deste espectáculo.
A partir disso tudo, foram 27 localidades por onde passámos entre Portugal e França, reunimos todo esse material e começámos a pensar sobre ele e a construir este espectáculo, sabendo que nos interessava distanciar-nos também desse material. Ou seja, ele está de uma forma muito indirecta, muito imprecisa, através da escolha destas quatro personagens que habitam este lugar, com perspectivas muito diferentes sobre aquilo que é a realidade da crise climática. E é um pouco a partir daí o espectáculo nasce, a partir dessa experiência, a partir da relação com a pesquisa e a partir deste olhar muito mais filosófico, existencialista da questão que nasce este Terminal.
Isto é muito mais do que a crise climática, é a crise económica, a crise política e a crise social. Acaba por ser o mundo retratado numa peça de teatro.
Inês Barahona: Sim, porque, tal como a natureza nos ensina, tudo está ligado a tudo. Na verdade, a crise climática não é uma crise por si. Há até quem diga que não se deve dizer crise climática, é uma crise ‘tout court’.
Uma grande crise que assenta em grandes desigualdades, que assenta em escolhas políticas e económicas e que, para nós, à distância também tem a ver com uma certa crise da imaginação. Isso era uma coisa que nós queríamos pôr em cena. Ou seja, essa ideia de que estamos num lugar de onde nos dizem que nós não podemos sair, porque não há saídas.
Tudo o que se põe em cima da mesa é olhado com muita desconfiança e as pessoas deixaram de ter essa prática de se juntarem para, no fundo, fazer uma coisa que é pensar utopias, desafiar-se para o futuro, pensar em conjunto. Isso faz com que quando nos dizem não, não há saída ou isto é muito complicado e, portanto, nem vale a pena perderem tempo a pensar nisso, nós nos limitemos a um lugar de aceitação.
É, no fundo, essa tensão entre o desejo de fazer alguma coisa e a mensagem constante de que não é possível imaginar nada de novo, que estamos presos a isto para sempre, que não há alternativa nenhuma e que tudo vai acabar, não vai ser uma visão muito boa. Era essa confrontação e essa conformação das pessoas que nós queríamos de alguma forma trazer para a cena.
Ao mesmo tempo pensar como é que nós, artistas ligados ao teatro, podemos contribuir para pensar sobre isto. Nós não temos receitas. O teatro não pode salvar o mundo, mesmo que nós acreditemos um bocadinho nisso...
Pode ajudar a mudar comportamentos.
Exacto. E pode, sobretudo promover esse exercício de imaginação, de estar em conjunto, de escuta, de discussão, mesmo de encontro e desencontro com cada uma destas personagens, das coisas que elas dizem, dos sonhos que elas têm, daquilo que elas projectam e daquilo de que têm saudades. Tudo isso é um trabalho emocional e galvanizador que o teatro pode produzir.
Nós precisamos disso, porque só com as pessoas altamente inspiradas e galvanizadas é que é possível, de facto, começar a imaginar e rebentar os limites da impossibilidade - não se pode fazer nada, não há alternativa - para se poder realmente inventar uma utopia, um futuro, um lugar, um outro lugar.
“Terminal” é o fim, mas não só. Aqui também há uma esperança de que pode haver uma outra via?
Miguel Fragata: Sim, no fundo, “Terminal” também é o princípio de qualquer coisa e pode ser o princípio de qualquer coisa. Tal como esta crise ou estas várias crises que vivemos hoje no mundo podem ser o princípio de outras coisas, assim, nós nos permitamos a olhar para isso dessa maneira.
Se calhar o sistema capitalista não faz parte da natureza como nós estamos habituados a pensar, que não há outras possibilidades, não há outros caminhos. E nessa medida, às vezes, é mesmo preciso depararmo-nos com uma ideia de precipício para podermos olhar para outras possibilidades, para pontes que se podem construir em direcções que nós não imaginávamos.
É um bocadinho o desafio deste lugar, lançado também o próprio teatro nessa senda: ressignificar, repensar os sentidos e daí também esta escolha de um espectáculo que, no fundo, viva da palavra e viva de uma relação directa e do relembrar da necessidade de estabelecermos relações directas como uma chave não para salvar, mas se calhar como um caminho possível para nos reencontrarmos na nossa relação com as coisas. Nessa medida, "Terminal" também é o princípio de qualquer coisa.
