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By Jorge Correia
The podcast currently has 195 episodes available.
Dizem que há três linguagens universais: a música, a matemática e o desporto. No desporto, o futebol destaca-se como a língua franca mais consensual. É um idioma que todos parecemos entender, independentemente da idade, do género ou da geografia.
São 11 jogadores contra outros 11. Um campo, uma bola, e tudo o que fazem parece ser compreendido por todas as pessoas. De José Mourinho ao adepto mais comum na bancada ou em casa. Todos sabemos quando era penálti. Todos vemos a genialidade de um passe ou sentimos que o falhanço podia ter sido o nosso, mesmo que só joguemos no sofá.
Mas o futebol é um paradoxo de comunicação: da simplicidade absoluta de “marcar um golo” à complexidade tática de uma equipa que joga rápido, bem e em harmonia.
O futebol também é emoção. Hoje, o treinador é o melhor do mundo. Amanhã, devia ser despedido sem pestanejar. E tudo depende de uma coisa tão simples como a bola entrar ou não entrar.
Mas será que o futebol é só isso? Emoções e golos? Para entendermos melhor a linguagem deste jogo universal, convidei uma das melhores treinadoras portuguesas de futebol: Helena Costa. Atualmente, Helena aparece nos grandes estádios da Europa, explicando-nos os jogos como poucos conseguem — de forma simples, acessível e direta, que até eu consigo entender.
Helena Costa tem no currículo momentos extraordinários. Participou na formação de talentos de elite, como Bernardo Silva, quando treinava nas escolinhas do Benfica. Aceitou o desafio de ir ao Qatar para criar, do zero, uma seleção nacional feminina. E foi até ao Irão, um país onde a cultura e a condição feminina levantam barreiras que poucos ousam enfrentar.
Esta conversa é sobre a comunicação no desporto de alta competição. Mas também é sobre talento, liderança e a melhoria constante do desempenho.
A nossa convidada não é apenas treinadora e comentadora desportiva. Ela é também scout, ou seja, ‘olheira’ de talentos. Helena tem o olhar treinado para identificar o que separa um bom jovem jogador de alguém que, um dia, vestirá a camisola da seleção nacional. E spoiler: não é só a técnica que conta. É também a rapidez de pensamento, a leitura tática e a capacidade de ver o jogo como um todo — a sua equipa, o adversário e o momento certo para agir.
No entanto, mesmo os craques, ou talvez especialmente eles, nem sempre lidam bem com as críticas dos treinadores. Porque, no futebol, o talento só é suficiente quando é acompanhado de resiliência, disciplina e a vontade de melhorar.
E é aqui que entra a comunicação. É através dela que treinadores e jogadores se afinam, que talentos se desenvolvem e que equipas se tornam campeãs.
Esta pode parecer uma conversa sobre futebol, mas é muito mais do que isso. É sobre liderança, sobre ultrapassar limites e, acima de tudo, sobre a condição humana.
[00:00] Introdução ao Podcast
Título: Boas-vindas e Introdução ao Tema
Resumo: O apresentador dá as boas-vindas aos ouvintes e introduz o tema do episódio, que explora a comunicação no futebol, destacando a universalidade do desporto e a complexidade da comunicação envolvida.
[00:35] Apresentação da Convidada
Título: Apresentação de Helena Costa
Resumo: O apresentador apresenta Helena Costa, uma treinadora e comentadora desportiva de renome, mencionando a sua experiência em treinar jovens talentos e a sua atuação em diferentes países, incluindo Qatar e Irão.
[01:35] Comunicação e Emoções no Futebol
Título: A Complexidade da Comunicação no Futebol
Resumo: Discussão sobre como o futebol é um paradoxo de emoções e comunicação, onde a simplicidade de marcar um golo contrasta com a complexidade tática do jogo.
[02:53] O Papel do Treinador e do Scout
Título: A Missão de Identificar Talentos
Resumo: Helena fala sobre a importância da comunicação na formação de jogadores e como ela visa identificar talentos que podem se destacar no futebol.
[04:09] Desafios de Ser Mulher no Futebol
Título: Desafios de Ser Treinadora
Resumo: Helena discute as dificuldades que enfrenta como mulher num ambiente predominantemente masculino e a importância da competência no seu trabalho.
[05:24] A Influência dos Resultados no Futebol
Título: A Pressão dos Resultados
Resumo: Conversa sobre como os resultados impactam a carreira dos treinadores e a dinâmica dos clubes, além da relação entre treinadores e direções desportivas.
[07:58] A Comunicação no Treino
Título: A Importância da Comunicação no Treino
Resumo: Helena fala sobre como a comunicação varia entre diferentes faixas etárias e géneros, e a necessidade de adaptar a abordagem conforme o público.
[10:04] Gestão de Conflitos no Balneário
Título: Gerindo Tensão no Balneário
Resumo: Discussão sobre como lidar com a tensão entre jogadores mais jovens e experientes, e a importância da meritocracia no futebol.
[12:32] O Olhar do Scout
Título: O Que Procura um Scout
Resumo: Helena explica o que considera talento num jogador e como a capacidade de pensar o jogo à frente dos outros é crucial.
[14:50] Desenvolvimento de Jovens Talentos
Título: Trabalhando com Jovens Jogadores
Resumo: Conversa sobre como desenvolver jovens talentos, focando na importância do feedback e do entendimento do jogo.
[18:00] Lidar com a Frustração
Título: A Importância da Resiliência
Resumo: Helena discute como a resiliência e a capacidade de lidar com críticas são essenciais para o sucesso de jogadores talentosos.
[19:50] Comunicação Direta com Jogadores
Título: A Comunicação Direta e Justa
Resumo: A importância de ser claro e direto na comunicação com os jogadores, adaptando a abordagem a cada indivíduo.
[22:00] Desafios de Treinar no Irão
Título: Superando Barreiras Culturais
Resumo: Helena compartilha as suas experiências de treinar no Irão, incluindo as dificuldades de comunicação e a adaptação cultural.
[25:07] A Paixão pelo Futebol no Irão
Título: A Cultura do Futebol no Irão
Resumo: Discussão sobre a paixão pelo futebol no Irão e como isso impacta o desenvolvimento do desporto no país.
[27:40] Comunicação em Estádios Cheios
Título: Desafios da Comunicação em Jogos
Resumo: Helena fala sobre as dificuldades de se comunicar com jogadores em estádios cheios e a importância da comunicação não verbal.
[28:50] O Papel dos Líderes em Campo
Título: Definindo Líderes no Futebol
Resumo: Discussão sobre as características que definem um líder dentro de campo e a importância da personalidade.
[30:00] Lidar com Jogadores Estrelas
Título: Gerindo Jogadores Estrelas
Resumo: Helena compartilha a sua experiência em lidar com jogadores que têm um status elevado e como a liderança é crucial nesse contexto.
[32:00] A Criação do Futebol Feminino no Qatar
Título: Desafios de Criar uma Seleção Feminina
Resumo: Helena fala sobre a experiência de criar uma seleção feminina do zero no Qatar e os desafios enfrentados.
[36:00] A Importância da Empatia
Título: A Empatia na Liderança
Resumo: A importância de criar um ambiente empático e próximo para motivar e desenvolver jogadoras.
[39:00] A Comunicação na Televisão
Título: A Experiência como Comentadora
Resumo: Helena discute a sua experiência como comentadora de futebol e a importância de comunicar de forma acessível para todos os públicos.
[42:00] O Futuro do Futebol Feminino
Título: Expectativas para o Futebol Feminino
Resumo: Conversa sobre o crescimento do futebol feminino e as expectativas para o futuro, incluindo a possibilidade de sucesso em campeonatos mundiais.
[44:00] Conclusão e Reflexões Finais
Título: Reflexões sobre o Futebol e a Comunicação
Resumo: O apresentador encerra o episódio refletindo sobre as lições aprendidas com a conversa, destacando a importância da comunicação e da conexão humana no desporto.
JORGE CORREIA 00:00:12 Ora viva! Bem vindos ao Pergunta Simples o vosso Podcasts sobre comunicação, onde exploramos como nos ligamos uns aos outros através das palavras e das acções? Dizem que no mundo há três linguagens universais a música, a matemática e o desporto. E dentro do desporto, o futebol destaca se como a língua franca mais consensual e um idioma que todos parecemos entender, independentemente da idade, do género ou da geografia. São 11 jogadores contra O111 campo, uma bola e tudo o que fazem parece ser compreendido por toda a gente. Do José Mourinho ao adepto mais comum da bancada ou em casa, todos sabemos quando era penálti e quando vemos a genialidade de um passe ou o golo, ou sentimos que o falhanço podia ter sido o nosso. Mesmo que só joguemos no sofá. Mas o futebol é um paradoxo de comunicação, da simplicidade absoluta de marcar um golo. A complexidade táctica de uma equipa que joga rápido, bem e em harmonia. O futebol é emoção cujo treinador é o melhor do mundo. Amanhã deveria ser despedido sem pestanejar. E tudo depende de uma coisa tão simples como a bola entrar ou não entrar de uma baliza.
JORGE CORREIA 00:01:35 Mas será que o futebol é só isto emoções e golos? Para entendermos melhor a linguagem deste jogo universal, convidei uma das melhores treinadoras portuguesas da atualidade Helena Costa. Atualmente, Helena Costa não é só treinadora, mas aparece também como comentadora na televisão. Aparece nos grandes estádios da Europa, explica nos os jogos como poucos conseguem de forma simples, acessível e directa. Até eu consigo entender o jogo. Helena tem no seu currículo momentos extraordinários. Ela, por exemplo, participou na formação de talentos de elite como Bernardo Silva, quando treinava nas escolinhas do Benfica. Aceitou depois o desafio de ir até o Qatar para criar do zero uma seleção nacional feminina e foi até ao Irão, o país onde a cultura e a condição feminina levantam barreiras que poucos ousam enfrentar. Esta conversa é sobre comunicação no desporto de alta competição, mas também é sobre talento, liderança e melhoria constante da performance. A nossa convidada não é apenas uma treinadora e comentadora desportiva, ela também é scout, ou seja, olheira de talentos. A Helena tem o olhar treinado para identificar o que separa um bom jovem jogador de alguém que um dia vai vestir a camisola da seleção nacional.
JORGE CORREIA 00:02:53 E não é só a técnica que conta, é também a rapidez de pensamento, a leitura tática, a capacidade de ver o jogo como um todo, sua equipa, o adversário é o momento certo para agir. Têm por isso, como missão a Helena encontrar o próximo Cristiano Ronaldo. No entanto, mesmo os craques ou especialmente os craques, eles nem sempre lidam bem com as críticas dos treinadores, porque no futebol o talento só é suficiente quando é acompanhado de resiliência, disciplina e vontade de melhorar. E é aqui que entra a comunicação e, através dela, a comunicação que os treinadores e os jogadores se afinam, que os talentos se desenvolvem e que as equipas se tornam campeãs. Esta pode parecer uma conversa sobre futebol, mas é muito mais do que sobre futebol. É sobre liderança, sobre ultrapassar limites e sobre, acima de tudo, sobre a condição humana reduzida a um jogo que se joga entre pessoas que Viva. Helena Costa, treinadora descobridora de talentos comentadora desportiva. Agora sou teu fã de te ver a comentar, a explicar me um jogo que parece tão fácil e depois, afinal é bem mais difícil do que isso.
JORGE CORREIA 00:04:09 Nasceste em 78, começaste a treinar os miúdos das escolinhas do Benfica e depois decidiste passar por vários sítios, treinar equipas femininas, duas que tenho uma grande curiosidade no Qatar e no Irão e com um saltinho entretanto pela Europa para liderar a equipa do Clermont Foot, uma equipa profissional de futebol. É mais difícil ser mulher do que homem nestas coisas de treinar a bola.
HELENA COSTA 00:04:39 Boa tarde. Primeiro que tudo e obrigada pelo convite e pelos elogios. É mais difícil num mundo profissional quando se fala de profissional de futebol masculino. Sim, não vou esconder que que é mais difícil, mais difícil ter acesso, é mais difícil perdoar, mas depois eu penso que tal e qual como em todos os trabalhos, depende da competência. E sendo homem ou mulher, aquilo que é avaliado é o trabalho. Claro que o lidar no dia a dia tem que ser algo, lidar com muitos homens, lidar tem que ser algo natural e respeitoso. Mas isso eu penso que será no futebol, como na indústria farmacêutica, ou aqui na rádio ou na televisão.
HELENA COSTA 00:05:22 Portanto, faz parte da nossa sociedade.
JORGE CORREIA 00:05:24 Eu tenho uma curiosidade que é um treinador, mesmo que seja absolutamente competente, que esteja a fazer a coisa que é certa. Depois, depende desse estranho fenómeno do raio da bola entrar ou entrar na rede abanar.
HELENA COSTA 00:05:39 Sim, na maioria das vezes, atenção, porque começa a haver também já dirigentes com outra mentalidade e obviamente toda a gente depende de resultados e quanto mais resultados houver, mais o clube progride, mais jogadores se vendem. Aquilo é uma bola de neve, não é? Hoje em dia o futebol é muito mais económico do que era há uns tempos atrás. Já não há o amor à camisola, só não é e portanto pode.
JORGE CORREIA 00:05:59 Haver ao sr. Treinador que tem aqui este jogador que eu comprei aqui por 10 milhões e agora temos que o fazer render.
HELENA COSTA 00:06:05 Sim, pode haver, mas normalmente o que acontece agora é os 10 milhões são investidos já com uma perspetiva também que integre o próprio treinador a todo o tipo de projetos, a projetos em que há uma direcção desportiva que impõe a ideia do clube e, portanto, o treinador integra se ali.
HELENA COSTA 00:06:23 Mas os jogadores são comprados pela direcção desportiva. Mas na maioria.
JORGE CORREIA 00:06:26 Eu é outro e outro. Como e como é que isto funciona? Normalmente os clubes têm um presidente da direcção de finanças, um dono do clube também, exatamente importante, que está lá na bancada. Estou a pensar mesmo muito no futuro, no futebol inglês. Depois pode haver um director desportivo. Estou a pensar no Hugo Viana, eventualmente, que me lembro logo e lá dentro está um treinador. Então o treinador decide o que.
HELENA COSTA 00:06:50 O treinador decide tudo no dia a dia da equipa. Depois, o que decide para além do dia a dia da equipa já depende da forma como os clubes se estruturam. E era isso que eu estava a explicar. Há uns que dependem muito da vontade do dono, imaginando que um clube tem um dono, o dinheiro é do dono e, portanto, se fosse o meu dinheiro, eu também queria ter uma parte da decisão. Escolher a pessoa certa para o manejar e, a partir daí, pode explicar. Se o treinador estar claramente inserido na decisão da compra de um jogador, por exemplo.
HELENA COSTA 00:07:21 E acho que faz mais sentido integrar toda a gente, porque, no fundo, é o treinador que o vai ou desenvolver, ou colocá lo a jogar ou etc. Potencial. Ou então o treinador é simplesmente um inquisidor da ideia, da ideia, do clube que se integra ali e que ajuda a desenvolver, mas que não decide. Depende muito das estruturas, mas o dia a dia da equipa. E não estou a pensar no futebol inglês, em que o treinador é mais manager e muito mais líder nas outras áreas todas do clube. Em Portugal. O treinador é isso. A gestão do dia a dia da equipa. Vamos pensar de uma forma um bocadinho mais rotulada.
JORGE CORREIA 00:07:58 Olha o que é que. Como é que tu vês esta função da comunicação precisamente nesta máquina tão complexa que o futebol se tornou no dia de hoje? Como é que? Como é que tu usaste as ferramentas? Que ferramentas é que tu precisaste? Quando tu quando disseram assim Olha, agora vais aqui treinar as escolinhas do Benfica. Podemos começar por.
HELENA COSTA 00:08:19 Coisas tão diferentes. Começar com meninos, não é? Foram coisas muito diferentes. Se eu pensar nessa nessa minha fase da vida, porque eu também era uma miúda. Nessa altura eu estava no primeiro ano da faculdade a terminá lo quando isto surgiu. E portanto, era uma miúda, basicamente. Ainda no outro dia me reuni com alguns deles, que agora já são homens também e eles próprios descobriram a minha idade nessa altura e ficaram chocados e até me disseram meio a brincar se eu soubesse não tinha respeitado. Quer dizer, tu tinhas quase a idade que eu tenho agora. Como é que é possível? Foi engraçado isso, não? Mas nessa altura era o aprender a adaptar a comunicação para miúdos, porque é totalmente diferente ainda hoje. E não é. Independentemente da minha idade, o comunicar com miúdos é diferente de comunicar com adolescentes e é diferente de comunicar com seniors. E mesmo assim eu posso dizer que comunicar com homens é diferente de comunicar com mulheres no treino. Então o treino e o treino, aquilo, a explicação do exercício é exactamente igual o conteúdo, etc.
HELENA COSTA 00:09:21 O que eu notei e acredito que possa ser diferente nesta altura, até porque as miúdas começam a ter agora um processo de formação, mas na altura e podemos dar o exemplo da Dolores, da própria Filipa Patão, que agora está está na Vogue e toda a gente percebeu que quem é? Eram miúdas que estavam integradas, que eu as integrei na primeira equipa, por exemplo, do primeiro Dezembro, conta com jogadoras de 29 anos, as Carlas Cuts, as edits e.
JORGE CORREIA 00:09:50 Elas tinham.
HELENA COSTA 00:09:51 14 a Edit 14. A Dolores, perdão, é a Filipa tinha 16 ou 17.
JORGE CORREIA 00:09:56 Por acaso tem duas adolescentes.
HELENA COSTA 00:09:58 Claramente 13, até com talento, com talento e.
JORGE CORREIA 00:10:02 Colocastes numa equipa sénior.
HELENA COSTA 00:10:04 Nas férias. Isto era assim no futebol feminino há muito tempo e o.
JORGE CORREIA 00:10:08 Efeito disso.
HELENA COSTA 00:10:10 A Dolores passou a titular Claramente. A Filipa teve as suas oportunidades passo a passo e mesmo a Solange, que ainda não falámos, também tinha as suas oportunidades. Mas a Dolores claramente passou a titular, talvez na posição onde lhe era possível na altura porque a equipa era campeã.
HELENA COSTA 00:10:27 Mas entretanto perdemo nos por uma questão de comunicação. Elas não tendo esse processo de formação, eram muito curiosas. Não é o questionar a treinadora porque é que se faz isto e qual é o sentido no jogo? O quererem perceber a ideia do jogo, quererem perceber o porquê do exercício enquadrado no jogo e se faz parte de um treinador. Os homens ou os rapazes. E eu tive experiência até num clube que eu considero onde o processo de formação existe e a cultura do jogador é grande. É para fazer e para fazer. Não se questionava.
JORGE CORREIA 00:11:03 São pragmáticos? São mais, São mais diretos.
HELENA COSTA 00:11:05 Têm o tal, a tal base de formação. Não é que.
JORGE CORREIA 00:11:08 É tudo igual à partida para todos.
HELENA COSTA 00:11:10 Agora, mas elas antes não tinham e portanto, a curiosidade táctica era algo que lhe estava muito inserida.
JORGE CORREIA 00:11:17 Quer dizer, calma, há linguagens diferentes quando quando tu vens de processos formativos diferentes, há uma língua.
HELENA COSTA 00:11:24 Eu notei isso, acredito. E era o que estava a dizer. Agora elas já conseguem ter um processo de formação e acredito que dentro em breve a curiosidade vai ser menor, porque já percebem o jogo de outra maneira.
HELENA COSTA 00:11:34 Já tiveram o tal aquisição de conhecimento.
JORGE CORREIA 00:11:37 Olha, tu estás a falar de uma coisa curiosa que é pegar em gente nova, com talento, colocar numa equipa sénior. Isso não gera uns os amuos em relação às aquelas que provavelmente podem perder o lugar. Faz parte. Ai, como é que tu gere? Como é que se gere essa tensão dentro de um balneário?
HELENA COSTA 00:11:54 Eu acho que há coisas que são naturalmente aceites porque são visíveis. Se aparece alguém que é melhor, embora seja o mais novo, o cartão de cidadão não garante o lugar. Não é, à partida, o garante lugar é competência, talento, a capacidade de ter a performance.
JORGE CORREIA 00:12:11 Isso vê se.
HELENA COSTA 00:12:13 Claramente.
JORGE CORREIA 00:12:14 O que é que tu procuras? Tu ainda por cima és scouting, portanto, tu, tu tens. Tens a tarefa de encontrar o próximo Cristiano Ronaldo, não é? Não sinto essa pressão, mas de encontrar o que é que o que é que um olheiro, o que é que um treinador? O que é que um observador como tu és procura ouvir? O que é que tu vês que não vejo?
HELENA COSTA 00:12:32 Isto dava me uma conversa.
HELENA COSTA 00:12:34 Quantas horas é que temos? E muito. Também tem uma parte muito intuitiva. Nós estamos a pouco a falar de ideias, de clube e projetos do clube. Depende muito do que procuramos. Vou dar um exemplo Eu já trabalhei no Celtic, já trabalhei no entrar em Frankfurt, no Watford, mas se eu trabalhasse para um clube português, eu não iria procurar exactamente as mesmas coisas que estava à procura nestes clubes. Então porque o futebol português é diferente do futebol alemão Em muita coisa. É muito diferente do inglês. Agora, talento é talento, é talento e talento. Em qualquer parte do mundo há uns que se adaptam mais a uma ideia de jogo e a outros que se adaptam menos. O que é que eu procuro e o talento que é isso que traz dinheiro?
JORGE CORREIA 00:13:17 Vamos lá ver. Mas aquilo que eu consigo perceber do jogo, alguém que remate à baliza com força e colocação e marca golos, em princípio é talentoso. Isso é.
HELENA COSTA 00:13:26 Talento. E é dos mais caros, muito mais caros.
JORGE CORREIA 00:13:28 Temos até por já uma etiqueta.
JORGE CORREIA 00:13:29 Sim, sim.
HELENA COSTA 00:13:29 Os avançados são sempre os mais.
JORGE CORREIA 00:13:31 Seja o número de golos.
HELENA COSTA 00:13:32 Mais valorizados.
JORGE CORREIA 00:13:33 Mais valorizados.
HELENA COSTA 00:13:34 Os que marcam isso marcam.
JORGE CORREIA 00:13:36 Aqueles que estão lá Quase, Se calhar não. Depois também é para mim talento alguém que consegue fazer passes. Estou sempre a imaginar passes a 30 metros ou 40 metros que parece que pegou com a bola na mão e lá colocou. É e é. E é um jogador formidável. Ou então que faz magníficos.
HELENA COSTA 00:13:54 Para mim, um grande talento é aquele que pensa o jogo à frente dos outros. Aquele que consegue, tem uma tomada de decisão impecável.
JORGE CORREIA 00:14:04 Pensa mais rápido, pensa melhor.
HELENA COSTA 00:14:07 Mais rápido e melhor. São dois, dois conceitos que se associam à tomada de decisão, isto é, que consegue ter uma qualidade técnica que acompanhe essa forma de ler o jogo. Portanto, não.
JORGE CORREIA 00:14:17 Adianta só só vislumbrar depois, também é preciso discutir.
HELENA COSTA 00:14:20 Posso ler muito bem o jogo, mas o Messi chega a aquilo como eu e coloca. Faz tudo o que quer, não é? Portanto, as várias coisas associadas é o ideal.
HELENA COSTA 00:14:28 O ideal é aquela máquina completa, que é o que pensa bem e rápido. Decide, portanto, bem o que tem a técnica que acompanhe essa decisão e passe pelo lado físico que ainda acompanha. Há quem valorize mais o lado físico e há muitos campeonatos em que isso é hiper valorizado e, portanto, os pequeninos que pensam muito rápido porque toda a vida foram sempre mais pequeninos e para se.
JORGE CORREIA 00:14:50 Levam com os grandes em cima, não é.
HELENA COSTA 00:14:52 Para evitarem esse confronto físico, desenvolveram outras capacidades intelectuais que hoje em dia são uma grande arma.
JORGE CORREIA 00:14:59 É isso que explica os Bernardos Silva da vida.
HELENA COSTA 00:15:01 Totalmente, totalmente o Bernardo. Eu treinei o Bernardo.
JORGE CORREIA 00:15:04 Ah, então.
HELENA COSTA 00:15:05 O Bernardo era assim, o Bernardo era assim. E quando eu digo isto às pessoas, não é bem assim. Era assim. O Bernardo era assim a decidir a técnica. Obviamente que ele evoluiu muita coisa no entendimento do jogo, mas aquilo que vinha do Bernardo Inato era. Era isto que nós vemos e esta forma de estar na vida também muito simples.
HELENA COSTA 00:15:25 Era ele, claro, tem um contexto familiar que proporciona, mas a inteligência, a capacidade técnica, até a forma de correr, tudo igual, tudo igual. E isto vê se aos sete pessoas, oito E as pessoas dizem há muita coisa que no processo de formação Sam, tu não sabes aos sete anos que o miúdo vai conseguir. É verdade, há muita coisa, mas os bons são sempre bons.
JORGE CORREIA 00:15:47 Ainda por cima, Raio do homem, ainda por cima comunica bem. Caraças, tem tudo, não é? Quando tu olhas para isto, para um jovem talento, neste caso Bernardo, e dizes Eu sou o treinador deste deste miúdo, o que é que tu procuras desenvolver? Como é que tu trabalhas?
HELENA COSTA 00:16:04 Há muita.
JORGE CORREIA 00:16:04 Coisa. O processo de feedback, por exemplo, porque aos sete anos eu imagino que o conjunto de coisas que ele faça, apesar de maravilhosas, estão carregadas de coisas que que é preciso aperfeiçoar.
HELENA COSTA 00:16:15 Sim, sobretudo o entendimento do jogo. Porque quando é a qualidade técnica, obviamente.
HELENA COSTA 00:16:21 Eu lembro, por exemplo, o Jota, que agora está no terreno, nós. Ele sempre foi um acima da média do ponto de vista técnico e ele adora fintas. Ainda hoje adora fintas e provavelmente teve muitos treinadores que foram castrando nesse nessa expressão. Mas é nisso que ele é bom e é para isso que ele é contratado, por exemplo, agora para o Reino. E foi nisso que ele sobressaiu no Celtic também. O percurso que teve no Benfica, depois ao nível sénior, isso é outra história. Mas é naquilo que ele é bom e é naquilo que ele sobressaiu sempre. E nós, meio a brincar, já a explorar um lado muito fora do normal. Dizíamos lhe Olha, no próximo treino, assim que chegar, epá, tens que fazer 1,1 tesoura, uma não sei quê. Tudo seguido. E ele lá em casa, lá, lá treinava e a primeira coisa que eu fazia era está aqui, pumba! Portanto, pequenos desafios. Agora, o que é que é o agrupar o individual no coletivo? Porque isso, para os miúdos, o desenvolvimento do pensamento abstrato é algo também muito complexo.
HELENA COSTA 00:17:20 Eles vêem o agora e o ele é o agora e o perspetivar a equipa e lá mais à frente, ler o jogo um bocadinho mais à frente é algo que temos que desenvolver. Agora as coisas inatas estão lá sempre e estão lá sempre, também no nível sénior. E isso eu acho que é muito fácil. Olhar para alguns miúdos e perceber. dificilmente não vai lá chegar. E miúdos muito novos. E depois o aspeto mental, O aspeto mental? Sim. E consegue se perceber essa.
JORGE CORREIA 00:17:47 Teimosia, essa e essa vontade.
HELENA COSTA 00:17:49 Persistência e persistência.
JORGE CORREIA 00:17:51 O sobreviver à frustração porque lá está um miúdo muito talentoso.
HELENA COSTA 00:17:55 O Bernardo.
JORGE CORREIA 00:17:56 O Bernardo.
HELENA COSTA 00:17:56 O Bernardo não jogava a titular nos sub15, sub16, sub17.
JORGE CORREIA 00:18:00 E não ficava frustrado.
HELENA COSTA 00:18:02 Claro que ficava o Bernardo e o Ricardo Horta. Claro que ficava. Mas a persistência e o acompanhamento que algumas pessoas deram. O Bernardo já falou disso várias vezes, até a importância que o Chalana teve nesse processo. Mas alguns desistem e outros têm quem os acompanhe.
JORGE CORREIA 00:18:18 Lá está essa ideia.
JORGE CORREIA 00:18:19 O Chalana fá los bem, Quer. Confio em ti, miúdo. Tu tens, tens um talento como eu. Lá está. É quase uma irmandade. Tu é o papel dos pais. Não, eu não.
HELENA COSTA 00:18:28 Vou envolver os pais porque há uns que põe impressão. No caso do Bernardo, não punham pressão nenhuma. São pessoas com com tudo no sítio. Aí o.
JORGE CORREIA 00:18:36 Segredo também não.
HELENA COSTA 00:18:37 É? Sim, era o que eu estava a dizer há pouco. O envolvimento que os jogadores têm auxilia muito depois a superar as dificuldades. Mas ainda bem que há dificuldades no percurso deles de formação, porque não pode ser tudo perfeito.
JORGE CORREIA 00:18:50 Olha como é que tu lidas com jogadores que evitam a comunicação direta? Porque eu quero imaginar. Estou a ouvir te agora aqui e estou a pensar Esta treinadora deve ser daquelas que diz tudo o que tem para dizer aos.
HELENA COSTA 00:19:03 Não é só a treinadora, é a pessoa, sim a pessoa e sobretudo a Chief Scouts. É porque isto é tudo muito bonito, mas é a tomada de decisão que envolvem milhões.
HELENA COSTA 00:19:16 Têm que ser muito claras e comprar um jogador envolve muitos milhões. Como é que.
JORGE CORREIA 00:19:20 Se diz que não?
HELENA COSTA 00:19:22 Justificando o porquê? Não é dizer que não, Só porque não é justo dar as minhas razões e eu posso estar errada. Naturalmente que já errei, já acertei muitos outros também, Mas é dar as minhas opções e o porquê. Mas é dizer tudo na cara e eu acho que não há forma mais natural de liderança do que ser justo e frontal. Quem não gosta? Paciência.
JORGE CORREIA 00:19:45 E todos os e todos os jogadores recebiam da mesma maneira?
HELENA COSTA 00:19:50 Não. Cada pessoa é uma pessoa. Isso tratar todos por igual. Isso para mim não faz sentido. Há, claro, comportamentos que o treinador tem que ter em grupo. E quem disse? Eu volto a dizer quem diz o treinador, diz o director desportivo, é um bocadinho a parte nesse sentido, porque não há um contacto directo com a equipa. Mas mas a com um board, com uma direcção, com o dono e portanto cada pessoa é uma pessoa.
HELENA COSTA 00:20:16 E eu posso estar a falar contigo agora. Se estivesse aqui, a produtora provavelmente teria que dizer a mesma coisa de outra maneira. Tinha que me. Não é manipular o discurso, mas é adaptar. E cada pessoa é uma pessoa. Há pessoas mais sensíveis, há pessoas mais ou menos sensíveis. Não se pode tratar toda a gente da mesma maneira. E isto é como na vida, eu acho.
JORGE CORREIA 00:20:36 E há uns jogadores que reagem mais a uma crítica direta ou a um estímulo e outros que são mais.
HELENA COSTA 00:20:42 Sim, uns que ficam mais nervosos, mais vulneráveis, mais são mais sensíveis. Há outros que são mais frios a outros que estão habituados a uns que já têm mais experiência, também levam isso de outra maneira. Há os que a tal Dolores, que entra com 14 aninhos, não posso falar para a Dolores como falava com a Carla Couto, por exemplo, mas são pequenos pormenores. Agora há regras que são regras de grupo e há comunicações que são a comunicação do grupo. Isso é sim e por igual.
HELENA COSTA 00:21:12 Mas cada indivíduo é um indivíduo. E como.
JORGE CORREIA 00:21:13 É que? Como é que se molda? O que é que é a pressão para a performance? Por um lado, a formação, por outro. E depois esse desenvolvimento e esse, essa, essa comunicação com com cada um dos miúdos ou dos atletas depois mais crescidos.
HELENA COSTA 00:21:28 Eu acho que isso faz com que com o dia a dia, vai com o dia a dia, com o conhecimento de cada um, com Um. Muita interpretação de alguns sinais. Em Off the record falamos já da comunicação não verbal e eu acho que para mim algo não é só na relação treinador jogador. É também tudo. E eu tendo vivido no estrangeiro, acho que desenvolvi isso muito, sobretudo no Qatar.
JORGE CORREIA 00:21:56 Neste Irão e Qatar.
HELENA COSTA 00:21:57 Qatar primeiro e depois irão.
JORGE CORREIA 00:21:59 Culturas completamente diferentes.
HELENA COSTA 00:22:00 Sim, a.
JORGE CORREIA 00:22:01 Língua é um mistério.
HELENA COSTA 00:22:03 A língua começou por ser um mistério no Qatar. Eles falam naturalmente o árabe, mas no Qatar, até fruto daquilo que é a influência norte americana e o país.
HELENA COSTA 00:22:14 A forma como se está a desenvolver praticamente todas as universidades e algumas escolas são lecionadas em inglês e, portanto, a comunicação é muito fácil por lá. A maior parte das pessoas que lá vivem são estrangeiras e o inglês é quase a língua. Não digo nativa, mas praticamente.
JORGE CORREIA 00:22:30 Os atletas.
HELENA COSTA 00:22:31 Também. Também toda a gente fala inglês. Mesmo miúda de 13 anos, era muito raro encontrar uma que não falasse inglês. Portanto foi facílimo nesse aspeto. Mas quando eu passo do Qatar para o Irão e já arranhava algumas palavras de árabe ou não falando, já conseguia interpretar muitas coisas que diziam. Eu pensei agora vou me safar um bocadinho melhor. Fui sozinha, sem equipa técnica e quando chego lá, o que eles falam em persa têm algumas palavras idênticas, mas com significados diferentes. Portanto, baralhou o sistema todo. O meu árabe não servia para nada e ninguém falava inglês, ninguém falava inglês. Só a minha time manager é que falava em inglês.
JORGE CORREIA 00:23:09 Como é que se faz isso? Como é que tu treinas uma equipa quando?
HELENA COSTA 00:23:12 Quando sei o que eu pensei não falar? Como é que eu faço isto?
JORGE CORREIA 00:23:14 Não ouvimos a mesma música, Não falamos a mesma língua.
HELENA COSTA 00:23:17 Eu não consigo explicar até hoje. Foi muito linguagem gestual, muito exemplificação de exercícios, Muito. No início ainda chamei minha TI Manager para me ajudar diretamente no treino, quase como intérprete, uma tradutora. Mas ela não percebe nada daquilo, não percebia nada de termos do treino e, portanto, era mais incomodativo do que auxílio. Por muito que ela tivesse auxiliado.
JORGE CORREIA 00:23:45 Portanto, tínhamos aqui uma outra coisa, uma outra barreira da linguagem que é tu não percebes nada deste métier. No fundo, falas a língua, mas não falas. A minha língua do futebol.
HELENA COSTA 00:23:54 Não é a minha e a língua do pessoal é universal. Sim, ela trabalhava na Federação, mas é trabalha e foi uma pessoa extraordinária, que me ajudou muitíssimo, até porque era a única com quem eu conseguia realmente comunicar também, mas super competente. Mas não era. Era da parte administrativa, era da parte mais funcional, não era do treino, não era uma linguagem do futebol e, portanto, não servia para para o meu auxílio. E tive que desenvolver outras ferramentas.
HELENA COSTA 00:24:23 E o mais engraçado é que nós acabámos por comunicar muito e já havia piadas que ele já havia uma interação com piadas, mesmo não falando absolutamente nada e elas não falando inglês. Fomos desenvolvendo e eu fui obrigada também a mais rapidamente saber os termos em persa. E a comunicação era excelente e a relação era brutal. Foi brutal.
JORGE CORREIA 00:24:48 Sabem daquelas perguntas? Aquelas palavras básicas? Lá está, chuta, remata, defende, cobre.
HELENA COSTA 00:24:54 Pressiona. Coisas desse género? Sim. E a partir daí a nossa linguagem foi, foi, foi melhorando e acabámos com piadas e com uma relação extraordinária e com vivências óptimas. Eu adorei o Irão.
JORGE CORREIA 00:25:07 Os resultados foram bons.
HELENA COSTA 00:25:08 Foram bons, mas a qualificação tivemos um azar no sorteio da qualificação para vá, vamos chamar o Europeu lá do sítio, não é o campeonato asiático. Calhou nos a Tailândia, que era um dos tubarões e só passavam uma. Portanto tivemos. Mas foi muito positivo. E eu ali não era só a selecionadora da equipa A, era também coordenadora de todas as outras seleções.
HELENA COSTA 00:25:29 Eu tinha um treino pelo menos todos os dias de qualquer seleção. Se fosse sub13, sub16, eles lá têm escalões diferentes da Europa. E foi muito interessante e sobretudo, o impacto que se pode deixar depois no país, que não foi só o Irão. Estava extremamente desenvolvido na altura, muito mais desenvolvido de Portugal. Muito, mais, muito mais mesmo.
JORGE CORREIA 00:25:49 Não tinha nada essa.
HELENA COSTA 00:25:50 Ideia, pois ninguém tinha. Mas porquê? É um talento.
JORGE CORREIA 00:25:53 Em que na na.
HELENA COSTA 00:25:55 No Nem era o conceito de treino, o conhecimento de treino não era, é muito inato. E eu noutro dia estava a falar com o António Simões, que também estava lá na altura com o Carlos Queiroz e com o Daniel Gaspar. E nós privamos e ele sentiu isso do lado masculino também, que há um talento inato.
JORGE CORREIA 00:26:14 Eles conhecem o jogo porque sim.
HELENA COSTA 00:26:16 Não, eles têm uma paixão por jogo incrível. Eu lembro me que na nossa Academia da Federação era ao lado do Estádio Nacional e, por exemplo, a final da Taça era da Taça de Clubes era jogado também no Estádio Nacional.
HELENA COSTA 00:26:31 A imagem do que acontece aqui e eles dormem à porta do estádio para ser dos primeiros a entrar. E lembro de estar a dar um treino às dez e qualquer coisa da manhã. Portanto, na academia, que era praticamente ao lado, o jogo da final da Taça ia ser às oito e tal da noite, as estradas iam ser cortadas, etc. Mas às dez e tal eu ouvia a Hola mexicana que o estádio já estava cheio. Uma coisa incrível e incrível eles vivem como ninguém. O jogo é uma paixão brutal pelo futebol, uma coisa incrível.
JORGE CORREIA 00:26:58 Olha, estavas a falar de aprender as palavras mínimas para conseguir dar alguma informação. Os jogadores ouvem alguma coisa dentro do campo, no meio de um estádio cheio de gente?
HELENA COSTA 00:27:08 Sim, no masculino é mais difícil. Quando os estádios estão cheios. No feminino não há isso muitas vezes, mas a comunicação praticamente. O treinador, não tem grande forma. Com um estádio completamente cheio de fazer a comunicação chegar no instante em que gosta. Depois faz passar por outras formas.
HELENA COSTA 00:27:25 E claro que a comunicação com os jogadores que estão mais próximos. Depois passa ou há pausas para hidratação e fala só há um, eventualmente um jogador lesionado e aproveita se. Mas no dia a dia, para um treinador com um estádio cheio, a comunicação não é fácil e há uns.
JORGE CORREIA 00:27:40 Jogadores lá dentro, normalmente naqueles 11. Há uns que fazem de treinador também lá dentro, que são o espelho do treinador.
HELENA COSTA 00:27:47 Sim, há uns com personalidade, com conhecimento, com liderança, sim, que são muito espelho.
JORGE CORREIA 00:27:54 O que é o que define um líder dentro do campo?
HELENA COSTA 00:27:58 A personalidade. Primeiro que tudo, mas sobretudo a forma como coloca a sua performance quase de forma, sem errar. Eu acho que há jogadores que são e jogadoras que são. Não digo perfeitas, mas há sempre coisas a melhorar, mas que são líderes por pelo exemplo, líderes pela personalidade. E são daquelas quando abrem a boca, depois toda a gente se cala para ouvir ou toda a gente respeita isso. São coisas muitas delas naturais, portanto, a maioria delas naturais.
JORGE CORREIA 00:28:32 E sente se dentro do balneário.
HELENA COSTA 00:28:33 Sim, sim, sim, sente. É a pergunta.
JORGE CORREIA 00:28:36 Difícil do dia. É também as vacas sagradas? Como é que é?
HELENA COSTA 00:28:39 Como assim?
JORGE CORREIA 00:28:40 Como é que. Como é que se lida com a vaca sagrada? Como é que se lida com aquele super jogador que às tantas entrou em declínio ou com aquele jogador que acha que é o dono daquilo tudo e que se calhar já está a ter um efeito. Eu vou.
HELENA COSTA 00:28:53 Eu vou cometer aqui provavelmente uma inconfidência. Eu acho que ela não me vai levar a mal. Eu vou até pegar numa jogadora que é muito conhecida em Portugal, a Carla Couto, que é provavelmente a melhor jogadora ou foi a melhor jogadora naquele tempo em que não havia o processo de formação e que agora acredito que daqui a uns tempos possamos falar de outras e já se começa a falar, felizmente. Mas a Carla, toda a gente dizia que não gostava de treinar, que que faltava muita treinos, que não era essa pessoa Do ponto de vista relacional, é extraordinária.
HELENA COSTA 00:29:27 Tem muita piada para quem a conhece, mas ela sabia que era realmente muito boa no campo e que fazia realmente a diferença. E eu, quando cheguei ao clube, toda a gente dizia isto cobras e lagartos. A verdade é que eu acho que aí também depende do treinador, não só na liderança. E aí coloco homens e mulheres. É tudo igual, não só na liderança, mas na capacidade de como é que eu hei de dizer cativar. E eu aprendi muito no Qatar relativamente a isso. Acho que houve um distanciamento muito grande entre a Helena que sai de Portugal, a Helena que chega ao Qatar e a Helena que volta a Portugal nesse sentido.
JORGE CORREIA 00:30:03 O que é que aprendeste?
HELENA COSTA 00:30:05 Aprendi coisas diferentes. Tenho que me adaptar claramente à cultura. E vou dar um exemplo. Eu no Qatar, no Qatar, e quando nasce tem logo à partida a educação paga. Tem, sei lá, água, luz paga pelo Estado. Tem tudo e mais alguma coisa. Tem os pais ricos, o miúdo quase. Quando nasce tem uma nanny, uma ama e um carro é um driver e portanto tem tudo o que querem e o que não querem é aquilo e é viver.
HELENA COSTA 00:30:42 Ou podem viver sem ter o espírito de sacrifício, porque não tem necessidade. Tem tudo, portanto tem tudo.
JORGE CORREIA 00:30:47 E aí aparece uma treinador que veio, uma treinadora que veio lá de Portugal.
HELENA COSTA 00:30:52 Sim, mas que tem que tem em contrarrelógio. O meu processo foi eu tinha que criar, criar o futebol feminino do país.
JORGE CORREIA 00:30:59 Não existia.
HELENA COSTA 00:31:00 Nada. Zero. Criar em meses, colocar a seleção no ranking FIFA em meses, porque havia a decisão do Mundial de 2022 e era obrigatório haver uma seleção feminina. Como em qualquer decisão de Mundial, haver uma seleção feminina no ranking FIFA.
JORGE CORREIA 00:31:17 Isso parece me um desafio gigantesco.
HELENA COSTA 00:31:19 Foi o pior. Não digo o trabalho mais difícil que eu tive na minha vida e duvido que tenha um tão difícil quanto este.
JORGE CORREIA 00:31:25 Onde é que encontraste as jogadoras?
HELENA COSTA 00:31:27 Eu andei a bater de porta a porta a elas pela paixão que algumas tinham pelo jogo. Criaram um torneio de futsal na faculdade. Eu soube disso. Fui.
JORGE CORREIA 00:31:37 Começaste lá a ver.
HELENA COSTA 00:31:38 Comecei lá e depois criei escola de futebol desde pequeninas, portanto criei a seleção sub13.
HELENA COSTA 00:31:46 A seleção A foi aquela mais emergente que tinha que acontecer no momento, Mas elas não conheciam o jogo, não sabiam nada, nada mesmo. O futsal delas era duas a atacar e duas a defender. Era assim que jogavam, mas divertiam se e tinham iniciativa. E eu acho que isso foi saudável e foi o que me ajudou a desenvolver o resto. Mas aí eu tive que as levar um bocadinho pelo coração, porque elas não precisam de nada. Não era o dinheiro que as faria. Como é que correr?
JORGE CORREIA 00:32:12 Como é que este desiste? O que é que lhes vendem?
HELENA COSTA 00:32:15 Por isso eu também ter mudado foi eu aproximar me delas, explicar lhes que realmente o impacto que elas poderiam ter no país e tiveram podia ser extraordinário, mas ao mesmo tempo, as famílias não queriam que elas se projetassem como pioneiras, não queriam que o nome estivesse envolvido na sendo as primeiras mulheres a jogar futebol. E aí tem muito a ver com a cultura. Não é com a religião, é com a cultura. E foi muito, muito, muito difícil.
HELENA COSTA 00:32:46 Tive que garantir que elas não eram fotografadas ou filmadas em alguns jogos para poderem representar a seleção nacional. E chegou a acontecer garantirem me a mim que isso não iria acontecer e eu chegar lá e ter câmaras. E foi o fim da macacada. Foi até capaz de sair agora um documentário sobre isso, porque nós reunimo nos no primeiro dia em que houve realmente o Mundial 2022. Estivemos a ver o nosso jogo, o nosso primeiro jogo que tem estas histórias todas. A primeira fotografia oficial tem sete jogadoras, porque quatro delas não podiam aparecer a ser fotografadas. Houve uma delas que perdeu o emprego por ter jogado. Tenho histórias incríveis. Uma que era filha do comentador mais respeitado de futebol masculino e ela estava já numa fase até mais adiantada. Ela era realmente muito boa jogadora, sobressaía das outras, jogava a avançada e ela disse me Eu vou estar em exames na faculdade e portanto eu não consigo estar todos os dias no estágio e dormir, sobretudo lá porque eu perco o meu pai não quer, eu perco ali exames e eu combinei com a equipa Okay, vamos abrir aqui uma exceção.
HELENA COSTA 00:34:00 Ela treina connosco, volta para casa, volta para a faculdade, volta a treinar connosco e no dia do jogo está connosco. Toda a gente concordou, portanto foi uma coisa aberta, quase a ajuda do público para não haver questões. Cá está quanto à liderança, diferenciação de comportamento, etc. E no dia do jogo, ela percebe que há câmeras à volta. Foi no estádio do Alçado, contra as Maldivas. As ganhámos 4 a 1 nesse jogo. E ela diz Eu não posso jogar, não pode jogar como para aí há duas horas e meia de jogo. Como assim não pode jogar? Meu pai não sonha que eu estou aqui. Portanto, ela não me tinha dito a verdade toda e estava a ser retraída em casa para não jogar. Naquela altura nós já tínhamos dado tudo à FIFA e aquilo era um jogo oficial que contava para o ranking. Não dá para.
JORGE CORREIA 00:34:47 Mudar?
HELENA COSTA 00:34:48 Dá. Mas os câmaras eram portugueses e eu conhecia os e portanto foi 1A1 pedir para ela não ser filmada. Não é fácil.
HELENA COSTA 00:34:59 Sendo avançado e ganhando 4 a 1, marcando quatro golos e fazendo uma assistência. O que acontece é que ela nunca mais jogou futebol. O pai proibiu a não de jogar futebol. Mas tenho muitas histórias destas. Tenho coisas que, sei lá, eu acho que às vezes nem é nem é imaginável na Europa que se possa passar no Irão foi o inverso de tudo. Muito desenvolvido, uma paixão tremenda, um orgulho por representar a seleção e as famílias. Ninguém rezava. E uma coisa que eu digo muitas vezes ninguém rezava. Eu, no Qatar, tive que me dar o tempo dos treinos para não coincidir com o pôr do sol, porque no por do sol também que eles fazem a última reza. Vivemos coisas muito engraçadas e eu tive na casa deles, delas a vivenciar o Ramadão quando o sol se põe. Tudo aquilo foi muito engraçado. Em equipa estivemos. Eu vivenciei isso no Irão, não tive que mudar nada, não tinha uma jogadora que.
JORGE CORREIA 00:35:56 Rezasse e as famílias apoiavam que estas miúdas.
HELENA COSTA 00:36:01 Viram aquilo e uma paixão enorme e loucura e loucura.
HELENA COSTA 00:36:07 E pelo que eu sinto continua a desenvolver se com as sanções económicas, que foi algo que não nos deixou. Nós recebemos dinheiro da FIFA e não podíamos utilizar porque não entrava sequer no país. E continua, continua por motivos políticos. Não tem nada a ver com elas. Mas também tive coisas. Eu tinha uma segurança do governo do Irão, que estava todos os dias connosco em estágio, fosse sub13, fosse sub16, fosse a seleção A e que ia connosco para fora. E o objectivo era fazer um relatório para para o Governo.
JORGE CORREIA 00:36:39 Sobre as coisas que tu fazias.
HELENA COSTA 00:36:40 Sobre o que eu fazia, sobre o comportamento delas, sobre tudo.
JORGE CORREIA 00:36:44 Tudo, portanto. Tinha a polícia secreta no fundo, e o adjunto tinha.
HELENA COSTA 00:36:48 E o mais engraçado é que depois aquilo, o ambiente era tão positivo que se fosse três, quatro vezes connosco, depois era nossa amiga e o governo sabia disso e trocava, mas depois acabava sempre por ser bem recebida e se sentir bem e trocava.
JORGE CORREIA 00:37:03 Portanto, Helena, tu vais para um país longe, Não dominas a língua.
JORGE CORREIA 00:37:09 Todavia, convences as famílias. Não falas uma palavra convence os câmaras de filmar no início, consegue se de alguma maneira conquistar o agente dos serviços secretos que lá está. Qual é o segredo?
HELENA COSTA 00:37:25 Essa é natural. Criar um bom ambiente e há pouco eu não terminei, mas acho que no Qatar cá está por ter que as levar pelo coração, por pela empatia, por criar uma proximidade gigante. Eu próprio mudei porque era uma pessoa muito mais nova do que elas todas, mesmo em Portugal e do que eles, porque também treinei uma equipa sénior masculina aqui. Era mais nova que todos e achava nessa altura que a forma como comunicava com alguma distância poderia ajudar também na liderança. E acho que agora é precisamente o contrário. É empatia e naturalidade. E é. Eu mudei por isso, por ter que as conquistar e levar pouco pelo coração. Mas depois eu também acho que sou muito assim e portanto, não é ser eu própria. Olha como.
JORGE CORREIA 00:38:15 É que se conquista o jogador tuga.
HELENA COSTA 00:38:18 Como outro, como outro.
JORGE CORREIA 00:38:19 Qualquer.
HELENA COSTA 00:38:20 Sim, cá está dizendo a verdade. Auxiliando com. Com feedbacks que são úteis. Sendo justo. Depende do papel. Pode se criar uma grande proximidade sendo Chief Scout ou assistente do diretor técnico, como foi no Watford, e criei muita proximidade com os jogadores no sentido de realmente ser ouvida, auxiliar em alguns conselhos, porque percebia a ideia do treinador e que estava ali uma certa distância, que um passo que fosse poderia auxiliá lo a ele e ajudava a equipa. Pequenas coisas, mas sendo justa, sendo também concisa nos comportamentos e sendo eu próprio.
JORGE CORREIA 00:39:00 Há bocadinho falavas dos dos Catar e que nascem, no fundo com contudo, com o mundo aos seus pés um bocadinho. Os jogadores profissionais em Portugal, no mundo, na Europa são um bocadinho assim. Quer dizer, a partir dos 16, 17, 18 anos começam a ganhar rios de dinheiro. Têm grandes opções? Sim. Não, não é um mito.
HELENA COSTA 00:39:19 Depende das sessões. Sim, claro.
JORGE CORREIA 00:39:21 Os jogadores de topo topo todo que esses sim.
HELENA COSTA 00:39:24 Esse sim, Os outros não ganham estudo e têm que dar a perna entre aspas para se manter num nível alto. O problema é pensar se que por estar no Benfica, Sporting Porto Sub19 sub 23 já já é garantido que se vai ser profissional. E não é assim. Há um degrau.
JORGE CORREIA 00:39:43 Muito grande de entre esses sub19 e a equipa profissional.
HELENA COSTA 00:39:47 Nesses grandes clubes. Sim, é provavelmente a saída mais simples para esses jogadores. Há de ser outros clubes de primeira divisão, segunda divisão, mas outros clubes que não os três grandes ou os quatro grandes, os cinco que se queira considerar. Há um degrau grande e.
JORGE CORREIA 00:40:01 Quando vejo clubes ingleses, vejo muitas vezes os treinadores a irem buscar jogadores de 16, 17 anos e a dar ali oportunidades em minutos. Eles também têm muitos jogos. Cá parece me menos bom, Em bom rigor, se olhar agora para aqui, para o Porto, Benfica, Sporting já já começa a acontecer?
HELENA COSTA 00:40:16 Não. Cá em Portugal é o contrário.
JORGE CORREIA 00:40:18 É o contrário.
HELENA COSTA 00:40:19 Nós somos capazes de ser dos dos países.
HELENA COSTA 00:40:25 Vou tirar uma Holanda. Eventualmente uma Dinamarca. Mas somos os países que apostamos mais em jovens.
JORGE CORREIA 00:40:35 Estamos a aproveitá los bem.
HELENA COSTA 00:40:38 Estamos a exportá los muito bem porque os aproveitámos bem ou porque os formámos muito bem.
JORGE CORREIA 00:40:43 Sim, e portanto, quando eles dão nas vistas num clube de topo, numa Liga dos Campeões, vão para inglês, vão se embora? Nem sempre.
HELENA COSTA 00:40:50 Mas isto os clubes portugueses dependem disso. Os clubes portugueses têm que vender, não sobrevivem sem vendas. E Portugal está a fazer isso muito bem. Nós temos talento, muito. Temos um processo de formação que é muito bom também. Obviamente, como tudo pode melhorar em algumas coisas, mas somos olhados como um país exportador precisamente por isso. e depois a capacidade de ter um conhecimento de jogo que permite até os mais pequeninos. Não é que em muitos campeonatos não são olhados como são um bocadinho personas não gratas. Aquele perfil de jogador típico não vai de encontro a isso. Mas os pequeninos sobressaem porque pensam mais rápido, porque têm o processo de formação, porque têm o lado técnico, porque têm uma capacidade de adaptação, de comunicação.
