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Timor-Leste vai passar a integrar a ASEAN, a organização do Sudeste Asiático, que proporciona livre comércio na região e promove laços mais estreitos entre países vizinhos. A cimeira da ASEAN começa no domingo, dia 26 de Outubro e vai decorrer até dia 28 de Outubro, em Kuala Lumpur, na Malásia, e Timor-Leste diz estar pronto para integrar este bloco.
Esta semana, na cimeira da ASEAN, em Kuala Lumpur, Timor-Leste vai tornar-se oficialmente membro deste grande bloco comercial do Sudeste Asiático que agrega 700 milhões de consumidores. O caminho de Timor-Leste até esta organização foi longo, quase 15 anos para conseguir entrar, mas o livre comércio nesta parte do continente traz oportunidades, assim como desafios para o país mais jovem do Mundo.
Juliette Chaignon, em serviço especial para a RFI, esteve em Timor-Leste e falou com responsáveis políticos, activistas e jovens para perceber o impacto desta entrada iminente do país nesta grande organização, um objectivo pelo qual o Presidente, José Ramos-Horta, se bate desde o seu primeiro mandato à frente do país.
"A nossa adesão é extremamente importante. Tem sido uma grande prioridade para mim. Enquanto timorense, enquanto líder, já desde 74 que eu advogava a adesão. E na minha primeira Presidência entre 2007 e 2012, em 2011 fui eu próprio que assinei uma carta apresentando o nosso pedido de adesão a um processo que levou mais de dez anos. É totalmente compreensível porque as exigências são grandes. Naquela época, nós tínhamos muito menos recursos humanos, progressos nas infraestruturas, no nosso edifício legal, arquitectura legal necessária porque a entrada na ASEAN exige a adesão a mais de 70 tratados. Nós entramos na WTO, na OMC com grande sucesso. Em menos de dez anos de processo, conseguimos aderir à OMC. Portanto, hoje entramos na ASEAN com total confiança", disse o Presidente.
Mesmo se a entrada é consensual no panorama político timorense, Mari Alkatiri, secretário-geral da FRETILIM, maior partido da oposição actualmente no país, alerta para os perigos de integrar uma organização como a ASEAN sem preparação e numa altura em que a economia mundial pode não ser favorável a um país como Timor-Leste.
"Nós tivemos tempo para nos prepararmos para isso. Vamos entrar depois de 24 anos de restauração da independência. Tivemos tempo suficiente, mas trabalha-se na improvisação. Não se trabalha com políticas e programas. De repente, duas pessoas que se sentem campeões de confiança de todo o processo acham que devemos entrar agora. E eu disse que apoio. mas os desafios são muitos. Fundamentalmente, o desafio da institucionalização da vida do Estado. Conjunturalmente, é mais difícil sermos membros agora do que era há cinco anos, porque a economia mundial está a sofrer mudanças terríveis. E ser membro da ASEAN é ser membro de uma plataforma de globalização. Mas o que é que vamos levar esta globalização? A insuficiência, a não existência de uma economia capaz de participar no comércio internacional? Não, isso não existe. Nós agora temos uma política completamente megalómana em ter grandes grandes projetos", lamentou o líder da oposição.
Esta adesão acontece numa altura em que o Fundo Petrolífero de Timor-Leste está cada vez mais perto da extinção – sendo que era até agora uma alavanca do crescimento do país e financiamento do Orçamento do Estado. Há ainda a possibilidade de continuar a explorar o gás no projecto Greater Sunrise, criticado devido à dependência do país face às energias fósseis.
"[O fundo] Já está no fim. Também com um orçamento despesista de grandes infraestruturas que custam duas ou três vezes mais do que do que o normal, mas com qualidade. E duas ou três vezes temos dinheiro para quatro para mais quatro anos. Isto é primeiro ministro a reconhecer. Levou 20 anos para reconhecer que este tipo de despesas não é economia e rebentar com a economia", criticou Mari Alkatiri.
Nas últimas semanas, o país tem sido abalado por protestos por parte dos jovens universitários que pedem, por um lado, melhores condições de vida, e, por outro, menos privilégios para a classe política, tendo em conta que sete em 10 família vivem na pobreza e o salário mínimo situa-se nos 115 dólares. Alito Freitas Moreira tem 20 anos, é estudante universitário em Díli e quer ser professor de Biologia, e conta as dificuldades da sua família em pagar os seus estudos na capital.
"A minha família enfrenta uma situação que é muito difícil, situação difícil da economia e situação de necessidades básicas. Por exemplo, eu venho de uma família que é pobre, então não tem dinheiro para pagar os meus estudos. Então, como o meu pai é agricultor e minha mãe vendedora, não podemos comparar. Por exemplo, quando cheguei para os meus estudos aqui a Díli não tinho casa permanente, podemos alugar uma casa, mas cada mês eu pago entre 50 e 60 dólares pelo alojamento. Minha família manda o dinheiro para mim mais ou menos 60 dolares. Eu tenho cinco irmãos e uma irmã", explicou o estudante.