A música tem aqui um papel fundamental. Além disso, tem a Manuela Azevedo, que também assume aqui um papel de narradora da própria história.
Miguel Fragata: Nós temos uma relação já longa, eu diria, com a Manuela [Azevedo] e com o Hélder [Gonçalves], com estes dois elementos dos Clã. Nasceu já com um outro projecto que lançámos em 2018, que continua a circular, a “Montanha-Russa”, que na altura nasceu de um desejo de fazermos um espectáculo que pudesse pensar sobre a adolescência e sobre as temperaturas várias do que é ser adolescente.
A escolha dos dois teve a ver, na verdade, com a minha própria adolescência, porque era uma banda muito importante quando eu era adolescente e, portanto, esse convite pareceu muito evidente nessa altura. Foi uma relação muito boa, muito especial, que se estabeleceu a partir daí. Na verdade, todos os nossos espectáculos que se seguiram tiveram música composta pelo Hélder [Gonçalves].
Aqui, [neste espectáculo “Terminal (O Estado do Mundo)”] interessava-nos muito também lançar esta ideia de outras linguagens. Claro, a palavra teria que ser fundamental e essencial para compor esta peça. Estamos a fazer teatro e é o teatro da palavra aquilo que nós sabemos fazer. Mas, ao mesmo tempo, interessava-nos muito este diálogo com a música, pensando que a música também pode trazer uma outra ideia de princípio. Uma ideia de emoção que pode surgir através da música, uma ideia mais sensorial, mais intuitiva.
Quando pensamos sobre estas questões ligadas à crise climática, estamos também a ter que trazer essa dimensão que muito esquecemos enquanto humanidade, esta dimensão que tem a ver com com o sonho, com a intuição, com com aquilo que é menos concreto, palpável. E a música tem essa dimensão, essa capacidade de nos fazer voar, sonhar sem grande necessidade de uma explicação racional. Daí essa certeza de que o espectáculo teria que ser um diálogo entre a música e o teatro.
A Manuela [Azevedo] tem esta extraordinária presença. Ela não é só uma cantora, ela é uma grande força da natureza. Tê-la em palco e poder tê-la também neste papel, que é o papel de uma espécie de mediador, narrador, consciência das personagens todas que, no fundo, também faz esta ponte directa com o público.
O espectáculo joga-se muito nesta ideia de construção e desconstrução, de interior e exterior, de narrativa e desconstrução. E a Manuela [Azevedo], no fundo, é a figura que está entre estes dois universos.
Terminal (O Estado do Mundo) de Inês Barahona e Miguel Fragata é o segundo espectáculo de um díptico que aborda a crise climática. A criação mostra-nos uma “grande crise” que assenta em “desigualdades” e “escolhas políticas e económicas”, num lugar de onde “não há saídas”. A peça pode ser vista até ao próximo domingo, 21 de Julho, no Festival de Avignon.
Terminal (O Estado do Mundo) de Inês Barahona e Miguel Fragata é o segundo espectáculo de um díptico que aborda a crise climática. A criação mostra-nos uma “grande crise” que assenta em “desigualdades” e “escolhas políticas e económicas”, num lugar de onde “não há saídas”.
“Terminal (O Estado do Mundo)” é precisamente este espaço de tensão entre, por um lado, a aceitação e a resignação e, por outro, o desejo de “mudar o mundo”, rumo a uma saída.
Miguel Fragata: Quando nos decidimos lançar nesta aventura de criar, de pensar teatralmente sobre a crise climática, ficou logo muito claro que nos interessava esta dimensão do díptico. Ou seja, por um lado, de pensar como é que se podia falar sobre esta questão tão avassaladora com as crianças e pensá-lo numa escala que fosse mais reduzida, mais intimista, que pusesse também em cena - e essa era a premissa para o primeiro espectáculo - grandes catástrofes naturais numa pequena escala. O espectáculo joga muito nessa dimensão de manipulação de miniaturas, no sentido de criar grandes catástrofes.
Depois, criar um segundo espectáculo que fosse para o público adulto e que tivesse uma outra escala e que pudesse abordar a crise climática de uma outra forma.