HELENA COSTA 00:41:33 Eu tenho colegas italianos, não é preciso ir mais longe. Os espanhóis que comentam toda a gente em Portugal fala inglês. É impressionante. E se juntarmos a isso a capacidade de praticamente falar o português, não é já com o inglês e o espanhol sobrevive se em meio mundo. Portanto, tudo isto junto faz com que o jogador português seja apetecível.
JORGE CORREIA 00:41:52 Olha, nós estamos a exportar claramente agora até exportar treinadores. Treinador do Sporting. Amorim sai para Inglaterra. Não me interessa discutir os méritos de de qualidade técnica, porque estão à vista de todos, até para alguém como eu, que não percebe nada da bola. Mas gosto dele da maneira como, como, como ele comunica, como é que se está? Como é que os treinadores estão a comunicar em Portugal?
HELENA COSTA 00:42:17 Eu gosto muito da forma como o Ruben comunica. Eu, aliás, já disse isto na televisão várias vezes.
JORGE CORREIA 00:42:21 O que gostas nele?
HELENA COSTA 00:42:24 Eu posso olhar para a ideia do Ruben e eventualmente dizer assim eu mudava o A ou B ou C, a ideia de jogo ou concordar e sair.
HELENA COSTA 00:42:32 Mas o que eu acho que ele queria, e talvez aquilo que eu também acho é que disse há pouco que que me ajudou é a empatia e é a comunicação directa. E não precisa de ser aos berros. Pode ser uma coisa e ser muito justo e ser muito directo de uma forma. Agora só me lembro da palavra em inglês. Este ainda estou com o regresso de emigração. Muito educada. Não precisa de ser rude para se dizer algo directo que até seja desagradável do lado de lá ouvir. Mas eu acho que o Ruben tem essa forma que eu tenho muitas dúvidas que seja uma personagem. Parece me claramente que é muito natural dele ele ser assim e ganha muito com isso.
JORGE CORREIA 00:43:14 E agora vai para Inglaterra, sítio que tu conheces. O que é que ele precisa de fazer para ter sucesso?
HELENA COSTA 00:43:22 Eu não conheço a realidade por dentro de onde ele está vai para um contexto difícil. Assim como ele veio também para o Sporting e estava num contexto difícil. Essa é uma boa.
JORGE CORREIA 00:43:31 Notícia, uma má notícia.
HELENA COSTA 00:43:32 Ele gosta e é a questão.
HELENA COSTA 00:43:36 E vai para um sítio onde o impacto pode ser imediatamente visível. O estar num mau momento de Manchester United ou numa má organização a que muitos pontos de interrogação à volta do clube nesta altura. Se ele detetar o que é necessário na altura certa, eu acho que vai impactar rapidamente. E depois há outra coisa. Eu acho que a liderança que o United teve até há relativamente pouco tempo, as duas, três pessoas que passaram agora têm uma forma de ser, de estar, de comunicar, de empatia totalmente diferente. O que eu notei em Inglaterra é que os ingleses são e toda a gente diz que os alemães é que são muito frios, muito distantes, muito pragmáticos. Eles são regrados no trabalho, mas são as pessoas mais descontraídas com quem eu trabalhei até hoje.
JORGE CORREIA 00:44:25 É mais fácil trabalhar com os alemães do que com os ingleses.
HELENA COSTA 00:44:28 1000 vezes, 1000 vezes wow. Eles são muito conservadores, ingleses, muito conservadores no sentido Eu não estou a dizer isto de uma forma negativa. São formas diferentes. Eu, por exemplo, eu não posso ir a um jogo em que vá para um camarote, que é algo que pode acontecer.
HELENA COSTA 00:44:48 Se eu sou observadora de um clube, peço a entrada. Se for se calhar um scout, mandam me para a bancada. Se for um Chief scout já me mandam para um camarote. Eu não posso ir de ténis, nem que seja um tênis de marca x xpto que fiquem bem no outfit.
JORGE CORREIA 00:45:03 Portanto tens que ir classicamente vestida.
HELENA COSTA 00:45:06 Se um homem tem que ir de gravata é obrigatório coisas deste género. E quando falamos de jogo de sub 23, por exemplo, que já é considerado o processo de formação igual a pequenas coisas, muita formalidade, muito, muito conservadores, muito rigorosos nesse sentido, mas são super prático, super práticos. É fácil ver se um CEO no dia a dia de calças de ganga e ténis porque está lá para trabalhar, não interessa muito bem. Depois se há uma coisa, um jogo oficial, etc. E põe a.
JORGE CORREIA 00:45:36 Sua gravatinha.
HELENA COSTA 00:45:37 Ou não, com o seu blazer, a sua t shirt, os seus ténis com o fato é algo muito diferente. As culturas realmente têm coisas muito interessantes.
JORGE CORREIA 00:45:46 Olha, fala me do comentário televisivo Tu agora estás como comentador na televisão. Ouvimos te muitas vezes a explicar.
HELENA COSTA 00:45:52 Afinal trabalho muito. Não é.
HELENA COSTA 00:45:54 Trabalho de muitas horas não.
HELENA COSTA 00:45:56 Mas tenho estado muitas vezes o que eu adoro. Atenção, eu adoro, adoro. Se me perguntassem se eu ia fazer isto na vida, dizia que não, que nunca pensei O que é que tu gostas da função? Para já gosto do ambiente que se vive lá dentro.
JORGE CORREIA 00:46:12 A tribo de redacção. Tu já tu já quase és mais jornalista do que treinadora. Por este andar.
HELENA COSTA 00:46:17 Não, não.
HELENA COSTA 00:46:17 Não, não, treinador. Não me tiram a casca. Nunca, nunca, nunca. Mas gosto muito do ambiente que se vive na redacção. Cá está. Gosto das pessoas em si. Claro que os sítios são feitos pelas pessoas, mas adoro. Para mim, estar ali a ler um jogo é uma coisa naturalíssima. Não é como estar num café a falar com amigos, porque eu sei que estou a falar para pode ser milhares de pessoas, podem ser só centenas, pode ser uma, mas essa pessoa pode não perceber absolutamente nada de futebol.
HELENA COSTA 00:46:48 E eu tenho de ter a capacidade olhar para o jogo, comunicar para essa pessoa que não percebe nada de futebol, porque as que percebem vão me entender, as que não percebem e podem não me entender.
JORGE CORREIA 00:46:56 Então já descobri porque é que eu gosto de ti e porque eu consigo entender o futebol como tu lá estás. Tu estás.
HELENA COSTA 00:47:00 A ver um jogo, um sinal com auscultadores.
JORGE CORREIA 00:47:02 Dentro de uma cabine. Vê no ecrã como é que é.
HELENA COSTA 00:47:04 Se for ao vivo, estou no estádio. Depende, não é? Imaginamos.
JORGE CORREIA 00:47:08 Já te vi no relvado.
HELENA COSTA 00:47:09 Exacto, pronto. Mas isso são.
HELENA COSTA 00:47:11 Outros. Ainda por cima.
JORGE CORREIA 00:47:11 Fizeram uma maldade um dia que te puseram o jogador? Muito, muito, muito.
HELENA COSTA 00:47:14 Não foi um jogador. Foi um treinador que era muito grande.
HELENA COSTA 00:47:17 Nem cá está. Quer dizer, por.
JORGE CORREIA 00:47:18 Amor da santa.
HELENA COSTA 00:47:19 Então, mas eu não escolho os convidados.
HELENA COSTA 00:47:21 Não se importa sequer para ficar mais ou menos a nós.
HELENA COSTA 00:47:24 Foi antes do jogo do Porto.
JORGE CORREIA 00:47:26 E como é que é E qual é a sensação essa hora na relva?
HELENA COSTA 00:47:28 Adoro!
HELENA COSTA 00:47:29 Pois é, o meu sítio, não é? Mas nessa comunicação com os treinadores eu tive a capacidade, a possibilidade de estar com o treinador do que o treinador do Porto.
HELENA COSTA 00:47:39 Já me aconteceu também estar no Benfica e vai acontecer mais porque em principio irei para mais. E eu acho que isso seria muito bom se acontecesse também na nossa liga. Se os treinadores minutos antes do jogo pudessem estar connosco a falar, porque ali pelo menos o que eu sentia que é uma aproximação, depois a forma como se comunica também dizer ao treinador do Ophanimon Olha o Victor Bruno, já não está a ver. Nesta altura ele já está ali. Vá, abre lá o jogo E ele realmente abriu. Cá está.
HELENA COSTA 00:48:06 Explicou o que é que ia fazer.
HELENA COSTA 00:48:08 Claramente explicou até como é que ele ia anular a própria equipa que eu perguntei. Imagina que tu eras o Vitor Bruno, Como é que não levas a tua equipa? E ele se calhar não estava à espera desta pergunta. Mas muito genuinamente explicou o próprio Vitor Bruno. Nós. A pergunta foi mais ou menos do género os golos são todos praticamente do cruzamento daquele lado. Como é que tu trabalhaste isso? Ele explicou como é que ia implementar e obviamente que se calhar se fosse uma liga interna eles não abriam tanto o jogo.
HELENA COSTA 00:48:38 Mas era positivo haver.
JORGE CORREIA 00:48:40 Um jogo a seguir a uma segunda.
HELENA COSTA 00:48:41 Porque é o jogo.
HELENA COSTA 00:48:42 A seguir por toda a gente tem princípio, fala a mesma língua porque se calhar instantes antes ainda dava para adaptar aqui ou ali. Não tudo, claro, naturalmente, mas porque passa sempre uma informação. Mas era interessante haver uma comunicação mais próxima entre o adepto e o.
HELENA COSTA 00:48:55 Treinador e os jogadores.
JORGE CORREIA 00:48:56 Também, porque eu raramente ouço os jogadores a aparecerem, explicarem, a dizerem alguma coisa mais que não seja a banalidade do tentamos.
HELENA COSTA 00:49:04 Negar.
HELENA COSTA 00:49:04 Eu acho que as coisas estão a ficar um bocadinho diferentes. Podem melhorar, claro, mas eu acho que as coisas estão a ficar diferentes para melhor. O próprio jogador já não é só o jogador que vai lá e começa a ser um jogador com opinião. Não são todos. Há sempre os que os extinguem. Os mais velhos começam sempre a ter mais à vontade também para dizer algumas coisas que se calhar, se fossem mais novos e que precisassem do seu espaço não diriam. Acho que isto é normal, mas eu acho que estamos a melhorar também.
JORGE CORREIA 00:49:31 Na Liga portuguesa e que os jogadores e que tu tens debaixo.
HELENA COSTA 00:49:34 De olho não posso dizer não podes.
HELENA COSTA 00:49:36 Já não sei para onde é que vos vou. Estou aqui a trabalhar nas minhas coisas, mas quer dizer, não sei.
HELENA COSTA 00:49:42 Vou facilitar.
JORGE CORREIA 00:49:43 A vida. Nós já falamos dos avançados que marcam golos. Claro que nos fascinam, daqueles médios criativos que fazem todos os passes e que são absolutamente maravilhosos, até os desgraçados dos defesas quase desgraçados. Não, nunca falámos deles, nem dos defesas, nem dos nem dos Guarda-Redes. Só quando eles sofrem um frango e Crucifica o.
HELENA COSTA 00:50:00 Não, não. Olha, eu gosto. Gosto do Diego.
JORGE CORREIA 00:50:02 Costa. Tu não podes falar, mas eu posso.
HELENA COSTA 00:50:03 Não, eu posso dizer. Obviamente, eu gosto muito do Diego Costa. É um talento, sempre foi e não é de agora. Quem acompanhou o Diogo desde 16, 17.
JORGE CORREIA 00:50:12 E não é só como jogador da bola. Eu acho que ele.
HELENA COSTA 00:50:13 Tem.
HELENA COSTA 00:50:14 Sim, verdade.
HELENA COSTA 00:50:15 Coisas interessantes.
JORGE CORREIA 00:50:16 A defesa fala me dos defesas.
HELENA COSTA 00:50:18 Falo eu sou.
JORGE CORREIA 00:50:19 Aquilo. Os laterais estão sempre a correr para a frente e.
HELENA COSTA 00:50:21 Para trás, não sou? E os centrais.
JORGE CORREIA 00:50:23 Que.
HELENA COSTA 00:50:23 Para mim são os.
HELENA COSTA 00:50:24 Que pensam o jogo à frente, são os melhores, são esses que fazem toda a diferença e cá está que acompanham depois com a qualidade técnica, aquilo que pensam. E há muitos que estão a aparecer. Há muitos que vêm aí também das gerações atrás e sei que eu não vou falar porque são é o ouro.
HELENA COSTA 00:50:40 E assim interessam.
HELENA COSTA 00:50:41 Interessam, Mas, por exemplo, há muitos jogadores que estão agora com essa capacidade de construir o jogo desde traz as defesas centrais. Por exemplo, os laterais tanto atacam fora como dentro, que têm um conhecimento também que lhes permite uma capacidade técnica para além da parte física, que lhes permite estar sempre naquele vaivém permanente. E se é preciso trabalhar se e ter se também o lado inato. Portanto, há muita coisa valorizada.
JORGE CORREIA 00:51:04 Olha, estamos na final do Campeonato do Mundo em que tu lidera as equipa de Portugal.
JORGE CORREIA 00:51:09 Falta meia hora para o início do jogo. O que é que tu dirias aos jogadores ou aos jogadores? Eu tenho uma aposta. Eu acho que as mulheres vão ser campeões do mundo mais depressa que os homens portugueses. Acho, acho. Acho que é um feeling, É uma sensação.
HELENA COSTA 00:51:22 Por quê?
JORGE CORREIA 00:51:23 Porque a curva de evolução está a ser. Está a ser tão, tão óbvia, que eu agora.
HELENA COSTA 00:51:27 Estou a fazer perguntas.
JORGE CORREIA 00:51:28 Não estás a subverter isto? Já estás a aprender. O que é que se diz? Do que é que se fala?
HELENA COSTA 00:51:37 Do que.
HELENA COSTA 00:51:38 Viveram? Eu até ir puxar um bocadinho. Eu acho que isso deve ser um ponto. Nunca estive, não é? Mas acho que isso deve ser um ponto tão emocional que às vezes é preciso é resfriar um bocadinho, não chamar ainda mais emoções. Porque há naturalmente, os que estão completamente à vontade e aos outros que estão mais nervosos. E se nós fomos uma carga emocional nesse momento, ainda vai subverter depois o rendimento, não é? Portanto, aquele ponto ideal de stress é aquele que permite ter um bom nível de performance, mas também não eleva o stress ao ponto de não nos deixar fazer nada e, portanto, jogar com as emoções no sentido de disfrutem.
HELENA COSTA 00:52:16 Foi para aqui que trabalhámos. É fazer lembrar tudo o que passaram e, portanto, é só isso. E acho que eu própria, se estivesse nesse lado, iria falar disso, porque eu própria penso Quer dizer, eu já estive nos pelados. Eu dava aulas de educação física às 08h00 em Alcanena, dava treinos no Benfica às cinco e tal, dava treinos no no 1 de Dezembro em Sintra, das 09h30 até às 11h15 e no outro dia a seguir já estava em Alcanena a dar aulas às 08h00. Eu fiz isto anos sem fio e portanto no pelado no fim de semana. Autocarros imensas, coisas que foram sacrifícios que estas gerações agora provavelmente nem nem pensam que isso existiu. E agora estou a falar do feminino especificamente e portanto, e a pensar em todas as gerações que trabalharam para chegar ali e todo o processo em que elas tiveram também e.
JORGE CORREIA 00:53:10 Aproveitando ao contrário, o teu francês e o teu conhecimento da cultura francesa, o que é que se diria a seleção francesa depois de ter perdido com Portugal? Com o golo do Éder, que eles nem nunca sonharam na vida?
HELENA COSTA 00:53:23 Temos pena.
HELENA COSTA 00:53:26 Não foi um momento. Acho que foi. Foi bom para todos. Foi o conto de fadas por ser o Éder. E muito honestamente, eu já disse isto várias vezes. Quando saiu a convocatória, o Éder foi se calhar o patinho feio, o momento esperado no sentido de haver outras possibilidades. E todos nós pensámos não nesse sentido, porque ele mereceu, por estar lá, mas pensámos que eventualmente não fosse utilizado ou que fosse claramente o menos utilizado.
JORGE CORREIA 00:53:52 E quando Fernando Santos decide que que ele vai lá para dentro, Tu pensas está uma coisa.
HELENA COSTA 00:53:56 Que todos pensámos e todos pensámos venha o primeiro que que diga que não. Todos pensámos, mas a verdade é que resultou e o Fernando Santos foi o maior. O Hélder foi o maior e essa seleção demos muita alegria. Deus queira que se repita. Seja masculino, seja feminino, seja futsal, seja futebol de praia, todos contam e são todos de Portugal.
JORGE CORREIA 00:54:20 O futebol é feito de momentos inesquecíveis. O golo do Éder em 2016 será sempre lembrado não só porque foi decisivo, mas porque tem dentro de si a essência do desporto.
JORGE CORREIA 00:54:32 Um instante de pura superação e glória. Hoje os jovens jogadores são mais talentosos, rápidos e exuberantes. O jogo é cada vez mais intenso e cada atleta carrega inúmeras missões dentro do campo. Defender, atacar, apoiar os colegas e tomar decisões em segundos. Mas isso não acontece sozinho e por artes mágicas. O desporto coletivo, como o futebol é uma escola de comunicação, cooperação e sincronismo. Dentro de campo, os atletas falam entre si palavras, gestos, olhares, algumas palavras agrestes até e fora dele há lições de comunicação em cada jogada, em cada estratégia, em cada golo. Podemos aprender muito com isto, sobre liderança, sobre poder que uma equipa pode ter e sobre como criar ligações mais fortes. Só lamento que os jogadores não falem mais vezes fora do campo a um mundo de sabedoria e experiência nas suas cabeças. E ouvi los poderia ensinar nos tanto mais sobre o jogo e sobre nós mesmos.
Como é que a comunicação estratégica pode moldar perceções, inspirar ações e influenciar decisões? Descubra técnicas práticas, histórias reais e lições que transformam líderes em comunicadores eficazes..
Uma conversa sobre liderança e técnicas de comunicação usadas por todos os melhores e mais visionários líderes do mundo. Assim como por cá.
Vamos falar de liderança?
Todos temos uma ideia, um protótipo de líder ideal.
Para mim um líder é aquele que me inspira, dá-me confiança e atraia-me para seguir uma visão do mundo, um sonho, um caminho.
E para isso acontecer a liderança é, para mim, um puro ato de comunicação humana.
Sim, eu sei que os líderes têm de tomar decisões. Mas tem, principalmente, de conseguir explicar porque escolherem aquele caminho e não o outro.
É sobre isto o programa. Sobre pessoas que tem vontade de nos liderarem. E por isso falam-nos. Ao ouvido e ao coração. Que nós os humanos adoramos ser seduzidos e convencidos. Da mesma maneira que detestamos ser enganados, manipulados ou tratados como massas, ou, pior ainda, como irrelevante.
Tem a palavras Pedro Coelho dos Santos. Um guru da comunicação.
Ah, como sei que ele vai detestar este rótulo.
O que ainda me diverte mais. O Pedro ajuda pessoas importantes a comunicar.
E aceitou partilhar um par de segredos connosco.
Lembro-me sempre dos 4 pilares fundamentais que usamos para avaliar os outros:
São 4, para simplificar. Quatro prismas. O que conta é o que fazemos, como fazemos, como explicamos os que fazemos e como nos percecionam no que fazemos. Não fui eu quem inventou este conceito, foi um senhor de seu nome Dale Carnegie, um norte-americano nascido em 1888. Ele escreveu um célebre livro cujo titulo em português é “Como fazer amigos e influenciar pessoas”.
Portanto, ser líder, ser um bom líder, implica comunicar bem.
E comunicar bem é o cabo dos trabalhos. Acreditem em mim.
Implica vontade, honestidade, preparação e ser genuíno.
Uma receita de alta cozinha em forma de frases que nos ressoam no ouvido e na alma.
É sobre tudo isto a conversa que gravei com Pedro Coelho dos Santos, comunicador com larga experiência no treino de líderes de empresas, organizações, políticos e todos os que dizem querer influenciar o mundo.
No fundo, a arte da liderança cruza-se com a arte da fala em público através daquilo a que podemos chamar comunicação estratégica. Em português corrente: pensa antes de falar, treina muito e sê tu mesmo.
Para que todo isto funcione há uma cola ou teste do algodão para testar se a coisas funciona.
É a empatia. Não conheço nenhum bom líder moderno que não seja empático. E aceito ser contrariado nesta minha visão. É que é muito difícil comunicar sem gerar um sentimento de empatia. Ainda por cima é uma estrada de dois sentidos: boa comunicação pressupõe que o emissor tenha bons sentimentos pela audiência e vice-versa-
Lembrem-se: comunicação é uma relação, não um tubo a despejar palavras, ideias ou ordens.
Além de empatia, há que simplificar. Mais uma tensão para gerir: como ser simples sem perder a relevância da mensagem.
Para se conseguir isso é preciso uma preparação extrema.
Treinar, treinar, treinar.
Claro que um bom baú de grandes histórias ajuda.
E um líder com personalidade carismática faz milagres.
Mas isso é mais do que comunicação. O carisma, o verdadeiro carisma, não se compra, afina-se, mas não se treina. Talvez seja por isso que os grandes líderes são raros.
E os bons líderes com grande capacidade de comunicação são ainda mais raros.
A forma e o conteúdo.
Já agora a mensagem e a audiência.
É nesta a quadratura mágica onde a liderança e comunicação se encontrem.
Vale ser-se genuíno, pensar para que serve a comunicação e ter empatia pelo outro.
Tudo o que distrair da mensagem principal não ajudará ao objetivo final.
Em cada momento de comunicação há que responder a três premissas..
Emplica-me o porquê para eu entender as razões. Explica.me o para quê para eu saber o que muda para mim. E, principalmente, pensa sempre em como me sentirei quando me disseres algo.
A Empatia como Pilar da Comunicação
Pedro enfatiza que a empatia é a pedra angular de qualquer esforço comunicacional eficaz. Ele revela que um líder só se torna verdadeiramente inspirador quando compreende as necessidades e expectativas do seu público. “Colocar-se no lugar do outro” é um exercício essencial, mas nem sempre natural, especialmente em áreas técnicas ou políticas, onde a desconexão com o quotidiano das pessoas pode comprometer a credibilidade.
Simplificar sem Perder a Essência
Outro ponto fundamental da conversa é o equilíbrio entre simplificar a mensagem e manter o conteúdo relevante. Pedro utiliza um exemplo prático: explicar conceitos complexos como se fosse para uma criança de quatro anos, não no sentido de trivializar, mas de garantir que a mensagem é compreendida por todos, independentemente do seu nível de conhecimento. Essa habilidade, segundo o especialista, é crucial em setores como a saúde, onde decisões rápidas podem salvar vidas.
A Comunicação Não Admite Improvisos
Pedro desmonta o mito do improviso na comunicação, explicando que, mesmo os discursos aparentemente mais espontâneos, são fruto de uma preparação exaustiva. Desde entrevistas televisivas até conferências de imprensa em momentos de crise, a preparação é indispensável. Ele destaca que instituições bem-sucedidas mantêm mensagens e planos de comunicação prontos para cenários críticos, como acidentes aéreos ou atentados terroristas.
Histórias Autênticas Fazem a Diferença
O storytelling é outro ponto central da conversa. Pedro explica que uma história verdadeira, vivida e contada com emoção, é mais poderosa do que qualquer narrativa fabricada. Ele sugere que líderes construam um “baú de histórias” que reflitam os seus valores e experiências, e que possam ser usadas estrategicamente para criar conexões emocionais com o público.
A Imagem Conta, mas Não Deve Distrair
A discussão também aborda a importância da aparência e do contexto. Um acessório mal escolhido ou uma roupa inadequada pode desviar a atenção da mensagem principal, alerta Pedro. Ele cita exemplos de como a simplicidade e a sobriedade devem ser priorizadas para reforçar a credibilidade do orador.
Gestão de Crises e Media Training
Pedro defende que a preparação para crises deve ser encarada como um investimento e não como um custo. Ele sublinha a importância de media training para líderes e porta-vozes, apontando que, em países como Portugal, essa prática ainda é negligenciada, mesmo ao mais alto nível governamental. Sem formação adequada, os riscos de gafes comunicacionais e danos à reputação aumentam exponencialmente.
Mestre em Guerra da Informação/Competitive Intelligence, pela Academia Militar. Licenciado em Ciências da Comunicação, com especialização em Jornalismo.
Ao longo da sua carreira profissional tem-se especializado em Assessoria Mediática, Gestão de Crise Mediática e Public Affairs. É também formador em Media Training.
Nos últimos anos tem também desempenhado uma intensa atividade profissional como consultor de comunicação. Nesse âmbito, tem colaborado com diversas Instituições, com especial destaque para as áreas da saúde, gestão autárquica, indústria farmacêutica, banca e setor associativo.
Anteriormente, desempenhou o cargo de Adjunto para a comunicação social da Ministra da Saúde do XIV Governo Constitucional e de Diretor de Comunicação em diversas instituições de referência no setor da saúde: INEM, Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo e Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. No passado desempenhou também os cargos de adjunto parlamentar na Assembleia da República e Chefe do Gabinete num partido político.
Enquanto jornalista, trabalhou no jornal diário “Público”, no jornal semanário “Euronotícias” e na revista semanal “FOCUS”, sempre na área do jornalismo económico. Considera que estas experiências profissionais no jornalismo foram de grande importância para as funções que mais tarde veio a desenvolver na sua carreira profissional.
No campo académico, tem colaborado com várias instituições de ensino superior, lecionando em Licenciaturas, Mestrados e Pós-graduações. O contacto regular com o mundo académico é uma das formas que encontra para se manter atualizado com o estado da arte e manter o contacto com diferentes gerações de comunicadores.
Foi Vereador (sem pelouros) na Câmara Municipal de Sobral de Monte Agraço, pequeno concelho da região Oeste onde reside. É aí que procura a tranquilidade necessária para contrabalançar a sua intensa atividade profissional e que tem os seus cães e gatos, pois é um confesso admirador destes animais de companhia.
JORGE CORREIA Viva Pedro Coelho dos Santos Mestre em guerra de informação. Quando li esta frase disse Eu só posso começar por aqui pela Academia Militar, portanto estás no final dos tempos. És um licenciado em Ciências da Comunicação, és um especialista e a coisa mais interessante que nós conhecemos há muito tempo é treinar líderes, alguns com grande jeito para comunicação e outros com grande jeito, apenas para a liderança. Como é que é? O que é que. Como é que tu definiria se um bom comunicador ou um extraordinário comunicador?
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:04:57 Olá, Jorge! Um extraordinário comunicador é aquele que consegue influenciar através da comunicação, fazer com que os outros tomem decisões que são favoráveis aos nossos interesses.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:05:10 E começaste aí pela guerra da informação e guerra da informação também é um pouco isso. É conseguirmos moldar todo o cenário que está à nossa volta para que as decisões que são tomadas nos sejam favoráveis.
JORGE CORREIA 00:05:21 Portanto, não é um mero ato de entretenimento, não é apenas uma coisa divertida, é uma coisa que tu fazes com um propósito.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:05:28 Exactamente, que é influenciar os outros. Ok. E quando falamos em influenciar.
JORGE CORREIA 00:05:33 É só sinistro?
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:05:34 Sim, pode soar a sinistro, mas pode ser usado para o bem também, não é? Por exemplo, numa área que também te é muito cara, na saúde, podemos influenciar os outros a terem cuidado com consigo próprios, evitarem certas doenças, a tratar doenças, no fundo, a tomarem as melhores opções para a sua saúde. Claro que isto também é válido para eleger um presidente da República, para vender um sabonete. Para fazer muita coisa, não é? Mas é sobretudo isso. É a capacidade que temos de influenciar aqueles que estão à nossa volta.
JORGE CORREIA 00:06:06 Então, em princípio, para que essa comunicação se torne eficiente e que de alguma maneira se aproxime daquilo que tu estás a definir como o ato de influenciar os outros a um determinado comportamento.
JORGE CORREIA 00:06:20 Isso implica pensar antes e fazer depois.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:06:24 Claro que sim. Pensar e preparar a mensagem é fundamental. Nós não podemos fiar nos nos belos olhos do comunicador, não é? Ele, de facto, tem que ter alguma mensagem apelativa. E a melhor mensagem é aquela que foi preparada até até à exaustão. Nós vemos às vezes na televisão uns políticos a falar, outras ou outras pessoas e dizemos ai que belo improviso que fez ali um belo discurso. Bem, eu por norma digo que mesmo esses improvisos foram preparados ao milímetro, não é? De facto, na comunicação não há grande espaço para o improviso e a preparação significa que nós de antemão fomos pensar o que é que queremos dizer ao outro. Eu sei como é que.
JORGE CORREIA 00:07:07 Isso depois se confronta com a ideia do genuíno. Porque eu quando estou a ver alguém a comunicar bem e eu posso dizer Uau, bela comunicação! Olha, isto está a funcionar. Mas também quando me parece que aquilo é demasiado demasiado a cozinha de microondas, digo epá, se calhar está, mas se for falso, como é que conjuga se esse autêntico, com com esse, com esse brilho e com esse pensamento da mensagem que vai no fundo, tocar o outro e influenciar o outro a fazer o que quer que seja.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:07:40 Repara, repara que quando digo preparar a mensagem, não, não, não quer dizer que isso anula a autenticidade do comunicador. Nós podemos ser autênticos na mesma quando levamos a nossa cassete preparada, que é uma expressão que eu uso muito e acredito que o nosso auditório ainda sabe o que é que são as cassetes, não é? Mas tu podes. O comunicador pode ter a sua cassete preparada, podes saber o que é que quer dizer naquele momento e ser genuíno na mesma, pela empatia que cria, pelos gestos que usa, pela forma como encara a audiência. A preparação da mensagem não significa que te vais tornar um comunicador plástico, não significa que tu vais enganar aquela oportunidade que tens para comunicar. E pode ser uma entrevista na televisão, na rádio. Pode ser uma conversa como esta que estamos a ter um podcast, pode ser uma entrevista escrita para a imprensa. Vais encarar aquele momento como uma oportunidade única para passar a tua mensagem e com isso influenciar? E lá está este. Esse cuidado na preparação não significa que depois percas a autenticidade enquanto personagem, se assim quiser.
JORGE CORREIA 00:08:46 Portanto, dá te uma base para depois poderes brilhar sobre ela. Se eu pudesse escolher uma habilidade comunicativa para para um líder, para alguém que tem que ter essas características, qual é que seria? O que é que tu, no teu buquê imenso das coisas, assim o caiu? Agora tenho aqui. Vou criar aqui este líder. Vou pensar aqui neste líder. Que característica é que tu gostavas de trabalhar? Desde logo o ver.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:09:11 É uma pergunta muito interessante. Eu creio que é a empatia fundamental tu seres capaz de criar essa relação com quem te está a ouvir. Como é que a gente faz isso? Olha, em primeiro lugar, com sinceridade. E mais uma vez, isso não é incompatível com a questão da preparação da mensagem. Eu vou te dar um exemplo que talvez creio que que seja, que seja útil. Eu já tenho uma vida profissional interessante, com vários percursos e numa instituição que trabalhei e vou dizer qual é o Instituto Nacional de Emergência Médica, somos muitas vezes confrontados com situações limite, não é? E com falhas da instituição.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:09:46 Claro que quando tu trabalhas numa padaria se comete um erro quem mais terá baguette? Mas em emergência médica se comete um erro, isso pode ter consequências. Pode custar a vida de alguém. No limite, não é?
JORGE CORREIA 00:09:56 E até porque o INEM, lá está, está sempre no limite. Nós estamos sempre na expectativa, enquanto cidadãos, de que a ambulância do INEM vai chegar rápido. Que rápido que e que salve uma pessoa muito querida Para nós precisamente isso.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:10:12 Por vezes as falhas acontecem como.
JORGE CORREIA 00:10:14 É a expectativa e altíssima.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:10:15 Expectativa altíssima. Mas repara também uma coisa uma instituição que tem vários milhares de situações para atender todos os dias. Do ponto de vista estatístico, é expectável que 0,1% que correu menos bem, só que a 0,1% vai significar que alguém foi prejudicado, não é? É como eu dizia no limite, pode perder se uma vida. E eu estava a explicar te que por vezes somos confrontados com falhas da instituição e diz me a experiência que resulta sempre melhor quando se assume a falha e se explica Ao público, que também somos humanos e que a coisa não correu bem e pedimos desculpa por isso.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:10:50 E essa empatia de nós conseguirmos colocar nos no lugar do outro e percebermos que que temos que ter uma mensagem que vá ao encontro dessa expectativa e que seja conciliadora e ao mesmo tempo, que procure atenuar aquele momento difícil que quem é prejudicado está a passar. Eu penso que é fundamental, portanto, essa empatia no fundo, e também a capacidade de nós conseguirmos colocar nos no lugar do outro. Isso é algo que falha muitas das vezes. Vou dar também um exemplo a política não é uma área em que eu também já trabalhei amiúde aqui e ali. Gosto muito de ir ver como é que as coisas estão e depois voltar à minha, à vida real, à vida real. Mas uma vez lembro me de uma discussão com alguém com quem eu trabalhava, que vivia na bolha da política há muito tempo. Comentei Olha, muito bonito isso que estás a dizer. Mas diz me lá uma coisa quanto é que custa um pacote de leite no supermercado? Ui, Pedro, que disparate! Lá estás tu com os teus exemplos.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:11:46 Mas esta capacidade de te colocar tudo, colocares no lugar do outro que passa às vezes por estas pequenas coisas, não é de todo teres a noção do que é que é o dia a dia das pessoas e isso muitas das vezes falha na política, porque as pessoas estão na sua bolha, não sabem o que é que é o dia a dia do cidadão normal é não conseguem criar essa empatia, não conseguem colocar se no lugar do outro, estão.
JORGE CORREIA 00:12:07 Distantes, no fundo.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:12:08 Estão completamente distantes e, portanto, isso prejudica depois também a comunicação, porque, lá está, a mensagem pode estar muito bem preparada, mas há ali qualquer coisa que falha, sabes? E é essa empatia, porque efetivamente, tu nunca estiveste no lugar do outro. Não sabes quais são as dificuldades da pessoa no dia a dia. Isso aí não há. Não há boa comunicação nem preparação da mensagem que ultrapasse essa, essa pequena grande barreira.
JORGE CORREIA 00:12:32 Há uma questão além de empatia, que é a questão da linguagem porque tu estás a falar para os outros, os outros que estão por um lado, fora do teu universo e, portanto, há aqui uma uma questão que tem a ver com a aproximação.
JORGE CORREIA 00:12:47 Como é que tu fazes para para os ajudar, para ajudar estas pessoas a modelar ou adaptar a linguagem ao nível do conhecimento da audiência? Por exemplo, naquelas coisas que são muito complicadas de explicar, a área da saúde é um bom exemplo. A área de engenharia, enfim, todas as áreas que são complexas per si. Como é que se pode adaptar essa linguagem? Como é que o suprassumo desce do seu altar para se aproximar a nós, comuns dos mortais?
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:13:15 Sim, no treino que se faz aos líderes, querem ser bons comunicadores. Eu costumo dar um conselho que há que simplificar a mensagem. Atenção que eu quando digo simplificar, não digo abandalhar. Simplificar no sentido que as pessoas nos percebam.
JORGE CORREIA 00:13:29 Onde é que está o limite? Como é que se faz isso?
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:13:31 O limite. Olha, eu costumo dar um exemplo meio de brincadeira, que é expliquem me lá isso como se eu tivesse quatro anos. Não é? No sentido de que quando explicamos às crianças, nós tentamos de facto usar uma linguagem simples que elas e elas entendam, não é? E, portanto, se a criança de quatro anos conseguiu perceber o que é que nós fazemos, por exemplo, explica lá o que é que tu fazes, o que é que o que é que é o teu trabalho, não é? O que é isso de influenciar e de comunicar? E quando tens que simplificar a mensagem de forma a que uma criança de quatro anos, o exemplo que eu dei, ou alguém que não tem o teu nível de diferenciação, perceba a coisa funciona bem para qualquer tipo de auditório.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:14:13 Obviamente que as sessões se tiveres num congresso, num encontro de malta da tua tribo, da tua tribo.
JORGE CORREIA 00:14:19 E isso é curioso, porque quando, quando eu quero imaginar que quando tu tens essa conversa com um super especialistas, com super craques de determinada matéria e lhe explicas isto, lá está ao café ou num almoço que provavelmente a pessoa intuitivamente percebe que isso é verdade. Mas depois ou diacho, eu vou ao telejornal. Estão ali 2 milhões de pessoas. Estão ali os meus pares do outro lado a ouvir e a tentação de pôr a cassete e de dizer eu agora vou aqui brilhar a grande altura e a comunicação fica um bocadinho para depois.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:14:50 Esse é um grande problema porque efetivamente as pessoas tendem a falar para os seus pares, não é? Mas deste um bom exemplo uma entrevista em televisão que vai chegar a uns umas largas milhares de centenas de pessoas. Não estás a falar para os teus pais, Estás a falar para uma massa que é muito difícil de caracterizar, não é? Porque nessa nessa audiência estão os teus pares, Está, está a senhora que te limpa o escritório de manhã Não está o senhor que te faz a refeição que tu comes à hora do almoço Está os teus, os professores dos teus filhos.
JORGE CORREIA 00:15:22 Está lá tudo. E a questão é que alguns desses têm o nosso telemóvel, alguns.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:15:26 Desse nosso telemóvel também e depois quando nos dão o feedback até são normalmente implacáveis, mas mesmo assim estão lá todos. E como é que se fala para toda a gente? Simplificando e E tentando resistir a essa tentação de trazer para ali toda a nossa eloquência e a nossa sapiência sobre um determinado.
JORGE CORREIA 00:15:45 Assunto, sobre o ego, O que é que fazemos ao ego?
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:15:47 O ego.
JORGE CORREIA 00:15:49 Eu vou à televisão, eu vou à rádio, à telefonia. Sou maravilhoso, vaporoso. Consigo falar com eloquência de temas. Adoro ouvir me.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:15:58 Certo, tu já me conheces há uns anos e sabes que eu às vezes sou um bocado implacável, um bocado duro com os comentários que faço, não é? Mas o ego é importante, mas o ego só sai fortalecido se tu, além de apareceres bonitinho e com bom aspeto, vá, tomaste um bom banho, puseste uns cremes, puseste eventualmente uma gravatinha, estás todo pimpão, mas depois não tens uma mensagem, não dizes nada interessante, não tens uma boa história para contar.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:16:26 É vazio e vazio, não é? Portanto, o ego com uma boa história e com uma boa mensagem, o ego voa.
JORGE CORREIA 00:16:32 Olha a história. Hoje em dia toda a gente está na moda falar dá Falar da história da Disney, quase da do storytelling. Agora as palavras em inglês atropelaram nos a nossa língua, mas a arte de contar histórias. Todos gostamos de contar histórias. Mas alguns comentadores, Alguns. Algumas pessoas que têm essa vontade de aparecer no espaço público e no espaço mediático. A quem lhe dizem Tu tens que contar uma boa história, decidem inventar uma bela história plástica, uma história postiça e essas definitivamente não colam.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:17:09 Estás a falar do que há de trabalhar no McDonald’s.
JORGE CORREIA 00:17:13 Inventar uma história ou tentar encontrar? Eu agora quero falar sobre isto, então vou aqui inventar uma história que não vivi, que até pode ser verdadeira, que não estive lá, que não a senti.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:17:24 Há sempre o problema também do fact checking, não é? Se se a história for for checada, se vai ou não sobreviver a uma boa história.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:17:33 Para já tem que ter acontecido mesmo, não é? Portanto, sem isso, a história não é história, mas não.
JORGE CORREIA 00:17:38 Passa pelo crivo da autenticidade. Se não o viveste?
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:17:41 Creio que não. Isso transparece na depois, na comunicação. A paixão com que tu falas de um assunto, não e de um assunto que viveste. Uma história que passaste não é a mesma de uma história que foi inventada só porque fica bem no teu livro, na tua biografia ou na forma como queres apresentar aos outros as boas histórias. Tem emoção, não é emoção. Passa muito por efetivamente tê la, tê la vivido.
JORGE CORREIA 00:18:06 Então o que tu aconselhas? Que cada um de nós tenha um baú com histórias verdadeiras para poder, em determinados momentos, que elas possam fazer sentido naquele naquele contexto?
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:18:16 Da mesma forma que trabalhamos a mensagem, nós temos também que trabalhar a história quando queremos contar, não é? E todos nós temos todas as histórias. As pessoas com quem o trabalho tem as suas histórias podem por vezes não ter, não ter noção da importância que é contar uma boa história e até para se apresentarem enquanto enquanto líderes.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:18:37 Mas todos nós temos histórias. E aqui entra também a ajuda dos profissionais de comunicação e assim dizer, porque vão.
JORGE CORREIA 00:18:45 Muito, vão muito para para lá, está para a tecnocracia das coisas, para para contar a decisão, para contar à maneira a racionalidade do processo e se esquecem do mundo real, lá está, daquilo que viveram.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:18:56 E se esquecem também, talvez de algo ainda mais básico. Repara, nós trabalhamos em comunicação há muitos anos, não é? Nem vamos dizer aqui a quantos nos conhecemos. Ficaria mal, mas, portanto, é o nosso métier, a nossa área. Nós temos a noção da importância destas coisas e até gostamos, vibramos com elas. Não é? Para quem é de outras áreas, sobretudo das mais técnicas. A comunicação ainda é vista muitas vezes como uma área que, eventualmente dispensável, é um acto utilitário.
JORGE CORREIA 00:19:25 No fundo.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:19:26 É um ato utilitário, mas sobre o qual as pessoas nem muitas vezes reflectiram. Portanto, se eu disser a alguém temos que ter uma boa história para a tua pessoa.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:19:34 Provavelmente é a primeira vez que vais estar a ouvir que alguém lhe diz aquilo.
JORGE CORREIA 00:19:37 Mas nós intuitivamente sabemos isso. Quer dizer, quando nós estamos numa numa roda de amigos, as histórias que mais pipocas e elas saltam naturalmente, nós nos rimos, nós contamos a história. E todavia, quando entramos nesse quadro de agora, vais falar num palco, agora vais falar numa num sítio público. Há uma espécie de parece que nós bloqueamos, Parece que nós emagrecemos no pior sentido.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:20:05 É uma reacção fisiológica. Mas não entremos por aí mesmo nesse encontro de amigos. Não é à mesa de jantar que tu estavas a contar. Há sempre aquele aquele que está caladinho, não é que tem alguma resistência, alguma dificuldade em partilhar as suas próprias.
JORGE CORREIA 00:20:18 E também tem histórias.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:20:19 Também tem histórias. E é nesses casos que se pode fazer muita diferença, preparando uma boa história para aquela, para aquela pessoa. E a boa história é aquela que tem emoção, que é obviamente verdadeira e que é que leva os outros a querer saber mais sobre este tipo?
JORGE CORREIA 00:20:35 Olha, nós na nossa vida, quando encontramos alguém, quando vemos alguém na televisão, quando vemos alguém até fazendo uma coisa qualquer nas redes sociais, muito rapidamente lhe tiramos a pinta.
JORGE CORREIA 00:20:48 E essa primeira impressão conta.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:20:51 Claro que sim. Há diversos estudos sobre isso. Não vou agora entrar aqui numa espécie de aula, mas sim, há vários estudos que demonstram que em poucos segundos o teu público, só com base no teu aspeto, na maneira como te apresentaste, vai dar te credibilidade ou não? E isso é também credibilidade.
JORGE CORREIA 00:21:08 Sim, credibilidade. Acredito em ti. Não acredito em.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:21:10 Ti. É credível, Não é credível. Quero continuar a ouvi lo. Não quero. E só com base na imagem, repara que nós podemos ainda nem ter aberto a boca e dito nada. E já fizeram esse julgamento sobre sobre nós.
JORGE CORREIA 00:21:21 Então isso levanta um problema que é vários, vários, vários que é. Então é essa primeira impressão tendo esse carimbo tão. um tão definitivo no fundo. Gosta, Pinta, Olha. É simpático? Olha, não é simpático. Olha, não apetece ouvir te. É imutável, isto é. É uma espécie de cadastro que ficará para sempre nas próximas palavras que tu disseres.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:21:46 Felizmente que não. Essas coisas podem ser depois também trabalhadas idealmente. E se tu fores, se és um Hanabi, por exemplo, da política, queres ter a tua carreira? As primeiras impressões vão ser importantes e têm que ser trabalhadas, mas é possível mudar perceções. E nós temos alguns exemplos na nossa praça em que isso aconteceu. Mas é sobretudo preciso muito cuidado em previamente decidirmos também como é que queremos ser percepcionados. Como é que é isso. Há pouco falámos de líderes, não é? E, portanto, nós, quando pensamos num líder, criamos uma ideia sobre o que é um líder, o que é.
JORGE CORREIA 00:22:30 Um líder exatamente? Vamos começar por aqui. O que é que é um líder?
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:22:33 Alguém, Um líder é alguém que inspira confiança e que consegue mobilizar os outros para algo e levá los à ação. Olha, venham comigo para a guerra, Votem em mim, Ouçam o meu podcast. É alguém.
JORGE CORREIA 00:22:45 Que nos atrai.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:22:46 É alguém que nos atrai, É alguém que nós temos vontade de acompanhar, É o líder.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:22:51 Tem que ser um líder. Já falámos há pouco sobre isso. Empático tem que ser inspirador, tem que ser um bom comunicador. Eu não me lembro de conhecer nenhum líder que não seja um bom, um bom comunicador. Portanto, esse é o líder. E nós temos mais ou menos uma ideia do dia. Nós estamos à espera de encontrar alguém que fala baixinho, correto?
JORGE CORREIA 00:23:09 Ou que olhe assim para baixo, para o papel, como.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:23:12 Desculpa, fazer uma intervenção. E não largou o púlpito, não largou o olhar, não tirou o olhar do púlpito. Uma única não nos.
JORGE CORREIA 00:23:19 Olhou nos olhos.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:23:20 Exatamente. Nós temos essa ideia. O líder é alguém que nos, que nos nos abraça com o olhar, que tem um sorriso que tem, que tem até uma presença na na sala, na mesa de reuniões.
JORGE CORREIA 00:23:33 É aquele que entra na sala e que é que nós que enche a sala de luz no fundo de nós. É como uma espécie de magnetismo sem magnetismo.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:23:41 Exatamente alguém que que nos atrai, não é? É, portanto, um líder.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:23:47 Com este texto criaste esta ideia do líder e depois te aparece alguém que te é apresentado como líder e não corresponde a nada disto que nós tivemos a falar.
JORGE CORREIA 00:23:56 Lá se foi a expectativa.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:23:57 Qualquer coisa que não correu bem, não é? E portanto, se calhar é o chefe, não é o líder, mas mas sim os líderes. Tem um magnetismo. Sabes que eu trabalhei ao longo da minha vida com com muitos líderes e é uma característica que eu considero muito interessante. Há aqueles que valorizam a comunicação e que percebem a importância da comunicação até para as suas carreiras e para atingirem os seus objetivos enquanto líder e aqueles que consideram que não, a comunicação não é nada importante. Eu tive um líder, um presidente de uma instituição com quem trabalhei, que a certa altura me disse o que e eu responder ao Correio da Manhã. Que horror! Eu até acho que eles não deviam existir e, portanto, não trabalharmos juntos muito tempo. E eu também não lhe vaticino uma grande carreira. E assim aconteceu, de facto.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:24:43 Mas para te dizer que os das pessoas com quem trabalhei os. Os líderes que valorizam a comunicação conseguem sempre melhores resultados. E eu acho que isso não acontece por pura coincidência, não é? Efectivamente, a comunicação é importante para que eles, enquanto líderes, consigam influenciar os outros e para que consigam atingir os objectivos da instituição ou pessoais que a que se propuseram. Portanto, não acho. Eu acho que não é mesmo coincidência e a comunicação desempenha aí um papel muito, muito importante.
JORGE CORREIA 00:25:14 E como é que tu lidas com. Com um cliente mais birrento?
Speaker 4 00:25:20 Isso é humano. É uma coisa muito difícil.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:25:23 Porque a De comunicação, toda a gente percebe um pouco.
JORGE CORREIA 00:25:27 Esse é o ponto, não é?
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:25:28 Esse é o ponto.
JORGE CORREIA 00:25:28 Às tantas são treinadores de eu como sei de tudo, também sei de de de comunicação e portanto, no fundo o Pedro da Meio faz me umas mensagens que o que eu vou agora fazer aqui? Uma coisa.
Speaker 4 00:25:42 Brilhante. Às vezes é um pouco mais.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:25:43 Complicado que isso. Jorge, quando tu estás na reunião com o cliente e ele te diz eu acho que eu tenho lá em casa, olha, o meu filho também faz uns vídeos e umas coisas para as redes sociais.
JORGE CORREIA 00:25:53 E arriscamos.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:25:54 Isto exactamente e um pouquinho mais do que isso. Como é que se lida com isto? Com alguma paciência. O problema é que eu não tenho muita, porque pronto. Felizmente por vezes podes recusar clientes e já aconteceu. Pessoas com quem eu também não me identifico e não vejo um bom propósito na causa, não me mobiliza também para aplicar aquilo que eu sei ao serviço desse desse projecto.
JORGE CORREIA 00:26:20 Tem que haver uma química também para tu poderes ajudar estas pessoas.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:26:23 Sim, tem que haver uma química, mas tem que haver sobretudo aqui uma questão também de de humildade. E o que é que eu quero dizer com isto? Quando não percebes algum assunto, vais à procura do especialista, não é? Doutor, dói me a barriga. O que é que se passa comigo, não é? Colocamo nos nas mãos daquele especialista e a humildade no sentido de perceberes que tu há uma área que não dominas, que é a comunicação. Tens que dominar. Não é a tua área nativa, não é? E portanto vens pedir a ajuda de um especialista, de um consultor e portanto, convém, já agora, que ouças o que tem para dizer e que siga o que siga os teus conselhos.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:27:00 Há uma história que eu gostava de te contar e que para mim revela de facto, a capacidade do gestor. A certa altura, uma instituição com a qual eu colaborava em pleno conflito, tem uma crise brutal e eu penso que posso contar a história porque não há aqui nenhuma questão de confidencialidade. É pública a história. Sim, o Hospital Fernanda Fonseca não é num determinado dia em que havia muitos doentes graves e os doentes com que precisavam de tratamento com oxigénio de alto débito. Portanto, com muitos doentes, numa daquelas fases de pico em que estão 400 doentes a fazer oxigenoterapia. E houve um problema no sistema de fornecimento de oxigénio, portanto na pressão.
JORGE CORREIA 00:27:40 Portanto, uma crise real.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:27:42 Uma crise real que acontece de forma inesperada, como todas as crises. Eu depois posso te contar mais pormenores, mas a certa altura somos chamados de emergência para ajudar, porque a crise ali não tem só os doentes a quem tens que resolver o problema e encaminhar para os outros hospitais garantir que têm oxigénio, porque senão sem oxigénio morrem, não é? Portanto, além de resolver o problema, tens depois aqui a crise mediática que é explicada, neste caso com uma manchete de um do Expresso Online.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:28:09 E a seguir tens as televisões, tens as rádios, tens uma avalanche de jornalistas à porta e é preciso também resolver a crise mediática.
JORGE CORREIA 00:28:15 E aqui dois planos. Uma coisa é o problema em si mesmo. E aí a gente espera que os engenheiros que percebam de oxigênio e afins resolvam o problema dos tubos, porcas e parafusos.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:28:26 O problema mediático é o.
JORGE CORREIA 00:28:27 Problema mediático, que é o problema da percepção do que é que nos está a.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:28:30 Acontecer. Não é o problema também que isso impacta depois na reputação da instituição, mas no problema mediático. Voltando um pouquinho atrás, portanto, nós e a equipa que trabalhava comigo somos chamados para tentar ajudar e resolver na questão mediática. E eu lembro perfeitamente. Fazíamos ali uma reunião, dois ou três minutos. E eu digo para o presidente do Conselho Prestação, um dos melhores gestores com quem eu trabalhei até hoje, o Dr. Marco Ferreira. E digo lhe assim olhe nós agora para resolver o problema mediático temos que fazer isto. Dito isto, isto é, meu caro, eu não tenho tempo para lhe explicar agora o porquê e a resposta dele.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:29:06 Muito bem, vocês é que são os especialistas. Eu sigo os vossos conselhos. Façam aquilo que tiverem que fazer. O que lhe correu menos bem. Eu estou cá para assumir as responsabilidades, mas façam aquilo que entendem que têm que fazer neste momento. Mas isso é errado para mim. Isto é muito raro, mas é o bom exemplo de que do que um líder que tem uma equipa de consultores de uma determinada área deve fazer neste momento, portanto, aquilo que falavas de seguir ou não os conselhos, sendo.
JORGE CORREIA 00:29:31 Que uma crise, até pela sua dificuldade e imagino que essa em particular e toca à área da saúde, a probabilidade de que as coisas não corram bem além do evento inicial são são reais elas. É muito complexo fazer isto. E como é que se dão mais notícias?
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:29:54 Aliás, mais notícias dão. Dão se dando a cara e dando as más notícias olhos nos olhos. Não há outra forma de dar uma má notícia. Não adianta. Procurá lo, Procurar fazer sem, sem que dês a cara às instituições.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:30:11 Sobretudo isso é uma crítica que eu faço frequentemente quando há que dar uma má notícia. Escudam se atrás de um papel.
JORGE CORREIA 00:30:17 De um comunicado de imprensa que normalmente é vago exatamente.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:30:20 De umas linhas. E isso não pode acontecer numa situação difícil. Alguém tem que dar a cara pela instituição e até suposto que seja o líder, porque também aí se vê efetivamente um bom líder.
JORGE CORREIA 00:30:32 E se o líder não tiver jeitinho nenhum para comunicar?
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:30:34 Se o líder não tiver jeitinho nenhum para comunicar o que acontece, convém que já tenha sido preparado previamente para que isso? Para que isso aconteça?
JORGE CORREIA 00:30:42 Acontecia habitualmente antes. Infelizmente, acho que agora um pouco menos que. E as instituições tinham porta vozes, Sim, treinados, profissionais ou não. Ou não. Eu penso sempre no exemplo da CP.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:30:58 Fazia escola, claro, fazia escola.
