Platão, com sua sabedoria, nos convida a considerar a importância não só do nosso estado físico, mas também da nossa disposição mental e espiritual. Sua declaração “Deixe o profano na entrada do Templo!” não se trata de uma mera divisão entre o profano e o sagrado, mas um convite àqueles que buscam o conhecimento espiritual e a iluminação a deixarem de lado as preocupações materiais e superficiais da vida cotidiana.
O Templo Maçônico representa um lugar sagrado onde os maçons buscam a verdade, a iluminação e a harmonia espiritual. Esta frase de Platão vai além da simples separação entre quem está dentro e quem está fora. Representa uma reflexão sobre a natureza do acesso ao Templo e a qualidade do indivíduo que busca cruzar esse limiar.
A criação de um espaço sagrado dentro da nossa Ordem é um ato de grande solenidade e significado, que ocorre através de uma combinação de rituais de abertura e criação de símbolos no chão. Este processo transforma o ambiente físico em um local de profunda importância espiritual. Contudo, a verdadeira essência da sacralidade reside no desejo profundo de explorar as dimensões internas do conhecimento e espiritualidade.
A busca pelo conhecimento e pela espiritualidade é uma jornada interna que envolve a mente e o coração. Requer um compromisso pessoal de procurar a verdade, de explorar a própria consciência e de procurar um significado mais profundo na vida. É um ato de auto exploração e autoconhecimento transcendência, na qual nos esforçamos para superar os limites da nossa compreensão e nos conectar com a essência mais profunda do ser humano.
A verdadeira sacralidade é, portanto, uma conexão interna com o divino, com o mistério que transcende a realidade comum. É um desafio constante explorar as fronteiras do conhecimento e da espiritualidade, procurar respostas às questões fundamentais da vida e encontrar um significado mais profundo na existência humana. Portanto, embora os gestos rituais sejam importantes para a criação de um espaço sagrado, é essencial compreender que a verdadeira essência da sacralidade reside no desejo profundo de explorar as próprias dimensões interiores. É uma jornada pessoal rumo à compreensão e à transformação, um compromisso contínuo com a busca da verdade e do sentido da vida.
Platão, com a sua sabedoria, convida-nos a refletir sobre a dicotomia entre o profano e o sagrado, sugerindo que esta separação vai além de uma mera barreira material. Este desafio nos leva a explorar a dimensão mais profunda da nossa percepção e a buscar uma compreensão mais elevada.
A criação de um espaço sagrado dentro da nossa Ordem não é apenas uma questão de gestos rituais externos ou limites físicos. É um ato alquímico de transformação interna que requer uma atitude interna, uma disposição de mente e coração para entrar em contato com o sagrado.
Os símbolos e o simbolismo são ferramentas poderosas através das quais os seres humanos tentam dar sentido ao mundo e comunicar com o invisível. Esses símbolos atuam como uma ponte entre a realidade material e espiritual, permitindo aos humanos explorar o divino, o mistério e a transcendência.
A dessacralização é um processo complexo que envolve a interação entre instituições religiosas, mudanças culturais e sociais e as forças do Iluminismo. Não é simplesmente um resultado inevitável do progresso tecnológico ou da evolução económica, mas tem sido fortemente influenciado pelas próprias instituições religiosas, particularmente pelas Igrejas. As Igrejas têm desempenhado um papel importante na distinção entre o sagrado e o profano, criando uma clara separação entre a esfera do sagrado, associada à lei divina, e a do profano, ligada à lei natural e moral. Esta distinção tem sido frequentemente usada para consolidar o poder e a autoridade religiosa.
No entanto, as Igrejas também contribuíram para a dessacralização através da degradação das crenças e práticas espirituais das culturas indígenas e tradicionais, rotulando-as como superstições ou heresias. Isto enfraqueceu a sacralidade intrínseca destas culturas e levou muitas pessoas a abraçar uma visão de mundo mais secular.
A Era do Iluminismo minou ainda mais a autoridade das crenças religiosas ao promover ideais racionalistas e científicos, levando a uma visão de mundo em que a religião e o sagrado eram frequentemente vistos como irrelevantes ou mesmo hostis ao progresso humano.
