No último domingo, dia 25 de outubro, os chilenos foram às urnas decidir se o país deveria ou não reescrever sua Constituição. Com uma esmagadora maioria de cerca 78% dos votos, a atual Carta, elaborada em 1980, ainda sob a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), foi rechaçada por mais de três quartos da população, explicitando um profundo desejo de mudança.
O plebiscito do último domingo pode ser considerado um dos pontos de chegada de um processo muito mais amplo que passa pelas gigantescas manifestações sociais iniciadas em outubro de 2019 e pelo questionamento de estruturas políticas e econômicas estabelecidas de forma autoritária ainda nos anos 1970 e 1980.
Laboratório para uma série de experiências políticas, sociais, econômicas e culturais, cujos impactos se fazem sentir ainda hoje, o Chile das últimas décadas é, certamente, um caso que merece atenção.
O país que buscou estabelecer um governo socialista dentro das regras do jogo democrático com a vitória de Salvador Allende e da coalizão de esquerda Unidade Popular nas eleições de 1970, foi o mesmo que, três anos depois, em 11 de setembro de 1973, vivenciou um dos golpes militares mais violentos da América Latina no século XX.
Além do autoritarismo político que perdurou pelos 17 anos seguintes, sob o governo do general Pinochet, o Chile foi também uma espécie de laboratório para o neoliberalismo com a atuação dos chamados "Chicago Boys" e com um programa de privatizações que abrangiam não somente as empresas estatais, mas também serviços públicos importantes como a saúde, a educação e a previdência social.
Mesmo com o início do processo de redemocratização, em 1990, os dois pilares do regime pinochetista foram mantidos: a Constituição de 1980 e o modelo econômico neoliberal. No limite, foram esses pilares que as manifestações de 2019 vieram questionar e que a nova Constituição a ser escrita nos próximos meses deve tentar superar.
Para discutir essas e outras questões, convidamos para a entrevista a professora Carine Dalmás, especialista em história chilena do século XX e professora da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA).
Esperamos que aproveitem a entrevista e nos sigam em nossas redes sociais.
Fotografia tirada em 17 de janeiro de 2020, em Santiago, Chile, por Valdir Santos.