JORGE CORREIA 00:30:59 Não é que era um homem da CP que, acontecesse o que acontecesse às 08h00, na telefonia, ele aparecia sempre a dizer o que é que tinha acontecido, a dar informações relevantes e a dar a cara.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:31:16 Sim, tu tens toda a razão. A figura do porta voz caiu um pouquinho em desuso, não é? Mas ela é fundamental por tudo aquilo que temos vindo a falar agora. Porque é preciso dar a cara, porque é preciso. Elemento humano, não é? É a figura do porta voz. Infelizmente desapareceu. Mas mesmo os porta vozes têm de ser preparados previamente, não é? E mesmo a má notícia também pode ser treinada, pode ser simulada. E tudo isso é um trabalho prévio de preparação na área da comunicação, que, infelizmente, as instituições e os líderes desvalorizam muito em alguns países. Vou dar um exemplo é impensável que tu chegues a determinado cargo no setor privado ou no público, sem teres feito em media training pelo caminho. Os media training, para quem não sabe, é no fundo, treinares. Como é que se lida com jornalistas? Como é que num ambiente.
JORGE CORREIA 00:32:08 Controlado.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:32:08 Num ambiente controlado, como é que prepara? Como é que formata a tua mensagem e como é que consegues que ela seja passada de forma eficaz ao público através obviamente dos media.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:32:19 E em alguns países, como eu dizia, é absolutamente impensável que chegues a um determinado cargo e às vezes estamos a falar de gestão intermédia sem ter feito um media training. Porquê? Porque a qualquer momento o pode ser o porta voz da instituição. Podes ter que dar a cara pela instituição. Cá em Portugal, quantos e quantos e quantos ministros chegam ao cargo sem nunca ter feito um media training? Olha, eu trabalhei com uma ministra, por exemplo, fui adjunto para a comunicação social de uma ministra da Saúde que nunca tinha feito um media training, nem fez.
JORGE CORREIA 00:32:46 E treinou no Real.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:32:48 Aprendi precisamente no real. Nós temos agora, no actual governo, alguns bons exemplos a agir, porque nós estamos com poucos meses de governo e olhamos para o elenco governativo e já percebemos quem é que são os pontos fracos do ponto de vista comunicacional.
JORGE CORREIA 00:33:03 Uns muito bons, muito profissionais, muito assertivos, muito. E há outros e outros claramente.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:33:10 Fracos que eu não vou aqui e.
JORGE CORREIA 00:33:11 Que precisavam de.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:33:12 Treino, precisavam de treino e, portanto, é absolutamente.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:33:16 Estranho que se chegue a este nível de relevância e de responsabilidade, sem nunca ter treinado, sem nunca ter sequer reflectido ou preparado estas questões, porque não é valorizado, não é valorizado e visto normalmente como um custo e não como um investimento. Não temos essa tradição ainda no nosso país. Estamos muito longe da realidade de outros países, mas repara como ao mais alto nível, neste caso o Governo da República. Há aqui um aprender no caminho, como tu estavas a dizer. Só que entretanto, quando não se tem jeitinho para a coisa, já foste trucidado, já que já não tens o já. Já cometeste várias gafes comunicacionais, já criaste ruído nas entrevistas e nas aparições públicas que tiveste. Isso aí, normalmente depois é muito difícil de recuperar e muito curioso.
JORGE CORREIA 00:34:06 Nós estamos a falar do do topo da cadeia, da liderança do país. Mas se eu pensar numa cidade, numa aldeia ou numa vila. As instituições e as organizações, a Junta de Freguesia, quase a paróquia, parece que não tem esse sentido de serviço público, de dizer o que é que andam a fazer e para que é que andam a fazer e a intervir no espaço de comunicação.
JORGE CORREIA 00:34:32 Ou o fazem porque acham que há aqui uma coisa que vai ficar bem na fotografia para o presidente da Junta ser eleito. Mas quando alguma coisa, quando o cano da água ficou roto, há uma clara, uma vontade de resolver o problema, mas, mas não de se aproximar as pessoas e de dizer olha, isto está a acontecer e a gente está a tentar resolver isto.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:34:53 Isso, esse problema é muito mais transversal do que as juntas de freguesia ou as câmaras municipais e tudo. Infelizmente, no nosso país, a comunicação institucional ainda não foi percecionada como sendo absolutamente decisiva para que a instituição, seja ela qual for, pública, privada, etc, consiga melhorar a forma como é percecionada pelo público e como pode fazer da comunicação um instrumento para obter melhores resultados. Como é que.
JORGE CORREIA 00:35:22 É que que receita, que coisas é que tem.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:35:25 Que ter quando às vezes nem a grande empresa que fatura milhões por ano tem essa ideia, tem essa ideia e tem a sua comunicação cuidada e profissionalizada. Quanto mais a Junta de Freguesia, em que o Presidente nem sequer está a tempo inteiro e que tem lá uma funcionária para atendimento ao público e resume se a isso, não é? Portanto.
JORGE CORREIA 00:35:47 É curioso mas. Mas eu até nem estava a pensar não só na comunicação pública, mas todos sentimos a diferença que faz chegarmos a um gabinete administrativo qualquer e ver se somos recebidos com um sorriso, com um acolhimento, com uma palavra ou, pelo contrário, nos olham quase como um extraterrestre que acabou de chegar ali. Aquele serviço é que é aborrecido. Está aqui mais um, está aqui, mais uma pessoa para para nos moer a cabeça.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:36:12 Claro que fugimos um bocadinho da comunicação, estamos a falar mais no atendimento, mas.
JORGE CORREIA 00:36:16 A pensar na comunicação interpessoal.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:36:18 Claro, claro.
JORGE CORREIA 00:36:19 Como e como é importante.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:36:21 Também é importante a todos os níveis, como tu dizes, desde desde a pessoa que nos recebe ao balcão até à mensagem de Natal do CEO da empresa. Tudo, na realidade, tudo é comunicação. Eu costumo dizer isso até à forma como tu de manhã dizes bom dia à pessoa quando vais comprar o pão já é a comunicação e vais.
JORGE CORREIA 00:36:41 Deixar logo lá uma uma marca. Olha, os porta vozes muitas vezes têm que responder a perguntas difíceis ou polémicas como é que? Como é que se prepara? Como é que se preparam as pessoas para para esse, para essa parte que é a parte difícil da comunicação?
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:36:56 Como contarem com o media training com informações específicas?
JORGE CORREIA 00:37:02 Fugindo às perguntas?
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:37:03 Não, não é difícil fugir às perguntas, Porque se tu foges ostensivamente às perguntas, estás a criar ali uma barreira comunicacional junto do teu público.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:37:13 E a.
JORGE CORREIA 00:37:13 Mensagem não passa, as.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:37:14 Mensagens não passa. O segredo é responderes rapidamente a pergunta que te é feita e passar a tua cassete. Eu costumo dizer uma coisa que se calhar às vezes irrita alguns jornalistas, que é quando se treina porta vozes e líderes para comunicarem que as perguntas são importantes, mas não são relevantes. O que é que o que interessa mesmo é aquilo que tu queres responder?
JORGE CORREIA 00:37:39 Estás a comprar uma batalha gigante, Mas as coisas para os jornalistas as.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:37:43 Coisas são como são. Acho que já temos todos experiência suficiente, mas.
JORGE CORREIA 00:37:47 A pergunta está feita. Em princípio, a pergunta incorpora aquilo que é o interesse público ou a perceção que o jornalista tem daquele, daquele entendimento, daquela daquela história. Se te faz uma pergunta sobre um determinado tópico num determinado ângulo, em princípio essa pergunta faz sentido, claro.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:38:01 E há que responder lhe ao mesmo. Mas conseguires aqui um equilíbrio e conseguires pontuar essa resposta à pergunta com aquilo que é a tua mensagem?
JORGE CORREIA 00:38:09 Não faz sentido dizer assim Está me a perguntar sobre meteorologia, mas eu quero é falar das Bahamas ou da Praia ou dos Açores.
JORGE CORREIA 00:38:15 Faz sentido responder à pergunta em primeiro lugar e depois conseguir fazer uma.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:38:20 Pergunta e fazer aquilo que chamou bridging para aquilo que é a nossa mensagem, para aquilo que eu, neste momento, quer dizer àquele.
JORGE CORREIA 00:38:26 Público. O que é uma habilidade interessante e especial para se conseguir.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:38:30 Fazer isto é uma habilidade interessante, sabes? Mais uma história que eu vou contar agora. Quando estava à espera que me chamassem aqui para o estúdio para para vir gravar o podcast.
JORGE CORREIA 00:38:39 Colocadas as coisas assim, parece que um consultório dentista ali fora à espera.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:38:43 Na portaria do edifício, estava a televisão. Estava a passar, portanto, a emissão da RTP e estavam a fazer a cobertura de um problema que um incidente, uma emergência que houve hoje em Espanha, com o mau tempo. E lá estava o rei de Espanha a responder aos jornalistas. E foi muito curioso ver como de facto deve ter feito muitos media training ao longo da vida, porque ao mesmo tempo que respondia às questões dos jornalistas relacionadas, obviamente, com a tragédia, com o número de vítimas, o rei de Espanha falava também sobre a importância de colocar os meios necessários à disposição dos serviços de emergência, sobre a necessidade do público colaborar com os com os serviços de emergência também.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:39:23 Ou seja. Sim, respondeu, Mas ao mesmo tempo ele tinha uma mensagem que queria passar. Portanto, repara como, enquanto estava à espera de nos encontrarmos para fazer o podcast, estava ali um bom exemplo de comunicador na televisão.
JORGE CORREIA 00:39:35 Qual é o elemento mais importante para tornar uma mensagem inesquecível? Que ela.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:39:39 Seja simples, não é? Ela tem que ser simples. Tem que nos ficar também no no ouvido. E tem que ser concisa e com, obviamente, com compaixão e com emoção. Isso aí é fundamental em comunicação e.
JORGE CORREIA 00:39:54 Se tu tiveres 10/2 para contar tudo, consegues estruturar uma mensagem onde é que? Onde é que tu ias diretamente?
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:40:02 Consegues. Desde que ia para Paris. Lá está, nós vamos sempre bater aqui nesta nesta área e que.
JORGE CORREIA 00:40:07 Ajuda nas alturas em que em que precisa de imediatamente o INEM. É um bom exemplo de que precisas de estar lá e de responder rapidamente e portanto, ter duas, três, quatro coisas que que funcionem. Tem que.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:40:19 Estar preparado. A comunicação.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:40:21 Como eu dizia logo no início da nossa conversa, há pouco espaço para para o improviso. Vamos? Olha, vamos ver aqui o exemplo do INEM, que eu acho que é interessante. No dia em que acontecer alguma situação verdadeiramente grave, vou dar um exemplo um atentado terrorista. E nós, felizmente temos estado imunes a isso enquanto país. Mas do ponto de vista teórico pode acontecer e o.
JORGE CORREIA 00:40:46 Socorro médico será obviamente.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:40:48 Crítico, Será crítico. Quando isso acontecer, o departamento de comunicação não vai ter tempo para estar a operacionalizar um conjunto de instrumentos de comunicação e por isso é que a instituição tem já preparada um conjunto de comunicados ao público e à comunicação social para um evento desses que ocorra.
JORGE CORREIA 00:41:09 São pré formas pré pré ideias de estrutura de dos vários eventos que.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:41:14 Podem ir com as mensagens chave que tu já sabes que queres passar nessa circunstância. Claro que depois tens que adaptar em função da circunstância concreta. Quanto às vítimas a O que é que aconteceu, qual foi a situação? Mas há toda uma mensagem que já pode estar preparada e ela está.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:41:29 Portanto, a instituição tem preparados um conjunto de ferramentas para dar resposta eficaz do ponto de vista comunicacional num evento dessa natureza, Como há uma série de áreas que estão muitíssimo bem preparadas, a aviação civil e todos eles têm já preparados os seus instrumentos de comunicação para o caso de cair um avião, que é assim o fenómeno, talvez mais mais extremo nisso, nessa área de negócio.
JORGE CORREIA 00:41:53 Mas depois precisam de o treinar, porque a ideia de que tens um plano com coisas pré feitas, com porta vozes nomeados, mas está num belo caderno na prateleira mais bonita do edifício.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:42:02 E aí entram os exercícios, as simulações de crise que são, que é um instrumento que algumas empresas recorrem precisamente para testar esses procedimentos, para que no dia em que sejam confrontados com uma crise efectiva ou verdadeira ou real, já estejam preparados para dar a melhor resposta.
JORGE CORREIA 00:42:22 E como é que se consegue comunicar uma coisa que é urgente e importante e ao mesmo tempo evitar o pânico? Porque essa é a fronteira? Que é que é difícil? Porque quando se tu, tu vais aparecer, tu vais falar sobre as coisas.
JORGE CORREIA 00:42:38 Aquilo é importante, não há nenhuma dúvida, mas a probabilidade daquilo gerar a corrida. Um bom exemplo que vai ter um impacto em nós e vai e vai assustar me, vai. Como é que? Como é que conseguimos encontrar esse.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:42:50 Equilíbrio com a verdade, explicando as pessoas quais são os riscos, quais são os desafios, mas também tendo sempre o cuidado de explicar o que é que estamos a fazer para para lidar com eles. Se quiseres eu aplico. Isso. Pode parecer um contrasenso com o que disse há pouco, que é tentar explicar as coisas como se fosse para uma criança de quatro anos. Mas o que diria? Tenta partir sempre do pressuposto que quando comunicas numa situação de risco em saúde ou outras, quando comunicas, estás a fazê lo para pessoas que são adultas e portanto tens que lhes dar os instrumentos para que tomem as melhores decisões. E isso tem que ser feito com com verdade, naturalmente. Com a tal simplificação também da mensagem e uma vez mais, com preparação, não há como fugir.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:43:38 Como fugir a isso? A corrida é um caso interessante. Aqui há uns aninhos, uns anos largos, nós tivemos uma espécie de preparação em tempo real para a corrida.
JORGE CORREIA 00:43:53 Ensaio geral?
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:43:53 Sim, chamou se Gripe A. Ok, claro que depois o tempo passa, nós esquecemo nos. Instituições não aprendem com os processos pelos quais passaram. Eu, quando foi a gripe A. Trabalhava na altura na Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, como uma pessoa notável, com quem amei ter trabalhado, que é o Rei Portugal, que depois teve aí uma conferência de imprensa menos bem conseguida e que lá está a.
JORGE CORREIA 00:44:20 Maravilhosa conferência de imprensa em que ele sugere que o Natal pode ser quando o homem quiser.
Speaker 4 00:44:25 E que.
JORGE CORREIA 00:44:25 O melhor era oferecer umas compotas aos.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:44:27 Vizinhos. Isso marcou, criou, ficou com o lado do Rei Portugal. Mas foi uma pessoa com quem, Sendo que há.
JORGE CORREIA 00:44:32 Um homem que é um profundo sabedor da questão da saúde.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:44:36 Pública, está no top cinco das pessoas com quem eu adorei trabalhar.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:44:40 E em 2009, quando foi a gripe A na Direcção Geral da Saúde, havia um departamento de comunicação pronto, com pouca gente. Portanto, foi preciso reforçar aquela equipa para dar resposta aos desafios comunicacionais da Gripe A e portanto, o Rui Portugal a pediu ao Pedro vai lá fazer o favor e lá uma ajudinha da DGS. E o bom do Pedro lá foi seis meses destacado para a DGS e aí tivemos que de facto aprender à medida que que que o caminho se ia colocando e na comunicação foi um desafio. Fez muita coisa, aprendeu se muita, muitas lições que tudo depois passou para um livrinho, que se fez a experiência da gripe A, O que é que que que? O que é que nos ensinou e em que até se deixava para memória futura aquilo que se fez também na área da comunicação para que outros pudessem aprender? Uns anos depois chega a convites, não é? Ai, ai, ai, ai que agora temos aqui o menino para para lidar E isto tudo isto é novo, Mas.
JORGE CORREIA 00:45:40 Havia o livro e um treino dez anos antes.
JORGE CORREIA 00:45:42 Pois.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:45:42 Só que entretanto essa memória perdeu se. As instituições não têm essa capacidade de facto de aprender com a experiência. As pessoas.
JORGE CORREIA 00:45:49 Que saem, a.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:45:49 Pessoas que saem repara que dez anos depois, um. A comunicação da Direcção-Geral da Saúde era um pouquinho mais profissionalizada, mas ainda com pouquíssimas pessoas com carência de recursos humanos. E eu lembro me que a certa altura. Opinei sobre algo que estava a ser feito na comunicação na Gripe A e a minha colega da Direcção-Geral da Saúde e eu vou dizer o nome a Diana Mendes na altura. Quem manda aqui também? Um beijo se nos estiver a ouvir. Disse mas ok, então mas isso é a tua opinião? O que é que podemos fazer melhor isso? Olha, podem começar por ler um livrinho que devem ter aí numa prateleira da instituição sobre as lições aprendidas.
JORGE CORREIA 00:46:36 Mas depois não há tempo nem.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:46:37 Depois. Não há tempo, porque depois vem.
JORGE CORREIA 00:46:38 O tsunami e estamos todos a reagir, claro.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:46:42 Mas este exemplo, como nós tivemos um ameaço uns anos antes e o tempo passou e as instituições não se prepararam.
JORGE CORREIA 00:46:49 Portanto, dar nos ia jeito que agora, até para memória futura, Nós fizéssemos uma coisa que em Portugal fazemos muito pouco, que é registar para memória futura tudo o que aprendemos, tudo o que correu bem, tudo o que correu mal, o que é que podíamos melhorar.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:47:04 As lições aprendidas.
JORGE CORREIA 00:47:05 Mas depois não. Nós olhamos e dizemos ok, já nos livramos disto.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:47:08 A nível do Estado, repara, de facto há uma carência grande de recursos humanos especializados nesta área da comunicação e portanto é mais difícil vermos esta crise. Já estamos a pensar na próxima. Não é que agora há de ser um surto de sarampo algures e portanto já não há essa capacidade para transformar essa informação que nós tivemos e que temos.
JORGE CORREIA 00:47:27 Em conhecimento e.
Speaker 4 00:47:27 Conhecimento.
JORGE CORREIA 00:47:28 Olha como é que tu lidas com o fracasso quando aquilo corre tudo mal.
Speaker 4 00:47:33 É difícil.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:47:35 Sofre se um pouquinho. Mas lá está, nessa lógica do aprender, como é que eu agora posso evitar que isto aconteça comigo, com outros que.
JORGE CORREIA 00:47:45 Vais tirando notas, vais fazendo, vais fazendo coisas?
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:47:48 Vais sim.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:47:48 Eu tenho essa, essa preocupação de procurar, de comentar normalmente as crises pelas quais os meus clientes passam, porque isso pode sempre ser útil para para uma ou outra ocorrência, para uma outra crise que venha a surgir. E já passei por muitas. Também já passei por algumas, pela preparação de algumas crises que depois não, não tiveram uma expressão pública. E isso é muito interessante porque algumas instituições que percebem a necessidade de ter de antecipar algumas crises que estão ali a pairar.
JORGE CORREIA 00:48:20 Quase crise. Aquilo que nós todos estamos a ver que pode acontecer a.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:48:24 Qualquer momento e algumas instituições. Alguns líderes percebem que quando acontecer, não vão ter tempo, não vão ter capacidade de lhe dar a resposta que se exige e a boa resposta.
JORGE CORREIA 00:48:37 Em alternativa à boa maneira portuguesa Ai meu Deus, quem me acode? Liguei para o Pedro Anda cá a desenrascar isto esfregona.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:48:43 Houve situações em que houve. Houve essa perceção de perceberem que isto poderia transformar se numa crise imediata e portanto, vamos lá prepará la. E foi interessante porque fez muito trabalho de preparação de cenários, mensagens chave, preparação de porta vozes, etc.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:48:56 E a crise? Felizmente, não, não aconteceu.
JORGE CORREIA 00:48:59 Como é que os grandes líderes recebem? Recebem o feedback, o retorno?
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:49:05 Recebem como?
JORGE CORREIA 00:49:08 Em particular quando estão sob pressão? Sim, quando.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:49:09 Estão sob pressão, Dá lhes algum conforto perceber que têm ali ao seu lado alguém que percebe do assunto e que lhes pode dar bons conselhos. E o bom líder segue os conselhos. É, mas é sobretudo isso uma questão de conforto, de conforto e de perceberem que está ali uma tábua de salvação que a que nos podemos agarrar e que pode salvar nos a carreira. Porque algumas crises são crises sérias, podem levar, no limite, a que que o líder tenha que se demitir. E a forma como vais lidar com a crise pode pode evitá lo. E dentro daquilo que falávamos há pouco que o bom líder não sabe tudo. Rodeia se das pessoas que percebem dos assuntos. Olha, acho que essa é uma imagem que eu gosto. Olha para ti como uma tábua de salvação para um momento muito delicado e que pode ter custos elevadíssimos.
JORGE CORREIA 00:49:58 Como vai lá estar com uma bóia? Olha, já falámos do conteúdo, já falámos da forma, já falámos das mensagens, dos porta vozes, dessa empatia. E depois há uma coisa que é uma conversa aparentemente fútil ou não, que é exame. O que raio é que a gente veste para bem comunicar? Partindo do pressuposto que não vamos nus para dar uma entrevista ou que, em alternativa, também não vamos vestir o nosso smoking mais aperaltado para falar se calhar de uma coisa mais terra a terra. A roupa conta.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:50:26 A roupa conta sim, roupa, os acessórios, tudo isso conta. E, sobretudo, conta para que não se distraiam da nossa mensagem, daquilo que estamos a dizer.
JORGE CORREIA 00:50:37 Conta para não contar.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:50:39 Conta para não.
Speaker 4 00:50:40 Exatamente.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:50:41 Para não contar. Vamos falar aqui de um exemplo. E foi até convidada uma convidada tua. E é uma pessoa adorável é que todos nós temos uma paixão enorme. A Profª Graça Freitas não é? Quando o alfinete de peito que usa.
JORGE CORREIA 00:50:58 Uma flor maravilhosa.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:51:00 Uma flor maravilhosa, chama a.
JORGE CORREIA 00:51:01 Atenção umas.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:51:02 Coisas que quando isso se torna em tema de conversa e porque.
Speaker 4 00:51:09 Portanto.
JORGE CORREIA 00:51:10 Estamos a olhar mais para aquele acessório, neste caso literalmente e menos para.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:51:16 A mensagem, tu acompanhaste as discussões que havia em torno de zero a cada dia.
JORGE CORREIA 00:51:19 Nas conferências de imprensa.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:51:22 Qual é o alfinete que hoje? Qual é o adereço que hoje tornou.
JORGE CORREIA 00:51:26 Se uma moda? Tornou se um pretexto. Desfoca.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:51:30 Desfoca. Nós queremos que as pessoas, que o público esteja centrado na nossa mensagem. Tudo aquilo que distraia está a mais. Temos bons exemplos, temos péssimos exemplos. Eu divirto me por acaso a recolher print screen de entrevistas de televisão com os maus exemplos, sobretudo. Mas tem tudo aquilo que desvia a atenção e porque não devia estar ali. Mas o Jorge pode. Pode ser às vezes o relógio na televisão, aquele relógio que o entrevistado tem. Aquilo é daquelas coisas baratinhas, baratinhas do chinês e daqueles que custam milhares de euros.
JORGE CORREIA 00:52:02 E isso pode condicionar a interpretação da mensagem.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:52:05 Pode, evidentemente. E o contexto também é muito relevante quando vemos às vezes, aquelas reportagens na televisão, na área da saúde, aquela cirurgia inovadora, o doutor que esteve ali não sei quantas horas a operar o paciente para lhe salvar a vida. E no fim, queremos entrevistar o doutor. Vocês, jornalistas, querem entrevistar o doutor? É aceitável? Isso não retira a credibilidade à pessoa. Vê lo com aquele pijaminha de bloco operatório. Estás a ver aqueles pijaminhas verdes ou azuis?
JORGE CORREIA 00:52:35 Até dá uma credibilidade.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:52:36 A uma credibilidade, a um contexto. Exatamente. Portanto. O doutor esteve ali, caramba, a salvar a vida daquela pessoa e, portanto, agora é natural que ainda está.
JORGE CORREIA 00:52:44 Faz nos sentido para nós, que estamos a ver, dizemos ok, faz sentido.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:52:47 Não lhe retira a credibilidade, antes pelo contrário. E não tem nada que distraia. Agora o mesmo doutor que depois é convidado para ir ao telejornal da hora do almoço na televisão. Já não estamos à espera de o encontrar nos mesmos preparos, correcto? Já teve tempo de ir a casa?
JORGE CORREIA 00:53:04 Já tomou um banhinho nos? Aparece já o sulfato.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:53:08 Da sua gravata ou não a sua camiseta?
JORGE CORREIA 00:53:10 Portanto, ir de bata de cirurgião para a entrevista do telejornal não é definitivamente uma boa opção. É o.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:53:16 Contexto. E é sobretudo isso a forma como nos vestimos contribui ou não para nos dar essa credibilidade E contribui ou não também para desviar a atenção da nossa mensagem.
JORGE CORREIA 00:53:29 Portanto, gravatas berrantes com gatinhos? Provavelmente não. Brincos que sabem também não. Um cabelo cheio de brilhantina também imagino que não sejam.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:53:40 Os brincos da avó, o alfinete de peito que herdámos da avó. Já que vou à televisão vão mostrá los, não é? Creio que less is more.
JORGE CORREIA 00:53:47 E pode. Claro que pode funcionar. Podes também preparar isso. Se tu tivesses que preparar agora uma conferência mundial de paz. Podia ser uma bela fórmula. De que cor vestiria os líderes mundiais?
Speaker 4 00:54:06 Olha em cores.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:54:10 Claras, eu diria. Um azul claro, um pastel. Claro, Evitar os brancos, mas em cores que inspirem e que transmitam uma ideia de tranquilidade e, sobretudo, que não dêem nas vistas pelos pelos maus motivos.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:54:28 O mais sóbrio possível, eu diria, como se fossem visitar a madrinha para que estejam bem e que não destoem daquela que é a sua mensagem.
JORGE CORREIA 00:54:38 Pedro Coelho dos Santos. Obrigado.
PEDRO COELHO DOS SANTOS 00:54:41 Obrigado, Jorge. Um abraço.
Hoje falamos da mais profissional, eficaz e eficiente máquina de criação e gestão das expectativas: a política.
Usando as ferramentas da comunicação, os políticos de todo o mundo criam percepções favoráveis às suas causas.
São essas percepções que permitem um suporte da opinião pública para as posições e decisões que os políticos tomam no nosso nome.
E essa máquina das percepções obedece a regras e estratégias muito bem definidas.
Pelo menos assim era no tempo dos ‘media’ tradicionais.
Agora há um novo mapa a ser desenhado: o mundo alimentado pelas redes sociais.
Trocaram-se os editores e jornalistas por robôs e algoritmos.
E a comunicação política repensou a sua forma de fazer o que sempre fez: influenciar o pensamento da opinião pública.
Com um refrescado conceito chamado polarização. Não é novo. Mas está na moda.
Do telejornal às manchetes dos jornais.
Da voz na manhã da telefonia até aos programas de debate.
Do contacto direto com os cidadãos até à transmissão em direto de eventos criados precisamente para serem transmitidos.
E agora as redes sociais: o velhinho Facebook onde todos continuamos a estar.
O Twitter agora batizado de X, por onde correm as mais disputadas e virulentas discussões políticas e sociais. Ou mesmo o Instagram e o TikTok, lançados para criar atenção pela beleza da foto-autorretrato ou da dança da moda, entretanto transformadas em máquinas de ‘marketing’ directo.
Estes dois mundos são o palco do mundo moderno.
E quem deseja mandar no mundo, no planeta, do país, município, aldeia ou grupo sabe que tem de usar estes canais e criar receitas que nos agradem.
Este programa é sobre o cruzamento da arte da comunicação com o da política.
Numa frase: a comunicação política e a política na comunicação.
A convidada é Susana Salgado, investigadora deste campo do saber no Instituto das Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.
Exploramos como os media e as redes sociais desempenham um papel crucial na maneira como as pessoas entendem a política e tomam decisões.
A conversa aborda temas como a polarização, o efeito dos algoritmos das redes sociais e o impacto dos preconceitos cognitivos, que criam uma espécie de “bolha” em que cada um de nós vive, condicionando como recebemos e interpretamos as mensagens políticas.
Um dos principais pontos de reflexão neste episódio é o impacto da comunicação polarizadora. Segundo ela, a política contemporânea tende a afastar os cidadãos do debate e a empurrá-los para os extremos, limitando a capacidade de entendimento e troca de ideias. Ela explora como, muitas vezes, os temas mais sensíveis ou “incómodos” são excluídos da discussão pública, não por falta de relevância, mas por uma espécie de censura social.
Isso faz com que pessoas que partilham de opiniões não convencionais sejam empurradas para a margem, onde encontram espaço em movimentos ou partidos mais radicais.
Esse fenómeno é reforçado pelas redes sociais, onde o anonimato e a liberdade de expressão permitem que as pessoas exponham visões mais extremas do que fariam em interações presenciais.
Nesta conversa aprendi muito sobre o conceito de criação de agendas públicas.
Em particular, como criar estratégias para colocar o nosso tema na agenda e criar percepções favoráveis ao nosso ponto de vista.
Criar agenda, enquadrar factos e apontar o foco de luz para o que mais no interessa.
Ou criar distrações para desviar a atenção geral para o que não nos interessa discutir.
Susana Salgado explica como estas estratégias ajudam a moldar as perceções dos cidadãos, enfatizando certos temas e desviando a atenção de outros.
Estes mecanismos são, segundo ela, particularmente eficazes para criar uma “máquina de perceções” onde o que ganha é visibilidade mediática, interpretada como sendo mais relevante, muitas vezes à custa de temas de interesse real para a população.
Real ou percebido como real?
Nem sempre a resposta é directa e fácil.
E podemos sempre citar a frase um político que diz “em política o que parece é”
Sabendo destes mecanismos do uso da comunicação poderemos conhecer melhor como funciona a opinião pública. Como reage. Como suporta ou nega propostas de decisão, ou ideias políticas.
Sabendo que muitas das mais importantes decisões são muitas vezes mal percepcionadas. E outras, muito vistosas, são pouco relevantes.
Há uma coisa onde política e a comunicação tem em comum: o tempo, o timng.
Não adianta ter razão antes do tempo ou explicar tarde demais.
[00:00:00] Introdução à Comunicação Política
• Assunto: Susana Salgado apresenta-se e introduz a importância da comunicação para políticos, que usam estratégias para moldar perceções públicas.
• Resumo: A comunicação é essencial para os políticos, mas não basta transmitir mensagens; é preciso conectar-se com as preocupações reais do público.
[00:01:22] Qualidades de um Bom Comunicador Político
• Assunto: Discute-se o que faz um bom comunicador e a necessidade de uma comunicação adaptada ao público e ao contexto.
• Resumo: Um bom comunicador sabe ouvir e ajustar as suas mensagens, mas cada indivíduo as recebe de forma única, influenciado pela sua experiência e contexto social.
[00:03:15] O Conceito das “Bolhas Cognitivas”
• Assunto: Introduz-se a ideia de bolhas onde cada pessoa filtra a informação de acordo com suas crenças e experiências, criando uma visão limitada.
• Resumo: As “bolhas” cognitivas moldam como as mensagens são interpretadas, pois cada pessoa exclui automaticamente o que desafia a sua visão do mundo.
[00:09:19] O Politicamente Correto e a Exclusão do Debate
• Assunto: Explora-se como o politicamente correto limita o debate ao rotular opiniões dissidentes, afastando as pessoas para extremismos.
• Resumo: A exclusão de temas considerados “incómodos” na política pode silenciar vozes e empurrar opiniões divergentes para margens radicais.
[00:15:09] Impacto dos Algoritmos e Redes Sociais
• Assunto: Discutem-se os algoritmos nas redes sociais, que amplificam o conflito e o choque para manter a atenção dos utilizadores.
• Resumo: As redes sociais favorecem conteúdos que geram reações intensas, alimentando a polarização e prolongando o tempo de permanência dos utilizadores.
[00:27:09] Credibilidade e Papel dos Media
• Assunto: Aborda-se a crise de credibilidade dos ‘media’ e como a ausência de filtros abre espaço para uma comunicação polarizada e populista.
• Resumo: Com a queda da credibilidade dos ‘media’ tradicionais, as redes sociais e a falta de mediadores fiáveis aumentam a polarização.
[00:18:02] Desconfiança nas Instituições e na Democracia
• Assunto: Análise sobre como as novas gerações perdem fé nas instituições democráticas, procurando alternativas aos partidos tradicionais.
• Resumo: A falta de representação e transparência na política leva os jovens a desconfiar do sistema democrático, criando espaço para novas forças políticas.
[00:22:07] Estratégias de Manipulação: Agenda Setting, Framing e Priming
• Assunto: Susana descreve técnicas usadas para influenciar perceções públicas, como a escolha de temas e o foco nos ‘media’.
• Resumo: Técnicas como agenda setting e framing são usadas para guiar o público a ver certos temas como mais importantes, manipulando perceções.
[00:25:05] Polarização e a Cultura do Conflito
• Assunto: Explora-se como programas de debate e conteúdos polarizadores captam a atenção através do conflito e da emoção.
• Resumo: A polarização torna-se uma estratégia comum nos ‘media’ para manter o público envolvido, alimentando a divisão e a hostilidade.
[00:31:04] Encerramento e Reflexão sobre a Comunicação Política
• Assunto: Susana reflete sobre a complexidade da comunicação política e como cada líder deve estar atento ao ambiente e ao público.
• Resumo: No encerramento, enfatiza-se a importância da adaptação e do entendimento do ambiente político para uma comunicação eficaz.
1. “Comunicação Pública e Política: Pesquisas e Práticas”
• Fonte: Academia.edu
• Link: (Academia.edu)
• Descrição: Este livro reúne artigos de diversos autores que refletem sobre as bases teóricas e práticas da comunicação pública, explorando as interações entre sociedade, meios de comunicação e Estado.
2. “Conceitos de Comunicação Política”
• Fonte: LabCom
• Link: (Labcom)
• Descrição: Esta obra aborda a interdisciplinaridade entre as Ciências da Comunicação e a Ciência Política, apresentando textos inspirados por diversas áreas, como Teoria Política, Filosofia Política e Sociologia.
3. “Comunicação Política e Democracia”
• Autor: João Pissarra Esteves
• Fonte: Repositório Aberto da Universidade do Porto
• Link: (Repositório Aberto)
• Descrição: Este livro explora a relação entre comunicação política e democracia, analisando como a comunicação influencia os processos democráticos.
4. “Comunicação e Política: Conceitos e Abordagens”
• Fonte: Academia.edu
• Link: (Academia.edu)
• Descrição: Este livro analisa as realidades da América Latina nos últimos anos, com base em pesquisas científicas focadas nas políticas de comunicação.
5. “A Comunicação Política na Era da Internet”
• Autor: João Canavilhas
• Fonte: Universidade da Beira Interior
• Link: (Ubibliorum)
• Descrição: Este trabalho discute a evolução do conceito de comunicação política, especialmente no contexto da internet e das novas tecnologias.
6. “Comunicação Política e Comunicação Pública”
• Fonte: Revista Organicom
• Link: (Revistas USP)
• Descrição: Este artigo analisa a Comunicação Pública como uma vertente da Comunicação Política, discutindo o conceito por sua natureza multipolar, comunicativa, política e de mercado.
7. “Comunicação Pública e Política – Pesquisas e Práticas”
• Fonte: SciELO Brasil
• Link: (SciELO)
• Descrição: Este livro-coletânea resume uma agenda de pesquisa de mais de uma década que busca entender como a comunicação pública no Brasil influencia eventos históricos, política e sociedade.
8. “Comunicação Pública e Política: Pesquisas e Práticas”
• Fonte: ABC Pública
• Link: (ABC Pública)
• Descrição: Esta obra aborda problemas, percursos e descobertas de pesquisa no campo da comunicação e política, problematizando o conceito de comunicação pública.
9. “Política e Media: Um Olhar Sociológico sobre a Comunicação”
• Fonte: Revistas da Universidade Católica Portuguesa
• Link: (Revistas UCP)
• Descrição: Este artigo apresenta uma entrevista que discute a relação entre partidos políticos portugueses e os media, bem como as diferenças entre política de substância e política de imagem.
10. “Comunicação e Política: Mapeando Autores/as e Teorias Mobilizados no Brasil”
• Fonte: Repositório da Universidade Federal de Minas Gerais
• Link: (Repositório UFMG)
• Descrição: Este estudo identifica autores e teorias destacadas na pesquisa brasileira sobre comunicação e política, analisando como são acionados pelos pesquisadores.
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Hoje vamos dançar.
A forma mais natural em que acertamos o nosso movimento ao ritmo dos sons ou até dos pensamentos.
Sim, hoje acertamos os passo na arte humana da dança.
Dos mais talentosos dos bailarinos ao mais descoordenado dos seres.
Eu pecador de confesso. E por isso convidei o actor, coreógrafo e bailarino Bruno Rodrigues para me ensinar sobre o movimento do corpo.
Sou o mais descoordenado dos seres a habitar sobre a terra.
Poderia dizer que tenho dois pés esquerdos, o que até poderia ser elogioso porque até se dá o caso de eu ser canhoto.
Por isso simplifico: não tenho jeitinho nenhum para dançar.
O que me angustia porque o meu sentido de ritmo é bom. Acho eu. Sinto que sim. Ritmo dentro da minha cabeça. Depois os braços e as pernas é que não acompanham. Parecem ter vida própria, lançando no espaço pernas e braços num louco, levemente assustador e definitivamente esquisito movimento.
E um dia conheci o Bruno.
Num evento experimental sobre o movimento.
E aprendi que todos temos uma espécie de biblioteca de movimentos. E nessa biblioteca estão os livros de instruções para nos mexermos. É só ler esses livros. Embora muitos de nós nem sequer nos atrevemos a pegar neles. Nos livros. Nas ancas, rótulas, ombros ou pescoço. Volto ao movimento.
Basta respirar, diz ele, o Bruno, e o movimento aparece naturalmente.
Esta conversa é sobre isso.
Sobre o movimento. Sobre a maneira como dançamos.
Na conversa saberemos como alguém descobre que a sua vocação, como experimenta e aprende sobre a arte da dança.
Hoje é coreógrafo, actor e formador na área do movimento.
Naturalmente falámos da maneira como o nosso corpo fala, como comunica.
E de como a dança pode ser uma ferramenta social de inclusão e partilha.
Aprendi que todos podemos dançar.
E sabemos dançar. À nossa maneira, mas é uma maneira tão certa como qualquer outra. Saia lá daí, da frente do espelho. E liberte-se.
Claro que depois há o bailado, como expressão plástica maior.
A expressão do belo e do sublime.
Afinal o uso do corpo para nos fazer sentir as emoções.
O corpo como espelho da alma.
O movimento e a dança como uma forma universal de nos entontarmos mutuamente.
De olhos nos olhos.
De mão na mão.
Num compasso certo dos pés que seguem num movimento síncrono. Isto nas danças a dois.
Mas também valem os grupos que dançam num concerto.
Ou até aquele que dança sozinho na praia, sem música, apenas ao ritmo dos pensamentos.
E tudo se move. E tudo dança. Até os planetas à volta do sol.
Ou o sentir. Ao ritmo dos batimentos do coração.
O ritmo primordial da dança da vida.
Inicialmente estudante de Engenharia Química, Bruno descobriu a dança por acaso, quando uma colega o convidou a experimentar uma aula. Essa experiência revelou-lhe um novo caminho, onde se sentiu verdadeiramente “em casa”. O que começou como uma simples curiosidade tornou-se rapidamente a sua paixão e carreira. No episódio, ele descreve o momento inicial, numa sexta-feira de outubro, que marcou o encontro com a dança. A sensação de “pertença” era tão intensa que ele a lembra com detalhes, incluindo as cores, os cheiros e a música daquela primeira aula.
Bruno vê a dança como uma linguagem universal, acessível a todos e não apenas a quem se dedica profissionalmente a esta arte. Para ele, todos dançam a partir do momento em que respiram, pois a base do movimento é a respiração. Ele explora a ideia de que a dança está presente nos pequenos gestos do dia a dia e que cada movimento entre duas poses ou “fotografias” forma uma coreografia única.
A entrevista toca em questões profundas sobre como o movimento expressa a relação de cada um consigo mesmo. Bruno reflete sobre a relação entre corpo e identidade, afirmando que a maneira como nos movemos espelha a nossa auto perceção e até as nossas cicatrizes emocionais. Para ele, o corpo manifesta tudo o que está “cá dentro”, e cuidar dele é uma forma de cuidar da nossa própria história. Este ponto é enfatizado com um exemplo de um workshop que conduziu com jovens bailarinos cegos, onde observou como o movimento pode ajudar a superar limitações e abrir novas possibilidades de expressão.
Bruno também fala sobre as suas experiências em teatro imersivo, onde os atores e o público compartilham o mesmo espaço físico e a interação vai além da palavra. Um exemplo é o espetáculo “E Morreram Felizes Para Sempre”, realizado no Hospital Júlio de Matos, em Lisboa. Neste tipo de teatro, o público movimenta-se livremente entre os atores, e isso exige uma preparação intensa dos performers, que precisam estar preparados para atuar em 360 graus, sem uma “quarta parede” convencional. Bruno partilha como a atenção aos detalhes e a criação de rituais auxiliam os atores a manter-se fiéis às suas personagens, mesmo sob pressão e proximidade do público.
No final do episódio, Bruno reflete sobre o que distingue um grande bailarino. Para ele, não é apenas a técnica, mas a capacidade de transmitir verdade e autenticidade. Ele defende que o essencial para o artista é “incorporar” o movimento, ou seja, apropriar-se dele de forma única, sem se limitar a copiá-lo. Essa ideia estende-se à sua abordagem ao ensino, especialmente em workshops de curta duração, onde se sente mais à vontade para ajudar jovens e adultos a descobrir o seu potencial criativo, sem a pressão de uma avaliação técnica rígida.
Uma das práticas que Bruno destaca é a observação atenta dos movimentos e comportamentos das pessoas em espaços públicos, como praças e estações de metro. Esses momentos servem-lhe de inspiração para criar coreografias que refletem o dia a dia. Ele enfatiza a diferença entre “ver” e “observar”, onde esta última implica uma conexão mais profunda e ativa com o que se analisa. Para Bruno, a observação cuidadosa permite entender a essência do movimento e traz uma nova dimensão para a criação artística.
Transcrito Automaticamente Com Podsqueeze
JORGE CORREIA 00:00:13 Viva. Bem vindos ao Pergunta Simples o vosso Podcasts sobre Comunicação. Hoje vamos dançar a forma mais natural em que acertamos o nosso movimento ao ritmo dos sons ou até dos pensamentos. Sim, hoje acertamos os passos da arte humana, da dança dos mais talentosos, dos bailarinos aos mais descoordenados dos seres. Eu, pecador, me confesso, e por isso convidei o ator, coreógrafo e bailarino Bruno Rodrigues para me ensinar sobre o movimento do corpo. Sou o mais descoordenado dos seres que habitam sobre a Terra. Poderia dizer que tenho dois pés esquerdos, que até poderia ser elogioso, até porque se dá o caso de eu ser canhoto. Por isso vou simplificar. Não tenho jeitinho nenhum para dançar, o que me angustia, porque o meu sentido de ritmo é bom, acho eu. Sinto que sim. Ritmo dentro da minha cabeça. Depois os braços e as pernas é que não acompanham, parecem ter vida própria, lançando no espaço pernas para um lado, braços para o outro como um louco levemente assustador e definitivamente promovendo um esquisito movimento.
JORGE CORREIA 00:01:27 E um dia conheci o Bruno num evento experimental sobre o movimento e aprendi que todos temos uma espécie de biblioteca de movimentos e nessa biblioteca estão os livros de instruções para nos mexermos. É só ler esses livros. Embora muitos de nós nem sequer nos atrevemos a pegar neles, nos livros, nas ancas, nas rótulas, nos ombros ou no pescoço. Volto ao movimento. Volto sempre ao movimento. Com livro ou sem livro, Basta respirar, dizê lo. Bruno. O movimento aparece naturalmente. Esta conversa é sobre isso, sobre o movimento, sobre a maneira como dançamos. Na conversa, vamos saber como é que alguém descobre que a sua vocação é dançar, Como experimenta e aprende sobre a arte da dança e do movimento. Hoje ele é coreógrafo, ator e formador na área do movimento. Naturalmente, falamos da maneira como o nosso corpo fala, como comunica e de como a dança pode ser uma ferramenta social de inclusão e partilha. Aprendi que todos podemos dançar e sabemos dançar à nossa maneira, mas é uma maneira tão certa como outra qualquer.
JORGE CORREIA 00:02:31 Saia por isso diferente do espelho e liberte se. Claro que depois há sempre o bailado, a expressão plástica maior, a expressão do belo e do sublime. Afinal, o uso do corpo para nos fazer sentir emoções. O corpo como espelho da alma, o movimento e a dança como uma forma universal de nos entendermos uns aos outros. Viva Bruno Rodrigues, bailarino, ator, intérprete, coreógrafo, professor de dança contemporânea e dança inclusiva. Alguém que decidiu começar por estudar química e acabou a fazer estas coisas da dança e do movimento. Há uma química especial Ou tu achaste que o H2O não era suficiente para te expressares?
BRUNO RODRIGUES 00:03:19 Bem, eu acho que encontrei a dança completamente por acaso, por isso se calhar andava à procura da minha própria química. E não era, não era. Ali, naquela engenharia, encontrei uma outra engenharia, uma outra física, uma outra matemática e e a dança? A dança acaba por surgir completamente por acaso, se calhar até com muita coisa no meu. No meu percurso até profissional, como é que foi esse momento?
JORGE CORREIA 00:03:43 Zero?
BRUNO RODRIGUES 00:03:44 Foi do meio, do nada eu tinha, eu fazia.
BRUNO RODRIGUES 00:03:46 Eu morava em Mafra, estava a estudar no Técnico, na Alameda, em Lisboa, e fazia o percurso diário de autocarro. E havia uma colega minha de autocarro que fazia umas aulas de dança em Mafra e um dia eu acho que para ir em Outubro mais ou menos que me. Que me convida a ir lá experimentar, eu fui. Era uma sexta feira e acho que ainda hoje me lembro e tenho completamente a memória da cor, do cheiro, da música. Era a casa. Eu acho que a sensação que eu tenho daquele momento, aquela sexta feira, é que tinha encontrado a minha casa e e encontrei e encontrei a dança naquela altura e percebi que aquele era o caminho.
JORGE CORREIA 00:04:23 Ainda consigo lembrar do sentimento, do que é, que, do que é que sentiste nesse momento.
BRUNO RODRIGUES 00:04:27 Consigo e vou lá buscá lo várias vezes quando preciso dele.
JORGE CORREIA 00:04:30 Vais lá buscá lo quando é? Quando estás mais em baixo ou quando ou quando precisas de um quase sentir esse momento iniciático?
BRUNO RODRIGUES 00:04:36 Acho que quando preciso de ir buscar esse momento iniciático, porque de repente, quando estás a quando estás a criar, quando está, quando estás a dar tanto, não é porque estás sempre a dar ou estás a dar em aulas, ou em workshops, ou estás a dirigir ou estás a dirigir na companhia.
BRUNO RODRIGUES 00:04:50 Estás sempre para dar imenso de ti e às vezes precisas ir buscar quase a lembrança da razão Porque é que tu estás lá? Porque é que estás aqui? Porque é que a dança é aquilo? E porque é que. Porque é que tu continuas a precisar deste alimento e porque é que a.
JORGE CORREIA 00:05:05 Dança é para ti? Isso o que é? O que é que. Onde é que está o click? Onde é que está o? Onde é que está essa fundação?
BRUNO RODRIGUES 00:05:13 Sabes que eu acho que a dança é a forma que eu encontrei? Ou que sim, que eu encontrei de intervir no mundo. E esta é a minha forma.
JORGE CORREIA 00:05:23 É uma boa desculpa como outra qualquer. Tu decidiste que assim é que é e eu vou fazê lo.
BRUNO RODRIGUES 00:05:27 É que é o meu lugar e que são os meus e que é o meu espaço e que é a forma com que eu consigo, que eu consigo sentir me realizado, quer na relação comigo, quer depois também na relação com o outro. A criação deste espaço artístico através do corpo, mas, mas nunca sozinho.
BRUNO RODRIGUES 00:05:45 Sempre com. Com muita gente.
JORGE CORREIA 00:05:48 Olha, eu quero obviamente falar contigo. Dessa vez, o uso do movimento e da dança de uma forma avançada lá está, no teatro, na coreografia, no bailado. Quero falar sobre isso, mas quero começar pelo mais básico Nós, os desgraçados que nasceram com dois pés esquerdos e que são claramente trôpegos nesta arte da dança, movimento ou dança. Há alguns que nasceram para dançar e outros que é melhor ficar sentados aí nessa cadeira e observar os outros.
BRUNO RODRIGUES 00:06:18 Todos nós, a partir do momento que nascemos, dançamos. Porque se entendermos a dança como ela, ela começa a surgir através da respiração. É a base. A base da dança é a respiração. A base do movimento é a respiração. Por isso estamos aqui, estamos vivos, estamos a dançar e estamos a movimentar. E de repente isso é tudo muito simples. Por isso todos nós movimentamos e dançamos. E depois a dança é que é o espaço que está entre duas imagens. Há uma imagem especiais de uma fotografia e depois aqui tiras outra fotografia e a dança.
BRUNO RODRIGUES 00:06:50 E isto é isto tudo que se passa desta fotografia, até aquela fotografia, e depois a outra, a outra, a outra. E de repente constrói se uma dança, constrói se uma coreografia. Mas. Mas todos nós temos essa capacidade, a capacidade do movimento desde sempre.
JORGE CORREIA 00:07:04 Então e porque é que lá está? Porque é que nós, quando nos olhamos ao espelho, olhamos aos outros, decidimos até socialmente, que aquilo é um desengonçado ou uma desengonçada? Lá está, os homens calhar mais desgraçados que ainda são mais desengonçados do que do que se calhar mulher. Ou é um preconceito meu.
BRUNO RODRIGUES 00:07:21 Eu acho que é tempo demais para pensar em coisas que não interessam. Mas não. Mas esta ideia eu acho que é muito. Há muito preconceito. E há. E se formos mesmo, há esta ideia do preconceito e a ideia de o que é que é a dança, o que é que não é dança, nem o que é que é movimento, o que é que não é movimento? E se formos ao mais básico, ninguém põe a hipótese de não saber desenhar.
BRUNO RODRIGUES 00:07:44 E se pedires a alguém para desenhar ela, A pessoa pode dizer que não sabe pintar, não tem jeito, mas faz. Em relação ao movimento e ao em relação à dança, porque mexe muito mais contigo. Não é uma coisa tão exterior, é o teu próprio corpo. Implica já uma relação contigo e com o teu próprio corpo. Há algo que te afasta um bocadinho mais e eu acho que passa muito, muito, muito por esse lado de uma pré imagem, de um preconceito.
JORGE CORREIA 00:08:12 Mas tem a ver com como nós estamos lá está, estamos lá, fazemos, fazemos parte. Pode ter menos a ver com o movimento e mais a ver com a nossa relação ou com a nossa má relação com o nosso corpo, com o espelho.
BRUNO RODRIGUES 00:08:27 Sim, acho que sim. Claramente com o espelho, com o espelho ou sem ela, ou com a imagem que tu tens de ti próprio.
JORGE CORREIA 00:08:35 Olha, eu lembro me de ter tido a sorte. Fui ver te primeiro lugar numa peça de teatro inclusiva em que os atores não estão lá no palco, nem nós sentados em cadeiras ou em poltronas na plateia.
JORGE CORREIA 00:08:51 Não estamos no meio dos dedos dos autores, dos atores.
BRUNO RODRIGUES 00:08:55 Desculpem, então. Peça de teatro imersiva, imersiva, inclusiva. E a outra parte Vamos embora então.
JORGE CORREIA 00:09:00 Desculpa. Também quero falar sobre isso. Porque? Porque tu trabalhas com crianças com necessidades especiais. Eu também quero falar sobre isso nessa peça de teatro imersivo em que nós e morreram felizes para sempre É o título de 2015. O tempo Passa, em que estamos no Hospital Júlio de Matos, em Lisboa, dois pisos em que estamos a correr atrás dos dos atores e, no fundo, a sentir e a fazer esta. Está a ver este movimento quando nós próprios estamos a movimentar nos e eu olho para aquilo e digo assim estes atores estão aqui, não falam não, não estão aqui verbalmente a comunicar comigo. Todavia, o movimento é suficiente para produzir comunicação com pessoas que ali estão e que e que chegaram ali a 15 minutos. Como é que se faz isto?
BRUNO RODRIGUES 00:09:46 Acaba por ser todo o trabalho, neste caso, no empurrão. Felizes para sempre.
BRUNO RODRIGUES 00:09:52 Há um trabalho muito grande da construção da própria personagem e depois procurar toda a expressão corporal característica da personagem. E depois, em determinado teatro psicológico que exista em determinada cena. E aí tu vais buscar. Neste caso, vais descer aos anos 40. Não é que era a altura em que se passava a peça? Vês imensos vídeos tuas, imensas fotografias e vais começar a procurar o que é que é. Também, por exemplo, pensa o tempo, o tempo é um tempo diferente. Não é o tempo dos anos 40 ou o tempo dos anos 21, tempo completamente diferente do tempo de agora, que é um tempo muito mais acelerado. E então é começares a procurar o que é que é essa característica do corpo performático ou do corpo do ator, do corpo da personagem e depois encontrares. Nós corríamos um guião todo por isso eu, eu enquanto Afonso, na altura, na peça morreram felizes para sempre. Havia um guião que eu corria todo para conseguir estar. Durante, Durante a peça toda, completamente dentro da personagem.
BRUNO RODRIGUES 00:10:55 Porque um dos enormes desafios destas peças de teatro imersivo é que, para além da dimensão, são peças sempre com uma grande dimensão, mas também que onde o público pode escolher aos visitantes, como eu prefiro, prefiro chamar do que o público. Neste caso, pode escolher à distância que vê a cena e isso faz com que tu, enquanto performer, estás a trabalhar sempre sobre 360 graus, porque tu podes ter uma pessoa atrás de ti, outra à frente e enfim, infinitas câmaras ou multi câmara também muito ligado quase ao cinema. Por exemplo, há aqui um jogo.