Para o espectáculo “O Estado do Mundo (Quando acordas)” foi muito importante fazermos uma pesquisa em torno de estudos científicos, de uma dimensão objectiva da crise climática, também no sentido de criar um chão comum e democrático para todos. Uma necessidade de que todas as crianças e adultos possam ter domínio sobre o assunto para depois poder falar sobre ele. Esse primeiro espectáculo passa muito por essa premissa.
Para o “Terminal (O Estado do Mundo)” interessava-nos muito escutar aquilo que as pessoas no território tinham a dizer sobre a crise climática. Então, ao longo de todo o ano de 2023, nós levamos a cabo uma longa pesquisa em que lançámos muitas propostas diferentes, que envolveram também outros artistas, outros pensadores, outras pessoas de várias áreas do conhecimento, para auscultar os públicos de maneiras muito, muito diversas. Ao longo do ano, íamos fazendo estações, de uma semana em cada local, em que levávamos a cabo uma série de actividades, desde teatro que acontecia sem aviso prévio em lugares não convencionais, em que auscultávamos as pessoas de uma forma directa, interpelando-as. Tínhamos ocupações de rádios locais, bibliotecas itinerantes. Tínhamos a construção de dois documentários que exibimos agora também aqui, no âmbito do Festival de Avignon, no Cinema Utopia, e que são os dois resultados diferentes desse trabalho.
Um deles [“Regresso ao Futuro”] tem a ver com a relação de pessoas com lugares e relações emocionais com lugares que se alteram drasticamente ao longo da passagem do tempo, da passagem climática pelos lugares. O outro, os “Improváveis de costas voltadas” é um trabalho em que púnhamos pessoas improváveis de terem uma conversa em conjunto em diálogo. Todo esse trabalho alimentou o pensamento para a construção deste espectáculo.
A partir disso tudo, foram 27 localidades por onde passámos entre Portugal e França, reunimos todo esse material e começámos a pensar sobre ele e a construir este espectáculo, sabendo que nos interessava distanciar-nos também desse material. Ou seja, ele está de uma forma muito indirecta, muito imprecisa, através da escolha destas quatro personagens que habitam este lugar, com perspectivas muito diferentes sobre aquilo que é a realidade da crise climática. E é um pouco a partir daí o espectáculo nasce, a partir dessa experiência, a partir da relação com a pesquisa e a partir deste olhar muito mais filosófico, existencialista da questão que nasce este Terminal.
Isto é muito mais do que a crise climática, é a crise económica, a crise política e a crise social. Acaba por ser o mundo retratado numa peça de teatro.
Inês Barahona: Sim, porque, tal como a natureza nos ensina, tudo está ligado a tudo. Na verdade, a crise climática não é uma crise por si. Há até quem diga que não se deve dizer crise climática, é uma crise ‘tout court’.
Uma grande crise que assenta em grandes desigualdades, que assenta em escolhas políticas e económicas e que, para nós, à distância também tem a ver com uma certa crise da imaginação. Isso era uma coisa que nós queríamos pôr em cena. Ou seja, essa ideia de que estamos num lugar de onde nos dizem que nós não podemos sair, porque não há saídas.
Tudo o que se põe em cima da mesa é olhado com muita desconfiança e as pessoas deixaram de ter essa prática de se juntarem para, no fundo, fazer uma coisa que é pensar utopias, desafiar-se para o futuro, pensar em conjunto. Isso faz com que quando nos dizem não, não há saída ou isto é muito complicado e, portanto, nem vale a pena perderem tempo a pensar nisso, nós nos limitemos a um lugar de aceitação.
É, no fundo, essa tensão entre o desejo de fazer alguma coisa e a mensagem constante de que não é possível imaginar nada de novo, que estamos presos a isto para sempre, que não há alternativa nenhuma e que tudo vai acabar, não vai ser uma visão muito boa. Era essa confrontação e essa conformação das pessoas que nós queríamos de alguma forma trazer para a cena.
Ao mesmo tempo pensar como é que nós, artistas ligados ao teatro, podemos contribuir para pensar sobre isto. Nós não temos receitas. O teatro não pode salvar o mundo, mesmo que nós acreditemos um bocadinho nisso...
Pode ajudar a mudar comportamentos.