Com a perspectiva da abertura de um mercado de mais 700 milhões de consumidores e de relações mais dinâmicas com os seus vizinhos mais próximos, Ramos-Horta tem uma perspectiva optimista sobre esta nova etapa do país.
"A adesão traz-nos grandes benefícios. Aderimos a um bloco regional de 700 milhões de pessoas, mais do que a população da União Europeia total, com um PIB conjunto de mais de 4 triliões de dólares e economias muito dinâmicas. Portanto, Timor-Leste será integrado e será arrastado pelo lado positivo. Maior comércio, maior investimentos em Timor-Leste, muitos países e muitas empresas neste momento querem instalar-se em Timor, desde o Japão à Coreia do Sul, à China", detalhou Ramos-Horta.
E também Alito Freitas Moreira espera que as oportunidades no país se abram para todos.
"Eu acho que há muitas vantagens para os timorenses. Vantagens porque tivemos a nossas independência em 2000 e então nação que nós consideramos uma nação mais jovem, precisa aprender a experiência e cultura de outras nações e ao mesmo tempo a a ciência que nós aprendemos na educação", considerou o estudante.
Carlos da Silva Lopes, conhecido como Saky, resistente e fundador do RENETIL, movimento estudante contra a ocupação da Indonésia, deposita a sua esperança na juventude, nas suas capacidades e no seu espírito crítico para que o país continue a crescer.
"A nova geração deve afirmar-se como a nova geração que tem os seus próprios pensamentos, têm os seus próprios as próprias ideias. Contribuímos todos para a independência de Timor-Leste. Não sou uma pessoa que libertou Timor ou um grupo que libertou Timor, mas todo o povo, toda a juventude. Então essa juventude também já é tempo de dizer que não. As coisas não correm bem. Temos que corrigir. Temos que mudar o rumo. Não pode manter o que não está bem e deixamos ficar assim. Temos que mudar. Não é mudar a mentalidade. É para mudar, para ter essa mentalidade. As pessoas têm de ter a coragem, porque num país democrático não pode ter um prisioneiro político. Portanto, todos têm o direito de expressar sua opinião. Tenho o direito porque é garantido na Constituição de Timor-Leste. Não podemos ser com essa mentalidade de colonizado a ser seguidistas ou seguidismo. Eu penso que essa é que tem de mudar", concluiu o resistente timorense.
By RFI PortuguêsTimor-Leste vai passar a integrar a ASEAN, a organização do Sudeste Asiático, que proporciona livre comércio na região e promove laços mais estreitos entre países vizinhos. A cimeira da ASEAN começa no domingo, dia 26 de Outubro e vai decorrer até dia 28 de Outubro, em Kuala Lumpur, na Malásia, e Timor-Leste diz estar pronto para integrar este bloco.
Esta semana, na cimeira da ASEAN, em Kuala Lumpur, Timor-Leste vai tornar-se oficialmente membro deste grande bloco comercial do Sudeste Asiático que agrega 700 milhões de consumidores. O caminho de Timor-Leste até esta organização foi longo, quase 15 anos para conseguir entrar, mas o livre comércio nesta parte do continente traz oportunidades, assim como desafios para o país mais jovem do Mundo.
Juliette Chaignon, em serviço especial para a RFI, esteve em Timor-Leste e falou com responsáveis políticos, activistas e jovens para perceber o impacto desta entrada iminente do país nesta grande organização, um objectivo pelo qual o Presidente, José Ramos-Horta, se bate desde o seu primeiro mandato à frente do país.
"A nossa adesão é extremamente importante. Tem sido uma grande prioridade para mim. Enquanto timorense, enquanto líder, já desde 74 que eu advogava a adesão. E na minha primeira Presidência entre 2007 e 2012, em 2011 fui eu próprio que assinei uma carta apresentando o nosso pedido de adesão a um processo que levou mais de dez anos. É totalmente compreensível porque as exigências são grandes. Naquela época, nós tínhamos muito menos recursos humanos, progressos nas infraestruturas, no nosso edifício legal, arquitectura legal necessária porque a entrada na ASEAN exige a adesão a mais de 70 tratados. Nós entramos na WTO, na OMC com grande sucesso. Em menos de dez anos de processo, conseguimos aderir à OMC. Portanto, hoje entramos na ASEAN com total confiança", disse o Presidente.
Mesmo se a entrada é consensual no panorama político timorense, Mari Alkatiri, secretário-geral da FRETILIM, maior partido da oposição actualmente no país, alerta para os perigos de integrar uma organização como a ASEAN sem preparação e numa altura em que a economia mundial pode não ser favorável a um país como Timor-Leste.