JORGE CORREIA 00:11:34 Como é que tu te preparas para este tipo de trabalho?
BRUNO RODRIGUES 00:11:39 Em espetáculo? Eu sou eu. Para preparação do espetáculo tenho muitos rituais.
JORGE CORREIA 00:11:44 Então.
BRUNO RODRIGUES 00:11:44 Mas são rituais que construo, construo muito de acordo com a personagem da altura. Durante todo o processo criativo, há pequenas coisas que me vão ajudando a chegar à personagem, agarrá la no momento certo.
JORGE CORREIA 00:11:57 Mas isto, por exemplo, tu tens um guião, tens uma coisa escrita em primeiro lugar do que é que, do que é que é suposto fazer, do que é que é suposto estar.
BRUNO RODRIGUES 00:12:04 Neste caso está tudo escrito, tudo escrito, tudo, tudo está escrito. O que tu sentes, o que não sentes, o que é que é, qual é que é o background, porque é que estás a reagir determinada, porque o que é que se está a passar, Porque estas peças de teatro imersivo são completamente um reflexo do que é que é a vida real, não é? Nós estamos aqui agora a gravar, não sabemos o que é que se passa aqui na sala do lado, nem na outra lado, mas tudo acontece exactamente ao mesmo tempo. Então o que permite ao visitante é que podia entrar agora nesta sala e assistir esta conversa. Eu podia ir ali ao lado e assistir. Ele podia fazer o seu próprio filme, a sua própria realidade, a possibilidade de construirmos a nossa própria realidade. Mas nós aqui somos completamente independentes, ou se calhar não. Do que está a passar em ambas as salas e as peças de teatro acaba por ser acaba por ser isso mesmo. A minha necessidade de ter alguns rituais é muito para eu conseguir chegar, chegar ao sítio onde eu também estou seguro.
BRUNO RODRIGUES 00:12:56 Porque é muito desafiante e muito desafiante. A proximidade com o próprio público, a proximidade.
JORGE CORREIA 00:13:02 Física, a.
BRUNO RODRIGUES 00:13:03 Proximidade física. Sim, e porque é o tempo de reacção? Porque depois nós temos timings muito curtos de ajuste. Não morreram. Eu acho que tínhamos mais ou menos um timming à volta dos seis 7/2 de ajuste. Para quê?
JORGE CORREIA 00:13:20 Para sincronizar. Porque em todas as salas está a acontecer coisas diferentes.
BRUNO RODRIGUES 00:13:23 A acontecer está sempre tudo a acontecer. Como é.
JORGE CORREIA 00:13:25 Que? Como é que isso se acerta? Como é que isso sincroniza esse. Essas salas todas em que estão a acontecer coisas porque as.
BRUNO RODRIGUES 00:13:31 Cenas estão todas marcadas. Tudo o que se passa no teatro imersivo, neste caso, morreram. E agora? E agora? Na morte do Corvo, que ainda.
JORGE CORREIA 00:13:38 Está em cena, já.
BRUNO RODRIGUES 00:13:39 Está em cena em.
JORGE CORREIA 00:13:39 Lisboa, junto do de Da.
BRUNO RODRIGUES 00:13:42 Estrela, no antigo Hospital Militar da Estrela. Estreámos em Janeiro 23 e ainda continuamos em cena. Sim, e.
JORGE CORREIA 00:13:49 Quando digo isto por semana, quantas vezes é que tu repetes o.
BRUNO RODRIGUES 00:13:53 E no início nós criamos de quarta a domingo. Agora a peça está em cena desde março, às sextas e sábados.
JORGE CORREIA 00:14:03 Sendo que tu, nesta peça não és só participante ator, és também coreógrafo. Portanto, cabe te ser o arquitecto.
BRUNO RODRIGUES 00:14:12 Um dos mundos.
JORGE CORREIA 00:14:13 Um dos quantos, quantos arquitetos e que tem.
BRUNO RODRIGUES 00:14:15 Somos muitos. Eu acho que toda, toda a equipa artística e todos os atores, todos os criadores, bailarinos, sons acabam por ser muito arquitetos. Toda a.
JORGE CORREIA 00:14:23 Gente participa.
BRUNO RODRIGUES 00:14:24 Toda a gente participa no processo criativo.
JORGE CORREIA 00:14:26 Quem é que dá ordem ao caos?
BRUNO RODRIGUES 00:14:27 A isso, Depois alguém tem que decidir, não é? Mas eu acho que é muito. É um processo muito democrático. Acima de tudo, há uma noção de qual é que é o caminho. Tu queres fazer? Qual é que é a estética também? E depois também eu tive a sorte, não é? Eu fui apenas interno e morreram felizes para sempre. Em 2015, entre 2015 e 2022, quando quando o corpo começa a ter a ter ensaios, muita coisa se passou.
BRUNO RODRIGUES 00:14:57 Até uma pandemia se passou, não é? Mas, mas muita coisa se passou e também também eu próprio fui tendo alguma formação fora e tentando mergulhar muito mais de ter acesso. Assistira muito mais, muito mais peças de teatro, teatro ou experiências imersivas. O que me leva quando eu entro para fazer direção coreográfica com a encenação da Ana Padrão? Já tinha também uma ideia muito concreta dos dois lados. Ou seja, por um lado eu estava à procura do lado da direção coreográfica, mas eu tinha a experiência do intérprete e acho que a experiência do intérprete eu tinha tido em 2015, que foi extremamente Rica tornou me mais consciente do caminho que eu queria levar. Os atores e os bailarinos nesta peça como um dado seguro.
JORGE CORREIA 00:15:44 Mas como é que se sabe que estavas a dizer me que que o que o guião no fundo te pode dar uma linha guia para tu estares mais seguro? Não há espaço para o improviso.
BRUNO RODRIGUES 00:15:59 Há espaço para o imprevisto, para o imprevisto, para o imprevisto. Há espaço. Mas se tu não tiveres muito seguro naquilo que estás a fazer, completamente consciente, neste caso, na morte do Corvo, Eu sou Mário de Sá-Carneiro.
BRUNO RODRIGUES 00:16:16 Tem um perfil psicológico muito, muito difícil, mas muito apetecível também.
JORGE CORREIA 00:16:22 Basta ler a poesia de o fazer.
BRUNO RODRIGUES 00:16:25 Foi um filme, foi uma ótima descoberta. Foi assim um presente ter feito assim aquele O Mário. O que é que tu.
JORGE CORREIA 00:16:32 Descobriste com Mário de Sá-Carneiro?
BRUNO RODRIGUES 00:16:35 Descobri muitas ligações comigo. Acho que Mário de Sá-Carneiro tinha. Teve uma vida muito cheia, muito cheia. E tenho pena que ache que é que é um convite também, que se conheça mais de toda a escrita de Mário de Sá-Carneiro. Que é que é incrível? E depois tem um lado também de algum fascínio. Há um misto no mar e um fascínio muito grande pela vida, por uma vida altamente colorida. Mas depois, do outro lado, há uma vida muito mais a preto e branco.
JORGE CORREIA 00:17:11 Ele é um experimentador, por um lado para para fora e dentro. É alguém que claramente está ali a remoer.
BRUNO RODRIGUES 00:17:18 Muita coisa, a tentar processar muita.
JORGE CORREIA 00:17:20 Coisa. Funciona assim também. Olha, isso interessa me porque tu expressas te primordialmente com o movimento e eu fico sempre a pensar até que ponto é que o movimento pode expressar emoções complexas de uma forma mais fácil ou mais difícil que as palavras.
JORGE CORREIA 00:17:42 Quando um amigo nosso está a passar um momento difícil e que nós, quase ao invés de falar, pomos lhe assim a mão sobre o ombro, quase. Mas não sabemos.
BRUNO RODRIGUES 00:17:52 Como é que ele vai reagir. E às vezes esse espaço também. O corpo, o corpo, o corpo manifesta o corpo manifesto tudo o que está cá dentro, a tudo o que se passa cá dentro. E ele manifesta a. Há uns anos atrás, num projecto que eu estava, estava a acompanhar com a companhia que eu faço, com a direção que é que é a companhia de dança. E na altura tínhamos cá uma coreógrafa do norte da Europa, não me recordo agora do país e estamos a iniciar um projecto que envolvia principalmente bailarinos cegos. Por isso bailarinos, norma visuais e bailarinos cegos. E ela estava cá, estava a dar um workshop. Estávamos a fazer uns primeiros workshops muito experimentais em Lisboa e eu lembro me de uma, de uma de uma jovem. Eu acho que estaria na altura de cá, há uns 14, 15 anos, que entra no estúdio para ir para o workshop e tinha um corpo, se calhar mais mais duro que alguma vez vi na minha vida.
BRUNO RODRIGUES 00:19:01 E eu já trabalhei com pessoas adultos, jovens, séniores e pessoas com e sem deficiência. Ou seja.
JORGE CORREIA 00:19:07 O que é um corpo duro.
BRUNO RODRIGUES 00:19:09 Rígido e rígido, quase como se fosse uma espécie de uma carapaça de uma tartaruga.
JORGE CORREIA 00:19:14 É uma negação do movimento.
BRUNO RODRIGUES 00:19:16 Tinha acabado de chegar há duas semanas. Wow! Estamos a falar de uma adolescentes há seis anos.
JORGE CORREIA 00:19:23 Portanto estamos a falar de uma pessoa para quem quase que a vida acabou duas semanas antes.
BRUNO RODRIGUES 00:19:28 Não, não acabou. Não, não. Aquela vida que ela conhecia transformou se. E era.
JORGE CORREIA 00:19:34 Rígida. Era rígida ou estava rígida?
BRUNO RODRIGUES 00:19:36 Estava rígida na altura. Porque tem a ver com esta ideia da protecção? Por isso é que eu acho que é interessante este exemplo, porque esta ideia de o teu corpo realmente é o protesto. Ele manifesta tudo o que tudo o que se passa cá dentro e o que nós fazemos muitas vezes é o que se passa com todos nós e que tu consegues observar na rua, em todo o lado, essa camuflagem que se passa muito.
BRUNO RODRIGUES 00:19:59 A primeira conversa que estávamos a ter não é a ideia do espelho e agora muito. O que se está a passar cada vez mais é esta construção desta camuflagem. Tentar a tentar pintar de uma outra cor o corpo, tentar com que o corpo tenha, traduza para fora e faça uma tradução diferente daquela que realmente está a passar lá dentro.
JORGE CORREIA 00:20:20 Mas de alguma maneira nós fazemos isto da maneira como nos pintamos, da maneira como nos pintamos, como nos situamos nos brincos que podemos usar. Tudo isso é nosso ornamento. Amo nos fisicamente e psicologicamente.
BRUNO RODRIGUES 00:20:34 Mas quando passamos por alguma questão muito dura na nossa vida, todos nós sentimos que o nosso corpo acontece alguma coisa. Há uma.
JORGE CORREIA 00:20:41 Cicatriz.
BRUNO RODRIGUES 00:20:42 A que depois cabe nos a nós tentar curá la.
JORGE CORREIA 00:20:47 E fazer alguma coisa, fazer alguma coisa. O que é que podemos fazer?
BRUNO RODRIGUES 00:20:50 Cuidar dela? Cuidar do corpo? Como é dele? Gostar dele. Aprender a gostar do nosso corpo.
JORGE CORREIA 00:20:57 E nós? É curioso, mas sinceramente, não sei. Vamos lá, Vamos a isso? Como é que é isto? Sinceramente, Quer dizer que aqui falámos de Mário Sá-Carneiro? Há uma arte do fingimento em que nós escondemos o nosso corpo ou a nossa alma dentro do nosso corpo e não somos honestos com o corpo.
BRUNO RODRIGUES 00:21:14 Eu acho que nós não. Quer dizer, eu até acho que nós não somos honestos. Muita coisa somos. Só nós construímos. Saltamos de Mário para a pessoa, não é? Todos nós temos imensos heterónimos entre nós. Quer dizer, não acho que seja sempre só apenas uma coisa e até nos adaptamos. Não temos, se calhar o génio que tinha pessoa, mas nos vamos adaptando e somos nós. Somos várias pessoas e somos nós.
JORGE CORREIA 00:21:39 Somos no nosso emprego, nós somos em casa, nós somos com nossos amigos. Faz parte, faz parte. E isso lá está, isso faz parte da coreografia da vida.
BRUNO RODRIGUES 00:21:47 Claro que faz parte e torna nos muito mais ricos também. Essa capacidade que nós temos de nos adaptar. Agora, a partir do momento em que essa adaptação é quase uma imposição, aí começa a ser uma imposição do teu próprio corpo, tu com o teu próprio corpo, porque queres construir aquela imagem? Só porque sim. Quando as coisas na vida começam a ser só porque sim, Nós, nós, enquanto pais, não tínhamos muito esta ideia do só porque sim, porque sim e porque não, Porque é que? Porque não? Porque as coisas na vida não podem acontecer só porque sim.
BRUNO RODRIGUES 00:22:20 Elas têm que ter um propósito qualquer. E é esta construção, este cuidar de, este cuidar do teu corpo. Ele tem de acontecer. Porque? Porque o corpo precisa nesta nesta atenção ao próprio corpo. Claro que eu faço imensas coisas que não devia fazer ao próprio corpo. Não sou nada, nem nem guru, nem sou o máximo cuidador do corpo, nem super organizado, maltratado.
JORGE CORREIA 00:22:40 O teu corpo.
BRUNO RODRIGUES 00:22:41 Também faz parte, mas também faz parte, claro.
JORGE CORREIA 00:22:45 E é uma forma de viver.
BRUNO RODRIGUES 00:22:47 É maltratado de repente. Agora vou me aqui, vou saltar, vou fazer. Não, acho que não tenho. Se não tenho aqueles cuidados, se calhar que toda a gente pensa que os bailarinos poderão ter ou que comem todos muito bem, ou que não bebem café, ou que não faz isto, não faz aquilo. Eu acho que a grande diferença eu tinha, eu tinha. Engraçado, tinha um um osteopata na altura na Escola Superior de Dança, isso não me lembro. Acho que ele também também era osteopata de uma grande de uma grande equipa de futebol.
BRUNO RODRIGUES 00:23:17 E ele falava muitas vezes das grandes diferenças entre os bailarinos e os futebolistas, neste caso os atletas de alta competição. E porque nós somos atletas de alta competição, mas não queremos perder o lado boémio da vida, porque esse lado boémio da vida dá nos também. Dá nos estas possibilidades depois de estar no mundo real e criar. Nós não queremos ser máquinas.
JORGE CORREIA 00:23:40 Tu precisas de ter uma biblioteca de livros que lês na vida lato sensu. Precisas de estar, precisas de fazer uma noitada, precisas de beber uns copos, precisas de estar com pessoas que é completamente contraditório com aquilo que é A tua necessidade como bailarino profissional de ter um corpo não é? Informe bastante mais do que informa.
BRUNO RODRIGUES 00:24:00 Sim, mas eu preciso do resto. Tudo o resto é esta balança. Como é que?
JORGE CORREIA 00:24:04 Como é que lida com esta contradição dos termos fases?
BRUNO RODRIGUES 00:24:08 Se calhar depois aquela fase a seguir ao Verão é terrível, mas é terrível para mim, é terrível para toda a gente. Só que eu começo com o ensaio e passado duas semanas aquilo tem que estar impecável, pronto e que há várias coisas que se pode tentar fazer, mas depois é correr e correr contra o tempo.
BRUNO RODRIGUES 00:24:24 Pronto.
JORGE CORREIA 00:24:26 Volto a ao mundo dos normais, aqueles que não sabem dançar ou aqueles que sabem dançar e até dançam muito, muito bem. Há um truque para para aperfeiçoarmos a nossa arte da dança a um ritmo, a uma ou depende apenas lá estado da nossa alma e da nossa reinterpretação do nosso movimento?
BRUNO RODRIGUES 00:24:49 Eu acho que depois, se queres, se vais optar profissionalmente ou vais tornar as coisas mais sérias, não estou a.
JORGE CORREIA 00:24:56 Pensar o mesmo para as pessoas que se querem divertir.
BRUNO RODRIGUES 00:24:58 A divertir, é só divertirem se esta palavra certa.
JORGE CORREIA 00:25:01 Não pensar muito sobre isso.
BRUNO RODRIGUES 00:25:02 E deixar ir é ótimo. Ponham os phones e dancem no meio da rua como apetece. Olha, acho.
JORGE CORREIA 00:25:09 Que as pessoas, mesmo quando não estão a dançar, estão sempre a interpretar uma canção qualquer xD.
BRUNO RODRIGUES 00:25:14 Acho que sim e acho.
JORGE CORREIA 00:25:16 Como é que é a tua música, Como é que é a tua canção? Como é que.
BRUNO RODRIGUES 00:25:19 De manhã é assim que aquilo tem que ser? Tem que bombar imenso. Tem que acordar e precisa que a música toda que acorda.
JORGE CORREIA 00:25:26 O mau.
BRUNO RODRIGUES 00:25:26 Acordar. Adoro música popular quando quero ser assim completamente mais parvo e é óptimo e sem problemas nenhuns, sem ser esta coisa pseudointelectual que de repente não Ou.
JORGE CORREIA 00:25:39 Wagner e Chopin?
BRUNO RODRIGUES 00:25:40 Ai não pode ser. Há espaço para tudo. É óptimo. Adoro santos populares como depois de repente adoro ir a um bom concerto de uma fantástica orquestra. E há espaço para tudo isso Tudo preenche me também, não é? Ao veres ou veres um espetáculo que é altamente conceptual ou veres uma coisa que já tem uma dramaturgia que tu já já te identificas mais que tudo isso e tu e tu vais beber imenso e muito mais do que selecionar o que gostas ou o que não gostas, Porque acho que a vida é muito mais do que tu dizeres gosto disto ou não gosto disto. Acho que isso tu dizes em relação à comida. Gosta de um bife? Não gosta de bife? Pronto, está feito a conversa.
JORGE CORREIA 00:26:16 São as pessoas que a gente diz Eu gosto mais desta pessoa, Não gosto tanto daquela.
BRUNO RODRIGUES 00:26:20 Mas mesmo assim.
JORGE CORREIA 00:26:21 É a primeira impressão.
BRUNO RODRIGUES 00:26:22 E a primeira impressão. Porque? Por que é que tu não gostas ou não gostas? É uma.
JORGE CORREIA 00:26:25 Boa pergunta.
BRUNO RODRIGUES 00:26:26 Porque é que? Porque de repente nós dizemos eu não gosto, não gosto daquela pessoa, Mas porquê?
JORGE CORREIA 00:26:31 Aborrece me? Não me identifico com ela.
BRUNO RODRIGUES 00:26:32 Porquê? Porque é que eu não me identifico com ela? O que é que me aborrece nela?
JORGE CORREIA 00:26:35 Mais uma vez temos um espelho. E achas que isto pode funcionar assim?
BRUNO RODRIGUES 00:26:41 Talvez, talvez possa funcionar.
JORGE CORREIA 00:26:43 Como nós somos demasiado rápidos a colocar.
BRUNO RODRIGUES 00:26:45 Começa a andar tudo muito à volta do espelho. Isto é para uma dos bailarinos que passamos a vida toda a olhar para o espelho, que é para.
JORGE CORREIA 00:26:52 Treinar. Sim, para o bem e para o mal.
BRUNO RODRIGUES 00:26:54 Que é muito mau no início.
JORGE CORREIA 00:26:56 E tu és um super perfeccionista o. O programa este Para teres tolerância para ti próprio.
BRUNO RODRIGUES 00:27:05 Eu tenho que ter o controlo. Não acho que seja super perfeccionista no sentido de ter as coisas todas muito certinhas. Mas eu quando tô em cena tem que ter.
BRUNO RODRIGUES 00:27:15 Tenho que sentir que estou altamente. Encontrou e encontrou. Faz com que, mesmo nos imprevistos, eu tenho o imprevisto controlado. Se isto faz sentido e o.
JORGE CORREIA 00:27:24 Teu corpo não fica rígido com essa, não consegues fazê lo de forma natural.
BRUNO RODRIGUES 00:27:29 Mas também pode ter a ver com o meu próprio percurso do estudo da dança. Ele é meio meio atabalhoado, se calhar porque não é o percurso. O facto de eu ter começado aos 19 comecei logo na dança contemporânea. Não percebia absolutamente nada de dança e vou em Mafra, onde fui o primeiro rapaz a dançar com 19 anos, num ambiente familiar que não estava ligado à cultura. Também tens que combater isso.
JORGE CORREIA 00:27:58 E a tua família, Como é que reagiu?
BRUNO RODRIGUES 00:28:02 Isso era uma grande conversa.
JORGE CORREIA 00:28:04 Tu pensar que não nos olhamos.
BRUNO RODRIGUES 00:28:06 Foi um processo, eu acho, como acho que acho que é um processo. Estamos a falar completamente de porque.
JORGE CORREIA 00:28:13 Agora é fácil. Quer dizer, tu és.
BRUNO RODRIGUES 00:28:14 Agora e mais.
JORGE CORREIA 00:28:16 Famoso, tens sucesso, portanto provaste o teu ponto.
JORGE CORREIA 00:28:20 Já não há nenhuma, nenhuma discussão quando se calhar em Mafra, aos 19 anos, a malta dizia tu vai mas a tirar um curso, vai ter um emprego a sério. E a verdade é que.
BRUNO RODRIGUES 00:28:28 Eu terminei a engenharia Química. Mesmo estando a dançar. Eu senti que tinha que cumprir aquela obrigação para com os meus pais, para.
JORGE CORREIA 00:28:35 Ganhar espaço também.
BRUNO RODRIGUES 00:28:37 Também para ganhar espaço. Mas porque? Eu já tinha a certeza. E quer dizer, quando a minha mãe ouvir isto, eu já tinha a certeza é que é durante e durante alguns períodos. Eu comecei mesmo a deixar muito mais engenharia química para trás e a apostar muito mais na dança. E isso fez com que também tornou me. Eu comecei a gerir muito melhor o meu tempo. Como eu queria mesmo acabar a engenharia química e queria acabar aquilo rapidamente, porque eficiente e altamente eficiente.
JORGE CORREIA 00:29:07 Olha como é que foi o primeiro espetáculo, momento em que tu, a tua ti. Lá na plateia não estavam os ilustres anónimos, mas estavam os teus pais.
BRUNO RODRIGUES 00:29:18 E se por acaso eu tive extremo numa apresentação de escola na Vogue nesse ano, em dezembro, uma apresentação de Natal das próprias escolas. E na altura senti completamente que os meus pais não sabiam bem o que é que eu estava ali a fazer. Mas lembro me. Lembro me do primeiro espetáculo de todos, aquele que eu considero o dia em que me estreei a 3 de dezembro de 2003, no auditório da Culturgest. Vamos lá.
JORGE CORREIA 00:29:51 Como é que estava o teu estado de espírito?
BRUNO RODRIGUES 00:29:53 O meu estado de espírito estava em pânico. Eu estava em pânico. O Grande Auditório da Culturgest, em Lisboa. Aquilo era um espetáculo gigante, com imensa gente. Chamava se Singular e da Companhia da Amálgama, Companhia de dança que era, que era a companhia que tinha A direção estava sob a direção da minha professora de dança, onde eu tive a sorte completamente a sorte, porque fui me aproximando, fui entrando dentro da companhia, fui estando ali à mão e um mês antes um dos bailarinos não vai fazer a peça e eu estava ali e foi sorte.
BRUNO RODRIGUES 00:30:29 E estava ali. Estava ali tão perto. Porque não? Estreei me com bailarinos. Tinham acabado de sair do Conservatório da Escola Superior de Dança e eu era um miúdo completamente que vinha de uma escola de Mafra, a que fazia aulas de ballet porque não havia aulas para a minha idade, com crianças de seis, sete, 8 e 10 anos com criancinhas. Eles também começavam pela cintura. Como é que se.
JORGE CORREIA 00:30:51 Agarra esse touro pelos cornos?
BRUNO RODRIGUES 00:30:54 Tem que se agarrar. Eu não tinha outra hipótese. Eu não tinha outra hipótese. Quer dizer, eu aprendi as posições e isto é uma coisa mais estranha. Mas eu aprendi as posições do ballet. Comprei o livro da Anita, da Anita vai ao ballet. E foi através da Anita do ballet, quando diziam a primeira posição e a segunda posição que eu me lembrava das posições dos braços, as posições dos pés e aquilo. E a sede era tanta. Sabe aquela ideia, A vontade de ir ao pote? Há um provérbio qualquer relacionado com isso. Eu tinha realmente sede e sabia que tinha 19 anos na altura, ou 20 ou 21.
BRUNO RODRIGUES 00:31:28 Como eu não tinha muito tempo.
JORGE CORREIA 00:31:30 E ou vai ou racha.
BRUNO RODRIGUES 00:31:31 Era, foi mesmo. E aquele lugar, Aquele lugar. Quando entrei naquele estúdio, eu sabia que aquilo.
JORGE CORREIA 00:31:39 É quase um salto de fé. Tu no fundo diz assim eu nasci para isto e agora? Agora tenho que fazer, tenho que andar para fazer.
BRUNO RODRIGUES 00:31:46 Eu tinha a certeza que era aquilo.
JORGE CORREIA 00:31:48 E depois, no fim, como é que? Como é que foi a conversa com os teus, Com aqueles que te conhecem bem?
BRUNO RODRIGUES 00:31:54 Acho que foi uma conversa aos poucos. Acho que é uma. É uma questão de adaptação que demorou muito, demorou, demorou anos. Mesmo. Depois de eu fazer o técnico, eu nunca exerci. Comecei a que comecei a receber, a receber os meus ordenados através de sempre da dança e a dar aulas e a fazer as coisas todas. Mas é como se houvesse ainda, durante os primeiros anos, muito. Aquela ideia de mas sabes, se calhar ainda tens aqui este curso. Podes fazer algumas explicações de Matemática e Físico-Química.
BRUNO RODRIGUES 00:32:28 Foi ótimo, foi ótimo. Fez com que eu depois pudesse estar a dedicar me completamente a dança, então dava explicações cedíssimo e depois ia dançar. Mas havia sempre esta coisa aqui nesta voz da mãe que de repente olha, mas sabes que tens aqui esta mais segura.
JORGE CORREIA 00:32:40 Olha que se isso correr mal tens aqui um animal.
BRUNO RODRIGUES 00:32:42 Tens isto aqui.
JORGE CORREIA 00:32:43 Uma tábua para te agarrares.
BRUNO RODRIGUES 00:32:45 Agora esta distância não é que os anos já já se passaram, Acho que eram a de amor. Completamente.
JORGE CORREIA 00:32:53 Achas que era um aperto, um por baixo, uma mão como para te dar uma segurança, Dizer que por mais que isso possa correr mal, há sempre um caminho.
BRUNO RODRIGUES 00:33:02 Não sei, Acho que era, sabes? E porque há esta ideia sempre que há, que a cultura não é. É difícil e é. Mas que está cá é difícil, mas com imenso outros trabalhos, não é como imensos outros trabalhos. Quer dizer, nós trabalhamos a recibos verdes como imensas outras pessoas, mas se ainda por cima tu estás num meio que não é o meio da cultura, como é o caso da minha família, não é? Ai esse, esse monstro é um bocadinho maior.
JORGE CORREIA 00:33:33 E está mais longe.
BRUNO RODRIGUES 00:33:35 Está muito mais longe. E depois? E depois tudo. Todas as pessoas querem os melhores, querem o melhor para os seus filhos, portanto.
JORGE CORREIA 00:33:41 Achas que era um conselho benigno? No fundo era um ato de proteção?
BRUNO RODRIGUES 00:33:45 Acho que sim. Acho que era um ato, um ato de proteção, que depois que se foi, que foi desaparecendo. Se calhar houve uma altura que. E se essa vozinha aparecesse cá todos os dias? Pois é de semana a semana, pois é tipo mês a mês, pois lá de vez em quando e agora já não existe.
JORGE CORREIA 00:33:59 Já não existe. Olha, tu trabalhas com como coreógrafo, com com profissionais, mas depois também dando aulas e imagino, com muitos jovens potenciais bailarinos e e atores do futuro. Como é que é esta gente? Como é que, como é que está o potencial desta gente? Como é que vemos agora as escolas de dança? Em vários sítios as coisas começam a funcionar. Como é que? Como é que tu vês esta nova geração?
BRUNO RODRIGUES 00:34:26 Eu gosto imenso.
BRUNO RODRIGUES 00:34:28 Sabes que eu tenho, que eu gosto muito mais de dar workshops e formações de curta duração.
JORGE CORREIA 00:34:34 Menos do que do que menos do que.
BRUNO RODRIGUES 00:34:36 Sim, menos do que estar a dar. Aliás, nos últimos anos até me afastei muito do ensino prolongado um ano lectivo inteiro. Acho que não sou bom nisso.
JORGE CORREIA 00:34:46 Porque te cansa.
BRUNO RODRIGUES 00:34:48 Porque é uma grande responsabilidade, porque é uma responsabilidade exagerada para mim, porque para mim talvez seja um problema nosso e não uma característica minha. Mas a partir do momento em que eu tenho a responsabilidade de um ano letivo com um jovem, não é como uma turma de jovens. É como se eu tivesse uma responsabilidade lhes dar determinada técnica, determinadas coisas e isso eu começo a sentir que começa a me castrar imenso.
JORGE CORREIA 00:35:12 E num workshop tu consegues no fundo fazer florescer aquela pessoa, porque é uma coisa que acontece ali naquele momento e depois acaba.
BRUNO RODRIGUES 00:35:18 Consigo lhe dar uma experiência, consigo lhe partilhar a minha experiência ao partilhar ou ir trabalhar mais com ela, ir mais a fundo, sentar sem ter que estar depois a ir.
BRUNO RODRIGUES 00:35:31 A técnica, a técnica. Às vezes, pelo menos é um problema que eu tenho, talvez que de repente eu oiço a palavra técnica e para estou castrar imenso. Apesar de achar que a técnica é super importante, é a formação. E foi a melhor coisa que eu fiz foi ter apostado, ter ir para a Escola Superior de dança, ter ido buscar formação mesmo que fosse muito tarde, toda muito em cima da outra e fazeres cursos da Escola Superior de Dança ao mesmo tempo. Depois ia fazer mais uns workshops. Tudo a correr a formação date date linguagens. É engraçado que esta história de uma biblioteca eu acho muito com o nosso corpo. É como se fosse uma biblioteca gigante.
JORGE CORREIA 00:36:10 E as letras já lá estão todas. E os livros ou não, não te vais.
BRUNO RODRIGUES 00:36:13 Pondo sempre, todos os dias tu podes lá por livros novos.
JORGE CORREIA 00:36:16 Vais encontrando e vais fazendo.
BRUNO RODRIGUES 00:36:17 E vais pondo e vais buscando coisas novas.
JORGE CORREIA 00:36:20 É curioso porque quando tive a oportunidade de fazer, olha lá está um workshop durante um dia, não aquilo que é na realidade um encontro para para, para para aproximar as pessoas da equipa.
JORGE CORREIA 00:36:34 E lembro me de tu teres dito vamos experimentar coisas, vamos mexer nos Todos temos uma biblioteca de movimentos, mas durante este dia a maneira como nos vamos mexer, cada um de nós encontrará movimentos novos que estão lá dentro e que nós nem sonhávamos que existiam.
BRUNO RODRIGUES 00:36:51 Porque é isso que nos acontece. Nós temos tantas possibilidades, Infinitas possibilidades e parece que vamos sempre buscar as mesmas coisas. E eu acho que é isso. Pegando aqui na ponta, é quase como se fosse para mim que eu seja ciente da técnica ou quando eu quando eu tenho essa obrigação. O meu problema ali é a questão da obrigação de funcionar com uma técnica e depois ter que avaliar isso é.
JORGE CORREIA 00:37:13 Que te chateia.
BRUNO RODRIGUES 00:37:14 Isso sim.
JORGE CORREIA 00:37:15 Então, mas.
BRUNO RODRIGUES 00:37:16 É por isso eu tenho que eu faço formações curtas ou um semestre ou alguns meses assim, que me dá que trabalho muito mais na área da improvisação ou da criação. Ao promover a criação destes jovens e no caso dos adultos. E mesmo isso quer dizer quando eu conto orientar ações ou aulas para o público adulto e buscar essas experiências e este movimento, sendo que.
JORGE CORREIA 00:37:44 Nós, lá está, os adultos já estamos perros, já temos essa biblioteca que repetimos.
BRUNO RODRIGUES 00:37:48 Vamos usar, vamos usar esse lado de perro e vamos procurar outras coisas. E é o que acontece. Aconteça.
JORGE CORREIA 00:37:53 E nunca ficar só. Olhar para alguém e dizer assim esta pessoa definitivamente não esta, esta, esta e que não tem nenhuma capacidade de fazer nada.
BRUNO RODRIGUES 00:38:00 Não, não é engraçado porque hoje, no ensaio da manhã. Eu de repente também estava a ir por um caminho e pensei o que é que relaxa lá e vai parar E observa o que é que está a passar.
JORGE CORREIA 00:38:14 Até porque tu és exigente, portanto imagino que cobre muito das pessoas que estão.
BRUNO RODRIGUES 00:38:18 A cobra e de mim.
JORGE CORREIA 00:38:19 De ti próprio.
BRUNO RODRIGUES 00:38:20 Sim, muito mais do que as dos outros.
JORGE CORREIA 00:38:21 Tens um, tens um perdão, um maior.
BRUNO RODRIGUES 00:38:24 Tenho, tenho. Eu só não tenho perdão se sentir que as pessoas não estão. Não, não estão a aplicar, não estão implicadas.
JORGE CORREIA 00:38:31 Não são honestas.
BRUNO RODRIGUES 00:38:33 Sim.
JORGE CORREIA 00:38:34 É essa a palavra. E olha, é o contrário que tu subitamente descobres, falas, relacionas, danças, treinas alguém que nem tinha percebido que, como tu, aos 19 anos nasceu para dançar e que e que tem Sinais prodigiosos desse movimento do corpo.
BRUNO RODRIGUES 00:38:57 Sabes que isso já me aconteceu e é lindo. Já aconteceu por pelo -2 que dois casos ou três eventualmente que que eu que eu sei. São três pessoas com as quais me cruzei em fases completamente diferentes. Há, aliás, duas delas no mesmo no mesmo projecto um um espetáculo que eu tive que interpretava da Dandara. Bizarro O baile. Com música, Com música tocada ao vivo do Artur Fernandes. Esse espetáculo teve. Nós fizemos o espetáculo durante dez anos e eu trabalhava com a comunidade também. E durante esses dez anos há pelo -2 casos que que eu me lembro de pessoas que se aproximaram da dança e uma delas depois até entretanto, fez algumas audições ou uma ou duas em processos onde eu estava também. E neste momento é uma das bailarinas da morte do Corvo.
JORGE CORREIA 00:39:54 É uma epifania ver esse momento.
BRUNO RODRIGUES 00:39:58 É bom e é ótimo. E porque? Porque tu fazes? Lá está, o que tu fazes é a tua forma de intervir no mundo.
JORGE CORREIA 00:40:07 O que é que tem de especial? Um grande bailarino e uma grande bailarina para além da técnica?
BRUNO RODRIGUES 00:40:13 Mas o que é que tem de especial?
JORGE CORREIA 00:40:15 Tem que haver uma pergunta difícil qualquer.
BRUNO RODRIGUES 00:40:21 Tem que ser verdadeiro. Eu acho que a única hipótese é esse. O ponto eu acho que é.
JORGE CORREIA 00:40:27 Olha, nós combinamos esta conversa a uma determinada hora e tu disseste Eu venho do outro lado da cidade, vamos ver se eu consigo chegar a tempo. Chegaste até chegaste bem cedo e eu estava aqui a pensar assim que raio esta coisa do movimento das cidades, o trânsito que nos aborrece a todos, os encontrões no metro, no autocarro ou no supermercado onde for, há um movimento das cidades e dos sítios para alguém como tu que trabalha o movimento. Como é que tu vês o movimento? Isto. Isto é uma coisa que tu, que tu usas, este Nós agora estamos aqui a conversar num espaço grande, onde onde não nos tocamos, estamos à distância, lá está. Mas noutras alturas estamos em sítios muito apertados onde nos cuidado com a minha bolha. No fundo é um bocadinho esta tudo. Faço uma observação deste nosso movimento.
BRUNO RODRIGUES 00:41:14 Eu gosto muito de observar espaços grandes, cheios de pessoas. O que é que tu vês? Vejo imensas coreografias ali.
BRUNO RODRIGUES 00:41:23 É incrível porque a velocidade com que as pessoas vão, a rapidez, uns que param os outros que avança, os os que têm que de repente virar para o lado porque aquele parou. Há uma coreografia na tudo que é uma praça, uma saída de metro, aquela confusão toda é como é que, como é que isto? Nós todos temos essa capacidade de nos organizarmos sem andarmos aos encontrões. Pois há uns mais distraídos. Há pessoas realmente muito distraídas a andar. E também nos irrita um bocadinho a todos porque é só levantar os olhos. Mas até isso, se nós as vezes pensarmos de algumas pessoas que nos deparamos, há um jogo de forças. Na maior parte dos encontrões. Muitas vezes as pessoas até já se observaram e há aquele jogo de vamos ver quem é que se desvia primeiro. Só que aquilo é levado ao limite e depois.
JORGE CORREIA 00:42:17 Não entram.
BRUNO RODRIGUES 00:42:18 Porque ninguém se desviou, porque pronto. Mas é aquela coisa de macho alfa. Vamos lá ver agora quem é que. Mas estas praças foi sempre algo que me fascinou.
BRUNO RODRIGUES 00:42:27 E o movimento, o movimento quotidiano é algo que também muito interessante. As pequenas coisas que todos nós fazemos ou as maneiras que nós fazemos as coisas, como.
JORGE CORREIA 00:42:38 Nos levantamos, como nos sentamos, como olhamos, como levantamos a cabeça, como andamos de cabeça baixa.
BRUNO RODRIGUES 00:42:43 Uma das primeiras peças que eu fiz ainda na altura de que estava a estudar para a Escola Superior de Dança, que se chamava 11 minutos e 11 minutos. Era o tempo que eu demorava desde desde o Campo Grande até à estação do Rato de Metro. Pronto, era esse o caminho e a peça em si foi criada e vive só dos movimentos quotidianos das pessoas que passavam por mim no metro. Pareceu durante não sei quanto tempo, já observava e registava os movimentos das pessoas que estavam sentadas. Eu não me mexia porque eu colocava na minha posição e era o que passava por mim durante aqueles 11 minutos e depois chegava ao estúdio e reproduzia para para me lembrar daquilo. E a peça é toda criada com base. Exatamente. Criava se.
JORGE CORREIA 00:43:26 Uma memória de movimento.
BRUNO RODRIGUES 00:43:27 Sim, do.
JORGE CORREIA 00:43:28 Próprio repetir aqueles movimentos.
BRUNO RODRIGUES 00:43:30 E repetia depois os movimentos e depois e depois fui criando as relações, porque depois há esta possibilidade. Não é que quando estás a observar uma praça ou um terreiro podes fazer imensas Essas histórias é super divertido. Tu podes imaginar imensas relações entre aquelas pessoas a ver.
JORGE CORREIA 00:43:47 Olha, está ali aquele senhor com aquele ar.
BRUNO RODRIGUES 00:43:49 De olha, o que é que lhe aconteceu, Porque é que ele está a andar assim? É super interessante e é isso que eu começo a sentir. A gente também nos falta um bocado, que é o tempo de observarmos, o de olharmos de uma coisa que eu estou a tentar. Estou a tentar mudar o meu discurso. Uso muito a ideia de usar os olhos para ver, porque acho que é importante nos lembrarmos disso, usarmos os nossos olhos para ver. Então e.
JORGE CORREIA 00:44:14 Agora? Usas o quê?
BRUNO RODRIGUES 00:44:15 Agora uso observar e vou te contar porque é que uso a palavra observar mais do que mais que primeiro. Acho que te implica muito mais no próprio processo do que só ver as te implica a palavra.
BRUNO RODRIGUES 00:44:26 A ideia de observar alguma coisa. Estás muito mais implicado, estás mais atento, está.
JORGE CORREIA 00:44:30 Lá dentro do processo.
BRUNO RODRIGUES 00:44:32 Tens que estar mais disponível para isso. E depois há e foi explicar porque é que também corrige isso. E depois a razão porque há algo que eu corrigi isso foi eu estava na altura, estava. Estava a dar uma aula dentro da companhia e tinha e estava uma das bailarinas, uma das bailarinas cegas da companhia e apesar de usar várias vezes a palavra vez, não vês que sem qualquer tipo de questão dentro da companhia, comecei a pensar num interesse em particular. Comecei a pensar que não estava a ser, não estava a ser correcto, a continuar a fazer aquele exercício, a dizer vamos, vamos ver isto ou vamos ver.
JORGE CORREIA 00:45:06 Aquilo estava a ser de alguma maneira discriminatório, sem sem pensar sobre isso. Não sei se estava a ser.
BRUNO RODRIGUES 00:45:11 Não, não nisso. Não, não, não, não acho isso. Não, não acho. Mesmo porque há uma confiança tão grande dentro de dentro da própria companhia ou com esta pessoa que aquilo.
JORGE CORREIA 00:45:22 Nunca seria uma agressão.
BRUNO RODRIGUES 00:45:23 Não, não é agressão nenhuma. Eu posso, da mesma forma como eu posso estar a trabalhar com um intérprete que está em cadeira de rodas e eu dizer que sente a tua verticalidade e estou a dizer sente a tua verticalidade agora, qual é que é a tua verticalidade, não é? Eu estou sentado numa cadeira agora eu posso ter uma verticalidade na cadeira. Eu não tenho que estar a limitar o meu discurso. Então o que é que te preocupou nessa? Preocupou? Foi porque eu estava a achar que estava a focar demasiado na palavra, ver o próprio exercício. E então comecei a procurar o que eu achava que fazia mais sentido. E então tenho estado. É uma coisa muito recente.
JORGE CORREIA 00:45:58 Estás a reequilibrar te?
BRUNO RODRIGUES 00:45:59 Estou, mas eu faço isso algumas vezes. Como? Sei lá. Por exemplo. Eu uso imenso. Uso muito também a ideia de incorporar o movimento do outro e não copiares o movimento do outro.
JORGE CORREIA 00:46:11 Então como é que é isso?
BRUNO RODRIGUES 00:46:13 Porque a partir do momento tu pensas na palavra incorporar.
JORGE CORREIA 00:46:16 É mais positiva.
BRUNO RODRIGUES 00:46:17 Tu estás a passar para o teu corpo, é teu e teu.
JORGE CORREIA 00:46:20 Não é uma cópia. Lá está, isso não é um espelho e passa.
BRUNO RODRIGUES 00:46:23 A ser tu. É teu, é teu. Tu estás a roubar o que é ótimo roubar o movimento do outro. Eu não gosto da.
JORGE CORREIA 00:46:28 Palavra.
BRUNO RODRIGUES 00:46:29 Roubar.
JORGE CORREIA 00:46:29 Gosto mais de inspirar. Gosto mais de. De entender que gosto mais de beber. Sobre. Mas isso pode ser o roubar é uma palavra terrível.
BRUNO RODRIGUES 00:46:39 Pois sabes que naquela ideia mesmo tu estares a observar, é uma.
JORGE CORREIA 00:46:43 Apropriação e.
BRUNO RODRIGUES 00:46:44 Uma apropriação, mas tu.
JORGE CORREIA 00:46:45 Proprias e depois devolves.
BRUNO RODRIGUES 00:46:48 Não. Imagina se tudo tivesse o seu agora estivesse aqui a absorver o teu, o teu próprio movimento. Não é que estás aqui, mas uma cópia. Ok, eu estou a absorver isto e eu estou a passá lo para o meu corpo. Eu não estou realmente a corrigir. Eu não estou a copiar todos os pormenores. Não é essa a minha preocupação fazer.
JORGE CORREIA 00:47:07 Em ti um movimento que o que eu faço.
BRUNO RODRIGUES 00:47:10 É. Por isso eu estou a passá lo para mim. E se voltarmos à ideia da biblioteca, eu estou a adicionar este livro à minha biblioteca de movimentos que não estava ainda aqui e agora já está. Já posso ir lá buscar. Quer este?
JORGE CORREIA 00:47:18 Olha, tu trabalhas e trabalhas muito com crianças com necessidades especiais. Lá está, com bibliotecas de movimento, algumas com limitações naturais. Como é que é isto? Quão desafiante é trabalhar com estas, com estas crianças que precisam de coisas se calhar diferentes, ou pelo menos fora da norma.
BRUNO RODRIGUES 00:47:39 Trabalho com crianças e com adultos também. Sim, por isso eu estou no trabalho. Aliás, eu estreei me num espetáculo de dança, o primeiro espetáculo de 2003. É um espetáculo de dança inclusiva que acontece por acaso. Por acaso eu fui lá parar e o meu percurso de repente tem muito destas coisas, dos próprios acasos e precisa estar disponível. E as coisas onde acontecer. Ou estás no sítio e tens muita sorte. Também faz falta também e preciso de ajuda. E eu estou a trabalhar com a cinco Companhia de Dança desde 2010 e comecei como interno.
BRUNO RODRIGUES 00:48:12 Depois foi, fui, fui lá ficando, fui dando aulas, fui entre duas shops e faço a coordenação e a coordenação artística agora. E é uma descoberta. Vou te só. Vou só corrigir porque acho que é importante nós irmos a irmos corrigindo estas pequenas coisas. Não são necessidades especiais e vou te explicar porquê. São cidades específicas. Um. porque há um problema que é com os termos e eu erra imenso nos termos também porque os termos mudam tantas vezes que para isso, quando tens boas relações e estás de coração aberto, não há problema nenhum em te enganares nos termos porque não estás a tentar ser politicamente correcto.
JORGE CORREIA 00:48:49 Esse é o ponto, não é?
BRUNO RODRIGUES 00:48:50 Eu acho que esse é o ponto em tudo, em tudo e que faz muito sentido nós pensarmos nesta questão. E depois já vou lá.
JORGE CORREIA 00:48:57 Então, em que necessidades específicas é que têm estas pessoas?
BRUNO RODRIGUES 00:49:02 Eu trabalho dentro da companhia. Nós temos pessoas cegas, pessoas com paralisia cerebral, deficiência cognitiva, espectro do autismo, surdas, pessoas surdas. Isto é mais ou menos o leque de intérpretes que de características auditivos com estas características que existem dentro está dentro da companhia e são pessoas que querem dançar acima de tudo, são pessoas que querem dançar e que podem fazer.
BRUNO RODRIGUES 00:49:31 Algumas delas fazem da sua vida. A dança tem os seus ensaios, fazem os seus espetáculos nacionais e internacionais, as turnês, o que for. Para mim, o que é trabalhar aqui? É um potencial gigante para um coreógrafo e um potencial gigante, um bailarino e um potencial gigante para um coreógrafo. Tu nunca vais ter, por melhor que seja o bailarino, melhor que seja bailarino não te vai dar a característica daquela pessoa característica de movimento que tem determinada pessoa. Uma pessoa com paralisia cerebral tem imensos movimentos involuntários. Pronto. Obviamente que depende. Depois de uma série de outras coisas.
JORGE CORREIA 00:50:15 É como se fosse uma assinatura de movimento, uma assinatura.
BRUNO RODRIGUES 00:50:17 Digital que nós todos também temos. Nós também temos, não é? Mas ali há uma riqueza no movimento ou há uma riqueza na deficiência intelectual, alguma riqueza às vezes no universo no universo daquela pessoa, porque nalgumas pessoas há tanto esta coisa, o filtro é diferente. E então a proposta que te dá para este lado é uma proposta diferente. E é tão rica.
BRUNO RODRIGUES 00:50:45 E o que tu fazes para isso?
JORGE CORREIA 00:50:46 Como é que? Como é que tu aproveitas isso?
BRUNO RODRIGUES 00:50:48 Aproveite. Aproveite! Coreográfica, mente coreográfica, mente exatamente igual.
JORGE CORREIA 00:50:55 Se estas pessoas fazem isto desta maneira, tu vais absorvê las.
BRUNO RODRIGUES 00:50:58 É como faço, como faço Se estiver a dirigir para mim o trabalho de direção coreográfica de um grupo de bailarinos normativos ou de um grupo de bailarinos com deficiência, ou de um grupo misto ou de uma comunidade, É exatamente a mesma coisa, porque eu trabalho com as pessoas estão a minha frente e a partir do momento tu estás a trabalhar com as pessoas que estão a tua frente. Tu lanças para lá coisas e recebes e vais trabalhar com o que tu recebeste e mandas outra vez. E para mim, esta é a riqueza do processo criativo.
JORGE CORREIA 00:51:25 Do processo criativo. Na realidade, é um processo relacional e não um processo de execução de.
BRUNO RODRIGUES 00:51:29 Coisas é muito relacional. Para mim, altamente relacional, não é. Para mim não é nada discussão. Não sou capaz de imaginar entrar no ensaio pela primeira vez e passar movimento.
BRUNO RODRIGUES 00:51:43 Não sou, não, Não me faz sentido. Eu passo ambientes, passo características, passo me. Mas tudo o que aqui é o meu imaginário, a pesquisa toda que fiz e depois aquelas pessoas que eu escolhi para estarem ali à minha frente, para trabalharem comigo naquele processo, naquele caminho. É com essas pessoas que eu vou trabalhar.
JORGE CORREIA 00:52:04 Bruno Vamos fechar. Qual é o gesto perfeito? O mais comunicativo, O que careça de palavras para poder dizer tudo?
BRUNO RODRIGUES 00:52:19 É olhar nos olhos do outro.
JORGE CORREIA 00:52:23 O gesto mais profundo que existe é esse.
BRUNO RODRIGUES 00:52:25 Eu acho que é a tu te Deleitar se na entrega de um olhar.
JORGE CORREIA 00:52:30 De olhos nos olhos, de mão na mão, num compasso certo de pés que seguem no movimento síncrono. Isto nas danças a dois. Mas depois há também aqueles grupos que dançam num concerto todos juntos. Ou então aquele que dança sozinho na praia, sem música, apenas ao ritmo dos pensamentos. E tudo se move, tudo dança, até os planetas à volta do sol ou do sentir ao ritmo dos batimentos do coração, o ritmo primordial da dança da vida.
JORGE CORREIA 00:53:01 Até para a semana.
O gesto é tudo. Ou quase tudo.
No mundo onde o silêncio quase absoluto reina é o gesto que nos liga.
Nesta edição falamos, ouvimos e gesticulamos.
Um mergulho no mundo na língua que as pessoas surdas usam para ouvir e falar. A língua gestual portuguesa.
Em cima de um palco, no cantinho da nossa televisão, numa aula na escola, numa consulta médica ou a responder num tribunal.
A vida dos intérpretes de língua gestual portuguesa é uma correria entre todos os lugares do país onde alguém que não ouve, não aprendeu falar ou até a ler e escrever, precisa de entender o mundo.
Conheci a Sofia Fernandes em cima do palco no auditório do IPO do Porto. Ela traduzia o que os vários participantes do evento diziam.
A rapidez do gesto é fascinante. Não só das mãos.
Todo o corpo participa. Gestos nos dedos, braços, ombros e a cara.
Sim, as expressões faciais estão sempre a dizer qualquer coisa.
A dizer o espanto, a dizer a alegria, a sofrer a tristeza.
Naquele palco ouvi-a depois falar de viva voz.
Da maneira como ajuda a comunidade das pessoas surdas a comunicar. A ouvir, se é que posso usar esta palavra, e a dizer o que quer. E o que ouvi não podia ficar só ali. Tinha de o partilhar convosco.
Esta conversa é sobre comunicação. Todas as conversas do Pergunta Simples são sobre comunicação. Mas esta tem um nível de complexidade difícil de entender para quem ouve. Para os ouvintes regulares do ‘podcast’.
Mas neste caso o programa não tem só áudio, ou vídeo, com legendas. Neste caso este episódio está também traduzido em lingua gestual graças à generosidade da Sofia. Pode ser visto em www.perguntasimples.com e nos YouTube desta vida.
Portanto, não só veio contar tudo o que sabe, como, no fim ainda teve de trabalhar.
Eu disse generosidade? Acrescento uma palavra: torrencial.
E eu aprendi como se diz com um só gesto a mais bela palavra do mundo
A interpretação é muito mais do que traduzir palavras. Entendi que a língua gestual portuguesa não pode ser feita palavra por palavra porque é uma língua com gramática própria e ‘nuances’ específicas. O trabalho do intérprete é captar o sentido e adaptar o que está a ser dito, principalmente em temas complexos ou pouco familiares.
Adaptar-se ao momento é essencial. Percebi que, em interpretações ao vivo, como num telejornal, o intérprete precisa de uma grande agilidade para adaptar o contexto e corrigir interpretações, quando necessário. Sofia explicou que, ao não perceber uma palavra ou perder uma parte da conversa, procura “proteger-se” e transmitir algo literal até conseguir encaixar o contexto completo.
A carga emocional nas interpretações delicadas. Nas consultas médicas ou em audiências judiciais, o intérprete é obrigado a usar a primeira pessoa, dizendo “eu”. Esta proximidade com a situação pode ser emocionalmente exigente, especialmente ao lidar com histórias de dor ou sofrimento.
A acessibilidade continua a ser uma grande barreira. A falta de intérpretes e de recursos acessíveis é evidente, e Sofia sublinhou a dependência que muitas pessoas surdas têm de amigos e conhecidos para fazer coisas simples, como ir ao médico ou tratar de assuntos burocráticos.
Conhecer o contexto é chave. Quanto mais o intérprete entende o contexto, melhor consegue interpretar com fidelidade. Por exemplo, Sofia menciona como recorre a amigos surdos para confirmar se usa os gestos mais adequados, tornando a interpretação mais rica e natural.
O impacto emocional e cultural do seu trabalho. A experiência de Sofia a interpretar um hino no estádio do Dragão revelou como momentos de grande visibilidade têm um impacto emocional e fortalecem a cultura surda. Percebi que a presença de intérpretes em momentos públicos dá poder à comunidade e fortalece a sua identidade.
A língua gestual portuguesa é uma língua própria, não uma “linguagem”. Aprendi que há uma diferença entre língua e linguagem: enquanto a linguagem gestual é mais universal, a língua gestual portuguesa é uma língua completa, com gramática e evolução cultural.