Exacto. E pode, sobretudo promover esse exercício de imaginação, de estar em conjunto, de escuta, de discussão, mesmo de encontro e desencontro com cada uma destas personagens, das coisas que elas dizem, dos sonhos que elas têm, daquilo que elas projectam e daquilo de que têm saudades. Tudo isso é um trabalho emocional e galvanizador que o teatro pode produzir.
Nós precisamos disso, porque só com as pessoas altamente inspiradas e galvanizadas é que é possível, de facto, começar a imaginar e rebentar os limites da impossibilidade - não se pode fazer nada, não há alternativa - para se poder realmente inventar uma utopia, um futuro, um lugar, um outro lugar.
“Terminal” é o fim, mas não só. Aqui também há uma esperança de que pode haver uma outra via?
Miguel Fragata: Sim, no fundo, “Terminal” também é o princípio de qualquer coisa e pode ser o princípio de qualquer coisa. Tal como esta crise ou estas várias crises que vivemos hoje no mundo podem ser o princípio de outras coisas, assim, nós nos permitamos a olhar para isso dessa maneira.
Se calhar o sistema capitalista não faz parte da natureza como nós estamos habituados a pensar, que não há outras possibilidades, não há outros caminhos. E nessa medida, às vezes, é mesmo preciso depararmo-nos com uma ideia de precipício para podermos olhar para outras possibilidades, para pontes que se podem construir em direcções que nós não imaginávamos.
É um bocadinho o desafio deste lugar, lançado também o próprio teatro nessa senda: ressignificar, repensar os sentidos e daí também esta escolha de um espectáculo que, no fundo, viva da palavra e viva de uma relação directa e do relembrar da necessidade de estabelecermos relações directas como uma chave não para salvar, mas se calhar como um caminho possível para nos reencontrarmos na nossa relação com as coisas. Nessa medida, "Terminal" também é o princípio de qualquer coisa.
A música tem aqui um papel fundamental. Além disso, tem a Manuela Azevedo, que também assume aqui um papel de narradora da própria história.
Miguel Fragata: Nós temos uma relação já longa, eu diria, com a Manuela [Azevedo] e com o Hélder [Gonçalves], com estes dois elementos dos Clã. Nasceu já com um outro projecto que lançámos em 2018, que continua a circular, a “Montanha-Russa”, que na altura nasceu de um desejo de fazermos um espectáculo que pudesse pensar sobre a adolescência e sobre as temperaturas várias do que é ser adolescente.
A escolha dos dois teve a ver, na verdade, com a minha própria adolescência, porque era uma banda muito importante quando eu era adolescente e, portanto, esse convite pareceu muito evidente nessa altura. Foi uma relação muito boa, muito especial, que se estabeleceu a partir daí. Na verdade, todos os nossos espectáculos que se seguiram tiveram música composta pelo Hélder [Gonçalves].
Aqui, [neste espectáculo “Terminal (O Estado do Mundo)”] interessava-nos muito também lançar esta ideia de outras linguagens. Claro, a palavra teria que ser fundamental e essencial para compor esta peça. Estamos a fazer teatro e é o teatro da palavra aquilo que nós sabemos fazer. Mas, ao mesmo tempo, interessava-nos muito este diálogo com a música, pensando que a música também pode trazer uma outra ideia de princípio. Uma ideia de emoção que pode surgir através da música, uma ideia mais sensorial, mais intuitiva.
Quando pensamos sobre estas questões ligadas à crise climática, estamos também a ter que trazer essa dimensão que muito esquecemos enquanto humanidade, esta dimensão que tem a ver com com o sonho, com a intuição, com com aquilo que é menos concreto, palpável. E a música tem essa dimensão, essa capacidade de nos fazer voar, sonhar sem grande necessidade de uma explicação racional. Daí essa certeza de que o espectáculo teria que ser um diálogo entre a música e o teatro.
A Manuela [Azevedo] tem esta extraordinária presença. Ela não é só uma cantora, ela é uma grande força da natureza. Tê-la em palco e poder tê-la também neste papel, que é o papel de uma espécie de mediador, narrador, consciência das personagens todas que, no fundo, também faz esta ponte directa com o público.
O espectáculo joga-se muito nesta ideia de construção e desconstrução, de interior e exterior, de narrativa e desconstrução. E a Manuela [Azevedo], no fundo, é a figura que está entre estes dois universos.
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