"Nós tivemos tempo para nos prepararmos para isso. Vamos entrar depois de 24 anos de restauração da independência. Tivemos tempo suficiente, mas trabalha-se na improvisação. Não se trabalha com políticas e programas. De repente, duas pessoas que se sentem campeões de confiança de todo o processo acham que devemos entrar agora. E eu disse que apoio. mas os desafios são muitos. Fundamentalmente, o desafio da institucionalização da vida do Estado. Conjunturalmente, é mais difícil sermos membros agora do que era há cinco anos, porque a economia mundial está a sofrer mudanças terríveis. E ser membro da ASEAN é ser membro de uma plataforma de globalização. Mas o que é que vamos levar esta globalização? A insuficiência, a não existência de uma economia capaz de participar no comércio internacional? Não, isso não existe. Nós agora temos uma política completamente megalómana em ter grandes grandes projetos", lamentou o líder da oposição.
Esta adesão acontece numa altura em que o Fundo Petrolífero de Timor-Leste está cada vez mais perto da extinção – sendo que era até agora uma alavanca do crescimento do país e financiamento do Orçamento do Estado. Há ainda a possibilidade de continuar a explorar o gás no projecto Greater Sunrise, criticado devido à dependência do país face às energias fósseis.
"[O fundo] Já está no fim. Também com um orçamento despesista de grandes infraestruturas que custam duas ou três vezes mais do que do que o normal, mas com qualidade. E duas ou três vezes temos dinheiro para quatro para mais quatro anos. Isto é primeiro ministro a reconhecer. Levou 20 anos para reconhecer que este tipo de despesas não é economia e rebentar com a economia", criticou Mari Alkatiri.
Nas últimas semanas, o país tem sido abalado por protestos por parte dos jovens universitários que pedem, por um lado, melhores condições de vida, e, por outro, menos privilégios para a classe política, tendo em conta que sete em 10 família vivem na pobreza e o salário mínimo situa-se nos 115 dólares. Alito Freitas Moreira tem 20 anos, é estudante universitário em Díli e quer ser professor de Biologia, e conta as dificuldades da sua família em pagar os seus estudos na capital.
"A minha família enfrenta uma situação que é muito difícil, situação difícil da economia e situação de necessidades básicas. Por exemplo, eu venho de uma família que é pobre, então não tem dinheiro para pagar os meus estudos. Então, como o meu pai é agricultor e minha mãe vendedora, não podemos comparar. Por exemplo, quando cheguei para os meus estudos aqui a Díli não tinho casa permanente, podemos alugar uma casa, mas cada mês eu pago entre 50 e 60 dólares pelo alojamento. Minha família manda o dinheiro para mim mais ou menos 60 dolares. Eu tenho cinco irmãos e uma irmã", explicou o estudante.
Com a perspectiva da abertura de um mercado de mais 700 milhões de consumidores e de relações mais dinâmicas com os seus vizinhos mais próximos, Ramos-Horta tem uma perspectiva optimista sobre esta nova etapa do país.
"A adesão traz-nos grandes benefícios. Aderimos a um bloco regional de 700 milhões de pessoas, mais do que a população da União Europeia total, com um PIB conjunto de mais de 4 triliões de dólares e economias muito dinâmicas. Portanto, Timor-Leste será integrado e será arrastado pelo lado positivo. Maior comércio, maior investimentos em Timor-Leste, muitos países e muitas empresas neste momento querem instalar-se em Timor, desde o Japão à Coreia do Sul, à China", detalhou Ramos-Horta.
E também Alito Freitas Moreira espera que as oportunidades no país se abram para todos.
"Eu acho que há muitas vantagens para os timorenses. Vantagens porque tivemos a nossas independência em 2000 e então nação que nós consideramos uma nação mais jovem, precisa aprender a experiência e cultura de outras nações e ao mesmo tempo a a ciência que nós aprendemos na educação", considerou o estudante.
Carlos da Silva Lopes, conhecido como Saky, resistente e fundador do RENETIL, movimento estudante contra a ocupação da Indonésia, deposita a sua esperança na juventude, nas suas capacidades e no seu espírito crítico para que o país continue a crescer.
"A nova geração deve afirmar-se como a nova geração que tem os seus próprios pensamentos, têm os seus próprios as próprias ideias. Contribuímos todos para a independência de Timor-Leste. Não sou uma pessoa que libertou Timor ou um grupo que libertou Timor, mas todo o povo, toda a juventude. Então essa juventude também já é tempo de dizer que não. As coisas não correm bem. Temos que corrigir. Temos que mudar o rumo. Não pode manter o que não está bem e deixamos ficar assim. Temos que mudar. Não é mudar a mentalidade. É para mudar, para ter essa mentalidade. As pessoas têm de ter a coragem, porque num país democrático não pode ter um prisioneiro político. Portanto, todos têm o direito de expressar sua opinião. Tenho o direito porque é garantido na Constituição de Timor-Leste. Não podemos ser com essa mentalidade de colonizado a ser seguidistas ou seguidismo. Eu penso que essa é que tem de mudar", concluiu o resistente timorense.

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