Apoiar a comunidade surda vai além do trabalho. Sofia mostrou-me que ser intérprete não é só uma profissão, é também um compromisso com a comunidade surda. Ela ajuda os seus amigos surdos no dia a dia, seja numa urgência médica, seja numa situação burocrática. Esse apoio contínuo é essencial para a inclusão.
Ainda há resistências nos serviços públicos e escolas. Sofia mencionou que enfrenta resistência ao interpretar em hospitais e escolas, pois nem todos entendem o papel do intérprete como facilitador da comunicação e, muitas vezes, veem-no como uma “ameaça”.
Dedicação e formação contínua são indispensáveis. Percebi que ser um bom intérprete não se limita à habilidade técnica; é preciso ter empatia, ser dedicado e estar disposto a evoluir constantemente. A interpretação exige o domínio da cultura surda e o compromisso de servir como ponte de comunicação.
Essas aprendizagens mostram-me o valor da interpretação na comunicação acessível e como ela é fundamental para promover uma sociedade mais inclusiva e justa.
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Hoje é dia de falar de saúde, máquinas inteligentes e líderes inspirados.
Para o caso d ainda não terem notado as máquinas que falam connosco como se fossem humanas estão a invadir o nosso dia-a-dia.
Seja numa página de ‘internet’, na relação com o nosso banco ou com uma qualquer empresa que nos fornece um serviço.
Estes robôs são programados para serem simpáticos, perguntam muitas coisas e querem que carreguemos vezes infinitas em números no telemóvel ou que respondamos a mil perguntas.
E lá vamos andando.
São ainda bastante básicos e eu, confesso, quando fico sem paciência, repito para a máquina “quero falar com um ser humano.”
Ora esses robôs estão também aparecer na área da saúde.
E além deles há outros bastante mais espertos que conseguem organizar gigantescas quantidades de dados e até chegar a melhores conclusões que os humanos. Mas já la vamos.
Este é um episódio com Ricardo Baptista Leite, um jovem médico português que integra a lista da Fundação Obama dos mais promissores líderes mundiais do futuro.
Todos o conhecemos pelo seu percurso na política, mas agora trabalha no desenvolvimento e regulação da chamada “inteligência artificial”. Em particular na área da saúde.
A tecnologia acelera e a dita “inteligência artificial” carrega algumas das mais interessantes promessas de que o mundo será melhor. Ainda com alguns pontos de interrogação, mas já com um vislumbre do que pode ser o futuro onde homem e máquina se fundem para funcionar melhor.
Será o advento de uma nova espécie humana? Do homem biónico ou apenas do homem assistido pelas máquinas?
Já para não pensar na assustadora ideia onde as máquinas passam a controlar tudo ao arrepio da decisão humana.
Ricardo Baptista Leite traz-nos uma visão muito interessante sobre como a tecnologia pode transformar a nossa forma de viver e, sobretudo, o nosso sistema de saúde. Ele acredita que a inteligência artificial não é só mais uma moda, mas algo que pode realmente fazer a diferença na forma como diagnosticamos e tratamos doenças.
amos falar de como as máquinas, em algumas áreas, já superam os médicos humanos na precisão e na rapidez dos diagnósticos, como na radiologia.
E, ao mesmo tempo, exploremos os riscos. Será que esta tecnologia acabará por beneficiar apenas um pequeno grupo de pessoas, deixando muitos de fora?
Na conversa falamos sobre a necessidade de mudarmos ou adaptarmos o nosso sistema de saúde. Ele acredita que trabalhamos reativamente, ou seja, a tratar a doença depois de ela aparecer, que é preciso uma viragem para um modelo mais proativo, focado na prevenção e na promoção da saúde.
E sabem o que é curioso? O Ricardo acha que a inteligência artificial, se usada corretamente, pode ser a chave para essa mudança.
Mas a nossa conversa não se fica apenas pela tecnologia. A empatia é outro tema importante que abordámos. Sabiam que, num estudo recente, os assistentes virtuais, os robôs, os chatbots, foram considerados mais empáticos que os próprios médicos?
Sim, máquinas a mostrar mais empatia que humanos!
Isso diz muito mais de nós humanos do que da habilidade das máquinas.
Durante esta hora de conversa falámos muito sobre o futuro. Como ele vê a evolução dos cuidados de saúde com a introdução de tecnologias avançadas como a inteligência artificial?
E o mais importante, como garantimos que essas inovações são usadas de forma ética e justa,
Nomeação para a Fundação Obama
• Ricardo Batista Leite foi reconhecido como um dos futuros líderes pela Fundação Obama, integrando um grupo que aposta em mudanças sociais a partir das comunidades locais.
De político a especialista em inteligência artificial
• Ricardo Batista Leite fez uma transição da política para a área da inteligência artificial, explicando o potencial revolucionário desta tecnologia no setor da saúde.
A promessa da tecnologia
• Abordámos como grandes inovações tecnológicas nem sempre trazem benefícios para todos. Será que a inteligência artificial seguirá esse mesmo caminho?
Reformar o sistema de saúde
• Ricardo Batista Leite defende que é necessário transformar o sistema de saúde, passando de um modelo reativo, focado na doença, para um modelo preventivo e promotor da saúde.
O trabalho na Agência Global de Inteligência Artificial Responsável
• A missão de Ricardo Batista Leite na Agência Global é garantir que a inteligência artificial seja implementada de forma segura e inclusiva, trazendo benefícios para todos os cidadãos.
Privacidade e cibersegurança na saúde
• Com o avanço da inteligência artificial, surgem também desafios relacionados com a proteção de dados de saúde. Ricardo Batista Leite discute os riscos e as medidas necessárias para garantir a segurança digital.
Portugal como hub de inovação na saúde
• Ricardo Batista Leite vê Portugal como um potencial laboratório para novas tecnologias na saúde, atraindo investimentos e criando oportunidades no setor.
O poder da empatia no sistema de saúde
• A empatia e o humanismo são fundamentais nos cuidados de saúde, melhorando tanto a satisfação dos pacientes quanto os resultados clínicos. Ricardo Batista Leite explora esta questão em detalhe.
Voluntariado na guerra da Ucrânia
• A experiência de Ricardo Batista Leite como voluntário na Ucrânia, onde testemunhou o esforço para manter o sistema de saúde a funcionar em plena guerra.
Superutilização das urgências em Portugal
• Por que tantos portugueses recorrem às urgências hospitalares? Ricardo Batista Leite reflete sobre esta tendência e o que pode ser feito para mudar a perceção pública.
Inteligência artificial e diagnósticos médicos
• A inteligência artificial já supera o ser humano em áreas como a radiologia, mas Ricardo Batista Leite argumenta que a combinação entre máquina e humano é a chave para o futuro dos diagnósticos.
Máquinas mais empáticas que humanos?
• Um estudo revelou que, em termos de empatia, os assistentes virtuais foram avaliados como mais humanos do que os próprios médicos. Ricardo Batista Leite reflete sobre esta tendência preocupante.
Dilemas éticos da inteligência artificial
• Discutimos os dilemas morais que surgem quando uma inteligência artificial comete erros incompreensíveis. Ricardo Batista Leite defende que o ser humano deve sempre estar no circuito decisório.
Um sistema de saúde mais digitalizado
• Ricardo Batista Leite imagina um futuro onde a inteligência artificial gere consultas, diagnósticos e tratamentos, simplificando processos e reduzindo a burocracia.
Lições da pandemia
• Durante a pandemia de COVID-19, Ricardo Batista Leite regressou ao hospital para trabalhar na urgência, o que lhe deu uma perspetiva privilegiada sobre os desafios do sistema de saúde.
Voluntariado e a experiência na Ucrânia
• Ricardo Batista Leite partilha a sua experiência de voluntariado num hospital da Ucrânia, onde viu de perto os efeitos devastadores da guerra e a resiliência da população.
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Falar bem português e escrever em bom português é absolutamente crítico para comunicar na nossa língua.
E sim, calhou-nos uma língua complexa na rifa, difícil, cheia de palavras e regras.
Algumas até de difícil compreensão ou mesmo aparentemente contraditórias.
Deixem-me dar-vos o exemplo das vírgulas. Onde se põem as vírgulas.
Das várias fontes que consultei há, em princípio, 4 regras principais.
Mas depois são afinal 11 que até podem ser 15.
Se alguém tem outro número queira mandar uma mensagem ou deixar um comentário.
Mas o exemplo das vírgulas é tão fascinante que até há uma regra opcional.
Leio no ciberdúvidas que a frase ‘Depois, vamos sair para jantar.’ pode ter essa vírgula, ou, simplesmente, se quiser dar mais ritmo à frase, pode escrever sem vírgula ‘Depois vamos sair para jantar.’
Esta é conversa sobre línguas, sobre pontuações e até sobre palavrões.
Que são umas palavras muito especiais.
Cada língua leva dentro de si a cultura de um povo.
Mas não só.
Sim o poeta Fernando Pessoa disse:
“Minha Pátria é minha língua.” Mas a frase continua assim:
“Pouco se me dá que Portugal seja invadido, desde que não mexam comigo.”
Dificilmente encontramos uma frase que nos defina melhor, ao longo da história.
Volto às línguas.
Elas não são actos de cultura e comunicação.
Foram nascidas e talhadas como arma política.
Os franceses não falavam francês. Os italianos também não falavam a língua com que os ouvimos hoje descrever as mais belas coisas do mundo.
E as palavras tem significados literais e simbólicos.
São as chamadas expressões idiomáticas.
O “prego” italiano não é para pregar tábuas nem pregar aos peixes. Será o nosso “de nada”
E o “Raconter de salades” não é contar saladas, mas sim “contar uma história.”
E a história tem muito peso nesta coisa das línguas.
Porque a língua foi um instrumento político de unificação de um estado.
E, portanto, imposto ao povo. Muitas vezes usando o fio da espada.
Com esse conceito da língua enquanto norma, levamos todos com a mil regras a cumprir. Mas as línguas continuam vivas, recebendo influências das outras ou dos nossos brilhantes pontapés na gramática.
Se o pontapé for numa pedra, com força, e de pé descalço, então também recorremos à língua. Usando os palavrões. Palavras escondidas no subsolo do nosso cérebro.
São tabu, mas aliviam as dores.
As palavras contam.
As que dizemos. As que alguém entendeu, ou desentendeu.
Há palavras de que gosto.
Pode ser pelo significado ou pode ser, simplesmente, pelo som que se produz ao dizê-la.
A minha palavra preferida é “óbvio”
Gosto do som e do significado.
É simples, mas obriga a uma definição de sons. Uma dança entre o B e o V.
E é obviamente uma palavra aberta logo na primeira letra.
Olhem, obviamente volto para a semana.
E vocemessês também.
É óbvio.
E agora dai-me licença para fechar este parlatório.
Ou deveria dizer palratório?
Marco Neves nasceu em Peniche e vive em Lisboa. Tem sete ofícios, todos virados para as línguas: tradutor, revisor, professor, leitor, conversador e autor.
Não são sete? Falta este: é também pai, com o ofício de contar histórias. É professor na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e diretor do escritório de Lisboa da Eurologos. Escreve regularmente no blogue Certas Palavras. Já publicou os livros Doze Segredos da Língua Portuguesa, A Incrível História Secreta da Língua Portuguesa e o romance A Baleia que Engoliu Um Espanhol. Publicou também um ensaio literário, José Cardoso Pires e o Leitor Desassossegado. Regressa às dúvidas e subtilezas da nossa língua com a Gramática para Todos: O Português na Ponta da Língua.
O Poder da Língua: Reflexões sobre Normas, Resistência Cultural e Transformações Linguísticas
A língua, mais do que um simples meio de comunicação, é um reflexo das complexas dinâmicas de poder, história e cultura de uma sociedade. No mais recente episódio de “Pergunta Simples”, explorei o papel da língua na criação de normas, no estímulo à resistência cultural e na adaptação às transformações modernas. Durante a conversa, muitos pontos interessantes surgiram, que nos ajudam a entender melhor o que está por trás da forma como falamos e como nos expressamos.
Um dos temas centrais da conversa foi a relação entre a padronização da língua e a insegurança que isso pode causar. Desde que os estados começaram a criar normas linguísticas e a impô-las através da educação, o sentimento de inadequação ou erro tornou-se comum. Isso é especialmente evidente quando falamos da língua portuguesa. A forma como falamos, as palavras que escolhemos, e até o sotaque, muitas vezes fazem-nos sentir fora da norma, como se estivéssemos constantemente a cometer erros. Na verdade, essa sensação de inadequação está enraizada numa longa história de imposição de padrões linguísticos.
“A língua também é sempre alguma fonte de insegurança, porque a forma como é que é dizer por usar um enquadramento histórico, a partir do momento em que cada Estado criou uma língua, criou uma língua padrão e começou a pô-la na escola e a usá-la oficialmente.”
Quando olhamos para exemplos históricos, como a França, vemos que o processo de padronização linguística foi violento e frequentemente resultou na supressão de línguas minoritárias, como o occitano. Essas línguas, que tinham tanto prestígio quanto o francês na Idade Média, foram gradualmente marginalizadas, até serem vistas como “falar mal”. É fascinante pensar que muitas das línguas que desapareceram ou quase desapareceram não foram vítimas da sua falta de relevância, mas sim de um processo deliberado de repressão e normalização.
“Na França, este processo foi bem-sucedido. […] Esta língua era uma língua tão antiga como o que nós chamamos francês, tão antiga como o português, uma língua de muito prestígio. De repente, por causa deste processo […] começou a ser vista como falar mal.”
Ao olharmos para mais perto de casa, percebemos que o mesmo tipo de processos aconteceu nas zonas fronteiriças entre Portugal e Galiza. A ideia de uma fronteira linguística clara é relativamente recente, e durante séculos as pessoas nas áreas fronteiriças falavam o que sempre tinham falado, sem se preocuparem com a distinção entre “português” e “galego”. O Couto Misto é um excelente exemplo de como essas fronteiras não são apenas políticas, mas também culturais. A imposição de uma norma, tanto em Portugal como na Espanha, veio a criar uma barreira linguística que antes não existia.
“Falavam aquilo que se falava de um lado e do outro. Ninguém tinha exatamente a ideia de que falar português, falar galego, isso não era uma escolha que a pessoa fazia. Falava aquilo que sempre se falou desde a Idade Média.”
Outro tema que abordámos foi a constante importação de palavras de outras línguas e a questão dos estrangeirismos. A língua portuguesa é rica em empréstimos linguísticos, e muitas das palavras que usamos diariamente entraram no nosso vocabulário quase sem nos darmos conta. A influência do francês, por exemplo, é um caso clássico. A expressão “tem a ver” em vez de “tem que ver” é um exemplo de como as línguas estrangeiras moldam subtilmente a forma como falamos.
“Quando algo está à deriva em francês tem a ver. Tradicionalmente nós dizíamos sempre ‘isto tem que ver com’. Com a grande influência francesa, começamos a dizer ‘tem a ver’.”
Os palavrões também desempenham um papel interessante na nossa linguagem. Apesar de muitas vezes serem relegados ao “mau uso” da língua, os palavrões são algumas das palavras mais antigas que conhecemos e têm um poder expressivo único. Curiosamente, o uso de palavrões revela muito sobre a relação que temos com o tabu e com a repressão linguística. O facto de serem “escondidos” no nosso cérebro e usados em momentos de emoção intensa mostra que eles mantêm uma função muito primitiva, quase visceral, na nossa comunicação.
“O palavrão em geral está, digamos, no cérebro num sítio mais primitivo. Está lá guardado no sítio mais primitivo.”
A resistência a normas linguísticas e a contínua adaptação das línguas são temas que continuam a ser relevantes hoje, especialmente com o avanço da globalização e o domínio do inglês como língua franca. Embora o inglês tenha muitos benefícios, como facilitar a comunicação internacional, ele também pode representar uma ameaça à diversidade linguística e cultural. No entanto, o problema não está apenas no uso de palavras estrangeiras, mas também no estilo de comunicação. Muitas vezes, quando fazemos apresentações públicas ou escrevemos para um público português, tendemos a misturar palavras em inglês, o que pode criar uma barreira de comunicação.
“Se eu sou um economista e não nada contra os economistas, não é um profissional de qualquer área, vou fazer uma apresentação pública em Portugal para portugueses e metade das minhas palavras são em inglês. Isto é uma questão de comunicação.”
No final, a língua é mais do que palavras e regras. Ela reflete as nossas identidades, as nossas lutas e as nossas histórias. Cada palavra que escolhemos, cada sotaque que adotamos, e cada estrangeirismo que incorporamos faz parte de uma narrativa maior, que nos conecta ao nosso passado e molda o nosso futuro.
Por isso, comunicar não é apenas falar ou escrever. É entender o contexto, as implicações e as histórias que vêm com cada expressão. E, acima de tudo, é saber que, ao falar, estamos sempre a construir pontes – ou a levantar barreiras – entre nós e os outros.
*com transcrição inicial produzida por I.A.
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Há dois tipos de comunicação especialmente difíceis e arriscados.
Porque são complexos, porque acontecem em conta-relógio e porque a audiência está particularmente sensível nesse espaço de tempo.
Esses dois tipos de comunicação, são a comunicação de crise e a comunicação de risco.
Trocando por miúdos, a comunicação de crise é aquela que temos de usar quando algo correu mal: um acidente, um incêndio, um qualquer evento onde existe um dano real ou potencial a pessoas, ou bens. Principalmente pessoas.
A comunicação de risco em saúde pública é aquela que todos beneficiamos aquando da pandemia de COVID-19.
Essa comunicação teve como face principal Graça de Freitas, médica de saúde pública e ao tempo diretora-geral da saúde.
Esta conversa é sobre a dificuldade de planear, reagir e responder de forma credível a uma das maiores ameaças que vivemos na nossa vida coletiva.
Um manual do uso da comunicação tem tempos sem livro de instruções.
Todos sentimos:
A incerteza era o dia-a-dia.
Quando chega a pandemia?
Quando chega o vírus?
Vai matar-me?
Como me salvo desta?
Lembram-se?
Era este o ambiente que todos vivemos quando percebemos que a anunciada pandemia chegou.
Vivemos o receio, o medo, a dúvida.
Vivemos a angústia de ficar presos em casa por decreto geral.
Das escolas que fecharam. Dos lares com dezenas de idosos doentes.
Com hospitais cheios. Com ambulâncias em marcha.
Isto foi o que todos vimos em casa.
Mas no olho do furacão pandémico, no centro de crise e resposta está Graça de Freitas. Não está sozinha, mas tem uma equipa muito curta.
A ela cabe-lhe conseguir consensos entre cientistas e boas explicações e prognósticos para os decisores políticos.
No meio de tudo isto há que explicar aos cidadãos o que está a acontecer, como nos protegemos, como vivemos com isto.
No tempo das redes sociais.
Onde a opinião do mais sabedor dos cientistas parece valer tanto ou menos que o cidadão dedicado à arte nacional da opinião gratuita sobre tudo.
Mas mesmo no centro de comando, onde toda a informação chegava, onde todos os pensadores filtravam e tentavam entender o mundo, mesmo aí, havia demasiada informação, demasiadas contradições e um avassalador relógio que corria mais do que qualquer evidência.
Mais do que nunca o teste à credibilidade das fontes é critico. Mas a rapidez da comunicação digital e localizada não podia ser ignorada.
A pandemia deveria ser por si só um objeto de estudo detalhado da comunicação de risco. Eu já comecei a ler esse livro.
Um dos temas mais fascinantes abordados neste episódio é o desafio de comunicar quando a informação está longe de ser completa ou perfeita. “A informação era imperfeita, os dados mudavam a toda a hora”, lembra Graça Freitas, explicando que, muitas vezes, as diretrizes que comunicava ao público eram baseadas em informação que podia ser revista ou até desmentida pouco depois. “O grau de imperfeição era grande”, confessa, num tom honesto que caracteriza toda a sua participação no podcast.
Este cenário reflete um dos maiores dilemas da comunicação em saúde pública: como ser honesto e transparente quando as certezas são escassas? Graça optou sempre pela clareza e pela sinceridade. Reconhece que, em muitos momentos, teve de comunicar incertezas e explicar o que ainda não se sabia. Este equilíbrio entre a informação e a cautela foi uma linha ténue que teve de trilhar durante todo o período pandémico.
Outro ponto alto da conversa é quando Graça Freitas reflete sobre o medo. No início, confessa, não teve tempo para sentir medo pessoal, pois estava absorvida em compreender o que estava a acontecer. No entanto, à medida que o número de casos aumentava, especialmente em Itália, e o mundo começava a fechar as suas portas, o medo tornou-se uma realidade inevitável.
Mas talvez o relato mais surpreendente seja o momento em que a Dra. Graça começa a receber proteção policial devido a ameaças. “Nunca pensei que precisaria de proteção”, revela, descrevendo o choque de saber que um segurança estaria à porta da casa todos os dias. Este episódio mostra o lado mais humano da crise: a carga emocional e pessoal que quem esteve na linha da frente teve de carregar.
Num tom mais leve, Graça Freitas fala sobre os memes e piadas que circularam nas redes sociais a seu respeito durante os momentos mais difíceis da pandemia. Ela admite que achou graça a muitos deles. O humor, para ela, foi uma forma de a população lidar com a tensão constante, e, em alguns momentos, também serviu para ela própria aliviar o peso da responsabilidade. No entanto, Graça confessa que o que mais a magoou não foram as piadas, mas a ausência de defesa de algumas pessoas que a conheciam bem e que, durante os momentos de maior crítica, escolheram o silêncio. “Doeu mais não ouvir um ‘ela não é assim tão má’ do que as críticas em si”, diz com honestidade.
Este episódio deixa lições claras sobre o que significa comunicar em tempos de crise. Graça Freitas sublinha a importância de ser transparente, mesmo quando as respostas não são certas. A honestidade foi a sua bússola durante toda a pandemia, sabendo que esconder a realidade ou suavizar as mensagens poderia ser ainda mais prejudicial a longo prazo. Esta abordagem honesta, contudo, não foi fácil de manter. Graça admite que, se pudesse voltar atrás, teria dedicado mais tempo a refletir sobre as decisões, reservando momentos para pensar com mais calma e ouvir mais opiniões externas.
Outro ponto interessante que ela aborda é o equilíbrio entre as recomendações dos cientistas e as decisões dos políticos. Como Diretora-Geral da Saúde, Graça tinha a responsabilidade de fornecer as melhores recomendações científicas, mas reconhece que os políticos, ao tomarem as decisões finais, lidavam com uma pressão diferente. Eles não só estavam preocupados com a saúde pública, mas também com as implicações sociais, económicas e políticas. Esta tensão entre ciência e política é um elemento central nas crises de saúde pública e, segundo Graça, foi um dos grandes desafios da pandemia.
Um dos momentos mais dramáticos da pandemia foi a decisão de fechar as escolas. Graça Freitas descreve este episódio como um dos mais rápidos e intensos que viveu durante aqueles meses. Ela lembra que, num domingo, estava em casa de uma amiga quando recebeu o telefonema da Ministra da Saúde, Marta Temido. Poucas horas depois, já estava numa conferência de imprensa, anunciando uma das medidas mais duras e impactantes para o país.
Para ela, este é um exemplo claro de como as decisões políticas, mesmo quando baseadas em recomendações científicas, são tomadas de forma muito rápida e, por vezes, sem o tempo necessário para refletir sobre todas as implicações. No entanto, Graça reconhece que, em muitos casos, essa rapidez era essencial para salvar vidas e minimizar o impacto da crise.
O episódio termina com Graça Freitas a refletir sobre o seu papel durante a pandemia e o impacto que teve no país. Ao olhar para trás, ela admite que faria algumas coisas de forma diferente, mas mantém a convicção de que fez o melhor que podia com a informação disponível. O legado que deixa não é só o de uma profissional de saúde pública dedicada, mas também de uma comunicadora que, mesmo em tempos de incerteza, soube manter a calma, a integridade e a transparência.
Este episódio do “Pergunta Simples” é uma verdadeira aula sobre comunicação em tempos de crise, repleta de momentos humanos e reveladores. As histórias e as lições de Graça Freitas oferecem uma perspetiva única sobre os desafios enfrentados por quem esteve na linha da frente da pandemia e, ao mesmo tempo, mostram o lado mais vulnerável e pessoal da comunicação em saúde pública.
00:00:12:23 – 00:00:38:24
JORGE CORREIA
Olá! Viva um Bem vindos ao Pergunta simples do vosso full cast sobre comunicação. Há dois tipos de comunicação especialmente difíceis e arriscados, mas necessários e importantes. São complexos porque acontecem em contrarrelógio e porque a audiência está particularmente sensível nesse espaço de tempo ou local. Estes dois tipos de comunicação são a comunicação de crise e a comunicação de risco.
00:00:39:05 – 00:01:11:01
JORGE CORREIA
Parecem a mesma coisa, mas não são exactamente a mesma coisa. Trocando por miúdos, a comunicação de crise é aquela que temos de usar quando algo corre mal um acidente, um incêndio, um qualquer evento onde exista um dano real ou potencial para pessoas ou bens, principalmente pessoas. Um outro tipo de comunicação difícil é a comunicação de risco, em particular a comunicação de risco em saúde pública é aquela que todos beneficiamos quando aconteceu a pandemia de Calvi 19.
00:01:11:03 – 00:01:34:12
JORGE CORREIA
Esta comunicação teve como face principal Graça de Freitas, médica de Saúde Pública e, ao tempo Directora Geral de Saúde. Esta conversa é sobre a dificuldade de planear, reagir e responder de forma credível a uma das maiores ameaças que vivemos na nossa vida colectiva. Não só responder à ameaça propriamente dita, mas também comunicar sobre aquilo que nos estava a acontecer.
00:01:34:14 – 00:01:52:03
JORGE CORREIA
No fundo, como escrever um manual de uso da comunicação de risco em saúde pública em tempos sem livro de instruções?
00:01:52:05 – 00:02:14:06
JORGE CORREIA
A incerteza era o dia a dia. Quando chega a pandemia, quando chega, o vírus Vai matar me com um salve desta. Lembram se? Estas eram as perguntas que todos fazíamos todos os dias. Era este o ambiente que todos vivíamos quando percebemos que a anunciada pandemia chegou. Vivemos o receio, o medo, a dúvida, a esperança e depois o conseguir passar à frente.
00:02:14:12 – 00:02:35:15
JORGE CORREIA
Vivemos a angústia de ficar presos em casa, por decreto geral das escolas que fecharam dos lares com dezenas de idosos doentes de uma só vez, com hospitais cheios, com ambulâncias em marcha. Isto foi o que todos vimos em casa, mas no olho do furacão Pandemic, no centro de Crise e resposta está a Graça de Freitas. Ela não está sozinha, mas tem uma equipa francamente curta.
00:02:35:20 – 00:03:04:04
JORGE CORREIA
A ela cabe lhe conseguir consensos entre cientistas e boas explicações e prognósticos para os decisores políticos. No meio de tudo isto, há que explicar aos cidadãos o que está a acontecer, como nos protegemos e como vivemos Com isto tudo no tempo das redes sociais, onde a opinião do mais sabedor dos cientistas parece valer tanto ou menos do que a do cidadão dedicado à arte nacional, da opinião gratuita sobre tudo e sobre nada ao mesmo tempo.
00:03:04:06 – 00:03:33:16
JORGE CORREIA
No centro de comando, onde toda a informação chegava, onde todos os pensadores filtravam e tentavam entender o mundo, mesmo aí havia demasiada informação, demasiadas contradições e um avassalador relógio que corria mais do que qualquer evidência. Havia fontes, mas as fontes muitas vezes contradiziam se. Mais do que nunca, o teste à credibilidade das fontes é crítico, mas a rapidez da comunicação digital é localizada e não podia ser ignorada.
00:03:33:18 – 00:03:46:09
JORGE CORREIA
A pandemia deveria ser, por si só, um objecto de estudo detalhado da comunicação de risco. E eu já comecei a ler este livro nesta edição.
00:03:46:11 – 00:04:15:19
JORGE CORREIA
Viva Dra. Graça de Freitas, Médica de Saúde Pública. Se calhar nem sequer é preciso apresentá la. Decidiu ser directora geral da Saúde no período mais assustador para a nossa saúde nos últimos anos. Para aquela pergunta que é onde é que estava no 25 Abril 1974, neste caso, e onde é que estava no dia E no momento em que leu a notícia ou alguém comunicou da OMS que a pandemia vinha aí?
00:04:15:21 – 00:04:42:24
GRAÇA DE FREITAS
Eu não sei onde é que estava nesse dia, porque para mim tudo começou muito antes e sei onde é que estava. No dia 31 de dezembro de 2019. Estava muito bem, muito contente e muito optimista em relação ao ano 2020. Estava com uma fezada que 20 20 ia ser um ano fantástico, números redondos repetidos, não era bem uma capicua, mas estava mesmo como uma, pois não acreditava que 20 20 ia ser um ano fantástico.
00:04:43:01 – 00:05:01:19
GRAÇA DE FREITAS
E depois, como sabe, no dia seguinte percebeu se que havia um novo vírus. Mas não é a primeira vez que havia o novo vírus. Nós que trabalhamos em saúde pública e quem tem acesso a estes dados vi emergirem. Vírus de uns nunca chegam a ser problemáticos, outros evoluem para pequenos problemas, outros são cometidos bem.
00:05:01:21 – 00:05:05:18
JORGE CORREIA
E era quase uma matemática certa de que um dia, um dia.
00:05:05:20 – 00:05:23:23
GRAÇA DE FREITAS
Chuvisca e eu já tinha passado. E noto bem, por uma pandemia como profissional de saúde, eu passei pela pandemia de gripe A, que estava à espera de uma coisa terrível e que depois, apesar de ter sido uma pandemia, ocupou todo o mundo. Foi ligeiro, o vírus não era assim tão agressivo e.
00:05:23:24 – 00:05:26:10
JORGE CORREIA
Isso, isso foi dez anos antes da pandemia, até.
00:05:26:11 – 00:05:55:04
GRAÇA DE FREITAS
Mais do que dez anos antes. A gripe A, creio, se a memória não me falha, foi em 2009 e, portanto, foram 11 anos antes. Mas de qualquer maneira, foi uma pandemia para a qual estávamos altamente preparados. Tínhamos feito um livro inteiro na DGS, escrevemos um livro para vírus respiratórios, para a temida gripe. O professor Correia de Campos, durante um ano, autorizou uma task force que ocupou um país inteiro da DGS, com gente da privada, do público.
00:05:55:05 – 00:06:29:24
GRAÇA DE FREITAS
Todos os sectores que só fizeram aquele livro trabalharam para aquele livro e muitos especialistas colaboraram connosco. Bem, dito isto, sei onde é que estava na noite da véspera do ano de 2020, muito satisfeita com o novo ano e sei onde é que estava no dia 21 de Janeiro. Foi quando criei as forças como diretora geral, Quando eu percebi que era irreversível, grande ou pequena, não sabia as características exactamente, Também não, mas que o melhor era internamente, com ascendente direcção da DGS da OMS, a DGS.
00:06:29:24 – 00:06:30:14
GRAÇA DE FREITAS
Preparar se.
00:06:30:18 – 00:06:39:11
JORGE CORREIA
O que se pensa nessa altura? Pensa se ok, vamos fazer isto porque estamos preparados para o fazer. Ou Ohmeudeus, saiu uma fava.
00:06:39:13 – 00:07:05:21
GRAÇA DE FREITAS
Não? Eu na altura ainda estava. Eu estava calma e controlada, mas tinha a sensação que podia ser pior do que nas outras alturas. Tanto isso que fiquei bastante desconfortável com a placidez com que alguns dos meus colaboradores estavam. Eu já estava em estado não plácido por isso e cortei. Decretei a criação daquela task force, mas havia muita gente que estava ainda muito a dizer o vai ser como é.
00:07:05:21 – 00:07:26:02
GRAÇA DE FREITAS
Já tivemos outras emergências, os Marburg, já sabes, não era a primeira emergência que tínhamos, não era a primeira vez que a ativava nos motores Force no meu tempo ou no Dr. Francisco Jorge e portanto, havia alguma calma. Olhe para mim nesse dia também. Nunca mais me esqueço. Foi a primeira vez que eu mandei vir comida para a DGS de levar por motorizadas e estafetas.
00:07:26:02 – 00:07:36:24
GRAÇA DE FREITAS
Nunca tinha usado aquele método, o mundo era outro e foi a primeira vez que me dei comigo a escolher comida para fazer uma refeição à noite nocturna na DG.
00:07:37:02 – 00:07:58:15
JORGE CORREIA
Há um choque mediático, lá está, para lidar com essa incerteza que é a pergunta, repete se quando começamos a saber que há um vírus algures lá no Oriente e é Rebanhão. A Dra. Graça de Freitas num sítio qualquer. E perguntam então a pandemia? É desta que vem aí que é séria? Eu lembro que a resposta foi, por um lado, tranquilizadora.
00:07:58:17 – 00:08:23:02
JORGE CORREIA
A minha perceção dessa altura foi calma, que ainda não é desta ou ainda não é agora, ou não é iminente que o vírus da vaca vai chegar. E isso, isso depende. Isso é porque não há informação suficiente, porque não é antecipada ou que aconteça, ou porque o raio destes cientistas teimosos da task force na realidade estavam a dizer calma que isto vai ser igual a sempre.
00:08:23:04 – 00:08:33:10
GRAÇA DE FREITAS
Não foram, creio eu, três coisas distintas. Pensando agora na sua pergunta, a primeira foi toda a experiência passada, nomeadamente de facto com a gripe.
00:08:33:15 – 00:08:34:16
JORGE CORREIA
A, o Pedrinho.
00:08:34:18 – 00:08:59:08
GRAÇA DE FREITAS
O Pedro e o Lobo. Nós estávamos preparados em 1997 com o professor Constantino Sartori. Despedimo nos quase na véspera de Natal. Eu dizia Deus queira que já não seja. Este Natal tinha sido a matança das gripes e das galinhas em Hong-Kong. Foi a nossa primeira proto pandemia. Portanto, estávamos à beira de um abismo e estávamos apavorados. O vírus era do pior, era o H5N1 aviário das galinhas.
00:08:59:08 – 00:09:00:00
JORGE CORREIA
E esse matava.
00:09:00:00 – 00:09:40:21
GRAÇA DE FREITAS
Me. Letalidade brutal. Matava mesmo. Matou muita gente em Hong Kong e, portanto, estávamos muito assustados e a partir daí não havia preparação nenhuma. Em quase país nenhum eu encontrei um plano contingência para a dita da gripe de duas páginas da Bélgica e foi uma coisa maravilhosa que nos guiou e ajudou a fazer um plano para Portugal. Tanto. Por um lado, tínhamos essa experiência toda do H5N1, gripe das galinhas, a gripe das aves, uma grande expectativa, enfim, aquela célebre comissão de acompanhamento da gripe aviária, cujo acrónimo o Jorge Correia fez o favor de me dizer, logo cinco minutos depois da nomeação em Diário da República.
00:09:40:21 – 00:09:42:21
JORGE CORREIA
E não era capaz de ser um nome bom.
00:09:43:00 – 00:09:48:23
GRAÇA DE FREITAS
Não era um nome bom, atendendo a circunstâncias bom CH. E portanto.
00:09:49:03 – 00:09:53:15
JORGE CORREIA
A comissão chamava se Caga Convenção, acrónimo Ipso facto, é verdade em termos de comunicação ninguém.
00:09:53:15 – 00:10:17:07
GRAÇA DE FREITAS
Reparou, atendendo que metia galinhas e que caca de galinhas não foi uma boa ideia. Bem, dito isto, havia esse passado o SARS. Não se esqueça que o vazar daí sim, um susto terrível. Este vírus se chamava Chaves, como dois já outros vídeos do SARS e o primeiro SARS verdadeiramente perigoso foi o de passar de 2003, mas esse apareceu.
00:10:17:09 – 00:10:28:12
JORGE CORREIA
Matou muita gente no lado oriental. De resto, o MS declara que é desta que era a pandemia a verdadeira pandemia. E subitamente o vírus desapareceu.
00:10:28:14 – 00:10:47:19
GRAÇA DE FREITAS
Não foi? Subitamente levou muitos meses. O que é que acontece com esse vírus? Houve aqui várias circunstâncias de sorte. Uma delas é que ele sai da China e vai para o Vietname usar um da pneumonia atípica. Ao deixar em Portugal, o Dr. Francisco gostava de batizar as coisas com nomes portugueses. Chamou lhe pneumonia.
00:10:47:19 – 00:10:49:03
JORGE CORREIA
Atípica e fazia de manhã.
00:10:49:05 – 00:11:09:24
GRAÇA DE FREITAS
E à tarde. O que é que acontece com cão com esse vírus? Ele sai de facto da China e vai para o Vietname, dá um soco no Vietname. E há aqui uma coisa importante morre o médico francês no Vietname e aí soam muitos alertas e depois os focos que houve no mundo. Passa se primeira fase dos planos de contingência que é conter?
00:11:09:24 – 00:11:39:19
GRAÇA DE FREITAS
É a fase da contenção. E aqui chegados, chegamos a pandemia da 19 e ao início do ano de 2020. Eu venho com este histórico H5N1 SARS que foi possível conter fazer os grandes planos de contingência, pois a pandemia da gripe A que se chamou a porque ninguém queria ficar com o ónus ter aquela gripe porque ainda foi do México e ainda foi dos Estados Unidos, depois era das Américas e acabou por ser gripe A porque o vírus lá há muito tempo.
00:11:39:19 – 00:11:45:02
JORGE CORREIA
Depois havia a dúvida onde é que o vírus pode ter nascido? Isso? Isso era uma gripe a.
00:11:45:03 – 00:12:10:18
GRAÇA DE FREITAS
Ficar com aquele vírus, Ainda por cima porque em material suíno, material aviário, tudo o que mete material suína, as pessoas não querem fama. O vírus fica. Ficou conhecido como gripe, o que não dá jeito nenhum, porque os vírus da gripe, alguns são mesmo vírus. Pronto. Mas a pandemia chamou se eu vinha desse passado e quando aparece o ser que se chamava Sasha, ele chamava se outra coisa.
00:12:10:18 – 00:12:46:19
GRAÇA DE FREITAS
No início da pandemia, quando aparece esse vírus no que nós, no Ocidente e em todo o mundo sabemos desde as primeiras horas de 2020, não era a primeira vez que nos acontecia. Havia variadíssimos desfechos possíveis o da gripe das galinhas, o azul do Mar Morto. E já só falando dos mitos respiratórios, havia vários desfecho de um dos desfechos podia ser um desfecho ou de contenção dos focos ou de contenção na China, ou de ser mais um dos vírus que aparecia depois de combater, dizia, desaparecia pelo menos aparentemente desaparecia e, portanto, havia muitos cenários possíveis.
00:12:46:19 – 00:12:53:01
GRAÇA DE FREITAS
Isto numa fase inicial. E depois tudo se precipita, porque depois tudo isto é muito rápido.
00:12:53:01 – 00:12:58:07
JORGE CORREIA
Aparece em Itália um caso, dois casos, dez casos em que havia que um perde se, perde o controle.
00:12:58:08 – 00:13:03:20
GRAÇA DE FREITAS
Perde se completamente o controlo. A Itália faz aquela importação da China.
00:13:03:20 – 00:13:07:18
JORGE CORREIA
Como consegue se perceber hoje como é que o vírus chega a Itália.
00:13:07:20 – 00:13:30:12
GRAÇA DE FREITAS
Como consegue se por viagens, por cadeias epidemiológicas. Ele não salta, nem o INEM vem sozinho. Habitualmente são pessoas, outras pessoas, outras pessoas. E depois descobriu se supostamente a pessoa, a pessoa chinesa, que foi transportando o vírus até que o vírus chega à Europa. Depois, a questão de Itália tem muito a ver com a preparação. E foi um impacto terrível nos serviços de saúde.
00:13:30:12 – 00:13:57:01
GRAÇA DE FREITAS
Portanto, nós fomos dominados em simultâneo. Isto leva, enfim, a uma intensidade que gera, sim, de todo o fenómeno pandemia que é a China em Lockdown e em confinamento fechada. Milhões e milhões de pessoas, uma região inteira, uma cidade e depois as imagens de Itália. A partir daqui. Não era só uma questão do vírus, é como é que era o vírus que extravasou completamente.
00:13:57:03 – 00:14:02:02
JORGE CORREIA
Passamos aí a viver uma coisa. Todos em sociedade, que é o medo.
00:14:02:04 – 00:14:04:01
GRAÇA DE FREITAS
O medo. Exactamente.
00:14:04:04 – 00:14:27:22
JORGE CORREIA
E eu gostava de, Na crise anterior, no Vietname, morre o médico francês. É como é que a médica Graça de Freitas, perante um vírus que está a matar como matou na fase inicial em Itália e com os sistemas de saúde todos a estourar, que foi aquilo que nós vimos no norte de Itália. Tem medo? Se sente medo pessoal?
00:14:27:24 – 00:14:29:16
GRAÇA DE FREITAS
Bem, eu nesta fase.
00:14:29:17 – 00:14:31:11
JORGE CORREIA
Não há tempo sequer para pensar nisso.
00:14:31:13 – 00:14:52:23
GRAÇA DE FREITAS
Nessa fase inicial, mesmo no início eu não senti esse medo pessoal. No início eu só tinha uma, uma vontade enorme de perceber o que se estava a passar. E depois, quando comecei a ser chamado a explicar o que estava a passar, tinha uma preocupação imensa, porque eu sabia que tinha informação imperfeita e que tinha que comunicar a impressão imperfeita.
00:14:52:23 – 00:14:55:02
GRAÇA DE FREITAS
E sempre a informação é sempre imperfeita.
00:14:55:06 – 00:14:56:17
JORGE CORREIA
Falta lhes o quê? O que é que informação.
00:14:56:17 – 00:15:32:10
GRAÇA DE FREITAS
Imperfeita é exactamente isso. Havia muitas fontes de informação. Havia muito ruído, note bem os timings. O tempo da tecnologia, o tempo das redes sociais. Há um antes e o depois. Com a vida assim e desse e, portanto, o mundo de certa forma, até ao ano anterior, a comida era um mundo que nós de alguma forma percebíamos. As fontes de informação, o tipo de informação, os canais onde essa informação vinha, se era mais ou menos credível, se era científica ou não, era científica e de repente era uma verdadeira avalancha de informação.
00:15:32:12 – 00:15:56:06
GRAÇA DE FREITAS
Havia a informação da ciência e com os seus pergaminhos e requisitos. Depois havia tudo, tudo o resto do mundo, as imagens, todas aquelas imagens dos carros militares em Itália, dos caixões de ano fechado e depois de muita informação e que agora sabe se, não é para o lado, mas que a altura era quase paralela a das redes, a dos órgãos de comunicação.
00:15:56:06 – 00:16:18:19
GRAÇA DE FREITAS
Tudo um bocadinho perdido, portanto, com muitas, muito poucas certezas. E eu diria que o grau de imperfeição da informação era grande. Ao contrário do grau de preparação. O que eu quero aqui dizer na minha cabeça a preparação. Eu tinha feito tal livro com outra colega. Editamos o livro para a Direção-Geral da Saúde. Na minha cabeça existe achar se anterior à inicial.
00:16:18:21 – 00:16:47:10
GRAÇA DE FREITAS
Existia uma fase de contenção, existia uma fase de mitigação. Se a contenção falhasse, os hospitais de referência tanto do ponto de vista da preparação, eu não estava assim tão impreparada. O que não estava era à espera que a comunicação fosse tão complexa e a complexidade começava logo nas fontes. Eram fontes imperfeitas e imperfeitas. Isto tudo efémeras. Eu lembro me que eu acabava de saber uma coisa qualquer, uma novidade.
00:16:47:12 – 00:16:59:21
GRAÇA DE FREITAS
Fosse lá o que fosse. E dentro de minutos, 01h00, duas horas, era o tempo que eu levava a sair da DGS. Era um estudo de televisão, estava em todo o lado, não era assim ou estava em todo o lado, ou já não era bem assim. Era de outra forma.
00:16:59:21 – 00:17:02:06
JORGE CORREIA
Como é que se gere isso? Como é que geriu isso?
00:17:02:08 – 00:17:25:24
GRAÇA DE FREITAS
Bem, eu tentei fazer uma coisa e acho que isso se deve à minha formação médica e à minha formação como doente. Eu também sou uma doente bastante bem documentada, encartada em doenças, que é eu, quando eu tenho informei, me licenciei me sim e comecei a fazer clínica. Fui, tive bons mestres e um deles dizia me assim entre, estava por vir esse nível.
00:17:25:24 – 00:17:47:16
GRAÇA DE FREITAS
Gracinha, você não tem. Busque os doentes mais do que eu. Já estão, que os doentes já estão assustados, já estão mal e, portanto, não é preciso ser tarde, ainda mais vai morrer em 15 dias, vai morrer e eu? Aquilo para mim foi uma lição muito importante. Estas pessoas estão assustadas. Tem uma doença além da doença, tem o tal do medo.
00:17:47:18 – 00:17:55:13
GRAÇA DE FREITAS
Não sabem o prognóstico, portanto não estão aqui à espera que haja um médico que lhes diga isto é pior do que você pensa. E vai piorar tanto.
00:17:55:18 – 00:17:58:17
JORGE CORREIA
Ter tempo que muitas vezes o próprio médico, nalgumas circunstâncias, também.
00:17:58:17 – 00:18:20:23
GRAÇA DE FREITAS
Também não tem certeza se a tal comunicação, a tal informação imperfeita e, portanto, impensada. E daí? O que quer que eu diga, não posso mentir, tem de ser clara, nem tem grande vocação para mentir. Se quer que lhe diga isso das pessoas menos vocacionadas para dizer mentiras. Mas venha assim agora, para mentir assim, de propósito, não. E portanto, tinha a preocupação de não preocupar.
00:18:21:00 – 00:18:39:15
GRAÇA DE FREITAS
E depois, também pensando em mim própria, como alguém que recebe más notícias, também me lembrava de como é que eu gostava que as notícias me fossem dadas com verdade, com clareza, com algum prognóstico, mas com alguma serenidade. Também nunca gostei de doente, de receber notícias de supetão e drásticas.
00:18:39:18 – 00:18:58:21
JORGE CORREIA
Portanto, implicava alguma comunicação que preparasse o contexto que conseguisse explicar a realidade até ao ponto em que ela antecipava que fosse rigorosa e que, ao mesmo tempo fosse vertida nos media. Que tenha um filtro. Ele próprio é que tem uma forma de contar a história.
00:18:58:23 – 00:19:21:18
GRAÇA DE FREITAS
E tudo isso só foi tudo isso. E volto à mesma coisa, portanto. E eu não tive grande controlo sobre a situação, no sentido em que ela era muito e muito tensa. O que esta pandemia para mim teve de completamente diferente foi e quanto à idade? Eu era criança. Falar de informação e comunicação, a quantidade e a rapidez como tudo se passou.
00:19:21:18 – 00:19:34:03
JORGE CORREIA
E como é que se filtra, como é que se arranja um contexto, como é que se é, como é que se percebe o que é importante, do que é que o acessório ou até quando é que, quando o acessório está a contaminar a agenda pública?
00:19:34:05 – 00:19:59:01
GRAÇA DE FREITAS
Olhe, eu vou lhe dizer que será com alguma intuição e com tudo o que se aprendeu até aí. E eu acho que, obviamente, eu fui o reflexo da minha educação, da minha preparação e do meu treino. E lembro agora há pouco tempo de uma amiga minha que um dia responder a uma pergunta desse género, dizendo assim, dizendo a pessoa que lhe perguntou há uns 40 anos, com bom senso e imaginação e diz lhe a pessoa está bem, mas então e o que é que O que é que baliza o bom senso?
00:19:59:01 – 00:20:20:15
GRAÇA DE FREITAS
Ela responderia imaginação. E perguntei lhe o outro Então e o que é que baliza a imaginação? Ela respondeu lhe o bom senso. Bem, e não saímos daí. Mas basicamente eu tentei fazer o que foi possível dentro de princípios que eu tinha de ser o mais rigorosa possível do ponto de vista técnico. Sabia de não ter de mentir, de ser transparente, não esconder.
00:20:20:17 – 00:20:35:18
GRAÇA DE FREITAS
Mas muito foi vir ao de cima o que eu tinha aprendido, a intuição. E hoje, hoje que já passou, tenho a sensação hoje que a maior parte do tempo que vive sem qualquer rede por baixo, portanto.
00:20:35:20 – 00:20:36:20
JORGE CORREIA
Era sentido isso.
00:20:36:20 – 00:21:00:06
GRAÇA DE FREITAS
Não estar na altura. Eu acho que nem senti na altura. Pragmaticamente, as coisas que tinham que ser feitas tem que ser ditas, tenham de ser comunicadas. Houve uma coisa que abonou a meu favor. Eu de facto não era uma pessoa. Como é que eu ia dizer, com pouca cultura de epidemias e de pandemias e de doenças infecciosas e de contágios, e isso, de alguma forma, dava me algum conforto.
00:21:00:06 – 00:21:26:18
GRAÇA DE FREITAS
O que eu pensava é mas eu não sou uma ignorante. Eu tenho um passado na área da saúde pública, na área das vacinas, na área das epidemias. Eu passei por todas as epidemias, desde 2000, desde 1996. Todas as que houve e passei na primeira linha da frente, eu vou para Diretora-Geral da subdirectora Geral, exatamente para tomar conta da questão pandemia, que o Dr. Francisco precisava de alguém que o ajudasse nessa matéria.
00:21:26:19 – 00:21:46:06
JORGE CORREIA
E então, como é que lidou com esta curva? No fundo, que é primeiro estamos todos assustados e sabemos que há uma má e uma gripe endémica e queremos saber o máximo de informação. Mas fundamentalmente temos aquela pergunta que é vamos morrer disto ou não vamos morrer disto? O que é que vai acontecer? Que é que não aconteceu? Portanto, estamos alguém com credibilidade.
00:21:46:08 – 00:22:13:01
JORGE CORREIA
Depois começamos a ouvir com esta graça de Freitas, que é, no fundo, uma cara e uma voz de uma instituição que nos vai salvar desta crise. É essa a sensação. E nessa navegação da incerteza, como é que se lida com o momento em que deixa de ser uma figura tão, tão popular e é tão, tão bem vinda a dizer Olha, lá está a Graça Freitas a dar nos más notícias.
00:22:13:01 – 00:22:20:08
JORGE CORREIA
Olha, lá está a decidir fechar as escolas. Olha lá, está a obrigar nos a usar o raio de uma máscara. Como é que? Como é que é?
00:22:20:10 – 00:22:51:08
GRAÇA DE FREITAS
Olhe, eu ao contrário de algumas pessoas que dizem se eu olhasse para trás eu fazia tudo igual, eu não. Eu fazia muitas coisas de maneira diferente. E um dos problemas que eu acho que posso ter tido e que tive de certeza foi que me deixei de tal maneira pela intensidade das coisas na hora, no dito online que eu tive poucos inputs, poucos poucos momentos para reflectir no que verdadeiramente se estava a passar.
00:22:51:10 – 00:23:13:14
GRAÇA DE FREITAS
Se eu passasse por uma situação semelhante, obviamente que é muito fácil falar agora, eu reservaria uma parte, provavelmente da minha manhã e uma parte da minha tarde e uma parte da minha noite para pensar, para pensar e para ouvir algumas pessoas darem me. Enfim, o a sua opinião do que estava a passar à volta, o ter uma espécie de um conselho com pessoas.
00:23:13:14 – 00:23:14:17
JORGE CORREIA
Fora da bolha de.
00:23:14:18 – 00:23:41:22
GRAÇA DE FREITAS
Estado, fosse porque entre alturas estávamos, cada um de nós foi por nossa conta. Eu não sei o que é que as pessoas pensam que a Direção-Geral da Saúde e a Direcção Geral do Estudo e uma grande instituição, fez hoje 125 anos e uma instituição pela qual eu tenho uma admiração máxima, porque fiz coisas absolutamente extraordinárias, pois era uma instituição pequena em recursos de todas as formas, em recursos digitais e recursos humanos.
00:23:41:24 – 00:24:02:10
GRAÇA DE FREITAS
Tudo. Nós não éramos um nós, eu éramos os seres. Esse eu sei dizer não, não somos nada disso. Não éramos nem somos. Todos nós éramos uma casa muito mais pequena e, portanto, com tantas tarefas que nós tínhamos para fazer, uns tinham que estudar, outros nunca comunicar ou tinham de fazer campanhas ou tinham que exercer o papel de autoridade de saúde.
00:24:02:10 – 00:24:26:07
GRAÇA DE FREITAS
Eu sou a Autoridade de Saúde, era a Autoridade de Saúde nacional, tinha uma carga, uma responsabilidade nesse papel para o para os cidadãos, para os meus colegas, para as outras agências do ministério. Isso brutal. Se nós estávamos assoberbado nos cada um a tentar fazer a sua tarefa e poucas vezes tínhamos apoio uns dos outros, isto é, falar da fase inicial.
00:24:26:07 – 00:24:28:19
JORGE CORREIA
Como como é que eram, como é que era um dia atípico?
00:24:28:21 – 00:25:07:10
GRAÇA DE FREITAS
Era atípico, Não havia dia típico. A única coisa que nós sabíamos é que lutávamos contra o tempo para ter boa informação epidemiológica a melhor possível. Como? Enfim, com instrumentos rudimentares até a nível das tecnologias básicas da vida, da potência dos computadores e, portanto, e dos recursos humanos, lutávamos para ter boa informação e tempo. Mais ou menos. Lutávamos por saber o que é que os outros países estavam a pensar, porque era importante, sobretudo os europeus, as agências europeias, o MS, o órgãos de referência, CDC americano, enfim, todas essas coisas que nos davam também bons contributos para o estado da arte.
00:25:07:12 – 00:25:21:21
GRAÇA DE FREITAS
Portanto, eram, eram de absolutamente alucinantes. Portanto, nós não sabíamos nunca como é que aquele dia ia ser e nada acontecia na hora programada. Vocês que estiveram do lado de lá, que eu não vi nunca nenhuma conferência de imprensa, amigas e nem hoje, Como.
00:25:21:21 – 00:25:24:04
JORGE CORREIA
É que é? Como é que foi aparecer todos os dias?