O termo “sagrado”, derivado da raiz latina “sacer”, destaca a sua importância na compreensão das dimensões espirituais e culturais da humanidade. Pelo contrário, o termo “profano”, derivado da expressão latina “pro fanum”, indica aquilo que não está ligado ao sagrado e que permanece no âmbito da vida quotidiana e na esfera da liberdade humana.
A dessacralização é um fenómeno complexo que reflete tensões entre religião, cultura e poder ao longo da história. Apesar das suas raízes históricas, continua a ser relevante hoje, à medida que as sociedades contemporâneas lutam para equilibrar os valores seculares com a busca de um significado espiritual. A dicotomia entre o sagrado e o profano é uma característica definidora em culturas de todo o mundo. O sagrado oferece uma perspectiva transcendente e misteriosa, proporcionando orientação moral, propósito e uma conexão com o além-humano. Por outro lado, o profano representa o mundo cotidiano, a esfera em que os seres humanos vivem, trabalham e interagem.
A integração destas duas esferas é essencial para encontrar equilíbrio e harmonia na nossa existência. A dualidade entre essas dimensões oferece aos indivíduos a capacidade de vivenciar a plenitude da experiência humana, combinando a busca pelo significado espiritual com a ação no mundo cotidiano. O conceito de sagrado é universal e intrínseco à consciência humana. Isto sublinha a importância e a duração da procura do sagrado na evolução da cultura humana, demonstrando como é uma constante na procura da humanidade para dar um sentido profundo à existência.
Ao longo da história, muitas culturas desenvolveram práticas religiosas e tradições rituais para abordar o sagrado e celebrar esta dimensão misteriosa da experiência humana. Esta procura do sagrado não se limita às instituições religiosas organizadas; pode ser um componente significativo na vida de indivíduos de diferentes orientações espirituais ou filosóficas.
A dessacralização é um fenómeno complexo que reflete tensões entre religião, cultura e poder ao longo da história. Apesar das suas raízes históricas, continua a ser relevante hoje, à medida que as sociedades contemporâneas lutam para equilibrar os valores seculares com a busca de um significado espiritual. O Homo religiosus, o homem religioso, que mantém uma sensibilidade inata para o sagrado e o religioso, pode nunca ter desaparecido completamente. Esta sensibilidade também parece persistir no homem ocidental moderno, por vezes sem ser conscientemente reconhecido.
Esta ligação implícita com o sagrado e o religioso emerge através de um inconsciente coletivo, um arquétipo profundamente enraizado na psique humana. Esta sensibilidade permite-nos reconhecer facilmente as manifestações do sagrado e do religioso em culturas e épocas mais diferentes das nossas. Concluindo, a dicotomia entre sagrado e profano é intrínseca à condição humana e representa uma característica distintiva nas culturas de todo o mundo. A busca pelo sagrado na evolução da cultura humana demonstra como é uma constante nas pesquisas da humanidade para dar um sentido profundo à existência.
Carl Gustav Jung afirmou que “A religião é uma necessidade da alma humana, uma parte essencial de sua verdadeira natureza”. Este sentido inato do sagrado e do religioso é uma característica intrínseca do ser humano, uma busca pelo Absoluto que só a alma humana parece ser capaz de perceber.
O conhecimento não deve ser considerado como uma forma de ignorância em relação a outras culturas ou crenças religiosas, mas como uma oportunidade de aprender tanto com o Outro como com nós mesmos. Este processo de compreensão mútua pode ajudar a redescobrir as raízes profundas da nossa sensibilidade intrínseca ao sagrado.
A busca do sentido e do Absoluto, elemento fundamental do Homo religiosus, nos une como seres humanos e nos permite superar as barreiras do tempo e do espaço. Esta investigação permite-nos estabelecer uma ligação mais profunda com o universo e com os outros, promovendo uma maior compreensão de nós próprios e dos outros.
Este artigo foi compilado da revista Athanor onde o autor é identificado somente com as iniciais V.G.