00:25:24:04 – 00:25:31:20
GRAÇA DE FREITAS
Não sei porque quando as pessoas me dizem isso, eu digo você viu me todos os dias, mas eu não vi todos os dias. Eu não sei como é ver me.
00:25:31:21 – 00:25:32:21
JORGE CORREIA
Não ir ver.
00:25:32:23 – 00:25:52:24
GRAÇA DE FREITAS
Eu não. Mas alguma vez eu ia ver gravação. Eu chegava a casa e continuava a trabalhar e as poucas horas e não me estou a queixar. Foi assim se factual e as poucas horas que restavam era uma luta para conseguir ler duas páginas que esquecia completamente e não lembrava, não saía da mesma do mês. Mas ao.
00:25:53:01 – 00:25:54:13
JORGE CORREIA
Ler outra coisa que não seja.
00:25:54:15 – 00:26:10:07
GRAÇA DE FREITAS
Mas não saía da mesma zona do livro, não progredia porque eu esquecia me, já estava a dormir e consegui e consegui dormir. Eu tinha depois um padrão de colaboradores que era noctívago até às 02h00. Mandava mensagens, sms a dizer um artigo não sei onde, mas na China não sei o quê.
00:26:10:07 – 00:26:12:01
JORGE CORREIA
E às 07h00, quando acordava.
00:26:12:03 – 00:26:33:15
GRAÇA DE FREITAS
Às sete, onde não desligava, eu tinha dois telemóveis ligados pipipi e via pessoas caching que meia da manhã começava a ver notícias e a mandar e dizia já morreram mais não sei quantos. Vou fechar a fronteira, vamos fazer assim, vamos fazer assado. O vírus sobrevive nas superfícies, não sobrevive. Era uma avalanche. Já gera uma avalanche de informação e, portanto.
00:26:33:17 – 00:26:35:22
GRAÇA DE FREITAS
Era uma avalanche pronta, uma forma de dizer como.
00:26:35:22 – 00:26:46:06
JORGE CORREIA
É que se lida com isso, como é que se lida com isso pessoalmente? Ou o enésimo telefonema e não sei quem é quem, aquilo que falava, mas imagino que toda a gente que falava.
00:26:46:08 – 00:27:11:02
GRAÇA DE FREITAS
Chega se a uma altura que eu tinha um colaborador que dizia Senhora diretora, já estou, vai ou vai aí e pronto. E chega só uma altura é que é mesmo o vai o vai ou nós meses que íamos e os quilos, dizíamos ao senhor doutor a senhora Ministra da Saúde e o senhor primeiro ministro, porque nós não temos capacidade para fazer isto, ou se era para fazer, tínhamos que.
00:27:11:04 – 00:27:12:11
JORGE CORREIA
Não era uma opção segura.
00:27:12:13 – 00:27:39:22
GRAÇA DE FREITAS
De mim. Não foi uma opção. Eu tinha o meu lugar à disposição sempre. E, portanto, sabia também que no dia em que me deitava duríssimo, podia não ser a diretora geral, mas pensava enquanto eu tiver alguma fé em mim própria, alguma convicção em mim própria de que tenho alguma preparação, se calhar maior do que da maior parte das pessoas, de que estou a fazer um trabalho honesto e, tanto quanto possível, bem feito.
00:27:39:24 – 00:27:48:19
GRAÇA DE FREITAS
Eu vou ficar aqui. E foi essa convicção que se calhar me manteve, sendo que tinha sempre lugar à disposição.
00:27:48:19 – 00:27:51:24
JORGE CORREIA
E como é que eram nos dias das neuras, nos dias em que aquilo.
00:27:52:01 – 00:28:18:12
GRAÇA DE FREITAS
Para os dias das neuroses, das neuras eram difíceis? Eram os dias em que e além daqueles minutos, num dia em que todos os dias, a certa altura, eu pensava amanhã vou me embora e sai. Mas pronto, já passava que eu passava os dias das neuras, as neuras passavam e não havia nada que no dia seguinte acordasse, porque havia outra neura diferente.
00:28:18:16 – 00:28:28:07
GRAÇA DE FREITAS
As neuras eram sempre diferentes, a neura com que eu me deitava, os grandes problemas com que eu me deitava já não eram exatamente as Eu não estou a exagerar. Foi assim que eu senti.
00:28:28:09 – 00:28:29:12
JORGE CORREIA
Já havia um outro problemas.
00:28:29:13 – 00:28:36:00
GRAÇA DE FREITAS
Que eu, por exemplo, gostava de dizer isso. Eu não tinha a noção de das redes sociais, do que estavam a dizer ou fazer, não tinha.
00:28:36:01 – 00:28:36:17
JORGE CORREIA
De grande ruído.
00:28:36:19 – 00:28:55:06
GRAÇA DE FREITAS
E um dia cheguei ao Ministério da Saúde e depois à conferência de imprensa. Se eram nascido Dona Marta Diniz, a senhora ministra está ali naquele gabinete e quando a senhora ministra sair, vai entrar a senhora directora já eu esperei. Não era o hábito, isso não era o padrão. Eu acabava a conferência e habitualmente ia para a direção de dar as conferências.
00:28:55:06 – 00:29:24:01
GRAÇA DE FREITAS
Era o ministério. Esperei que saísse a senhora ministra, que vinha com uma cara enfim, agreste, agreste e preocupada. E eu entrei e vi os senhores. E ai eu falo muito e fiquei sem palavras porque foi bonito. A senhora vai passar a ter proteção policial? A polícia eu disse.
00:29:24:03 – 00:29:26:02
JORGE CORREIA
Porque via havia uma ameaça.
00:29:26:04 – 00:29:32:09
GRAÇA DE FREITAS
Pois deve ter havido e eu não tive capacidade sequer.
00:29:32:11 – 00:29:34:05
JORGE CORREIA
Não partilharam detalhes, não disseram.
00:29:34:05 – 00:30:03:06
GRAÇA DE FREITAS
Disseram me algumas coisas e eu não tive nem capacidade de perguntar, nem capacidade de entender. E, portanto, eu cheguei a casa e vagamente perguntei E isso vai acontecer? Quando é disseram me a partir de amanhã vai estar sempre uma pessoa à sua porta, disse ao pé da garagem. Disseram não à sua porta. A senhora não sai à porta sem estar a acompanhar e eu vou aqui partilhar com os portugueses, porque é rigorosamente verdade.
00:30:03:10 – 00:30:04:24
JORGE CORREIA
Portanto, passou a estar um polícia.
00:30:05:01 – 00:30:27:04
GRAÇA DE FREITAS
Com um sentido prático que eu tenho da vida. E eu que nunca me atrasei até sair de casa cheia do axé de meia da manhã para ir trabalhar. Mas pensei então e se o senhor ou senhora que me vier esperar? E se eu me atrasar? Eu vou pôr aqui uma cadeira no hall de entrada? E eu caí no ridículo de pôr uma cadeira no hall de entrada, uma das cadeiras de abrir e fechar encarnada para.
00:30:27:04 – 00:30:27:21
JORGE CORREIA
A pessoa descansar.
00:30:27:21 – 00:30:30:00
GRAÇA DE FREITAS
Ela descansar como se aquelas pessoas descansassem.
00:30:30:05 – 00:30:30:18
JORGE CORREIA
Claro que não.
00:30:30:18 – 00:30:49:11
GRAÇA DE FREITAS
É como se eu me atrasasse, nem atrasava, nem elas descansavam e a cadeira foi retirada do solo já depois de eu estar reformada, porque eu deixei lá ficar a cadeira onde ninguém nunca se sentou. Mas é para ter a ideia de como os dias foram complexos e eu hoje até penso que não aconteceu comigo.
00:30:49:13 – 00:30:50:03
JORGE CORREIA
E portanto.
00:30:50:08 – 00:30:52:20
GRAÇA DE FREITAS
Que aconteceu comigo ter proteção policial.
00:30:53:00 – 00:30:57:07
JORGE CORREIA
Portanto. E sentiu o risco sentido de alguma maneira uma ameaça.
00:30:57:07 – 00:31:03:21
GRAÇA DE FREITAS
O tempo que um dia eu tinha dois senhores e uma senhora que eles faziam, que viam tudo, que.
00:31:03:21 – 00:31:04:14
JORGE CORREIA
Revezavam, que.
00:31:04:14 – 00:31:15:09
GRAÇA DE FREITAS
Revezavam. E eu, um dia, das pouquíssimas vezes em que num fim de semana eu resolvi ir andar um bocadinho a pé e sair um bocadinho de casa para mexer as pernas para fazer algum exercício.
00:31:15:09 – 00:31:17:16
JORGE CORREIA
Ainda sozinha. Hoje não.
00:31:17:16 – 00:31:38:09
GRAÇA DE FREITAS
Já está já com as pessoas já claras, com os senhores da PSP que foram já agora extraordinários ao ponto de eu nem me lembrar que eles existiam. Eram discretos e eram discretos. E eu assimilei aquilo muito bem. Era uma coisa que eu pensava que não, mas eram bastante. E eu saí e combinei. De manhã fui vindo a cobrir se de imprensa.
00:31:38:10 – 00:32:02:24
GRAÇA DE FREITAS
Distrair se Não se importa. Eu hoje preciso de ir andar um bocadinho até aqui ao pé do rio. Preciso de ir andar sozinha, sozinha e a senhora não vai andar. Mas eu vou andar consigo. A senhora não anda sozinha. A senhora era já. E eu disse Então tá bem, Então venha comigo. E assim foi e fomos andar um bocadinho e é um transeunte, um pião, uma pessoa normalíssima da vida.
00:32:03:01 – 00:32:08:08
GRAÇA DE FREITAS
Faz. Não havia ninguém na rua. Foi naqueles dias pós confinamento de deserto em.
00:32:08:10 – 00:32:08:24
JORGE CORREIA
Que dizem que.
00:32:09:00 – 00:32:30:06
GRAÇA DE FREITAS
Conhecem um cidadão que provavelmente quereria dizer alguma coisa. Não sei. Sei que o senhor vem vagamente na minha direção, sem mais ninguém. E a senhora que me estava a acompanhar, a proteger ele abre os braços para o senhor parar. Bloqueou para bloquear, mas longe dele não bloqueou. Em cima do acontecimento o senhor ainda tinha uma distância que logo.
00:32:30:06 – 00:33:06:01
GRAÇA DE FREITAS
O problema é que eu nem sequer tinha. Não tinha consciência, não tive tempo para interiorizar tudo e obviamente a senhora estava armada e eu nesse momento disse Olhe, eu vou voltar para casa, porque enfim, apanhei um enormíssimo susto porque não tinha nem sequer pensado que obviamente aquelas pessoas estavam armadas. Não tinha pensado só quando vim e que queria ir para casa e não voltar a sair de casa, a não ser fui para a Direcção-Geral da Saúde trabalhar, fazer o movimento pendular casa direção Geral, Direção Geral, Ministério.
00:33:06:01 – 00:33:07:24
GRAÇA DE FREITAS
Ministério, Direção Geral, Direção Geral, Casa.
00:33:08:05 – 00:33:41:00
JORGE CORREIA
Os jornalistas têm outro tipo de armas. Fazem normalmente perguntas. Noutro tempo em que eu fazia de jornalista. Fomos juntos. Lá estava quando se começou a falar da pandemia e já OMS pensava em mim, na nossa preparação, numa célebre reunião de Copenhaga em que fomos os dois subdirectora geral da Saúde, na altura já na preparação e eu como como novelista da rádio pública e temos uma conversa sobre a relação entre fontes e jornalistas.
00:33:41:02 – 00:33:46:13
JORGE CORREIA
E eu fiz, fiz, fiz. Ao contrário do médico que que que cria pânico na sua.
00:33:46:13 – 00:33:52:04
GRAÇA DE FREITAS
Forma de ver, o Jorge contribuiu para a minha formação, que também me fez o.
00:33:52:06 – 00:33:53:07
JORGE CORREIA
Meu. Senão você não.
00:33:53:09 – 00:34:12:15
GRAÇA DE FREITAS
Dorme. Naquele dia nós fomos do mesmo avião porque estão, creio eu, também para vocês, jornalistas, mas pelo menos é de poupança de dinheiro, porque o dinheiro é para ser bem gasto. É mais barato nós irmos passar o fim de semana em Copenhaga para a reunião de segunda feira do que depois de voarmos num dia de semana.
00:34:12:15 – 00:34:14:02
JORGE CORREIA
Bendita bendita poupança!
00:34:14:02 – 00:34:37:09
GRAÇA DE FREITAS
Fomos de facto para Copenhaga e Copenhaga. Não é assim uma cidade muito grande e tem aqueles que, pelo menos na altura, os bares das docas, onde as pessoas acabam todas por se encontrar a beber umas cervejas, sobretudo o trabalho só começar dois dias depois e já ficou noutro sítio do avião. E saiu o primeiro dia. E quando eu saí você estava à minha espera.
00:34:37:09 – 00:34:47:22
GRAÇA DE FREITAS
Na saída da porta da manga da porta da manha e disse com ar muito sério Doutora Graça, comigo não faz.
00:34:47:24 – 00:34:49:01
JORGE CORREIA
O que está dito, está dito.
00:34:49:01 – 00:34:50:05
GRAÇA DE FREITAS
O que está dito, está dito.
00:34:50:11 – 00:34:51:24
JORGE CORREIA
O que é diferente é ser bom.
00:34:52:01 – 00:35:06:24
GRAÇA DE FREITAS
Tal e qual. Se. Eu fui para o hotel e pensei eu não bebo cerveja este fim de semana porque eu tenho de estar completamente atenta para não dizer rigorosamente nada que não se possa ouvir. Diria umas horas.
00:35:07:04 – 00:35:07:11
JORGE CORREIA
Fora.
00:35:07:11 – 00:35:20:23
GRAÇA DE FREITAS
Daqui, fora daqui e portanto. Mas foi uma grande lição. Foi mesmo uma grande lição de vida, de contenção, de cuidado, de respeito e, portanto, e isso fez parte do tal aprendizado em como que eu chega a pandemia.
00:35:21:03 – 00:35:33:22
JORGE CORREIA
Como é que se faz isso? Depois, numa sequência de dias em que se está sempre numa conferência de imprensa, sempre a responder a perguntas, sempre com essa torrente de notícias que estão a aparecer aí.
00:35:33:22 – 00:35:55:24
GRAÇA DE FREITAS
As fronteiras não são nítidas entre o off e o one, o que é e o que não é para dizer. Depois há ali uma zona em que não há fronteiras nítidas. Quer dizer, eu não conseguia e ainda hoje, quando olho para trás e me lembro de alguns episódios das conferências, não conseguia fazer aquilo em estado puro, bem feito, como ensinou os livros para mim.
00:35:55:24 – 00:36:01:09
GRAÇA DE FREITAS
Ensinou a experiência como me ensinou o Jorge ou como me ensinava a Ariana Mendes, que era a minha.
00:36:01:11 – 00:36:03:22
JORGE CORREIA
Era sempre ela sempre fazer e sempre andar para a frente.
00:36:03:22 – 00:36:15:03
GRAÇA DE FREITAS
Era sempre a aprender. A sensação era exactamente isso. Quando estávamos naqueles tapete rolante a fazer as provas de força nos não para a menos que deu um grito e dizer para mim isto.
00:36:15:03 – 00:36:15:14
JORGE CORREIA
Ou vai ou.
00:36:15:14 – 00:36:22:09
GRAÇA DE FREITAS
Vai, vai, vai. Era um dos lemas que foi sempre o lado da minha Direcção Geral da Saúde. Ou vai ou vai.
00:36:22:11 – 00:36:43:19
JORGE CORREIA
Eu tenho um episódio muito curioso quando, quando todos nós estávamos a perguntar como é que raio este vírus pega tudo, se nós nas superfícies ou não, aquele cuidado que nós tínhamos nas garrafas de água, o que é que cada um bebia? Cada um tinha a sua garrafa de água e a uma imagem de uma conferência de imprensa Antes de começar, que é Dra.
00:36:43:19 – 00:36:47:15
JORGE CORREIA
Graça de Freitas, com um lenço de papel a abrir uma garrafa em Vilarinho.
00:36:47:15 – 00:36:48:10
GRAÇA DE FREITAS
Deprimente.
00:36:48:10 – 00:36:50:00
JORGE CORREIA
E eu pensei Sim, meu Deus.
00:36:50:02 – 00:36:51:00
GRAÇA DE FREITAS
Um tesourinho triste.
00:36:51:02 – 00:36:53:10
JORGE CORREIA
Pega se assim com essa facilidade.
00:36:53:12 – 00:37:21:17
GRAÇA DE FREITAS
Eu também digo eu disse mesmo. Eu tive os meus tesourinhos deprimentes e esse foi um deles. E vou lhe dizer porquê? Porque eu em determinada altura também tive os meus medos e eu em determinada altura também percebi que havia muita incerteza, sobretudo a questão das superfícies e vou partilhar consigo. Eu estava em fases de pleno medo e nós tínhamos água posta na mesa da da conferência de imprensa.
00:37:21:17 – 00:37:23:03
GRAÇA DE FREITAS
Tínhamos uma garrafa.
00:37:23:05 – 00:37:23:13
JORGE CORREIA
Cada um na.
00:37:23:13 – 00:37:42:11
GRAÇA DE FREITAS
Sua cama e tinha me dito garantido. Um dia tinha perguntado qualquer coisa, mas na altura havia mesmo ideias que nos deixavam. Eu lembro. O meu irmão deixava as compras à porta de casa da minha mãe dentro do saco e pois os sacos ficavam em quarentena e depois vinha toda aquela coisa de incerteza. Houve também essa fase das nossas vidas e eu também sou uma cidadã e uma pessoa.
00:37:42:11 – 00:38:04:02
GRAÇA DE FREITAS
E que tinha na altura também tive os meus medos de subir. Sobrevivia muito tempo na superfície e tinham me dito eu tinha perguntado inicialmente e tinham me dito não pode ter a vontade, as garrafas e os copos e está tudo sempre desinfectado e por aquelas coisas estranhas que acontecem naqueles milésimos de segundo, vamos começar a compreender alguém que eu não sei quem foi, Nem sei.
00:38:04:02 – 00:38:23:20
GRAÇA DE FREITAS
Na verdade, eles não eram eles. Mas olhe que as garrafas não estão desinfetada e estupidamente eu tenho aquele reflexo. Então como é que eu vou pegar numa coisa que não está desinfetada e que estas horas está cheia de vírus? Então eu aí portei me mesmo como uma pessoa normal, com os meus medos, com os meus fantasmas e pronto, tive o meu tesourinho deprimente.
00:38:23:22 – 00:38:42:24
GRAÇA DE FREITAS
Depois tive quase a ter um chorinho deprimente. E eu vou contar a primeira vez que eu consegui pensar que conseguiria ter um dia ou dois para ir ao Alentejo. Isso, o meu marido e olhe, vamos, vamos lá para o hotel pequenino onde costumamos ficar e eu arrumo o quarto e faço as camas e o meu marido está para aí.
00:38:42:24 – 00:38:54:10
GRAÇA DE FREITAS
Ficamos em casa. Porque eu não queria que alguém viesse a mexer nos coisas. Foi aquilo. Durou pouco tempo. Essa nossa fase durou pouco tempo, mas o certo é que existiu.
00:38:54:10 – 00:39:28:02
JORGE CORREIA
E a ligação entre a comunicação e o medo é muito claramente sentida quando quando nós não temos essa segurança ou quando alguém com autoridade, neste caso da Directora geral da Saúde, não é completamente assertiva a dizer um sim ou não. Nós, pelo sim pelo não, vamos lá esperar um bocadinho. Então estou a pensar, por exemplo, recentemente, recentemente, já um par de anos, quando quando houve esta crise importante da legionella nos arredores de Lisboa e quando não se sabia ainda qual era a origem de de ouvir políticos locais de dirá e o suspeito que se calhar é da água que bebemos.
00:39:28:02 – 00:39:30:10
JORGE CORREIA
Ou é isto ou aquilo e esse efeito.
00:39:30:12 – 00:40:03:05
GRAÇA DE FREITAS
Mas aí foi a ver e era uma coisa para nós, os profissionais, completamente controlada, porque nós sabemos tudo o que é possível saber sobre as janelas e desde o início, surto em Vila Franca desde as primeiras horas, duas ou 3/1 horas que todos sabíamos como é que tinha sido propagado. E vou dizer porquê? Porque o meu colega que fez os inquéritos epidemiológicos foi brilhante e percebeu que uma senhora que estava acamada num terceiro andar, que a única coisa que fazia era respirar o ar que lhe entrava pela janela e tinha contraído legionella.
00:40:03:07 – 00:40:22:09
GRAÇA DE FREITAS
E portanto aquilo era uma coisa, como se veio a confirmar mais tarde no ar, pelo o ar que saiu por uma toda reconhecimento. É que a nível do terceiro andar que são conhecidos os terceiros andares por estarem expostos a estes fenómenos, enfim, inalou as gotículas para entre nós e os graus de incerteza. Eram poucos os graus de liberdade e os graus de incerteza.
00:40:22:09 – 00:40:33:24
GRAÇA DE FREITAS
Aqui, os graus de incerteza numa doença conhecida sabe todo o padrão de comportamento que sabe são completamente diferentes, independentemente do que a população pensa. Estou a falar do ponto de vista profissional.
00:40:33:24 – 00:40:53:13
JORGE CORREIA
E como é que uma cientista, Graça Freitas, uma cientista, lida com o facto de a opinião mais relevante de um cientista que estudou um tema e tem toda a informação vale tanto, ou se calhar menos do que o Zé dos Bitaites, que acabou de escrever uma barbaridade no seu Facebook ou no seu Twitter.
00:40:53:15 – 00:41:18:18
GRAÇA DE FREITAS
Essa foi uma das grandes descobertas. Isto de facções da pandemia foi mesmo porque nós estávamos habituados. E quando digo nós, sou eu e os meus antecessores, quer a nível do directores gerais, subdirectores, mas também técnicos e activistas, todos nós estamos habituados a de facto tínhamos um conhecimento e uma autoridade, uma narrativa e uma autoridade. Exatamente. Era por esta ordem.
00:41:18:23 – 00:41:51:04
GRAÇA DE FREITAS
Conhecíamos as coisas, tínhamos uma narrativa e tínhamos uma autoridade. E era assim e a vir haveria outras pessoas que o saberiam. Mas isto era equilibrado. Era um ambiente de certa forma controlado e protegido. E depois nada. Foi assim, nada foi assim. Essa foi calhar. Isso foi à medida que foi percebendo o grande choque, habituara 40 anos quase de profissão, exatamente a isso.
00:41:51:06 – 00:42:06:22
GRAÇA DE FREITAS
E depois, de repente, qualquer pessoa, em qualquer latitude de como qualquer conhecimento, dizia qualquer coisa. E isso tinha mais ou menos o mesmo valor. Isso sim é um grande e um grande desconforto e um grande desassossego.
00:42:06:22 – 00:42:34:24
JORGE CORREIA
E eu tenho uma grande curiosidade que é saber no comité dos peritos, lá está, daqueles que sabem, que lêem, que pensam e pegam se uns com os outros, são teimosos quando defendem uma tese ou outras. Como é que imagino que é a função de Director geral da Saúde, Director geral da Saúde? É um bocadinho tentar o mínimo denominador comum, tentar mitigar, aliás, as birras dos cientistas.
00:42:35:01 – 00:42:50:03
GRAÇA DE FREITAS
Há alguma teimosia, mas há sobretudo argumentação e argumentação científica. E uma das coisas que acho que fiz bem é que eu identifiquei quem eram aqueles em que eu confiava acima de tudo.
00:42:50:04 – 00:42:53:14
JORGE CORREIA
Então, que características têm esses aí?
00:42:53:16 – 00:43:24:14
GRAÇA DE FREITAS
Primeira coisa por acaso tinham isto em comum? Que lhe vou dizer? Eram pessoas relativamente novas. Eram pessoas que dominavam as fontes de informação, as digitais e as analógicas. E todas têm uma capacidade de captar informação. Eram capazes de filtrar essas fontes. Tinham um respeito profundo pela ciência profunda, por tudo o que era evidência científica. Os estudos que iam saindo não quer dizer que não lessem outro tipo de literatura, as redes sociais.
00:43:24:14 – 00:44:00:00
GRAÇA DE FREITAS
Fosse preciso, mas eram pessoas altamente fiáveis do ponto de vista da procura do conhecimento, da forma como obtinham e da forma como me transmitiu e a partir dessa fase, já numa fase mais calma ainda durante o ano 2020, a minha vida sofreu um grande salto qualitativo, porque eu, de facto rodeei me de pessoas e que tem que mencionar uma está agora na Web MS, nos escritórios da Organização Mundial da Saúde em Atenas, e o Valter Fonseca e o Valter Fonseca era a pessoa do ponto de vista científico e técnico em que eu mais confiava.
00:44:00:00 – 00:44:02:07
GRAÇA DE FREITAS
E tive outros. Tive o Diogo Cruz que muita gente.
00:44:02:07 – 00:44:13:21
JORGE CORREIA
Portanto, era um mastiga dois da ciência que conseguiu encontrar nas fontes, conseguiam fazer uma transição. O que que é importante, o que é que não é importante? É criar, no fundo, a papinha toda feita para uma base numa decisão.
00:44:13:23 – 00:44:21:24
GRAÇA DE FREITAS
Mais ou menos a papinha toda feita, porque aí entrava, nem eu era uma receptora passiva, nem eles eram passivos.
00:44:21:24 – 00:44:23:08
JORGE CORREIA
Entrei alguns.
00:44:23:10 – 00:44:24:13
GRAÇA DE FREITAS
Fazíamos umas perguntas.
00:44:24:13 – 00:44:25:23
JORGE CORREIA
Era uma pergunta difícil.
00:44:26:00 – 00:44:56:03
GRAÇA DE FREITAS
Não, eu acho que não era difícil, sobretudo porque as pessoas a quem eu perguntava eram muito sabedoras e eu nunca fiz nenhuma pergunta que não fosse difícil. O que eles faziam, e eu acho que foi muito bom, foi ter um princípio de extrema cautela, ou seja, quando me transmitiam com algum grau de assertividade uma informação, estavam certos que a probabilidade, aquela informação ser correta do ponto de vista técnico e científico.
00:44:56:03 – 00:44:56:09
JORGE CORREIA
Estavam.
00:44:56:09 – 00:45:21:14
GRAÇA DE FREITAS
Escorados, estavam bastante escorados, eram muito cuidadosos. Vou dizer, eram todos mais novos que eu e eu ficava até nervosa com o que eu achava que era quase um excesso de cuidado. Mas não era. Porque rapidamente também se percebe, depois de passar aquela fase inicial, que há um fator muito importante, que é a segurança de todas as ações futuras medicamentosas e estão ecológicas, desde as vacinas.
00:45:21:16 – 00:45:35:13
GRAÇA DE FREITAS
E, portanto, eu, depois de outra lição aprendida, se algum dia tivesse hipóteses de andar para trás, era criar logo um conselho de pessoas muito sapientes, com muito bom senso, muita capacidade de procurar informação boa.
00:45:35:17 – 00:45:56:06
JORGE CORREIA
Bom, do outro lado, dum lado estão os cientistas. Deste lado estamos nós aqui, espectadores, pessoas, cidadãos que não dominamos o que está a acontecer, mas temos perguntas para fazer. De um lado estão os cientistas e do outro lado estão os políticos. E os políticos têm duas críticas principais. A primeira tem a responsabilidade fundamental de tomar as grandes decisões.
00:45:56:08 – 00:46:11:02
JORGE CORREIA
Tem uma intuição muito forte, mas nem sempre são muito científicos. Como é que foi essa tensão, essa, esse entre entre a necessidade dos políticos tomarem decisões e fazerem perguntas? E os cientistas?
00:46:11:04 – 00:46:31:13
GRAÇA DE FREITAS
Olhe, se você se lembrar, até a dita para Não se falava em linhas vermelhas. Havia um fio muito interessante americano sobre quão ténue é uma linha vermelha, mas não se falavam. Começou se a falar do ponto de vista epidemiológico e é tudo verdade. Quem toma as últimas decisões são os políticos. Quem vai ser eleito ou não eleito são os políticos.
00:46:31:15 – 00:46:40:14
GRAÇA DE FREITAS
Quem tem outras metodologias para avaliar riscos e impactos desses riscos. Impactos sociais Os impactos económicos não são só impactes. Não são os políticos.
00:46:40:16 – 00:46:50:07
JORGE CORREIA
Vai muito para além daquilo que é a epidemiologia, que aqui é um vírus que é diferente a economia. O que é que acontece na nossa vida? A nossa perceção é, no fundo, em que é que vamos votar ou não vamos votar.
00:46:50:08 – 00:47:15:10
GRAÇA DE FREITAS
Evidente e, em última análise, são os grandes decisores. Então estão legitimados democraticamente para serem os grandes decisores. Qual é o nosso papel? No outro dia, eu diria uma coisa engraçada que é que cada aranha na sua teia, cada aranha, tece a sua teia e cada uma deve ficar lá por ela e depois encontrar o que é que havia.
00:47:15:12 – 00:47:29:21
GRAÇA DE FREITAS
Havia uma grande preocupação em descodificar e passar a informação correta, tanto quanto possível e assertiva e clara. Quem ia tomar a decisão que eram os os os políticos?
00:47:30:00 – 00:47:33:09
JORGE CORREIA
E quando o político perguntava então é prognóstico?
00:47:33:11 – 00:48:02:17
GRAÇA DE FREITAS
Ora bem, então havia duas coisas. Havia uma, que eram as célebres linhas vermelhas que nós, digo nós são todos técnicos, médicos e não só médicos, epidemiologistas, farmacêuticos, enfermeiros, linha e que era inocente, não se sendo nós não fazíamos cedências, pedíamos que se todos demitidos numa noite, se houvesse um braço de ferro que não houve, felizmente. Mas nós não seguíamos na segurança das vacinas.
00:48:02:19 – 00:48:03:24
JORGE CORREIA
Estava lá. Era uma linha.
00:48:04:02 – 00:48:28:13
GRAÇA DE FREITAS
Era uma linha vermelha. E se há uma dúvida razoável, nós seguiremos. É uma linha vermelha que nos sentamos e daqui não passamos para onde havia de facto, essas linhas vermelhas? Em relação aos prognósticos, jogava se muito com as probabilidades, porque é isso que a ciência nos diz. A probabilidade e esta probabilidade é aquela. Em França foi assim, na Alemanha foi doutra forma.
00:48:28:15 – 00:48:46:02
GRAÇA DE FREITAS
Nos países onde já fizeram isto ou aquilo, começou se a trabalhar muito por analogia com os outros países. Portanto, aí foi muito importante o trabalho da academia, da retaguarda. Todas essas pessoas começaram a ter tempo para ver o que se passava noutros países e para digerirem essa informação comparativa.
00:48:46:07 – 00:48:49:20
JORGE CORREIA
E aprender com aprender com os erros e aprender com as coisas que foram feitas.
00:48:49:24 – 00:49:14:01
GRAÇA DE FREITAS
Porque a pandemia não estava no mesmo, na mesma fase, em todo o lado. Portanto, havia sítios onde aquilo estava aspire sítios estabelecidos. O tiro já estava na nova variante, Outros estavam na variante antiga. Portanto, se houvesse capacidade de varrer o mundo, isto ao fim de cinco, seis meses. Bem, não foi lá o início. Se houvesse essa varredura do mapa, nós conseguimos aprender com os erros e as virtudes de cada um.
00:49:14:03 – 00:49:32:06
GRAÇA DE FREITAS
Também é mais fácil dizê lo agora do que na altura, porque a mesma história e informação era demasiado, nem sempre. Das fontes também mais credíveis. Os países, nem todos também, ou quase nenhum, para dizer a verdade, tinha capacidade para estar a fazer e ao mesmo tempo publicar e informar os outros e disponibilizar.
00:49:32:09 – 00:49:33:03
JORGE CORREIA
Mas iam falando a.
00:49:33:03 – 00:49:41:12
GRAÇA DE FREITAS
Verdade, íamos falando Fartava nos de falar isso, as videoconferências e essas coisas todas. Foi um avanço.
00:49:41:14 – 00:49:48:07
JORGE CORREIA
Eu tenho uma curiosidade a propósito dessas decisões. E os prognósticos, quem é que tomou a decisão final de fechar as escolas?
00:49:48:09 – 00:49:59:10
GRAÇA DE FREITAS
Foi tudo muito rápido, muito rápido. Olhe, essa foi dos momentos mais rápidos que eu num domingo, estava eu em casa de uma colega que já tinha andado. Já agora.
00:49:59:10 – 00:50:01:02
JORGE CORREIA
Há escolas, empresas, escolas.
00:50:01:04 – 00:50:27:13
GRAÇA DE FREITAS
Escolas. Estava eu em casa de uma colega, médica, médica de saúde pública e, apesar de ter mais experiência de vida e ser mais velha que eu, tinha sido minha interna, tinha feito outras coisas na vida a acompanhar a evolução da região Norte a nível da população escolar e dos clubes nas escolas, a acompanhar a cientista com toda a calma, com os dados para a informação, juntávamos outros ao grupo da videoconferência.
00:50:27:13 – 00:50:54:06
GRAÇA DE FREITAS
Perguntávamos um parecer de um que sabia muito de uma coisa de outro doutor. Estávamos assim quando a senhora ministra Marta Temido, me disse que tínhamos que ir para o ministério fazer uma conferência para dizer o que é que fazíamos às escolas. E só me lembro bem disto porque eu estava vestida a domingo em casa de uma colega e portanto fiz aquilo que acabei por fazer umas semanas todas seguida para mim foi pegar no lenço, porque não?
00:50:54:06 – 00:51:13:23
GRAÇA DE FREITAS
Claro que não eram eles e pedir umas coisas assim e pus sobre uma roupa de domingo e fomos as duas. E curiosamente a ministra deve ter feito a mesma coisa porque não estava a mentir para mim. E depois em poucas horas todas aquelas decisões se atropelaram e a última acaba por ser sempre uma decisão política baseada nas coisas técnicas.
00:51:14:00 – 00:51:44:07
GRAÇA DE FREITAS
Há aqui uma coisa que é bom e é bom que assim seja, porque, de facto, há uma responsabilidade e um poder político que, baseado nas opiniões dos técnicos que temos a obrigação, o dever, lealdade e a obrigação de dar a melhor informação possível às últimas decisões serão sempre dos políticos. É evidente que às vezes os políticos podem quase delegar em nós que ninguém elegeu aí nesse assunto de vida, porque nós não conseguimos sair deste impasse.
00:51:44:07 – 00:52:04:06
GRAÇA DE FREITAS
O que é que você acha que deve fazer? Mas mesmo assim, e eu acho que que é certo é que é bem, porque, volto a dizer, foram eleitos e têm mais responsabilidades que os técnicos não têm. Os técnicos têm uma obrigação diferente da obrigação dos políticos e uma delas é ser leal aos políticos com quem se trabalha. E outra dar lhes a melhor informação possível.
00:52:04:08 – 00:52:08:16
GRAÇA DE FREITAS
A terceira ter lugar à disposição e quarta sair, se for caso disso.
00:52:08:18 – 00:52:18:15
JORGE CORREIA
Houve algum momento em que em que a demissão foi considerada não como uma fantasia, mas como uma decisão tomada?
00:52:18:17 – 00:52:46:23
GRAÇA DE FREITAS
Eu acho que houve aqueles pequenos momentos que eu lhe estava a dizer há pouco. Houve vários dias e foi mais talvez no início e era por por por ondas, olhar. E como eu me era por ondas. Havia uma altura em que estava tudo aparentemente calmo, pois precipitavam se acontecimentos. Eu por vezes digo lhe sou sincera, metia a cabeça na almofada e pensava Olha aí, amanhã de pronto o diga a ministra que arranje outro.
00:52:46:24 – 00:53:09:03
GRAÇA DE FREITAS
Ela diz mim qualquer coisa, mas depois, no dia seguinte era outro dia. Fui. Não, não, não lhe consigo identificar, nem para mim própria, que gostava de ter uma, uma linha, uma timeline mais objetiva de toda esta amálgama. Eu gostava de ter ali tudo certinho, dia um, dia dois, dia três e se eu quisesse eu teria feito uma coisa.
00:53:09:05 – 00:53:21:10
GRAÇA DE FREITAS
É verdade. A Direção-Geral da Saúde tem uma Unidade de Emergências em Saúde Pública há muitos anos, desde o tempo do Zacarias. Tem timeline da Premier, já deu dinheiro, funcionários técnicos, está.
00:53:21:10 – 00:53:22:09
JORGE CORREIA
Lá, está desenhado que.
00:53:22:09 – 00:53:39:24
GRAÇA DE FREITAS
Deviam todos os dias o que se passava e eu é que nunca tive. Enfim, é vontade de ir visitar. Esta também me visita e da Legionella sempre para aprender para a próxima crise das duas janelas me mas não visitei a pandemia de saber que vamos fechar.
00:53:39:24 – 00:54:10:24
JORGE CORREIA
Mas eu quero saber como é que Graça de Freitas reage a duas coisas. A primeira é aos familiares que, ao longo desta crise, telefonaram ou disseram olha que isto se calhar não é assim. Portanto, crítica directa daqueles de quem mais gostamos e, por outro lado, aos inúmeros memes ou piadas na internet que se fizeram à volta da persona da Graça de Freitas, não da pessoa, mas daquela pessoa que teve aquela exposição mediática tão grande.
00:54:11:01 – 00:54:38:03
GRAÇA DE FREITAS
Então os meus familiares tiveram muito pouca intervenção, os meus familiares mantiveram se presentes para o que desse e viesse, mas manifestaram a sua opinião a posteriori. Eu só soube verdadeiramente o que eles pensaram e algumas vezes não pensaram muito bem depois. Portanto, houve muito pouca interferência dos meus familiares. E quando digo, tento de volta milhares de diretos, nomeadamente do meu irmão.
00:54:38:05 – 00:54:54:08
GRAÇA DE FREITAS
Convivo com o meu marido, portanto foram duas pessoas que quando contribuíram contribuíram pelos próprios serem portadores de informação ou científica ou jornalística ou má notícia, ao dizer me olha que estás a apanhar da esquerda, ou da direita, ou da frente, ao.
00:54:54:10 – 00:54:55:12
JORGE CORREIA
Garantir.
00:54:55:14 – 00:54:55:16
GRAÇA DE FREITAS
Que.
00:54:55:16 – 00:54:58:15
JORGE CORREIA
Descansava e que estava alimentada e que voltava para a missão.
00:54:58:17 – 00:55:22:12
GRAÇA DE FREITAS
Basicamente era isto. É exactamente isso. Meu marido tornou se um perito em compras extraordinário compras de supermercado domina até hoje tudo e, portanto, foi fácil. A segunda questão que mesmo pessoas nas piadas, as piadas, eu achava piada e eu achava piada as piadas. Apesar de tudo, eu só não achei piada a uma coisa e digo lhe que não achei mesmo e continuo a não achar e acho que nunca vou achar.
00:55:22:14 – 00:55:46:10
GRAÇA DE FREITAS
Eu tolerei melhor mesmo as pessoas que disseram muito mal de mim o façam em função do que aquelas que me conhecendo não vieram. Um guia dizer Epá, calma que ela não é assim tão má. Houve ali uns meses em que eu senti essa necessidade. Pensei mas não há aqui uma alma que ache que eu não estou a fazer tudo mal?
00:55:46:14 – 00:56:12:15
GRAÇA DE FREITAS
Porque houve uma altura em que eu percebi que as pessoas estavam todas ali, que eu estava a fazer tudo mal. E eu pensei mas não há aqui uma alminha que venha dizer o contrário? E quando finalmente essas alminhas surgiram, não imaginas o sentimento de gratidão eterna que eu terei para com essas pessoas, porque elas de alguma forma contrariaram aquela onda incrível, negativa, com razão e sem razão.
00:56:12:15 – 00:56:32:11
GRAÇA DE FREITAS
Algumas vezes eu não estou a dizer que fiz tudo certo, nunca lhe direi nem que faria tudo da mesma maneira. Também nunca direi, mas senti mais a falta de alguém que dissesse bem, calma que não é assim tão má do que escreveu, é mesmo mais péssima isso. Certa forma estava a fazer o papel deles e custou me muito.
00:56:32:13 – 00:56:33:17
GRAÇA DE FREITAS
Isso Custou me.
00:56:33:19 – 00:56:51:04
JORGE CORREIA
Reservo a última pergunta para. Saber ou para pensar se alguém se sente mais útil quando ocupou o cargo de director geral da Saúde, tendo que lutar contra uma pandemia ou nos primeiros meses, como médica na periferia, no Alentejo, no início da carreira.
00:56:51:06 – 00:57:13:23
GRAÇA DE FREITAS
É tudo tão diferente, porque há aqui um fator que não se pode comparar é o fator idade. Eu quando fui para o Alentejo ainda acreditava que podia salvar o mundo, que podia fazer a diferença, a mudança e que o facto de estar ali a fazer consultas de planeamento familiar. As senhoras de Ponte de Sor e eu fazer uma revolução sexual planetária.
00:57:13:23 – 00:57:42:12
GRAÇA DE FREITAS
Quer dizer, é totalmente diferente porque é diferente o tempo e o sítio, a minha idade e sobretudo isso também a idade das grandes crianças. Mas há uma coisa que eu sei em relação àquela população lá de Ponte de Sôr é que eu fiz consultas sobre materna de planeamento familiar e de pediatria aos filhos. Eu sei que fiz bem as pessoas que me ouviram durante a família eu não sei.
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GRAÇA DE FREITAS
Portanto, em calhando, fui mais útil nos meses de pode ser.
00:57:46:21 – 00:58:13:19
JORGE CORREIA
Mudar o mundo ou simplesmente servir os seus concidadãos. Até nesta dicotomia está um dilema de comunicação sobrevivemos ou fazemos a revolução? A pandemia recordou nos a todos uma dupla verdade não controlamos nada e dependemos muito dos outros para responder aos problemas difíceis. E aqui a comunicação pode dar uma boa ajuda, apaziguando os medos e oferecendo uma perspetiva de caminho até para a semana.
O cérebro humano e o seu funcionamento.
A caixa onde guardamos as palavras, os sentimentos e os movimentos.
O cérebro enquanto caixa de comando e guardador de memórias e identidades.
O cérebro que se molda plasticamente para compensar danos, bloqueios e faltas de ar.
O cérebro do juízo e da consciência.
Da alma ou apenas como fundação biológica.
Este “podcast” entra pelo ouvido, mas é aí, desse lado, processado na sua mente.
Daqui um perguntador que quis saber tudo dos saberes do neurologista Joaquim Ferreira.
Todos vimos o momento em que o atual presidente dos Estados Unidos bloqueou num debate vital com o seu oponente.
Em pleno direto Jose Biden como que congelou.
Ficou com ar vago e focado no horizonte.
E as palavras ficaram caladas.
Todo o debate foi marcado por este momento aflitivo.
Mas já antes houve sinais de alerta.
O tropeçar na escada do avião. O ficar parado como que desligado das pessoas que estavam em volta.
Sim, o movimento ou a alteração do movimento é porta de entrada para algo que se pode estar a passar no cérebro.
Todos sabemos como acabou esta história: Joe Biden abundou a corrida eleitoral.
Este foi o pretexto inicial para gravar uma conversa com o médico, investigador e professor Joaquim Ferreira. É neurologista.
Dedica-se a estudar o mais enigmático órgão que possuímos: o cérebro.
Oportunidade para aprender sobre a maneira como faz perguntas, como observa.
Vê-se como fica encantado com a maneira como o cérebro humano se adapta.
Como o sono, o exercício e estarmos simplesmente a conviver uns com os outros nos pode proteger das temíveis doenças neurodegenerativas.
Mas onde está a fronteira entre o normal envelhecimento e algo mais sério do que o lento gastar da nossa existência?
Como um alerta: a reforma é capaz de não ser a melhor receita para quem quer manter o cérebro a vibrar. Tal como dormir mal. Ou não falar com os amigos. Ou não mexer os músculos.
Uma conversa sobre comunicação, biologia e comportamento humano.
Está tudo dentro da nossa cabeça
Da dúvida nascerá a luz.
Perguntas que se fazem seguramente dentro da cabeça para responder ao infinito mistério do funcionamento do cérebro humano.
Todas as perguntas.
Como funciona, como carrega palavras e emoções.
Como nos faz sentir um eu e não o outro.
Onde começa e acaba de ter consciência de si próprio e do outro.
Talvez esta questão da identidade seja aquela que mais me perturba nos eventos ligados ao nosso cérebro.
Em muitas das doenças neurológicas perde-se o sentido do eu e a ligação aos outros.
E nesse momento a simples pergunta “quem és tu?” ou “quem sou eu?” Deixa de ser uma dúvida existencial e passa a ser um vazio insustentável.
00:00:00:06 – 00:00:14:15
JORGE CORREIA
Joaquim Ferreira, neurologista, professor de neurologia, professor e doutor de neurologia. É um estudioso desta última fronteira. Nós sabemos muita coisa sobre muitos órgãos, mas o cérebro continua a ser um grande ponto de interrogação.
00:00:14:17 – 00:00:37:12
JOAQUIM FERREIRA
E esse termo estudioso é um bocadinho pomposo e diria que o professor é verdade. Actualmente o professor tem a responsabilidade de formar alunos, formar médicos. Na minha escola, na Faculdade de Medicina, tenho responsabilidades na farmacologia clínica e na neurologia e investigar muito. Imagino que quem tem um projeto académico é suposto deveria fazer uma troika com este termo Troika, troika que foi aplicado em Portugal.
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JOAQUIM FERREIRA
Noutro contexto, troca a troika para um académico, médico e ser competente quando é suposto que eu saiba fazer bem aquilo que depois vou ensinar. Depois ensino bem os meus alunos e faço investigação porque ainda tenho a veleidade de achar que esta conjugação permite me formar melhores médicos e eu próprio, no fundo, ter um conjunto de competências que me levem a fazer melhor daquilo que é suposto a quem está na academia ensinar a ver o doente de forma competente e fazer investigação clínica científica Nas áreas onde trabalho.
00:01:09:21 – 00:01:31:07
JORGE CORREIA
Um perito em neurologia seguramente tem arte principal para fazer perguntas. De resto, os cientistas têm essa. Segue algum método para para fazer perguntas sobre sobre as coisas e sobre o cérebro? O que é que pergunta? Isto é curioso. É quase uma matrioshka que pergunta ao seu próprio cérebro como é que faz perguntas sobre o cérebro no geral do nosso, de toda a gente?
00:01:31:08 – 00:01:42:23
JOAQUIM FERREIRA
Ser médico obriga me a fazer perguntas. Cada pessoa que eu vejo é suposto saber um bocadinho porque é que a trouxe ali. O que é que tem, o que é que aquelas coisas justificam tanto? O simples exercício da medicina é um exercício de curiosidade.
00:01:43:04 – 00:01:45:22
JORGE CORREIA
Há perguntas fundamentais para se fazer um doente.
00:01:45:22 – 00:02:08:23
JOAQUIM FERREIRA
A primeira pergunta tem quase a ver com o jornalismo, que é deixar gente falar da primeira pergunta numa consulta médica. O primeiro tempo é o que é que o trouxe aqui? O que é que aconteceu desde a última vez que nos encontramos? Que é, no fundo, dar um tempo para aquilo que nós somos. Discurso espontâneo não é para que as pessoas nos digam aquilo que lhes vem à cabeça.
00:02:09:00 – 00:02:27:20
JOAQUIM FERREIRA
E é que é importantíssimo nós escutarmos de forma atenta. A primeira pergunta é deixar quem está do outro lado, seja doente, ou seja, uma pessoa que não tem doença nenhuma formal, mas tem uma razão que a traz a falar connosco, expressar se depois de um encadeamento de ideias aplica se à clínica. Como se aplica a ciência, como se aplica ao ensino.
00:02:27:24 – 00:02:49:02
JORGE CORREIA
E isso aplica se também. Quero imaginar que, mesmo antes de fazer uma pergunta verbal ou ouvir qualquer palavra no momento em que o doente entrou ali na porta do consultório, logo aí dá para retirar informação daquilo que que aquela pessoa pode trazer Imensas coisas.
00:02:49:04 – 00:02:56:18
JOAQUIM FERREIRA
Às vezes sinto me mal, pois o resto do tempo é um bocadinho teatro, porque aquele momento inicial já me deu imensas pistas sobre aquilo que vou decidir depois.
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JORGE CORREIA
Já um clique.
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JOAQUIM FERREIRA
Imenso dentro da neurologia, de como uma área que se chamam doenças do movimento. O que é que são as doenças de movimento? Que nomes de doenças devem ser Parkinson, tremor, doença, que não são, doenças, que dão uma lentificação do movimento ou geram movimentos anormais. Curiosamente, o jornal científico desta área, os artigos científicos vêm em papel, agora em formato digital, mas também têm vídeos, Ou seja, a forma de nós ensinarmos e de falarmos com os nossos colegas e explicarmos aquilo que vimos e mostrando vídeos em que é reportado o tal movimento normal.
00:03:31:04 – 00:03:33:23
JORGE CORREIA
Portanto, há uma interpretação no fundo do movimento.
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JOAQUIM FERREIRA
É muito curioso que antes da pandemia tinha previsto dar uma aula a alunos internacionais de várias escolas médicas em que o tema era fazermos diagnósticos só por vermos os doentes andar melhor e fazer diagnósticos para vermos as pessoas andar.
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JORGE CORREIA
Como é que esse início.
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JOAQUIM FERREIRA
Tinha previsto e tinha previsto? Não foi nada. Portanto, eu estou aqui a confessar algo que tinha planeado e que acabou por não acontecer e que também tem a sua graça, que era a minha ideia aplicar nos alunos alunos internacionais. Era um congresso médico Internacional para alunos de Medicina, organizado pelos alunos da minha escola médica da Faculdade de Medicina e ala que eu tinha previsto pegar nos alunos, irmos para o metro, sentarmo nos e vermos as pessoas passarem por nós, caminharem e em função do tipo de andar, das alterações de marcha, da forma como caminhamos, nós aprendemos imenso sobre, no fundo, o estado de saúde das pessoas se não estiverem saudáveis, sobre a doença que gera
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JOAQUIM FERREIRA
uma marcha que pode estar um bocadinho alterada, tem o mérito de que, como eu depois não ia falar com as pessoas, não e nunca confirmaria o diagnóstico. Portanto, que eu brigava com os alunos sem ter um fundo de verificação. Depois, se a minha hipótese não bate certo, mas sim, eu vou esperar todos os meus doentes à porta ou até fora da porta, porque muitas vezes têm que os ajudar a entrar, porque eles caminham de uma forma lenta a forma, a temperatura da mão.
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JOAQUIM FERREIRA
Quando damos um aperto de mão, ensinamos imensas coisas. O som que produzimos quando caminhamos no fundo do arrastar de um pé no chão porque temos dificuldade de mover uma perna dá nos imensa informação, portanto. Sim, a não ser que esteja muito cansada, não esteja em forma, também nós estamos em forma. Fomos parar todos os meus doentes à porta e acompanho os e estou atento a tudo aquilo que resulta do contacto verbal, da marcha, do movimento, da temperatura da pele.
00:05:21:03 – 00:05:34:14
JORGE CORREIA
Lembro me agora. Tive um vislumbre da minha aldeia, da aldeia dos meus avós, de uma expressão que se usava, que é está tão velho que arrasta os pés que era. Lá estamos nós.
00:05:34:14 – 00:05:51:12
JOAQUIM FERREIRA
Está corretíssimo, está corretíssimo e é de facto o envelhecimento leva a uma lentificação do movimento. É uma lentificação da marcha sim. Se nós olharmos em fundo para toda a população mundial e formos medir a velocidade da marcha das pessoas à medida que envelhecem.
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JORGE CORREIA
Tivemos as crianças que estão sempre a correr.
00:05:54:15 – 00:06:11:03
JOAQUIM FERREIRA
Nós envelhecemos, a velocidade do nosso andar vai diminuindo e depois o que é de facto é interessante, mas perigoso. Nós. É quase como se nós conseguíssemos prever o fim da vida só pela velocidade com que nos deslocamos. Movimento caminhando.
00:06:11:05 – 00:06:14:08
JORGE CORREIA
Não, não sei se há um estudo, mas haverá uma curva e uma curva.
00:06:14:10 – 00:06:34:14
JOAQUIM FERREIRA
Na largura, uma curva. Há uma curva para os homens, há uma curva para as mulheres e, portanto, isso é, isso é factual. Portanto, isso é a ciência. Eu depois brinco um bocadinho no hospital, desloco me muito rapidamente, as pessoas vêem me a correr e eu digo que a forma de combater a minha pressão natural para andando mais devagar foi de estar mais próximo de um fim de vida.
00:06:34:16 – 00:06:58:00
JOAQUIM FERREIRA
A nossa biologia é muito interessante. Não é só estarmos, não. É só que as pessoas mais velhas da aldeia que se lembram não era só andarem mais devagar. Há outras coisas que também acontecem. Pessoas passam andar mais devagar, passam a ficar mais esquecidas, ficam um bocadinho baralhadas, têm umas brancas, algumas têm um comportamento um bocadinho normal, ser um bocadinho mais aluado, mais diferente.
00:06:58:05 – 00:07:12:16
JORGE CORREIA
Onde é que está a fronteira entre o normal envelhecimento com essa lentificação do movimento, essa palavra que se esqueceu o nome que que foi trocado para um advento de uma doença.
00:07:12:18 – 00:07:33:16
JOAQUIM FERREIRA
Há uma forma muito simples, que é quando isso interfere naquilo que é função que nós devíamos fazer naquela idade, passa a ser doença. Ou seja, quando uma coisa é uma característica, não é presente que estamos aqui a dizer eu estou. Na medida que envelhecem, têm características diferentes, ficam com rugas e as rugas do ponto de vista mais a andarem um pouco mais devagar.
00:07:33:18 – 00:08:05:05
JOAQUIM FERREIRA
O que é doença? É doença quando de alguma forma condiciona o desconforto, o sofrimento, a perda de funcionalidade. Quando uma coisa é uma pessoas perderem a autonomia, então é bom que alguém com 85 anos ou 90 anos consiga deslocar se, consiga gerir os seus bairros, vai conseguir gerir as suas propriedades. Depois, em termos matemáticos, nós usamos no fim dos anos médias e usamos uns desvios e obviamente, consideramos doença aquilo que está um bocadinho desviante daquilo que é o padrão mais frequente da maior parte das pessoas naquela idade.
00:08:05:07 – 00:08:10:03
JORGE CORREIA
Portanto, em princípio, o envelhecimento não é uma doença em si mesmo.
00:08:10:05 – 00:08:11:10
JOAQUIM FERREIRA
Não é uma doença.
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JORGE CORREIA
É uma condição humana.
00:08:12:10 – 00:08:29:15
JOAQUIM FERREIRA
É uma mudança de uma característica biológica que de facto tem esta variável, que é o tempo. E o tempo é inexorável. O tempo vai progredindo, nós não conseguimos fazer com que o tempo ande para trás. Mas é essa observação muito perspicaz que faz depois. Tem imensas implicações, mesmo do ponto de vista científico.
00:08:29:16 – 00:08:31:09
JORGE CORREIA
Então vamos ramifica las.
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JOAQUIM FERREIRA
Uma coisa muito simples e nós temos imensa dificuldade a tratar muitas doenças em que a idade de facto é o fator de risco principal e algumas, infelizmente são doenças em que o trabalho por causa de Alzheimer. A doença de Parkinson Ainda hoje estava num evento na faculdade de Ciências em que se falava de exercício e falava se da importância, no fundo destas, destas atividades.
00:08:52:16 – 00:09:19:14
JOAQUIM FERREIRA
E eu alertava a toda a gente que é fundamental pensarmos nestas intervenções terapêuticas não farmacológicas. O exercício, porque o número de pessoas com estas doenças cruéis, como o Alzheimer e a doença de Parkinson, vão aumentar nos próximos anos e nós temos que fazer o máximo possível para que o atrasarmos o seu aparecimento, o que idealmente não aconteça. Mas voltando à idade, a idade, de facto, é o fator de risco principal para que estas doenças apareçam.
00:09:19:16 – 00:09:38:15
JOAQUIM FERREIRA
E nós temos nós. Comunidade científica tem tido imensa dificuldade em ter bons tratamentos para estas doenças. Nós temos tratamentos que melhoram um bocadinho os sintomas da doença de Parkinson, que melhoram muito os sintomas, mas não temos nenhum tratamento, o que impeça que elas começam ou que, uma vez começando, atrasem a sua evolução, tanto que evoluam, progridam de forma mais lenta.
00:09:38:15 – 00:10:02:04
JORGE CORREIA
Isso é muito curioso, porque se nós olharmos para outros órgãos, para o coração, para o fígado, para os rins, o número de opções vão sempre melhorando. Hoje já se fala, não sei se no universo do desejo, da fantasia ou da realidade, já há de ter umas células, linhas de substituição, umas células estaminais que a gente possa ir lá fazer uns remendos.
00:10:02:06 – 00:10:15:05
JORGE CORREIA
O que raio tem o cérebro para ser assim tão difícil de deixar entender o seu mecanismo e de abrirmos portas para a gente conseguir apertar com a parte que eu chamo de parafusos?
00:10:15:07 – 00:10:26:02
JOAQUIM FERREIRA
Tem toda a razão. As doenças cerebrais. Tem sido mais difícil encontrarmos bons tratamentos, mesmo comparando com outras doenças também cruéis do cancro. Estes últimos anos o progresso no tratamento do cancro foi enorme.
00:10:26:04 – 00:10:28:07
JORGE CORREIA
Então o que é que o cérebro tem que.
00:10:28:09 – 00:10:36:02
JOAQUIM FERREIRA
Nós sabemos menos sobre o mecanismo da doença, isto é, quando coisas como temos uma avaria lá em casa, não é mais fácil resolver. Se a gente souber onde é que está o furo.
00:10:36:02 – 00:10:43:00
JORGE CORREIA
E também, como até agora havia muito poucos doentes em comparação na população, nós morríamos mais cedo.
00:10:43:02 – 00:10:49:04
JOAQUIM FERREIRA
É verdade mesmo. Já há muitos anos que temos muita gente em idade de ter estas doenças. Já não é por falta de população para.
00:10:49:04 – 00:10:50:16
JORGE CORREIA
Estudar, Então é o próprio órgão que é.
00:10:50:16 – 00:11:06:01
JOAQUIM FERREIRA
Deficiente, oxidado. A complexidade da causa que está na base do aparecimento dos sintomas, algumas doenças de outros órgãos. Nós sabemos que há ali um anticorpo que encaixa numa determinada superfície.
00:11:06:05 – 00:11:06:23
JORGE CORREIA
Descobrimos um bem.
00:11:06:24 – 00:11:11:13
JOAQUIM FERREIRA
Nós conseguimos ir lá, interromper aquilo é apenas um fator ou dois fatores.
00:11:11:15 – 00:11:12:19
JORGE CORREIA
E os nossos neurónios.
00:11:12:21 – 00:11:40:11
JOAQUIM FERREIRA
São muitos fatores e nós não os conhecemos. E nós só desenvolvemos medicamentos para os mecanismos que conhecemos. Nós não temos capacidade de desenvolver um medicamento para coisas que nós não sabemos que são importantes. Mas voltando ao envelhecimento, o problema do cérebro é que o fator principal que condiciona o aparecimento destas coisas, mas é de facto a idade. Ou seja, se eu começar com doença de Parkinson aos 50 ou aos 55 e depois aos 65, as coisas mais vão acontecer mais tarde, mais ou menos na mesma idade.
00:11:40:11 – 00:11:58:09
JOAQUIM FERREIRA
Ou seja, o relógio biológico é poderosíssimo que nós, para podermos de facto atrasar estas doenças, de aparecerem coisas que tínhamos que mexer no relógio e mexer no relógio da vida do tempo é muito mais difícil do que ter um anticorpo que se vai ligar a uma determinada substância e impede o aparecimento de uma doença muito difícil.
00:11:58:12 – 00:12:14:13
JORGE CORREIA
Se nós estamos a olhar para determinadas doenças do cérebro que se manifestam, tem como sintoma o movimento, o movimento, a ginástica, a piscina, a dança, o passeio podem ajudar a tentar parar isto um bocadinho.
00:12:14:13 – 00:12:25:16
JOAQUIM FERREIRA
São importantíssimos. É uma coisa que nós fazemos há milhares de antes de olharmos assim um bocadinho de soslaio. É verdade, pensamos que era assim uma coisa quase recreacional, Não é? Como que vai ao cinema.
00:12:25:16 – 00:12:27:09
JORGE CORREIA
É divertido não pensar mais nisso.
00:12:27:12 – 00:12:42:23
JOAQUIM FERREIRA
É muito curioso, até porque estamos a falhar no desenvolvimento medicamentos. Temos que nos voltar. Os médicos também têm os seus truques e os cientistas também têm os seus truques. E, obviamente, como estamos a falhar um bocadinho o desenvolvimento de medicamentos, vamos por outro caminho de doenças. O que é que nós podemos usar que talvez funcione de facto, o exercício.
00:12:43:00 – 00:13:07:05
JOAQUIM FERREIRA
A física funciona e funciona e é muito curioso e útil do ponto de vista dos aspetos motores, o andar, a postura. Mas também é útil do ponto de vista dos aspectos cognitivos e comportamentais. O exercício melhora a ansiedade, melhora a depressão e também melhora aspectos cognitivos. E ainda é muito engraçado porque é consegue também dominar alguns aspetos que tem a ver com a indústria farmacêutica e os medicamentos.
00:13:07:07 – 00:13:21:11
JOAQUIM FERREIRA
Nós, na parte farmacológica, queremos ter medicamentos que são muito específicos, que atuam naquele recetor e que a gente consegue controlar tudo. O exercício é exatamente o oposto disso. O exercício é uma coisa que atua em várias zonas do cérebro, que não é nada específico.
00:13:21:11 – 00:13:23:14
JORGE CORREIA
É holístico, quase.
00:13:23:16 – 00:13:57:18
JOAQUIM FERREIRA
Nós temos em farmacologia um termo que eu vou ter que inglês, que drugs, drogas sujas, medicamentos sujos porque? Porque não são muito específicos, atuam no recetor, no receptor, bem no receptor. Vê? Isso é spam. Farmacologia é uma heresia, uma coisa má. Por que a gente perde o controlo? O exercício é uma tratamento, mas faz bem, portanto, e quase questiona muitos dos princípios que de alguma forma norteiam quem, como eu, exposto, desenvolver e criar medicamentos para tratar as doenças, ou seja, extremamente eficaz.
00:13:57:19 – 00:14:17:13
JORGE CORREIA
Olá, Vamos então Paz aos saberes da antiguidade. Bem alimentar, bom sono, bom exercício. O sono também conta. Estou a pensar porque a nossa vida hoje é cada vez mais apressada. A nossa qualidade de sono eh recente, temos telemóveis a noite e por aí fora. Dormir bem e protetor.
00:14:17:17 – 00:14:39:21
JOAQUIM FERREIRA
É também uma redescoberta. Mas os antigos já o diziam, não é? Portanto, sim, o sono faz parte da lista dos fatores que são fundamentais para para um bom estado de saúde e provavelmente por uma boa qualidade de vida. Não só no sentido que dormir bem também nos causa coisas boas, coisas muito simples. Não dormirmos bem se tivermos um sono fragmentado no dia seguinte, estamos mais cansados.
00:14:39:23 – 00:15:08:17
JOAQUIM FERREIRA
A nossa performance profissional e menos boa até a parte cognitiva fica menos boa. Portanto, um sono de má qualidade diminui as nossas capacidades cognitivas. Sim, mas o sono é muito engraçado também. Sob muitos aspectos, o sono é um marcador do aparecimento futuro de doenças. Algumas alterações do sono que se alguém tiver aos 40 anos, aos 45, o risco de passar de 15 anos, ter uma doença neurodegenerativa elevadíssima.
00:15:08:19 – 00:15:10:13
JORGE CORREIA
E conseguimos medir isso, conseguimos medir.
00:15:10:13 – 00:15:14:05
JOAQUIM FERREIRA
Basta perguntar como é que eu estou hoje? É melhor eu não dizer.
00:15:14:07 – 00:15:14:20
JORGE CORREIA
Para não assustar.
00:15:14:20 – 00:15:37:02
JOAQUIM FERREIRA
As pessoas, Ninguém. Mas sim, há algumas características do sono que o médico na consulta, fazendo um questionário, consegue identificar e que são de facto um fator, diria preditor enorme, porque algumas doenças podem surgir no futuro. Sim, quando o sono é mais um daqueles aspetos de que na medicina e na ciência tem uma imensa informação importantíssima.
00:15:37:08 – 00:16:15:16
JORGE CORREIA
Vamos a um caso muito concreto e muito pragmático. Nas últimas semanas, na corrida eleitoral nos Estados Unidos, há um debate entre o presidente Tebaida e o candidato a presidente Trump. De resto, ele própria também é presidente. E acontece algo que nos chocou todos, que é o presidente Biden ficou longos segundos parado, o olhar quase no horizonte, não articulava palavras com a fluência que lhe articulava.
00:16:15:18 – 00:16:29:11
JORGE CORREIA
O que levou, no fim destas contas todas, a que ele tenha abandonado a corrida? O que que os olhos de um médico vêem nisto? Que aconteceu a de Almeida?
00:16:29:13 – 00:16:33:24
JOAQUIM FERREIRA
Os meus olhos são bem mais perigosos do que os olhos da população em geral a olhar para este tipo de situação.
00:16:33:24 – 00:16:35:00
JORGE CORREIA
Por isso é isso que eu estou a.
00:16:35:00 – 00:17:01:18
JOAQUIM FERREIRA
Procura no primeiro comentário. Felizmente ou infelizmente, o presente ainda não é meu doente, Portanto eu vou comentar à vontade, porque ausente aqui e como observador televisivo, não é, portanto, por cima da figura pública e portanto, aquilo que vou comentar não é algo que não tenha sido já comentado e que eu vendo que encontrou em múltiplos órgãos de informação e na web uma branca, aquele episódio por si só, deveria levar, no fundo, a decisão de abandono de uma campanha presidencial num país como os Estados Unidos.
00:17:01:18 – 00:17:10:14
JOAQUIM FERREIRA
Aquele episódio isolado por si só, não é, portanto, um episódio em que um de nós obviamente persegue o presente, mas tem no momento uma idade já avançada numa vida.
00:17:10:14 – 00:17:11:23
JORGE CORREIA
É difícil, não é durante muito tempo.
00:17:11:24 – 00:17:32:12
JOAQUIM FERREIRA
Passado, mas é possível estar cognitivamente muito bem naquela idade. Claro que sim. Claro que sim. Há pessoas notáveis que estão cognitivamente em plenitude. Será que aos 80 anos, aos 85 anos, portanto, aquele episódio que é o episódio em que toda a gente percebeu que ficou desorientado, no fundo ficou baralhado e foi público, não foi, nem foi e foi.
00:17:32:12 – 00:17:54:21
JOAQUIM FERREIRA
Todos ficamos incomodados, eu diria. Portanto, um episódio daqueles, por si só, deve nos levar a tirar conclusões de que há um declínio cognitivo ou que há uma doença. Não o problema do presente, que aquilo é associado a um conjunto de outras coisas, na linha daquilo que já falámos há pouco, obviamente, e eu sei bem porque eu vou buscar estes vídeos um bocadinho, até para ensinar os meus alunos.
00:17:54:23 – 00:18:14:13
JOAQUIM FERREIRA
O presidente Biden caiu de bicicleta uns meses antes. Estavam os jornalistas. Ele parou, desequilibrou se, a bicicleta caiu. Presidente Biden é a subir as escadas do esforço do avião presidencial, tropeçou e caiu. Se olharmos para o presidente, pai dele, está a andar mais devagar. Claramente já.
00:18:14:15 – 00:18:16:11
JORGE CORREIA
Não levanta tanto os joelhos, os.
00:18:16:11 – 00:18:43:20
JOAQUIM FERREIRA
Passos são mais pequenos, está mais lento a movimentar se e mesmo para o não perito, percebe que há ali algum desiquilíbrio. É quase como se nós fossemos lá dar um encontrão, provavelmente ele desequilibrar se ia esta e outros aspetos. Em alguns momentos parece que teve algum comportamento de maior desinibição num contexto social em que estava, inclusive com pessoas com que provavelmente não teria familiaridade.
00:18:43:24 – 00:18:45:12
JORGE CORREIA
Portanto, com um filtro mais baixo.
00:18:45:18 – 00:19:15:01
JOAQUIM FERREIRA
Portanto, eu diria a alguém que alguém cuja memória está menos boa, alguém que tem 80 anos, cuja memória de vez em quanto leva o a pregar umas partidas, que em alguns combates fica desorientado. Alguém que de repente na rua perde o norte, numa zona que conhecia muito bem, está a andar mais devagar que de vez em quando cai, cujo comportamento em contexto social é diferente daquilo que tinha se calhar uns meses há uns anos antes.
00:19:15:03 – 00:19:48:15
JOAQUIM FERREIRA
Esse conjunto de coisas deve nos fazer suspeitar de que é uma doença assim. E, portanto, como é que o neurologista, que ainda por cima trabalha nesta área, olha, olha com preocupação e de alguma forma, para mim era óbvio que aquela conjugação de queixas, de sintomas, de sinais indiciavam de facto algum declínio. E, obviamente, perante uma entidade tão grande responsabilidade, obviamente não faria sentido, no fundo, exigirmos que alguém em que aquela conjugação de sinais, tão presente no fundo, mantivesse aquele tipo de atividade.
00:19:48:17 – 00:20:09:15
JORGE CORREIA
E nota se na linguagem também eu estou a perguntar isto por uma razão porque nós vimos o debate com Joe Biden. Lá está a falar mais devagar e mais pensativo, quase mais introspectivo e dois dias depois, seguramente com o apoio de um teleponto. Provavelmente isso, mas que voltou outra vez a fazer um discurso brilhante, como sempre fez.
00:20:09:17 – 00:20:47:21
JOAQUIM FERREIRA
O nosso cérebro e a forma como funciona é flutuante. Mesmo as pessoas que nós conhecemos que têm doença de Alzheimer e de doença diagnosticada e que de facto têm momentos de grande limitação, tem momentos de grande acutilância. E quem ouvir esta nossa conversa que de facto, pessoas mais velhas em casa com o diagnóstico e que obviamente vive essa crueldade na realidade, pessoas de quem gostamos, mas que é um declínio, vão reconhecer que aquilo que eu digo que mesmo alguém que já tem dificuldade vem no fundo de evocar o nome dos familiares, às vezes num contexto, numa conversa, expressa se numa forma muito acutilante, muito no ponto, muito sagaz.
00:20:47:23 – 00:21:08:03
JOAQUIM FERREIRA
Portanto, o nosso cérebro também funciona de uma forma flutuante e, portanto, podemos estar menos bem no momento e uns minutos depois, umas horas depois ou num dia diferente, de facto, mais em forma. Portanto, essa flutuação faz parte da forma como o nosso cérebro funciona, Mas isso nós sabemos que é assim. Quem obviamente trabalha nesta área tem e tem essa noção e aumenta o grau desde que.
00:21:08:03 – 00:21:38:01
JOAQUIM FERREIRA
A questão é que o grau de exigência que se coloca a alguém que tem as responsabilidades do presidente de uma qualquer nação, obviamente é diferente do cidadão comum, que pode, obviamente, manter a sua autonomia, ter a sua vida familiar e profissional minimamente funcionante, mesmo com algum declínio. A pessoa ter um declínio cognitivo numa casa que esteja doente e mesmo as pessoas com demência, mesmo pessoas com doença de Alzheimer, mantêm podem manter algumas capacidades, inclusive de interferir em decisões familiares perfeitamente.
00:21:38:01 – 00:22:09:19
JORGE CORREIA
Estou me a lembrar de um livro que depois de um filme chamado Este país não é para velhos e fiquei a pensar se é esse e essa consciência do passar do tempo e da maneira como as coisas nos nos afetam. A nossa, o nosso, o nosso cérebro. Se. Poderíamos ou não temos ética em determinadas funções sociais ou profissões, ter limitação de idade ou obrigação de fazer alguns testes.
00:22:09:21 – 00:22:31:18
JOAQUIM FERREIRA
E eu acho que tudo que fazemos aqui conversar obriga nos a repensar imensas coisas, mas que deve ter outro sentido. Um bocadinho ao contrário. Estávamos aqui ambos a concluir que o exercício era importante. Se isso é importante, quase como entre aquelas intervenções que claramente pode atrasar o aparecimento destas doenças neurodegenerativas, então devemos mantermo nos o mais ativos possível.
00:22:31:20 – 00:22:37:24
JOAQUIM FERREIRA
A outra coisa que é importantíssima é a socialização e o convivermos intelectualmente, conversarmos os dois, irmos ao cinema e lemos um livro.
00:22:38:01 – 00:22:39:02
JORGE CORREIA
Também nos defende isso.
00:22:39:02 – 00:22:49:20
JOAQUIM FERREIRA
A socialização é uma forma de treino cognitivo, treino do cérebro, portanto, a atividade física é importante. O estímulo cognitivo e o treino cognitivo também é importante.
00:22:49:20 – 00:22:59:03
JORGE CORREIA
Portanto, ao contrário, se ficarmos isolados e quietos, a probabilidade de você ler a palavra definhar mais e.
00:22:59:03 – 00:23:16:18
JOAQUIM FERREIRA
Mais destes sintomas aparecerem mais cedo é maior. Agora, o que é que nós fazemos como sociedade? Nós reformamos as pessoas? Isto é inacreditável. Nós já sabemos que estas coisas são boas. Pegamos em alguém que tem 70 anos ou 157 dizendo se formos agora, vai.
00:23:16:20 – 00:23:18:05
JORGE CORREIA
Ser quase um atestado de inutilidade em.
00:23:18:06 – 00:23:54:10
JOAQUIM FERREIRA
Toda não prescrever quase uma receita que induz doença exatamente ao contrário. E dizer assim as rotinas que o obrigam a sair de casa, estar no emprego às 08h00, resolver problemas, escrever coisas e, no fundo, estar ativo. Mas conviver com os colegas tanto socialização é bom, deixou de acontecer e ainda por cima merecemos tudo o que nós estamos a dizer nos grupos de maior risco em que o acontecer desta imobilidade e desta diminuição da socialização causa mais problemas quando nós socialmente colocamos essa chancela.
00:23:54:10 – 00:24:08:21
JOAQUIM FERREIRA
Portanto, nós, sem termos muita noção, estamos. Ainda por cima, a reforma, nomeadamente no modelo social português, é muito dicotómico. Ou trabalhamos ou não trabalhamos o nosso modelo social, O nosso modelo de segurança social.
00:24:08:21 – 00:24:10:00
JORGE CORREIA
Não tem degrauzinho.
00:24:10:02 – 00:24:24:24
JOAQUIM FERREIRA
Está a trabalhar, está formado, não tem degraus, não tem degraus e portanto nós estamos a fazer mal às pessoas por uma decisão social que ter de ser uma questão de conforto, que a pessoa nos vai fazer as coisas que nunca fez. Mentira.
00:24:24:24 – 00:24:28:18
JORGE CORREIA
Tem se o tempo todo para fazer. Tens o rendimento aqui vai se vai fazer.
00:24:28:20 – 00:24:57:08
JOAQUIM FERREIRA
Portanto, um modelo, tanto um modelo de intervenção social em que as coisas fossem uma gradação. E obviamente vamos manter as pessoas, não vamos manter um contributo positivo, vamos manter. Há uma história nas instituições e, portanto, estamos a desaproveitar, por um lado, o conhecimento e, por outro lado, estamos a aumentar o risco de induzir a doença. Portanto, é algo, eu diria, quase trágico do ponto de vista de movimento social.
00:24:57:09 – 00:25:21:03
JORGE CORREIA
Eu tenho uma curiosidade que é nós estamos na sociedade da performance, do mais rápido, do mais produtivo, do mais eficiente, do mais eficaz e, portanto, a existência de uma aceleração disto. O nosso cérebro gasta se com essa aceleração ou é completamente independente da maneira como ele funciona e vai funcionando?
00:25:21:05 – 00:25:27:18
JOAQUIM FERREIRA
Não sabemos totalmente. A pergunta é o cérebro estragas tudo? Esse estímulo, esta.
00:25:27:18 – 00:25:38:08
JORGE CORREIA
Alta competição, no fundo é como os músculos e os pés dos futebolistas que não finda no fim da carreira. Estão aí. Jesus e a nossa cabeça pode queimar entre aspas.
00:25:38:10 – 00:26:03:15
JOAQUIM FERREIRA
E diria, é a melhor informação científica que temos. Sugere que não. Neste sentido que é quem é mais estimulado, quem é quem, no fundo tem que tem que ter, tem que tem que produzir mais usando o mesmo cérebro está e resultar um prejuízo, ou seja, se este se esgotava mais cedo. Isto aplicado ao coração. Há quem ache que o número de batimentos cardíacos é finito, portanto não devemos fazer exercício, porque quando fazemos exercício aumenta a frequência cardíaca.
00:26:03:18 – 00:26:19:11
JOAQUIM FERREIRA
Convém poupar, Portanto, se gastarmos mais cedo os batimentos que temos, morremos mais cedo e, portanto, não o serve primeiro. Isto não se aplica ao coração, não é verdade? Mas há quem defenda essa possibilidade. Há aqueles que são avessos a fazer atividade física. É boa.
00:26:19:11 – 00:26:19:23
JORGE CORREIA
Desculpa.
00:26:19:23 – 00:26:44:00
JOAQUIM FERREIRA
Se isto se aplica, se isto se aplica ao cérebro, que não que saibamos quando há outros fatores que muitos desses fatores induzem e diria doença mental. Sim, não é tudo estudo. Esse grau de exigência pode levar a quadros de perturbação da ansiedade ou quadros depressivos. Tentamos a doença e a doença, pois interfere com a nossa performance? Claro que sim.
00:26:44:04 – 00:26:57:17
JOAQUIM FERREIRA
E a doença é um fator de risco para essas outras coisas. Indiretamente, sim, diretamente. Que saibamos com os melhores dados científicos que temos. Não podemos continuar a usar o cérebro na nossa plenitude, mesmo de tal forma acelerada que pense no.
00:26:57:17 – 00:27:23:01
JORGE CORREIA
Que é o que é extraordinário quando nós. Este é um programa sobre sobre comunicação e o que é que tem de ser Uma curiosidade iniciática sobre o nosso cérebro desde tenra idade começa a guardar palavras e a juntar palavras e frases e entender o significado sobre as coisas de que a gente guarda exactamente as palavras. Onde é que elas estão, como é que funciona estas gavetas, como é que há.
00:27:23:01 – 00:27:46:09
JOAQUIM FERREIRA
Coisas que estão de facto guardadas em gavetas e, portanto, há um espaço que nós sabemos mais ou menos o que é que lá acontece. Como é que nós sabemos isso? Sabemos desde há muitos, muitos anos. O que acontecia era que quem tinha uma lesão cerebral, um acidente vascular, um tumor ou mesmo um acidente, um traumatismo, alguém que tinha de repente vemos com uma seta espetada na cabeça.
00:27:46:11 – 00:28:00:14
JOAQUIM FERREIRA
Nós fazíamos a correlação entre se a lesão está neste sítio, se ela de repente deixou de falar. Portanto, a fala tem a ver com isto. Hoje temos muito mais tecnologia e conseguimos fazer isso com PACs e ressonâncias e mesmo estudos. Ainda mais. É ainda mais dinâmico.
00:28:00:14 – 00:28:04:06
JORGE CORREIA
Consegue se ver a iluminação, umas luzinhas dentro da nossa cabeça, consegue.
00:28:04:06 – 00:28:33:15
JOAQUIM FERREIRA
Perceber qual é que é a área hoje? Conseguimos, Conseguimos ter luz é sinal de sinal, é mais o termo. Mas de facto o que também sabemos é que muita da informação está em ritos, tal como acontece em outros sítios. Não estão distribuídas, são conexões, são que são conexões. Há um conjunto de eixos nervosos que ligam uma estrutura à outra, mas nós hoje temos forma de inclusive ir lá tratar mais uma vez, usando aqui a doença em que que mais?
00:28:33:15 – 00:28:38:22
JOAQUIM FERREIRA
Em que o mais trabalho, que é a doença de Parkinson. Nós hoje temos técnicas que nós chamamos de estimulação cerebral profunda.
00:28:39:00 – 00:28:39:14
JORGE CORREIA
Diretas.
00:28:39:17 – 00:29:01:12
JOAQUIM FERREIRA
E vamos colocamos um estilete, um demos com um fio muito fininho que na ponta tem uns pontos, tanto um estímulo elétrico e nós vamos interromper circuitos e ao interrompermos circuitos, nós quando ligamos a bateria interrompe um circuito e a interrupção no circuito induz um benefício. Se eu tivesse doença de Parkinson e se tivesse um desse tratamento? E se a minha doença se manifestasse por tremor?
00:29:01:14 – 00:29:09:13
JOAQUIM FERREIRA
Se eu tivesse a bateria ligada, o tremor estava controlado, não tremia. Eu desliguei a bateria e ao fim de um ou 2/2 e estou a tremer muito.
00:29:09:15 – 00:29:12:12
JORGE CORREIA
Consegue se descobrir já essas zonas dessas impressoras.
00:29:12:12 – 00:29:25:00
JOAQUIM FERREIRA
Portanto nós temos de facto zonas onde essas funções estão mais guardadas e nós sabemos isso. Por isto que se houver uma lesão, aquilo deixa de acontecer. A produção da palavra, por exemplo, o compreender a palavra oral, o que é dito Porque?
00:29:25:00 – 00:29:25:10
JORGE CORREIA
Porque já há.
00:29:25:10 – 00:29:43:09
JOAQUIM FERREIRA
Sítios falantes, preferenciais onde os sons nesses sítios nós perdemos essa capacidade. Mas depois muitas das outras funções têm a ver com estas conexões, tanto com a ligação entre um núcleo com o outro. Portanto, eu diria que a base tem dois mecanismos coisas mais localizadas e coisas um bocadinho de transmissão de informação dentro do ser.
00:29:43:11 – 00:29:55:10
JORGE CORREIA
Isso explica porque, Provavelmente porque é que é mais fácil para nós aprender. Não é só uma língua ou qualquer outra coisa mais facilmente quando somos mais novos, são de onde essas ligações estão aí, mais activas, mais frescas, mais possíveis.
00:29:55:10 – 00:30:19:14
JOAQUIM FERREIRA
As nossas aptidões são diferentes e, obviamente, a aquisição de um conjunto, digamos, de capacidades, eu diria, é mais fácil em idades de facto mais jovens. A questão da aquisição de uma nova língua, obviamente é importante. Mas, mais uma vez, o que nós temos de aprender nesses últimos anos é que é possível. A plasticidade neuronal é muito mais permanente ao longo da vida do que nós pensávamos.
00:30:19:16 – 00:30:51:08
JOAQUIM FERREIRA
Quando eu aprendi neurologia, quando alguém tinha um acidente vascular e tinha, ficava com menos força num braço, numa perna, no fundo. Tínhamos muito enfoque na reabilitação nos primeiros três meses depois do acidente, mas quando era mais jovem, era quase como o potencial de reabilitação. Acontece que temos que aproveitar aquela janela. Nós sabemos que ao longo de toda a vida, hoje sabemos que o potencial de modular, de alterar estruturas cerebrais no sentido de compensar um defeito acontece ao longo de toda a nossa vida.
00:30:51:13 – 00:30:51:23
JORGE CORREIA
Já que estamos.
00:30:51:23 – 00:31:24:22
JOAQUIM FERREIRA
A falar, obviamente das crianças. É mais ágil e o problema de recuperação é maior. Mas mesmo nas pessoas com 40, 50 anos, esse potencial de reabilitação não é, portanto, mudar estruturas cerebrais com coisas periféricas. Eu mexer este braço faz com que a zona do cérebro responsável por este movimento vá mudando, neste caso no sentido de benefício. Sim, nós hoje e as coisas absurdas que nós fazemos, nós prescrevemos, nós prescrevemos o sistema e muitos dos sistemas de reabilitação fisioterapia por sessões.
00:31:24:24 – 00:31:44:23
JOAQUIM FERREIRA
Hoje, a forma como nós tratamos as doenças não tem nada a ver com isso. É o brincar. Em tempos alguém, um doente, pode fazer 40 sessões de fisioterapia numa doença crônica e tem que fazer aquele tipo de intervenção que nós chamamos multidisciplinar ao longo de todo o curso. A doença, como a doença, não vai desaparecer, ele tem que manter.
00:31:45:00 – 00:31:48:21
JOAQUIM FERREIRA
Pode ser uma vez por semana, pode ser duas por mês. É uma coisa contínua, mas.
00:31:48:21 – 00:31:50:19
JORGE CORREIA
O sistema está preparado apenas para descrever.
00:31:50:22 – 00:32:19:21
JOAQUIM FERREIRA
Portanto, prescrever 40, ter apoio para 40 sessões. Quer dizer, eu faço entre janeiro e abril, depois ficar espera por janeiro do próximo ano e repetir era o mesmo que alguém tomava aspirina. Eu tenho que tomar aspirina. Sempre tomo entre janeiro e Abril, pois para espanto, portanto. Mas nós às vezes aceitamos isto. Formar novos médicos como familiares doentes. A forma como hoje olhamos para o tratamento das doenças é totalmente diferente e num mundo muito mediático ainda acontecer.
00:32:19:21 – 00:32:31:10
JOAQUIM FERREIRA
Os Jogos Olímpicos há muito pouco tempo, muita da forma como nós hoje tratamos as nossas doenças degenerativas, Alzheimer tem a ver com o conhecimento que vem da área do desporto, das ciências, do desporto.
00:32:31:12 – 00:32:32:11
JORGE CORREIA
Por quê?
00:32:32:13 – 00:32:42:03
JOAQUIM FERREIRA
Porque as questões da intensidade, por exemplo, o tempo, a fisioterapia, o uso técnicas que são muito de treinar um atleta, incremento. Dois Aumentar a intensidade.
00:32:42:03 – 00:32:47:21
JORGE CORREIA
Porque estamos a aprender com o desporto de alta competição são coisas que podemos utilizar na nossa vida.
00:32:47:23 – 00:32:54:12
JOAQUIM FERREIRA
Muito claramente. Claramente. O que é que os atletas treinam? Padrões de movimento que os tornem mais.
00:32:54:12 – 00:32:56:12
JORGE CORREIA
Rápido, alta performance.
00:32:56:14 – 00:33:08:07
JOAQUIM FERREIRA
E, portanto, hoje os doentes são atletas nos aspectos físicos e, portanto. E há um ensinamento que também vem dessas áreas.
00:33:08:07 – 00:33:37:23
JORGE CORREIA
Claro que quando que estávamos a falar de falar de de quando alguma coisa corre mal e eu estava a pensar numa das doenças mais prevalentes em Portugal que são os AVC’s, vulgo tromboses, que as pessoas falam popularmente e em alguns casos as pessoas começam lá está, entra no ar as palavras não dizem e depois quando estão já em recuperação, não conseguem dizer determinadas palavras, não conseguem construir frases mais complexas.
00:33:38:00 – 00:33:48:03
JORGE CORREIA
Passadas umas semanas ou uns meses, parece que há ali uma recuperação e que se vai buscar ali ao baú umas palavras. E de essa plasticidade de que estamos a falar.
00:33:48:09 – 00:34:15:05
JOAQUIM FERREIRA
É também também no fundo, é quase fazer com que o cérebro vá buscar zonas saudáveis para substituir zonas doentes que deixaram de cumprir aquela função e, portanto, pode haver uma melhoria ao longo do tempo. Para além dos tais três meses que mencionei. Sim, e não estamos ali, não temos as armas que gostaríamos para ter uma recuperação total na maior parte dos doentes, nomeadamente quando não há uma grande recuperação naquela fase inicial.
00:34:15:07 – 00:34:34:12
JOAQUIM FERREIRA
Mas, por exemplo, a questão da terapia da fala, tanto o ajudar para que nós comuniquemos melhor por que é que as pessoas ficam com essa voz tramada? São duas coisas. Uma é a capacidade de articularmos as palavras. No fundo, a nossa caixa de som que produz o som correto. Mas também é irmos buscar ao cérebro as palavras certas.
00:34:34:18 – 00:34:44:04
JOAQUIM FERREIRA
Eu estar a olhar para este microfone e chamar a isto microfone, não chamar outra coisa. Eu até sei que isto é o microfone, mas eu posso chamar outro termo, tal chamada alteração da linguagem.
00:34:44:06 – 00:34:46:13
JORGE CORREIA
Precisamos dos significados e dos significantes.
00:34:46:13 – 00:35:10:08
JOAQUIM FERREIRA
E eu sim, precisamos de eu sei o que é que este objeto é, pois o cérebro tem que ir, ok? A gaveta que me permite fazer a correlação entre o meu reconhecimento desta imagem é exatamente a palavra microfone. É por ser capaz de expressar toda esta interligação. Uma das coisas mais cruéis em relação a que as pessoas têm acidentes vasculares cerebrais e manterem a sua capacidade cognitiva continuam inteligentes.
00:35:10:11 – 00:35:11:07
JORGE CORREIA
É pensar mais.
00:35:11:07 – 00:35:17:19
JOAQUIM FERREIRA
E menos, mas não conseguirem compreender aquilo que ouvem oralmente. Estamos aqui a falar. Eu sei que está a falar.
00:35:17:19 – 00:35:19:05
JORGE CORREIA
Para mim isto é profundamente angustiante.
00:35:19:05 – 00:35:40:21
JOAQUIM FERREIRA
Que está a falar das coisas mais difíceis que eu ainda me recordo, dos doentes que vi ao longo destes anos. É um doente que está numa instituição que tem uma afasia. Tem a tal alteração da linguagem, alguém que está bem do ponto, vista intelectual, cognitivo. O que ele tem, de facto, é uma incapacidade de perceber aquilo que lhe é dito oralmente.
00:35:40:23 – 00:36:02:21
JOAQUIM FERREIRA
E as pessoas que o rodeavam não achavam que eu estava doente. Achavam que não era apenas a incapacidade de compreender a informação verbal oral que ele sonhava. Agora imagine, não é? Nós não conseguimos comunicar ao outro que a minha dificuldade é apenas uma questão de interpretar o som e perceber o que é dito. Mas eu sei onde é que estou.
00:36:02:23 – 00:36:03:19
JOAQUIM FERREIRA
Eu estou bem.
00:36:03:21 – 00:36:05:11
JORGE CORREIA
E não consigo explicar aos outros.
00:36:05:11 – 00:36:07:13
JOAQUIM FERREIRA
Entendeu bem? É duma duma.
00:36:07:17 – 00:36:08:09
JORGE CORREIA
Aflição.
00:36:08:10 – 00:36:20:10
JOAQUIM FERREIRA
Exactamente isso tem a ver com ver contém ver com a razão, termos interesse em nós, estarmos atentos, estarmos curiosos. Não é percebermos que há ali qualquer coisa que não encaixa e depois tentarmos, obviamente, fazer bem e ajudar o outro.
00:36:20:10 – 00:36:44:11
JORGE CORREIA
O cérebro é seguramente auto construtivo. Nós dizemos eu é o meu corpo e não dizemos o meu coração e o meu cérebro é quase e identitário. E é no cérebro que se guarda a nossa identidade. Eu estou sempre a pensar o cérebro por um lado, a mente, por outro é a alma. Esta lá está uma santíssima Trindade.
00:36:44:13 – 00:37:12:09
JOAQUIM FERREIRA
Eu sou neurologista, portanto tenho aqui uma particular PIC pelo cérebro, não é? Tivemos aqui um colega cardiologista. Ele ia pôr um enfoque no coração e assim, de facto, o cérebro é o órgão que comanda todos estes aspectos cognitivos de coordenação de e, portanto, claramente eu diria pelo menos é o mais bem posicionado. O que quer que seja isso da consciência e da alma, é o mais bem posicionado para ter essa responsabilidade sobre isso.
00:37:12:09 – 00:37:15:13
JORGE CORREIA
É uma consciência. O que é que é a consciência?
00:37:15:15 – 00:37:24:11
JOAQUIM FERREIRA
A consciência são. Sai um bocadinho fora de campos daquilo que são estas funções cognitivas que eu estava aqui a falar.
00:37:24:12 – 00:37:27:14
JORGE CORREIA
É só a biologia que conta.
00:37:27:16 – 00:37:45:09
JOAQUIM FERREIRA
Depende das nossas convicções e convicções que são poderosíssimas. Depende das nossas convicções. Isso quer dizer que esta conversa para as questões, inclusive as espirituais. Há estudos engraçados que dizem que rezar, rezar em benefício do outro funciona, Tentar aquilo que nós somos é.
00:37:45:09 – 00:37:47:20
JORGE CORREIA
Também um exercício. De alguma maneira.
00:37:47:22 – 00:38:20:05
JOAQUIM FERREIRA
Nós já nos estudos de síntese, que vão sintetizar a melhor informação disponível e que de facto concluem que, no fundo, ter pessoas a rezar não é em benefício de alguém, Isso acaba por funcionar. São áreas. Como é que o neurologista olha para isso? Que são eles um bocadinho desviantes daquilo que no fundo é o método experimental. Não é que aquilo que gera os dados que nos devem levar a tomar decisões o mais robustas possível, eu diria a melhor expressão que eu posso usar com respeito.
00:38:20:07 – 00:38:50:22
JOAQUIM FERREIRA
Não sendo o meu mundo, é sendo aspetos que eu diria um bocadinho fora daquilo que a minha área de competência maior, aquilo que eu aprendi neste em todos estes anos, é um enorme respeito e uma enorme É, Mas quem trabalha na área da farmacologia? Isto é uma coisa muito engraçada em farmacologia. Nos estudos que nós fazemos, nós comparamos um medicamento verdadeiro com um falso medicamento que nós chamamos placebo, um fundão a ter uma cápsula de farinha, Se acharmos que é farinha, não faz nada naquela doença.
00:38:50:22 – 00:38:56:20
JOAQUIM FERREIRA
Não é? Mas uma cápsula de farinha em algumas doenças é poderosíssima.
00:38:56:22 – 00:38:58:14
JORGE CORREIA
Apenas pelo ato do autoconvencimento.
00:38:58:19 – 00:39:18:24
JOAQUIM FERREIRA
Pelo ato que nós chamamos expetativa, que é a expetativa que eu tenho de que aquela cápsula que eu sei que pode tratar a doença dor ou a fibromialgia, ou a depressão, aquela cápsula que não tem nada lá dentro. Dito assim, desta forma, melhora imenso o sintoma que eu quero tratar.
00:39:19:04 – 00:39:21:11
JORGE CORREIA
Apenas por esse efeito de expectativa e sugestão.
00:39:21:11 – 00:39:25:11
JOAQUIM FERREIRA
Sim, mas é um efeito físico. Nós hoje, com as tecnologias que temos, é um.
00:39:25:11 – 00:39:25:19
JORGE CORREIA
Efeito.
00:39:25:19 – 00:39:45:22
JOAQUIM FERREIRA
Real, é um efeito real. Existem estudos muito interessantes feitos mais uma vez na doença de Parkinson. O que é que fizeram? Foram ver o que acontecia no cérebro quando os doentes tomavam um placebo. Um tal comprimido inerte e melhoravam e documentaram que existe de facto uma libertação de proteína que é o transmissor mais envolvido na doença de Parkinson.
00:39:45:24 – 00:40:11:01
JOAQUIM FERREIRA
Exatamente da mesma forma como existe quando usamos um medicamento real que de facto chega ao cérebro. Portanto, a expetativa de tomar um medicamento que melhore a minha doença, neste caso doença de Parkinson, liberta verdadeiramente o tal transmissor. Não é um ato de simpatia de o médico dar uma palmadinha nas costas. Neste momento é que é bom e portanto estou bem tratado e vou me sentir melhor.
00:40:11:01 – 00:40:15:09
JOAQUIM FERREIRA
Não? De facto, liberta a substância certa, o que é de facto.
00:40:15:09 – 00:40:45:03
JORGE CORREIA
Fantástico, que é extraordinário, seguramente, na área de competências que desenvolveu há uma discussão ética há muitos anos nas cidades modernas. Tem a ver com as fronteiras da vida e da morte. A primeira é que quando, quando se, enfim, quando se decidiu que a morte se declara, quando o tronco cerebral morreu, mas ainda não resolvemos o outro problema que é então é qual é o momento em que o cérebro passou a funcionar como?
00:40:45:03 – 00:40:53:01
JORGE CORREIA
Como vida? Como? Como é que? Como é que está essa? Essa discussão entre entre on off, ligado e desligado.
00:40:53:03 – 00:41:21:07
JOAQUIM FERREIRA
É um tema tão delicado e tão sensível que é muito difícil. É muito difícil. Primeiro, é uma pena que às vezes temos que ter a coragem, a sabedoria, dizer que não sabemos, não sabemos e, portanto, aqui a questão é num desenvolvimento do feto chegar a uma criança que está na qual é que é o momento de facto, em que, em que está esse mesmo switch, acontece o.
00:41:21:07 – 00:41:23:04
JORGE CORREIA
Momento zero.
00:41:23:06 – 00:41:40:01
JOAQUIM FERREIRA
O momento zero. Do ponto de vista alegria para um profissional de saúde, acaba por ser o momento do nascimento. Tudo o resto é uma área de enorme dificuldade de precisão, do tal ponto de vista dicotômico. E são áreas onde, claramente não dominando, prefiro não entrar.
00:41:40:02 – 00:41:48:15
JORGE CORREIA
É na parte final da nossa, da nossa existência. É mais fácil fazer essa determinação.
00:41:48:17 – 00:42:23:10
JOAQUIM FERREIRA
Temos regras bem definidas, que são regras que têm pelo menos a vantagem de serem consensualmente aceites por toda a comunidade científica. E, portanto, é o que eu digo quando temos, é sempre mais fácil fazer experimentação ou fazer investigação quando temos, no fundo, o sujeito da nossa experimentação connosco. Ou seja, é mais fácil aceder ao corpo humano. Então, uma pessoa que está em fim de vida do que estar a discutir, no fundo, que são os os mecanismos neuronais que estão na base de um ser que obviamente ainda temos um acesso por interposta pessoa, que neste caso, obviamente.
00:42:23:12 – 00:42:29:15
JORGE CORREIA
Que perguntas lhe faltam responder para o cérebro Tem uma lista? Tem.
00:42:29:17 – 00:42:55:21
JOAQUIM FERREIRA
São tantas que é melhor não listar. Pergunta A pergunta mais simples é voltando às bases nas bases. Eu sou médico, tenho essas responsabilidades académicas, Tenho que ajudar os meus alunos a crescer novamente? Tenho que fazer investigação na área onde trabalho, porque é esse conjunto que eu acho que me dá a competência depois para fazer as outras coisas bem, mas eu sou médico, não é, portanto, a minha preocupação principal.
00:42:55:21 – 00:43:04:11
JOAQUIM FERREIRA
Mesmo as coisas que eu faço quando eu estudei, ensino e do ponto vista de investigação, é para ajudar as pessoas e é bom que eu não me esqueça.
00:43:04:13 – 00:43:09:00
JORGE CORREIA
E é importante essa. Juntar a clínica com a investigação não.
00:43:09:00 – 00:43:28:02
JOAQUIM FERREIRA
É obrigatório, mas eu acho que é uma boa conjugação. Se a pessoa quiser manter atividade física. Nem todos os médicos, nem todos os médicos que fazem investigação têm que ter este perfil. Eu diria que estudar nesta vontade dá mais trabalho de fazer, por exemplo, mais coisas, mas permite se ter as dúvidas e colocar as perguntas para depois tentar responder.
00:43:28:02 – 00:43:36:07
JOAQUIM FERREIRA
Do ponto de vista de investigação, permite me ter a experiência daquilo que sobre o qual eu ensino e permite me ter acesso às pessoas.
00:43:36:09 – 00:43:45:01
JOAQUIM FERREIRA
As doenças, a maior parte das doenças e das pessoas com que eu me cruzo são doenças muito mais são doenças cruéis, são doenças que interferem, que fazem pessoas percam autonomia, percam.
00:43:45:01 – 00:43:45:22
JORGE CORREIA
Identidade.
00:43:45:24 – 00:44:05:11
JOAQUIM FERREIRA
E, portanto, há um declínio associado para a qual eu tenho algumas coisas para oferecer. Eu não tenho muitas, nem aquelas que eu gostaria de ter. Portanto, a minha prioridade primeira é ajudar a que rapidamente consigamos ter essas. Os meus objetivos são tão fáceis de listar. Atingi los é mais difícil.
00:44:05:13 – 00:44:18:08
JORGE CORREIA
Professor, muito obrigado por esta por esta conversa. Lá está, dois cérebros que tentaram comunicar pela linguagem, seguramente. E lá está, mexemos nos e lemos muitas coisas e falamos com muitas pessoas.
00:44:18:10 – 00:44:23:11
JOAQUIM FERREIRA
E temos de sair daqui agora, mexer nos rapidamente e correr para nos mantermos o mais saudável possível.
00:44:23:13 – 00:44:24:01
JORGE CORREIA
Muito obrigado.
Faltam menos de 2 meses para ser eleito o novo presidente dos Estados Unidos.
E a campanha segue a todo o vapor.
Uma campanha eleitoral é por definição o momento em que candidatos e eleitores dialogam sobre o futuro de um país.
Tempo para se conhecerem aqueles que querer governar e as expectativas dos cidadãos eleitores.
TÓPICOS / CAPÍTULOS
Abertura (00:00:00)
Campanha Eleitoral nos EUA (00:01:44)
Discussão sobre a intensidade e profissionalismo das campanhas eleitorais nos Estados Unidos.
Polarização e Debates (00:02:59)
Análise da polarização política e a importância dos debates entre candidatos.
Interesse dos Portugueses (00:04:10)
Observação sobre o crescente interesse dos portugueses nas eleições americanas.
Preparação para o Debate (00:05:58)
Germano Almeida fala sobre como se prepara para assistir aos debates.
Experiência de Acompanhamento (00:06:41)
Germano compartilha a sua longa experiência de acompanhar a política americana.
Importância da Comunicação (00:08:09)
Discussão sobre a relevância da comunicação e preparação para os candidatos.
Análise do Debate (00:09:07)
Reflexão sobre o formato e a dinâmica do debate entre Trump e Kamala Harris.
Desempenho de Kamala Harris (00:10:47)
Comentário sobre a performance e estratégia de Kamala no debate.
Diferença de Altura e Estratégias (00:11:07)
Discussão sobre a diferença física entre candidatos e como isso impacta a perceção.
Preparação da Equipa (00:12:04)
Importância da equipa de comunicação na preparação para os debates.
Comparação de Audiências (00:12:31)
Análise das audiências dos debates e o desempenho dos candidatos.
Estratégia de Resposta de Kamala (00:13:24)
Kamala usa estratégias de comunicação eficazes para responder a Trump.
Frases Impactantes (00:14:20)
Discussão sobre a eficácia de frases curtas e diretas na comunicação política.
A comunicação de Trump (00:14:40)
Discussão sobre a frase “you’re fired” e a sua utilização em comícios por Trump.
Desempenho de Kamala Harris (00:15:20)
Análise do desempenho de Kamala no debate e as suas estratégias de comunicação.
Otimização da comunicação política (00:15:58)
Kamala se apresenta como uma candidata do futuro, distanciando-se da administração Biden.
Polarização e estigmatização (00:21:40)
Exploração do medo do diferente e como isso afeta a perceção dos imigrantes.
Rumores e mitos urbanos (00:19:32)
Discussão sobre como histórias inverosímeis sobre imigrantes ganham credibilidade.
Impacto da retórica de Trump (00:22:29)
Reflexão sobre o discurso de Trump e as suas consequências na sociedade americana.
Medo e insegurança (00:24:25)
Análise do medo relativamente aos imigrantes e a manipulação desse medo na política.
Retorno à fórmula de 2016 (00:27:02)
Trump tenta repetir a sua estratégia vitoriosa de 2016, mas enfrenta desafios.
Perda de controlo da narrativa (00:27:48)
Trump se mostra obcecado por multidões, revelando fragilidade na sua campanha.
Aumento de Participação (00:28:22)
Discussão sobre o aumento de pessoas e donativos nas campanhas eleitorais.
Questões Económicas (00:28:32)
A economia é um fator crucial nas eleições, especialmente após a crise inflacionária.
Desempenho Presidencial (00:29:20)
Análise do desempenho do presidente relativamente à inflação e as suas causas.
Impacto da Pandemia (00:30:05)
Como a pandemia afetou a economia e levou a uma inflação significativa.
Possível Segundo Mandato de Trump (00:30:57)
Previsões sobre um possível segundo mandato de Trump e as suas implicações.
Mudanças na Administração (00:32:03)
Discussão sobre a limpeza na administração caso Trump seja reeleito.
Política Externa e Ucrânia (00:32:53)
Trump e suas possíveis políticas relativamente à Ucrânia e à Rússia.
Desafios para Kamala Harris (00:34:27)
Os obstáculos que Kamala Harris enfrenta devido à sua identidade e primárias.
Eleitores Indecisos (00:35:55)
Análise de eleitores indecisos e as suas perceções após os debates.
Estratégia de Campanha (00:36:47)
Como a campanha de Harris está se adaptando para conquistar eleitores.
Sistema Eleitoral dos EUA (00:37:23)
Explicação do sistema eleitoral americano e a sua complexidade.
Estados Decisivos (00:38:18)
Discussão sobre os estados que podem decidir a eleição e as suas dinâmicas.
Perspetivas de Vitória (00:39:15)
Expectativas sobre a vitória de Kamala Harris nas eleições.
Experiência de Kamala Harris (00:40:35)
Análise da experiência de Kamala Harris como vice-presidente e candidata.
Escolha de Vice-Presidentes (00:41:15)
Discussão sobre a importância da escolha do vice-presidente nas campanhas.
A escolha dos símbolos (00:41:18)
Análise da escolha de candidatos com perfis opostos na campanha eleitoral americana.
A dinâmica entre candidatos (00:42:10)
Discussão sobre as diferenças entre Obama, Biden e as suas interações com os republicanos.
O início do “trumpismo” (00:42:56)
Reflexão sobre a ascensão do trumpismo e suas implicações na política americana.
A natureza de Trump (00:43:50)
Análise do caráter egocêntrico de Trump e a sua falta de empatia e ideologia.
Polarização da sociedade americana (00:45:20)
Discussão sobre a polarização crescente na comunicação e os seus efeitos nas eleições.
Liberdade de expressão e irresponsabilidade (00:46:00)
Crítica à falta de controle nas redes sociais e o seu impacto na democracia.
Fascínio e medo na América atual (00:47:25)
Germano expressa a sua perplexidade sobre o apoio a Trump e o comportamento dos eleitores.
Complexidade do sistema eleitoral (00:48:11)
Explicação sobre o funcionamento do colégio eleitoral e as suas implicações nas eleições.
A eleição nos Estados Unidos é, provavelmente, a mais intensa e profissional campanha de comunicação conhecida.
Tudo é profissional, otimizado e caro.
Os candidatos são treinados, polidos, engraxados, lustrados e aparecem centenas de vezes aos eleitores.
As convenções e comícios sucedem-se.
As mensagens na televisão, rádio, jornais e redes sociais fluem ao minuto.
As mensagens são repetidas até à exaustão.
Todas as palavras são afinadas ao milímetro. Ninguém quer eleitores zangados.
Há que manter os fieis e conquistar os indecisos.
E, ao mesmo, tempo, sublinhar as dúvidas, erros e contradições dos adversários.
E tudo isto roda a mil à hora.
Com milhões de dólares investidos.
Com os melhores consultores de comunicação.
Tudo a toque de caixa das sondagens que nascem de todos os lugares, a todo o momento.
Tudo conta: popularidade, paixão ou rejeição dos candidatos.
Nos Estados Unidos a polarização é cada vez mais acentuada. E isso nota-se nas trocas de argumentos.
E na exploração de convicções ou medos dos eleitores.
Há momentos em que vale tudo.
E há um momento sublime: o grande debate entre candidatos a presidentes.
Pode até ser mais do que um.
Neste caso parece haver espaço apenas para um, único, um debate, entre o candidato Donald Trump e a candidata Kamala Harris
TRANSCRIÇÃO AUTOMÁTICA
JORGE CORREIA 00:00:12 Ora vivam. Bem vindos ao Pergunta Simples o vosso Podcasts sobre Comunicação. Estamos de volta para uma nova série de episódios sobre os dilemas da comunicação. O Pergunta Simples estará, como sempre, disponível às quartas feiras, pontualmente às 06h00. Pode ser ouvido ou visto. Gravação em áudio e vídeo no site da RTP, no RTP Play e também em todas. Sim, eu disse em todas as plataformas de podcasts do mundo, as mais conhecidas e populares, o Spotify ou app de podcasts, mas também dezenas de outras que podem encontrar em pergunta simples como ou no vosso telemóvel, vale subscrever na vossa plataforma favorita e assim ninguém perde um episódio. Já agora, já que perguntam no YouTube, fica também disponível um resumo da conversa e também a versão integral, tal como no Vimeo. Posto isto, vamos à América. Vamos Neste episódio até à América, viajamos até aos Estados Unidos com tempo para aprender sobre comunicação com uma batalha eleitoral. Neste caso, a batalha eleitoral entre Trump e Kamala. Ainda faltam menos de dois meses para que seja eleito o novo presidente dos Estados Unidos e a campanha segue a todo vapor.
JORGE CORREIA 00:01:44 Uma campanha eleitoral e, por definição, o momento em que os candidatos e os eleitores dialogam sobre o futuro de um país, pelo menos nas democracias. Tempo para se conhecerem aqueles que querem governar e as expectativas dos cidadãos eleitores. A eleição nos Estados Unidos é provavelmente a mais intensa e profissional campanha de comunicação conhecida. Tudo é profissional, otimizado e caro. Muito caro. Os candidatos são treinados, polidos, engraxados, lustrados e aparecem centenas de vezes aos eleitores. As convenções e os comícios. Sucedem se. As mensagens na televisão, na rádio, nos jornais e nas redes sociais fluem ao minuto. As mensagens são repetidas até à exaustão. Todas as palavras são afinadas ao milímetro. Ninguém quer eleitores zangados e há que manter os fiéis conquistando indecisos e, ao mesmo tempo, sublinhar as dúvidas, os erros e as contradições no adversário. E tudo isto roda a 1000 à hora, com milhões de dólares investidos, com os melhores consultores de comunicação a trabalhar. Tudo a toque de caixa nas sondagens que nascem de todos os lugares, a todo o momento.
JORGE CORREIA 00:02:59 Tudo conta popularidade, paixão ou rejeição dos candidatos. Nos Estados Unidos, a polarização é cada vez mais acentuada. Isso nota se nas trocas de argumentos e na exploração de convicções ou medos dos eleitores. Há momentos em que vale tudo, mas há um momento sublime. O grande debate entre candidatos a presidente pode ser até mais do que um. Neste caso, parece haver espaço apenas para um um único um debate entre o candidato Donald Trump e a candidata Kamala Harris. Germano Almeida, 30 anos, jornalista, 20, a acompanhar a realidade norte americana à realidade política. Imagino que para ti é um festim por estes dias. Não, não tens mais nada. Estás? Estás sempre ligado. Como é que é?
GERMANO ALMEIDA 00:03:53 Antes de mais obrigado pelo convite, Jorge. Voltar. É um prazer voltar a este podcast que além de ser pela segunda vez convidado, sou essencialmente ouvinte assíduo e interessado. Sim, é aquele caso em que, estando sempre a acompanhar uma coisa que é uma parte das pessoas durante três anos e tal, não liga nada, ninguém quer saber.
GERMANO ALMEIDA 00:04:10 Começam nos últimos meses a perguntar mas afinal, quem vai voltar O Trump? Quem é que vai ganhar? Como é que vai ser? E sim, neste momento, atenção, eu acho que está a ser bastante grande. Equivalente, talvez noutras situações, ao sol, à última semana de campanha ou coisa assim. E curiosamente, eu acho que grande parte dos portugueses tem neste momento mais interesse e atenção pela eleição americana do que muitos americanos.
JORGE CORREIA 00:04:31 Essa é uma coisa curiosa. Eu estive com felicidade nos últimos dias em em Nova Iorque e é muito curioso perceber que ninguém discute política, ninguém comenta política nas conversas do metro, na rua, no café, mesmo quando nós temos ali uma bucha a dizer então está a ver as eleições e mais para o lado de Trump e mais para o lado de Kamala. Parece que há uma espécie de adormecimento de que não se quer saber. Ou ainda é cedo para eles, para eles começarem a pensar sobre.
GERMANO ALMEIDA 00:05:03 As duas coisas. Ainda é cedo. Uma boa parte dos americanos, uma percentagem na ordem dos 20 a 30%, só presta verdadeira atenção à eleição presidencial ali nas últimas duas, três semanas de.
JORGE CORREIA 00:05:13 Eleição em novembro.
GERMANO ALMEIDA 00:05:14 Exactamente em em alguns Estados. Se fosse perguntar ao americano comum, alguns não sabem sequer quem são os candidatos e, portanto, temos de ter essa perspetiva. Por outro lado, há um fenómeno que também é um bocado como aqui em Portugal também se diz sobre muita coisa. Só neste país há o fenómeno de desvalorizar e criticar o seu próprio processo. Mas isso não quer dizer que ele não seja importante e muito importante para os americanos. E é mesmo muito importante também, por exemplo, a nós europeus, tendo em conta o que será a sorte da Ucrânia. Mas. Mas isso também não nos serve de nada, porque são eles que decidem, Costumamos dizer a Jorge que a próxima eleição é a mais importante. Escreve se isso em todas as eleições. Sucede que esta é mesmo a mais importante. Olha como é.
JORGE CORREIA 00:05:58 Que tu te preparas. Nós estamos na semana em que aconteceu o debate. O primeiro ou segundo, se contarmos com o outro Trump Biden. Este foi o segundo debate presidencial.
JORGE CORREIA 00:06:10 Como é que tu te preparas? Como e onde é que tu vais beber a tua informação? Como é que tu te sentas para, para, para ver e para ouvir este?
GERMANO ALMEIDA 00:06:18 Este debate work in progress é uma coisa que já não parte do zero há vários anos. Tu tens um.
JORGE CORREIA 00:06:22 Contexto, tu tens uma bagagem e portanto quando vais ver um debate deste, tu já sabes o que é que está em jogo. Sim.
GERMANO ALMEIDA 00:06:28 As pessoas podem não acreditar, mas se por acaso passassem este momento, não passam por razões profissionais, mas se passassem uns dias sem acompanhar nada e sem saber nada, tinha algum síndrome de privação e ficava com saudades. É verdade. E o teu.
JORGE CORREIA 00:06:41 Reality show é.
GERMANO ALMEIDA 00:06:42 Uma coisa que que é? Sim, é uma coisa familiar para mim. Quero saber o que é que se está a passar e continuar. E passados tantos anos, eu acompanho a política americana diariamente a mais de 20 anos. Não é? Nunca achei que isso fosse demais. Sucede que depois que aconteceram algumas coisas a nível pessoal e até profissional que levaram a essa continuação e essa renovação, ou seja, algo que começou por ser um mero gosto pessoal.
GERMANO ALMEIDA 00:07:07 Depois comecei a escrever em blogues, depois comecei a escrever em em sites, na imprensa tradicional, publicar livros, comecei a comentar na televisão. Foi todo um caminho. Fui lá numa bolsa dos Estados Unidos, recebi e creio que se convertesse a história. Na primeira vez que cá vim, recebi uma carta do baralho da Michelle Obama de agradecimento pelo primeiro livro. Quando o Obama veio cá em 2010, na cimeira da NATO europeia e a partir daí fui. Sempre fui, sempre continuando. Depois porque eu, sendo alguém que, como sabes, tenho uma formação jornalística, fui uma grande parte da minha vida jornalista em redacções. Hoje sou comentador. Mantenho a ligação ao jornalismo, mas de outra maneira. E, curiosamente, passei grande parte do tempo, por exemplo, na área do futebol. Curiosamente, e eu considero que a eleição presidencial americana e a política americana é uma escola em muita coisa, porque há ali princípios de comunicação. Por exemplo, se fizermos uma análise ao debate, isso é.
JORGE CORREIA 00:08:08 Obviamente muito.
GERMANO ALMEIDA 00:08:09 Interessante.
GERMANO ALMEIDA 00:08:09 Sim, comunicação, princípios de comunicação, depois princípios. Por muito que que tenhas grandes conselheiros de comunicação, o candidato é fundamental e a mensagem é fundamental. Se não tens mensagens, se tens candidato, podes ter os melhores consultores do mundo. Há uma junção dessas duas coisas. Tem que partir de uma coisa que tem que ter uma ligação à realidade. Mas depois a forma também importante, porque o jogador a 27 de Junho é o exemplo de um presidente que, embora com muitos problemas e falhas, foi, na minha opinião, um grande presidente e é uma pessoa com princípios, digna e respeitável. Tinha foi também muito bem preparado, como foi a Câmara e depois chegou lá. E foi um desastre, porque a forma e a incapacidade de transmitir o que tinha para tinha preparado o comprometeu completamente. No fundo, aquilo é comunicação.
JORGE CORREIA 00:08:53 Como é que tu viste este debate? Nós tínhamos esse histórico do debate entre Joe Biden e Trump, catastrófico para o presidente ainda em funções. E este debate prepara se de maneira muito evidente.
JORGE CORREIA 00:09:07 Achei muito curioso, desde logo, que os candidatos tinham uma caneta, uma folha de papel e um copo de água e não tinham nada mais. Não há telemóveis, não há tablets, não há nada e vão para para este jogo televisivo. Que foi, foi o que? Aquilo que foi durante 01h30, quase um jogo de futebol. Como é que tu viste este este debate?
GERMANO ALMEIDA 00:09:29 Este debate é, na minha opinião, a prova de que a preparação pode levar a uma vitória clara. Camila tinha um grande desafio pela frente nestes anos todos. Foram poucas as situações em que Donald Trump perdeu o pé E Donald Trump perdeu o pé porque Camilla ganhou em quase tudo. Começa logo a ganhar ao ir ao terreno do adversário, provocando a surpresa. Eu recordo que nas quatro vezes, nas três vezes que Trump e Biden debateram duas em 2021, em 2024, nunca se cumprimentaram.
JORGE CORREIA 00:09:59 Não se cumprimentaram, nunca se cumprimentaram. Curioso é que a minha memória então trai me. E eu penso sempre. Nunca se.
GERMANO ALMEIDA 00:10:06 Cumprimentaram, nunca.
JORGE CORREIA 00:10:07 Cumprimentaram, nunca deram um passou bem, nunca nos.
GERMANO ALMEIDA 00:10:09 Debates, não só em situações. Por exemplo, ontem, no 11 de setembro, nos debates.
JORGE CORREIA 00:10:13 Não é aqui que a mala decidiu avançar para o lado. Onde, onde está? Onde está Trump? E vai cumprimentá lo?
GERMANO ALMEIDA 00:10:20 Cumprimenta. Eu chamo Camilla Harris porque eles não se conheciam pessoalmente e desejo um bom debate. Marcou logo ali um território. Curiosamente, na primeira resposta, só na primeira acusa um certo nervosismo na forma. A garganta secou lhe um bocado, ficou ali dificuldade numa, noutra palavra, mas nada de especial. E depois houve ali qualquer coisa. Ela arrancou e fez um grande debate. Uma coisa não foi nota 20, mas foi nota 18,5 próximo, 19 a 1.
JORGE CORREIA 00:10:47 Sempre há uma coisa que se discute que tem a ver com a altura dos candidatos. Trump é um candidato francamente mais alto. Lá está essa ideia mesmo do cumprimento dessa proximidade à Câmara e à vez em que se mostra que há claramente uma diferença entre um candidato de um metro e 90 com não sei quanto e que mede a camada dois.
JORGE CORREIA 00:11:07 Há uma diferença muito grande, mas há esta iniciativa, este olhar nos olhos, na forma. Observei que os microfones, quando um dos candidatos está a falar, o microfone está fechado para o outro lado, portanto não permite aquela aquelas interjeições ou aquelas interrupções. E eram as regras do debate. Todavia, Kamala comenta com os olhos, com as sobrancelhas e com o sorriso sempre O que Donald Trump está a dizer é verdade.
GERMANO ALMEIDA 00:11:37 Isso é muito importante. Antes de mais, essa diferença de alturas. Como bem disseste, a única vez que o plano estava aberto é que vi essa diferença. Ela compensa ser muito mais baixa com a atitude de ir ao terreno do adversário surpreendê lo. Marcou um golo fora e começa o jogo a ganhar fora e depois o plano. Isso foi certamente tratado pelas candidaturas. Lá está, a importância da equipa foi a vitória. A vitória de Câmara no debate foi a vitória da preparação de uma equipa altamente profissional, porque.
JORGE CORREIA 00:12:04 Cada um dos planos mostra ora Kamala, ora Trump não os mostra quase nunca, apenas em planos muito abertos.
JORGE CORREIA 00:12:12 Não os mostra comparativamente, mas é como se tivessem exactamente a mesma altura. Os próprios púlpitos estão ajustados, estão desnivelados.
GERMANO ALMEIDA 00:12:21 O que é discutível. Mas pronto, foi mais uma vitória da equipa de Câmara garantir esse desnível, porque isso não foi antes.
JORGE CORREIA 00:12:27 Antes destes debates há estas negociações ao pormenor total.
GERMANO ALMEIDA 00:12:31 Isso não foi relevante porque no plano eles estavam equivalentes e depois por comparação. Então quem viu o primeiro debate em 51 milhões viram o debate Biden e 67 milhões viram este por comparação. A diferença é tão grande e o desempenho de campo é tão melhor do que de Biden que nos percebemos uma coisa o desempenho de Trump a 27 de junho já não tinha sido grande coisa. Mas ele ganhou largo porque Biden foi desastroso e voltou a não ser grande coisa. Ainda foi pior do que a 27 de junho. E, calma, lá foi muitíssimo melhor. Enquanto Biden olhava para o lado deslocado, às vezes parecia ausente. Camilla, como bem disseste, respondia com o olhar e com um sorriso as as provocações, aos insultos e aos disparates absolutos que Trump disse à Câmara, que tentou que os microfones ficassem abertos.
GERMANO ALMEIDA 00:13:18 Porque e porque a táctica de Camilla era de equipa de câmera a mostrar como Trump é malcriado.
JORGE CORREIA 00:13:24 Insultar, irritar o outro candidato.
GERMANO ALMEIDA 00:13:26 E permitir eles, eles queriam. Eles queriam levar Trump a interromper, a mostrar se um bully. Mas ela com os microfones fechados, acaba por ter uma estratégia ainda melhor. Que foi Respondia com e com aquilo que disseste. Respondeu assim, por exemplo, aquela coisa dos cães e gatos e outras situações também. Acima de tudo, a nível dos conteúdos, a preparação dela foi de facto absolutamente notável, com respostas do estilo Depois de Trump dizer que se ganhou em 16 com 103 milhões de votos, como é que pode ter perdido em 70, com 75 milhões de votos? Em 20, 20? Ou seja, fez das pessoas estúpidas. Não é porque é tão fácil responder a isso. Porque? Porque o universo de votantes foi muito maior em 2020 e ela, em vez de dizer em vez de se indignar e não sequer diz porque você foi despedido por 81 milhões de americanos.
JORGE CORREIA 00:14:16 Que é logo uma frase, muitíssimo mais essa frase. Em termos de.
GERMANO ALMEIDA 00:14:20 Comunicação, essa frase em comunicação é perfeita. Porquê? Porque é uma frase curta. Tem o dado objectivo 81 milhões que que mata logo os 75 milhões. E é uma frase que pela por essa afirmação ridiculariza o disparate do adversário.
JORGE CORREIA 00:14:34 É quase provocatório dizer você foi despedido por. Pelos cidadãos que estão do despedido.
GERMANO ALMEIDA 00:14:40 Já que aqui é que remete ao fired, que é a coisa dele, do you’re fired. E ele diz uns comícios. Camaleão, fired e pronto. Portanto, esta frase, em poucas palavras tem tudo. Depois outras frases do estilo Putin comia te ao pequeno almoço contigo na Casa Branca. Quando os russos invadiram a Ucrânia, Putin estava hoje em Kiev. Pronto. E dentro desse género, Putin de comida ao pequeno almoço era uma festa, por exemplo. Biden também diria mas. Mas calma, tem ali, de facto uma preparação muito grande depois, e isso é aquilo que para nós é mais evidente. Agora eu vou tentar ser advogado do diabo, inverter a coisa, fazer contra o vapor.
JORGE CORREIA 00:15:17 Vamos falar de Trump. Sim, o que é que Trump fez? Bem.
GERMANO ALMEIDA 00:15:20 Já vamos lá. Mas. Mas antes passar a Trump só para perceber o Nate Silver, que é alguém que acertou em quase todos os estados nos últimos três eleições, escreveu assim minutos depois. Isto foi o debate que desejava. Vai ser difícil. Era quase impossível voltar a ver o momento em que tudo correu tão bem a Camila como nesta noite. Se depois disto ela não tem um claro salto para a liderança, então é porque aquilo que ela tem para oferecer os americanos não querem comprar, porque para vender os americanos não querem comprar. Porque de facto, a nível de desempenho e de estratégia, ela chegou a um limite quase. Então se não é assim, então se calhar não é mesmo possível.
JORGE CORREIA 00:15:58 Portanto, ela atingiu um nível de otimização na comunicação política, por um lado, a defender se para não ficar com os créditos ou com as nódoas negras da administração Biden, por um lado, e, por outro lado, aparecer quase ela própria, como uma incumbente a ganhar e não alguém que esteve no poder também nos últimos três anos.
GERMANO ALMEIDA 00:16:18 Apresentou se assim Ela apresentou se como uma candidata do futuro perante o passado inaceitável de sempre que que põe em risco a democracia americana, apresentou se como o esteio da defesa da democracia e por isso foi sempre bom quando Trump mostrou se e se mostrou inaceitável. Foi a questão da preparação contra o excesso de confiança narcisista. E é tudo sobre Trump. Enquanto a candidatura democrata, ele surge como a solução de uma equipa e de uma diversidade. Mas também, de facto, essa parte do para futuro versus passado ela ter se de demarcar um pouco porque ela sabe uma coisa 61% dos americanos desejam uma mudança. Ora, se deseja uma mudança e para ganhar não basta ser a herdeira de Biden, ela tinha que se demarcar de alguma maneira.
JORGE CORREIA 00:17:00 Ela tem que ser a renovação dentro da própria corrente de vida dos democratas.
GERMANO ALMEIDA 00:17:05 Sim, é isso. Por isso ela se demarcou até mais do que estava à espera de vida. Mas tem a ver com isso. Há uma coisa que temos que ser justos e eu acho que os moderadores estiveram muito bem na no.
GERMANO ALMEIDA 00:17:17 No facto de check in imediato, tinha uma grande equipa por trás perante algumas coisas que sempre disse e que disseram, por exemplo, quando disse aquilo dos imigrantes ilegais. É como cães e gatos.
JORGE CORREIA 00:17:24 Isso é extraordinário. Vamos ver essa história. Trump no meio do debate, diz. No Ohio, numa determinada zona do Ohio, diz que os imigrantes ilegais estão a roubar os Os cães e os gatos de estimação dos vizinhos norte americanos e implícito estão a comê los. E esta história. É tão inverosímil e tão fantasiosa. Tens alguma ideia? Porque é que. Porque é que um candidato decide contar uma história dessas que é verificável neste caso? Que é que pode ser objecto da tal verificação dos factos?
GERMANO ALMEIDA 00:18:01 Sim, isto é mais que se lhe diga, Jorge. Não é um disparate que o João se lembrou.
JORGE CORREIA 00:18:05 Por isso não parece.
GERMANO ALMEIDA 00:18:06 Não é uma. É uma coisa alimentada de uma cartilha internacional. Noutros países, se se explorou algo do género. Recordo que em Portugal, há uns meses houve uma notícia que no Barreiro andavam a desaparecer e portanto isto é alimentado.
GERMANO ALMEIDA 00:18:23 O que é que isto tem subjacente? O medo do diferente, do outro é explorar os medos mais básicos das pessoas. Vêm para aqui uns tipos que nós não sabemos como é, quais são os seus hábitos? Vão, vão nos. Comem. Parece que vêm de uns países que até comem gatos e cães e portanto, vão nos roubar os animais domésticos. Há aqui subjacente a ideia de tal invasão. É uma.
JORGE CORREIA 00:18:46 Polarização do diferente.
GERMANO ALMEIDA 00:18:47 Que leva, sim, que leva a que o nosso modo de vida vá ser incomodado e perturbado, Não haver ligação com a realidade, para quem alimenta isto não tem a mínima importância. E, portanto, quando o moderador David Moore diz porque é viciante, antecipou se porque isso já estava a correr, eles contactaram o maior da cidade, contactaram a polícia e a resposta foi não se passa nada, Não temos qualquer registo de nada. Isso não tem qualquer importância, porque para o para Trump os seus apoiantes estão a ver e eles já tinham isso preparado e estão a mentir nos.
GERMANO ALMEIDA 00:19:20 E nestas comunidades nós sabemos que se passa alguma coisa e pessoas com medo dos imigrantes. Nessas comunidades começam a rolar histórias. Isso não. E não tem nada a ver com com. Com. Com 2024.
JORGE CORREIA 00:19:32 E são os rumores que estão a circular das coisas mais inverosímeis.
GERMANO ALMEIDA 00:19:35 Sempre houve mitos urbanos, explorações dessas coisas que que apareciam cobras nos hipermercados. Lembras te disso? Que os chineses não morriam e coisas desse género?
JORGE CORREIA 00:19:45 Já viste alguma vez.
GERMANO ALMEIDA 00:19:46 Já viste um funeral chinês? Portanto, e portanto, explora se esse tipo de coisas. E quando vem um ex-presidente que está próximo de voltar a ser presidente ou tem 50% de hipótese, confere credibilidade, confere que afinal tinha razão a ter este medo. E tenho aqui o meu herói que me está a proteger do sistema que me está a esconder.
JORGE CORREIA 00:20:06 Isto é mesmo alguém que acha que a história é inverosímil ao ver alguém com algo com alguma credibilidade na televisão dizer isso pode já usar no seu argumentário. Eu ainda ontem vi na televisão e portanto só pode ser verdade.
GERMANO ALMEIDA 00:20:23 Só para isto.
GERMANO ALMEIDA 00:20:24 Parte de uma coisa que é em Springfield, Ohio, uma comunidade de 60.000 pessoas, uma pequena comunidade de 60.000 pessoas. E nos últimos anos, por razões económicas que não consigo explicar, mas devem ser relativamente fáceis de explicar, estão cerca de 15.000 haitianos a viver. Deve ter a ver com alguma coisa de construção. Enfim, é apenas isso e apenas isso. Obviamente que os haitianos em Springfield, Ohio, não estão a roubar os pets das pessoas e comer gatos e cães. Isso é um disparate absoluto e tremendo. Mas de tal modo teve algum efeito no objectivo que eles queriam que nós aqui em Portugal, uns dias depois, estamos a falar disso. Está respondido.
JORGE CORREIA 00:21:03 Pois que é que é uma coisa que deveria ser uma piada. Nós rimo nos e passávamos à frente porque nem sequer é importante. Nós estamos a olhar para a América, mas é importante perceber que na Europa e em Portugal, também em zonas de fronteira de comunidades e comunidades diferentes, também começa a haver esse olhar que é claramente estigmatizante em relação ao outro que não fala português, ou outro que não tenha religião dominante, ou outro que come coisas diferentes, ou outro que se agrega em sítios que em que há quase um.
JORGE CORREIA 00:21:38 Lá está, é um viés a dizer e o outro é.
GERMANO ALMEIDA 00:21:40 A partir de certo ponto perdes o controlo sobre o disparate que tu já me fez, Porque o que é que aconteceu nos últimos dias? Nós ou entre aspas, elites urbanas Estados Unidos, Pessoas que percebem que apesar de, se calhar quando, quando vêem pessoas diferentes também. Se calhar um grupo de pessoas diferentes até tem medo. Não é isso que está em causa. É como lidar com isso. As sociedades e a sociedade americana, as cidades abertas diversas, vivem sob essa tensão. E a questão é como lidar com essa tensão? O Trump está a lançar um estigma sobre a comunidade haitiana. Isso pode correr mal, pode levar a crimes de ódio e é grave. Pode estimular a.
JORGE CORREIA 00:22:16 Violência no fundo.
GERMANO ALMEIDA 00:22:18 Vindo de um ex-presidente, não é grave e gravíssimo vindo de alguém que pode ganhar outra vez é extremamente grave. É sinal de uma sociedade que está doente quando, em vez de rejeitar alguém assim o pode voltar a pôr na Casa Branca.
GERMANO ALMEIDA 00:22:29 Mas as coisas são como são, não é como nós queremos que gostasse, como nós gostava, gostávamos que fossem. Então temos que saber lidar com isso. E a questão é ele depois? Isto dos cães e gatos começa com piada e nós mandámos umas piadas no Facebook. Eu marquei o meu gato como como estando a salvo. Enfim, estou nesta.
JORGE CORREIA 00:22:48 Cidade e.
GERMANO ALMEIDA 00:22:49 Tu está encontrado o ilegal. E ele que de Springfield que anda a comer os gatos e a fotografia do Alf, mas que está cá comigo. Pronto. Mas mas isso, Mas isto cola.
JORGE CORREIA 00:23:02 Se à pele.
GERMANO ALMEIDA 00:23:03 Não é só colar a pele, é que isto depois é uma escalada. Anteontem, na sequência disso, o Trump já veio dizer não. E além dos cães e gatos que havia em Springfield a perguntar onde é que está o meu cão, está o meu cão pronto. E parece que no lago desapareceram os gansos também já está a largar. Pronto. E depois já vem com a conversa de E eu digo me porque também há histórias de raparigas violadas e sodomizados por imigrantes ilegais e aí já.
JORGE CORREIA 00:23:31 Estamos num nível completamente.
GERMANO ALMEIDA 00:23:33 Escolar. Sim, e depois vais dizer assim Pois vai. Os media tradicionais vão dizer ah ah ah, mas nós ligamos a polícia e não se passa nada. Estão a esconder nos? E como é que tu paravas isto? Sim, porque a.
JORGE CORREIA 00:23:41 Teoria da conspiração lá está. Alguém que nos está a esconder a realidade que nós não queremos ver. Por um lado, há uma descredibilização da própria máquina do Estado e do próprio país. Mas em que é que isso se pode transformar? Em ganho de votos?
GERMANO ALMEIDA 00:23:57 Pode se no sentido em que, quando Trump depois diz uma coisa que tem a ver com isso, mas mais mais geral, que apanha as percepções das pessoas, que é o crime está a subir neste país por culpa dos imigrantes ilegais. E depois? E tu vais dizer a um relatório do FBI que diz Houve uma subida de crime nos Estados Unidos durante a pandemia e desde 2021. Todos os anos há uma descida até significativa do crime. Em 2023, o crime violento desceu 6% e no primeiro trimestre deste ano, 15%.
GERMANO ALMEIDA 00:24:25 Portanto, não é a afirmação o crime está a subir. Errado. Está a descer a afirmação os imigrantes ilegais estão a tomar conta das nossas cidades e de forma violenta. Errado. Há um conjunto de imigrantes maior em algumas cidades americanas e é como aqui, por exemplo, por causa de uma lei que está obsoleta, Um conjunto de pessoas que estão num limbo em que estão, estão lá, estão a trabalhar e estão a tentar legalizar se. Estão a tomar isso e isso é sinal que estão a tomar as cidades de forma violenta. Não agora. Grandes cidades americanas têm um novo tipo de percentagem de crime. Sim, sempre tiveram. A culpa disso e dos imigrantes Não está respondido. Agora tu vais responder assim às pessoas que têm um certo medo e querem, se é que que ouvem Trump se sentem mais seguras, pois é um problema.
JORGE CORREIA 00:25:09 Entretanto, é curioso Trump cavalgando precisamente essa onda do desconhecido, daquele que vem para roubar os empregos, que vem para comer os cães por aí fora. Tenho um anuncia um plano e o plano é vou deportar milhares, milhões de imigrantes.
JORGE CORREIA 00:25:33 Primeiro não diz como. Segundo, nem sequer fala sobre a necessidade da economia norte americana, obviamente, ter aquela força de trabalho e aqueles imigrantes.
GERMANO ALMEIDA 00:25:43 Pois é, isso não é mais uma visão e é uma exploração básica, porque o problema disto é que já nós já sabemos o fim desta história. Ele já foi presidente com o.
JORGE CORREIA 00:25:53 Muro em linha com o México.
GERMANO ALMEIDA 00:25:55 E fez uma coisa que era travel ban, que começou por chamar Muslim ban e ele parte de identifica sete nacionalidades e do nada impede as pessoas desses lugares de entrar nos estados porque sim, não supostamente sobre sob a capa de depois Como com grandes, com profundas ilegalidades, porque a base da coisa era de facto, eram sete países de maioria muçulmana. Logo ali com um problema porque um dos países era o Iraque, que é um aliado dos Estados Unidos neste momento. Os outros não. A Síria, o Iémen, o Afeganistão e tal, mas o Irão. Mas o que é que isso aconteceu? Durante uns dias houve o caos no aeroporto.
GERMANO ALMEIDA 00:26:33 Pessoas na cidade iraniana iraquiana. Que trabalham, por exemplo, em universidades, tinham tinham estado fora e não puderam voltar. E depois, dentro do que estás a dizer, a pressão também foi muito de alguns. Algumas empresas, algumas que as apoiam, que, como sabes, empresas americanas, algumas digitais e outras que têm nos seus quadros pessoas altamente qualificadas com nacionalidades desses países, também começaram.
JORGE CORREIA 00:26:58 A dizer, a explicar ao presidente Trump que era uma ideia tola como.
GERMANO ALMEIDA 00:27:02 Tola. Agora é apoiada por muita gente por causa desse medo básico. E o que é que acontece depois de uma fase em que parecia que ele ia moderar e não sei quê. E ele, perante as dificuldades nas sondagens, está a voltar à fórmula de 2016, pensando eu ganhei em 2016 assim, Agora vou repetir sim.
JORGE CORREIA 00:27:18 Olha a minha sensação. Trump parece estar a perder gás quando Trump aparece antes de antes desta ideia da política, Era um candidato muito luminoso, que dominava completamente o mídia televisão. Era um showman quando estava a fazer os comícios.
JORGE CORREIA 00:27:39 Neste debate e nos últimos comícios que tenho visto, vou usar a expressão parece um disco riscado e cansado.
GERMANO ALMEIDA 00:27:48 Parece me, acima de tudo, limitado, sempre com as mesmas histórias, sem elasticidade. Uma das coisas onde Kamala o encostou às cordas e ele é o espicaçou. Ele mordeu o isco e passou se e perdeu completamente controlo da narrativa. Foi quando a câmara começa a dizer Ele está obcecado pelo tamanho das multidões. É fácil mostrar que eu tenho muito mais gente e que nos comícios do Trump. Há apoiantes deles que já não, que já não aguentam aquilo, já não podem ouvir e começam a sair antes do tempo. Ele ficou furioso com aquilo.
JORGE CORREIA 00:28:16 Mexeu no.
GERMANO ALMEIDA 00:28:16 Ego? Sim, completamente. Mas é verdade. Eu já assisti a dois deles nesta campanha a dois.
JORGE CORREIA 00:28:22 É verdade mesmo. Há pessoas que estão a sair do sim, sim, já não.
GERMANO ALMEIDA 00:28:25 Não é uma multidão, mas sim, há relatos disso. E se tu comparares, a Câmara tem tido muito mais, muito mais gente. Não há comparação.
JORGE CORREIA 00:28:32 Claramente há um crescendo. Se olharmos para as campanhas, há um crescendo, há um encher de da candidatura de Câmara. Não só o número de pessoas, mas também dos donativos nos donativos, sem dúvida milhões que por lá aparecem e, por outro lado, uma espécie de cansaço de de Trump. Vamos às coisas mais sérias e substantivas, porque houve coisas sérias e substantivas neste Neste debate, nomeadamente a questão da economia. Diz se sempre é a economia. Estúpido, não é? Quer dizer, a economia ganha ou perde eleições. Estamos a sair de uma crise inflacionária muito, muito forte. Seria um terreno muito fértil para Trump poder dizer, e até com propriedade, que Kamala é, no fundo, alguém que liderou ou liderou o país numa altura em que as pessoas passaram a viver pior.
GERMANO ALMEIDA 00:29:20 Sim, eu acho que essa é a grande lacuna dessa grande verdade de perspetiva, em que, mais uma vez, não há justiça nestas coisas. É o que é. Na minha opinião, o desempenho da presidência nesse aspeto é muito bom.
GERMANO ALMEIDA 00:29:31 Não é bom, é muito bom, porque eu recordo que há dois anos, quando se chegou ao pico de 9,1 de inflação, na sequência de duas de junção de duas coisas o final da pandemia, o regresso da actividade e uma disrupção das cadeias de distribuição que não estavam preparadas para o aumento brutal e rápido dessa actividade e.
JORGE CORREIA 00:29:47 Depois o disparo do preço da energia. Portanto, essas três coisas transformaram se no caos, porque.
GERMANO ALMEIDA 00:29:53 Se bem quem se quiser recordar, há relatórios de grandes consultoras internacionais durante a pandemia que dizia que o regresso à actividade ia demorar dez anos, 20 anos. Não foi nada assim. Foi automático e automático. Foi imediato e, portanto, nós.
JORGE CORREIA 00:30:05 Todos quisemos comprar os mesmos bens. Sim, tínhamos dinheiro guardado, porque a pandemia nos permitiu fazer algumas poupanças e fomos todos para o mercado com um regresso brutal.
GERMANO ALMEIDA 00:30:14 E nós vimos isso na questão do turismo. Mas as cidades voltaram fluorescentes e não houve capacidade para isso e, portanto, esse aumento brutal levou a uma disrupção que, entre outras coisas, levou uma grande inflação.
GERMANO ALMEIDA 00:30:24 Depois, também é verdade que houve planos federais e que aqui na Europa a questão do PR e nos Estados Unidos há planos de administração. Biden injetou dinheiro e já trouxe dinheiro a mais. E depois veio a guerra da Ucrânia, com a questão das sanções à Rússia, rápidas que levaram a um problema energético, um aumento dos preços, não tanto como também como se imaginava. Mas também isso aconteceu e essa junção levou a inflação, como não havia há muitas décadas 9%. E na altura se dizia que para se baixar dos 5% era preciso uma série de anos e que se por esta altura se tivessem cinco, 5,5 já era bastante bom. Neste ponto a inflação está a 2,9, portanto subiu.
JORGE CORREIA 00:30:57 E desceu de uma forma muito rápida, muito rápido. Portanto, os tempos claramente estão muito acelerados. Vamos olhar para o futuro, o que pode ser um segundo mandato de Trump.
GERMANO ALMEIDA 00:31:09 Muito pior que o primeiro. Porque é alguém que está quatro anos mais velho, ou melhor, oito anos mais velho do que nessa altura, que passou por uma derrota que nunca soube processar.
GERMANO ALMEIDA 00:31:19 Como também disse no debate, que não só soube processar como atirou os seus apoiantes para muitos deles a fazerem figuras de idiotas úteis no Capitólio, fazer um crime brutal contra o Estado americano e contra a democracia americana. Os que foram apanhados em flagrante estão presos e o seu autor moral e político a jurar que não, que não teve nada a ver com isso, que não sabe nada. Fez essa figura de sonso na outra vez no debate. Isso é muito grave, não é? Por outro lado, ele quer a vingança, quer a vingança disso, quer a vingança das estruturas intermédias ao nível das assembleias estaduais, que lhe impediram de fazer o golpe há quatro anos e que lhe.
JORGE CORREIA 00:31:58 Foram bloqueando também, mesmo quando foi presidente, que lhe bloquearam muitas medidas que ele quis implementar.
GERMANO ALMEIDA 00:32:03 Sim, isso não é o que ele próprio diz nos comícios que o vai fazer é e portanto, será Trump depois. Eu recordo, antes de mais, político que quer a administração Trump em 2016. Ou melhor, 17. Ainda teve um chefe que um um grande militar que vinha da NATO, um general que vinha da NATO.
GERMANO ALMEIDA 00:32:21 O jornal de Jim Mattis, na chefiar o Pentágono, teve alguém que, embora no mundo dos negócios, era alguém até bastante razoável e, por exemplo, bastante para a Ucrânia anti-Rússia, o Rex Tillerson na chefia do Departamento de Estado.
JORGE CORREIA 00:32:33 Havia contrapesos, havia contrapesos.
GERMANO ALMEIDA 00:32:35 Eles saíram todos, todos em rutura com o presidente, quase todos. O general McMaster, no Conselho Nacional foi tudo.
JORGE CORREIA 00:32:43 Portanto, este novo Trump presidente, se for eleito, vai no fundo, fazer uma limpeza geral e vai colocar.
GERMANO ALMEIDA 00:32:53 Macas, macas fiéis, sem todos eles negacionistas do que aconteceu em 2020 na administração. Esta a gravidade para lá de nós europeus. E o que é que eles dizem sobre a Ucrânia, que é um problema nosso? Dizem que não, Não, também não chegam ao ponto defender o Putin, mas quase. E por exemplo, acaba de dar uma entrevista a dizer bom, é vamos promover a paz fazendo ali uma linha divisória na actual. Na atual linha da frente, no leste da Ucrânia.
JORGE CORREIA 00:33:19 No rio Dnipro e de Dnipro para a direita.
JORGE CORREIA 00:33:22 Basicamente vai, vai, entrega se a Rússia e do lado de cá fica uma Ucrânia ocidental. Sim, ele não chega.
GERMANO ALMEIDA 00:33:27 A dizer isso, isso é que os russos queriam. Mas apesar de os russos ainda não chegaram a esse ponto, não é a linha da frente neste momento. Não, não está delimitada pelo Dnipro. Está mais atrás, portanto está mais para leste. De todo modo, uma coisa desmilitarizada. E depois o resto. Apareceu Putin a falar. Exigimos e vamos exigir a Ucrânia que não entra na NATO, que seja neutral para exigir, para dar garantias à Rússia, para a Rússia não voltar a atacar. É isto que vai acontecer se o tempo for presidente. É esta a gravidade.
JORGE CORREIA 00:33:53 Mas isso é o contrário de tudo aquilo que, no fundo, a política norte americana tem defendido durante os últimos anos.
GERMANO ALMEIDA 00:34:00 Claro. Mas também já foi assim quando ele foi presidente, não é? Mas, apesar de tudo, volto a dizer, ele como presidente, havia uma certa entropia quando ele era presidente.
GERMANO ALMEIDA 00:34:10 É verdade. E o Putin noutro dia lembrou isso que a primeira admnistração americana a fazer sanções a Rússia pós invasão da Crimeia foi a prestação de Trump. Mas não foi por causa do presidente, foi por causa do Departamento de Estado. Isso não vai acontecer agora. Ele vai pôr um departamento de Estado próximo do Putin. Não tenho qualquer dúvida sobre.
JORGE CORREIA 00:34:27 Dóceis servidores que vão aplicar aquilo que ele está a pensar. Olha, Kamala, primeiro obstáculo é alguém que, genericamente não passou pelas primárias ou passou de uma forma apenas no congresso dos Democratas. É uma mulher, é negra. Isto, estes pressupostos podem levar a que seja mais difícil para ela conquistar os votos que precisa para ganhar a eleição.
GERMANO ALMEIDA 00:34:56 Não tenho qualquer dúvida sobre isso. Eu estava antes de ir para aqui a ler uma peça muito interessante no nosso jornal que me preocupou verdadeiramente sobre o debate em que eles falam sobre. Falam com um conjunto de eleitores indecisos em estados decisivos que viram o debate. E posso falar numa mulher de 40 anos da Pensilvânia, que votou em Biden há quatro anos e que acha que a Câmara ganhou o debate.
GERMANO ALMEIDA 00:35:18 E que é que o Trump teve um comportamento inaceitável no debate e mesmo assim está indeciso. Uma ou outra do Arizona, que votou na Hillary em 2016, votou no Trump em 2020 e tendia a votar no Kennedy. Ficou me desiludida quando Kennedy, portanto, é alguém que está enfim, desiludida com o sistema Voto contra, viu debate e achou que a Câmara ganhou e passou a ficar indecisa. E não é por acaso que a estratégia, se reparares da Câmara, ao contrário do que aconteceu a Hillary, que achava que ia ganhar, fez a campanha a dizer que vai quebrar o teto de vidro. Vai ser a primeira mulher e.
JORGE CORREIA 00:35:52 Numa conversa altiva no fundo.
GERMANO ALMEIDA 00:35:55 Aquela voz do facto de estar a poucos dias de ser a primeira mulher ainda é a segunda e o segundo negro. A primeira mulher negra dos Estados Unidos.
JORGE CORREIA 00:36:02 Está a tentar de uma forma quase muito discreta. Não, não tornar isso um mote de discussões ou de insegurança de alguns eleitores de dizer eu até votava nela, mas como é uma mulher, se calhar não acredito tanto.
GERMANO ALMEIDA 00:36:17 Porque eles sabem. E percebeu se pelo tipo, pela excelsa preparação de que ela, do debate que levou ao desempenho dela, que depois levou a coisa, só mais este mesmo interessante. Ela chega a falar dos dos da Polónia, que consigo a Rússia invadir a Polónia e atacar a Polónia. Você não fazia nada e falou para os americanos com ascendência polaca que são 2,6% no total do país, 5% no total dos estados decisivos e 8% no Wisconsin, em Michigan. É disto que estamos a falar.
JORGE CORREIA 00:36:47 E portanto, agora estamos a falar já de criar.
GERMANO ALMEIDA 00:36:51 Micro targeting para cada.
JORGE CORREIA 00:36:53 Eleitor. Olha, a eleição nos Estados Unidos é uma eleição estranha para nós europeus. Embora, se nós olhamos para Portugal, elegemos também o nosso Parlamento pelo método de Hondt, círculos eleitorais distritais Nos Estados Unidos, o presidente é eleito de uma forma indirecta através de um colégio eleitoral e cada Estado elege um conjunto de delegados. Por isso, a ideia das sondagens nacionais de voto popular é muito pouco relevante ou interessante em relação depois ao resultado final ou não.
GERMANO ALMEIDA 00:37:23 Ajuda nos a ter um barómetro. Ou seja, embora não haja um dado como objectivo para isso, se, por exemplo, se eles estiverem empatados como estavam antes do debate numa sondagem, isso indicava que seria muito difícil para a Câmara ter uma matemática de ganhar colégio eleitoral, porque os democratas têm logo uma vantagem de alguns milhões de votos, com a vantagem que tem na Califórnia e em Nova Iorque. São dois dos três estados mais populosos e que.
JORGE CORREIA 00:37:46 Tendem e que são estados de voto.
GERMANO ALMEIDA 00:37:48 Com grande vantagem. É verdade que outros dois dos primeiros quatro são mais republicanos Texas e Flórida, mas a vantagem dos democratas na Califórnia e Nova Iorque é bem maior que as vantagens dos republicanos no Texas e na Flórida. E essa junção desses quatro, sendo que esses quatro juntos já tem uma percentagem bastante significativa do total. Só isso. Só essa relação já dá lhe uma vantagem de três, 4 milhões, às vezes 5 milhões aos democratas. E portanto, eles partem com essa vantagem no voto popular e Estado.
JORGE CORREIA 00:38:17 A Estado.
GERMANO ALMEIDA 00:38:18 Estado a Estado. Onde é que isto é que.
JORGE CORREIA 00:38:19 Isto vai decidir? No fundo, e isto.
GERMANO ALMEIDA 00:38:21 Em sete estados três da cintura da ferrugem, Wisconsin e Pensilvânia, que o Trump ganhou a Hillary, mas que o Biden ganhou Trump e sempre por diferenças pequenas nos quatro nos três da Sand Belt, Geórgia, Arizona e Nevada, que são estados com forte componente latina e no caso da Geórgia também negros. E depois um outro que entra agora nos estados decisivos que é a Carolina do Norte, tem sido consistentemente republicano, mas onde o Trump já só ganhou por 70.000 votos ao Biden e que é neste momento. Neste momento, a Câmara está à frente da Carolina do Norte porque houve uma mudança interestadual em que vieram. Vieram cerca de 400.000 de Nova Iorque e de Illinois. Mudaram se para a Carolina do Norte. Porquê? Porque é um estado bastante mais barato. A crise da habitação. Isto tem uma consequência política. Não quer dizer que os 400.000 votem. E também não votam todos os democratas. Mas as sondagens já estão a mostrar isso.
JORGE CORREIA 00:39:09 Podem mudar o perfil do tipo de eleição? Podem.
GERMANO ALMEIDA 00:39:11 Já estão a mudar.
JORGE CORREIA 00:39:12 Como é que? Como é que está a tua bolsa de apostas?
GERMANO ALMEIDA 00:39:15 Se fosse hoje a eleição, eu punha o meu dinheiro na vitória da Câmara. Não tenho grandes dúvidas que se fosse hoje a eleição a Câmara ganhava. Mas a eleição não é hoje é dia 5 de.
JORGE CORREIA 00:39:24 Novembro e portanto, tudo pode. Pode mudar, aliás, no tempo. Kamala Harris como presidente, como é que? Como é que será ela como presidente.
GERMANO ALMEIDA 00:39:35 Da Câmara, se tem sido uma candidata que foi uma candidata de emergência, não fez primárias. É a primeira vez que acontecem desde 1968, mas é vice presidente. Estados Unidos é alguém que que que estava demasiado na sombra porque o cargo de vice presidente é um pouco isso e que teve um presente envenenado, que foi a gestão da questão da fronteira do Texas, México. Não estava a correr bem, mas a verdade é que também basicamente não tinha encontrado a solução com um acordo bipartidário no Congresso que levaria a um grande reforço e de meios na fronteira.
JORGE CORREIA 00:40:08 Então passou.
GERMANO ALMEIDA 00:40:09 E quem não passou porque o Trump travou.
JORGE CORREIA 00:40:11 Começou a campanha.
GERMANO ALMEIDA 00:40:12 E a Câmara explicou isso bem no debate e, portanto, a culpa é do Trump de não ter passado. Isso não é do Trump Até lá, porque houve uma má gestão dos democratas, nomeadamente no ano passado. As coisas melhoraram um pouco no último ano. Mas. Mas isto para dizer agora estamos a falar de alguém que, como vice presidente, representou os Estados Unidos na Cimeira da Paz na Suíça. Representou os Estados Unidos na Conferência de Munique. Tem estado nas reuniões com Biden, com Netanyahu, com silêncio, e, portanto, é alguém já bastante experiente.
JORGE CORREIA 00:40:39 Alguém que está preparado. Olha, é sempre tradicional, que não vai só o presidente, O candidato a presidente, neste caso é Trump. Mas também há uns números dois os vice presidentes, olhando para a realidade aqui do lado de fora e de quem muito pouco entende a política norte americana. Esta escolha dos números dois não é propriamente a escolha do melhor amigo e normalmente correspondem a tipos de candidatos que entram em eleitorados diferentes e conseguem alargar a base de sustentação dentro da maioria.
JORGE CORREIA 00:41:15 Ora a esquerda, ora o democrata, ora ora republicana.
GERMANO ALMEIDA 00:41:18 Sim, é essa foi a lógica da escolha da Câmara ao escolher símbolos, que é o oposto dela. É um homem branco e uma mulher negra. A câmara é uma sofisticada liberal da costa oeste Califórnia, estado mais rico dos Estados Unidos. Se fosse um país, era o quinto país mais rico do mundo. É disso que estamos a falar. E o House é um homem branco, com uma ligação rural e vem de um distrito congressional rural muito republicano do Minnesota, um estado muito, muito, muito próximo daquele estado. Estamos a falar Wisconsin, Michigan, menos da Pensilvânia. O time Wallace é proprietário de uma arma. Foi treinador de futebol e foi professor. Foi da Guarda Nacional do Exército. Portanto, oferece uma complementaridade em relação à Câmara. E depois tem um discurso muito terra a terra. Enquanto a Câmara tem se dirige muito mais às minorias.
JORGE CORREIA 00:42:10 Sei como é que esta gente depois se vai entender. Dirige se ao.
GERMANO ALMEIDA 00:42:12 Homem branco na.
JORGE CORREIA 00:42:12 Câmara branca, na Casa Branca, mesmo tendo esta tendo estas.
GERMANO ALMEIDA 00:42:18 Mesmo que Barack Obama e Biden também eram bastante diferentes. Obama mais vindo das elites e universitárias, e o Biden muito de uma universidade que não era de elite e de mais América branca. E o Biden do Congresso Tinha, tinha, tinha, tinha paciência para falar com os líderes republicanos. O Aidan nunca teve esse perfil. O Obama nunca teve esse perfil. Isso faz mais lógica. Tradicionalmente tem havido isso. Trump fez essa escolha na altura em que achava que ia ganhar fácil contra um Biden fragilizado e escolhe uma versão sua com metade da idade que é dos Advance.
JORGE CORREIA 00:42:56 O início do trumpismo, verdadeiramente, porque sim, este tem esse, esse perfil, mesmo em tempos comunicacionais. Mas vai mais longe na interpretação.
GERMANO ALMEIDA 00:43:04 É mais trumpista que o Trump, porque o Trump é um tipo que vem de Nova Iorque, um ricaço que herda dinheiro do pai especulador.
JORGE CORREIA 00:43:14 Podia ser um liberal.
GERMANO ALMEIDA 00:43:15 Podia ser. Ele foi um liberal nos anos 70 e 80 e no início de 90 o Trump apoiava os democratas.
GERMANO ALMEIDA 00:43:21 Foi registado democrata, financiou os Clinton. É daí que ele vem e depois vem um vê um mercado eleitoral precisa de altura nos herdados do sistema, nos nos nos zangados. Mas, por exemplo, no iniciozinho e ele não tinha o apoio dos ultraconservadores, porque até pelo seu comportamento pessoal, não é? Não venho de uma direita religiosa agora. Erdogan agregou, fez uma OPA sobre ela.
JORGE CORREIA 00:43:46 Mas nasceu, na realidade, num contra movimento, um contrapoder. O xadrez.
GERMANO ALMEIDA 00:43:50 E esse sim, é sério. O Trump está a brincar com isto há muitos anos e é um egocêntrico que só quer ser presidente e faz e não tem tudo.
JORGE CORREIA 00:43:58 O que é preciso porque não.
GERMANO ALMEIDA 00:43:59 Tem. Assim, não tem nem ideologia, nem nem profundidade, nem empatia. O sujeito, ao invés, tem profundidade, tem ideologia e vem dali, vem, vem dos Apalaches, subiu a pulso, chega de facto a Harvard. Mas porque? A ele. Desculpa, mas mas por por por mérito e é um tipo denso. No entanto está e também representa um bocado aquela direita ultra direita ideológica, branca e heterossexual que acha que a ascensão das minorias é uma e 01h01 de algum modo, uma ameaça à sua afirmação e o seu modo de vida.
GERMANO ALMEIDA 00:44:39 Enquanto exemplo simples, é alguém que vive bem com essa diferença e a promoveu. São diferenças, mas portanto o Trump é que agravou o extremismo ultra religioso com o seu ticket. Curiosamente, a última vez que aconteceu alguém muito parecido e foram mesmo bem parecidos entre presidente e vice presidentes, aí fez sentido para reforçar aquilo que representava, que era o Bill Clinton, que era um jovem governador do Sul. E o Al Gore também vinha do sul e estavam ambos na casa dos 40 anos. Representavam uma nova América e isso fez sentido naquele refrescamento geracional. Era um refrescamento depois.
JORGE CORREIA 00:45:20 Agora não ganha as eleições e perde como vice presidente. Nós estamos praticamente praticamente a fechar. Claramente uma sociedade norte americana polarizada também na comunicação e agora nem é especialmente popular por cá. Mas o X antigo Twitter com ela, Musk, que apoia Trump. Mas não só. Há um quase uma não verificação das coisas que passam no Twitter e há um fervilhar dessa polaridade. Estamos a ver uma bela expressão da democracia ou uma catástrofe anunciada.
GERMANO ALMEIDA 00:45:55 Acho que é mais a segunda coisa, mas sob a capa de suposta liberdade de expressão.
JORGE CORREIA 00:46:00 Absoluta e total.
GERMANO ALMEIDA 00:46:01 Sem controlo ou ambas têm tido um comportamento absolutamente irresponsável, nalguns casos mais que o Trump, aquilo que ele escreveu sobre o que se está a passar em Inglaterra é muito grave. A dizer que não havia alternativa a uma guerra civil. Em Inglaterra houve uma, houve uma um incitamento. Isso claramente o alarma. Se tentou. Acha que encontrou no Trump uma forma de de uma administração que que que le, que lhe aliviou os impostos, que lhe que aquele que supostamente o o empodera nessa via de de impor ali uma certa nova forma de liberdade de expressão. E o Trump? Já se percebeu que a ligação a ele, quando lhe promete aquele cargo lá da eficiência do Estado dentro daquilo que aquilo representa, é e pronto. E estamos a falar de novos tempos, em que também é fundamental, por exemplo, para um conjunto de de narrativas e de falsidades e de coisas como há pouco estávamos a falar sobre os cães e os gatos que noutra forma e nos media mais tradicionais ele leva com o contraponto, leva com a verificação e com o desmentido.
JORGE CORREIA 00:47:13 E ali não, ali tudo flui.
GERMANO ALMEIDA 00:47:15 Pois, mas a questão é que é que ao nível do alcance, tempo depois temos surpresas.
JORGE CORREIA 00:47:19 Olha, fechamos. O que é que te assusta? E o que é que te fascina na América de hoje?
GERMANO ALMEIDA 00:47:25 Fascina me quase tudo mesmo, que me assusta, porque é aquilo que há pouco estávamos a falar. Se ao fim de tantos anos eu ainda não consigo compreender como é que o Trump tem metade do país a apoiá lo perante esse comportamento. A culpa não é dessas pessoas, é minha, de não ter conseguido compreender.
JORGE CORREIA 00:47:38 Compreender e o derradeiro ato de comunicação. Não basta saber os factos e entender o contexto. Nesta coisa das eleições há sempre margem para uma surpresa. Claramente, os eleitores dizem se racionais, mas votam tantas vezes com o coração. A eleição do presidente dos Estados Unidos não é como a nossa. Nós por cá votamos e todos os votos vão para uma mesma caixa. Se posso usar esta expressão e depois de contados os votos, ganha o preferido pelo voto popular e uma eleição directa e simples.
JORGE CORREIA 00:48:11 Nos Estados Unidos, cada Estado escolhe delegados para um colégio de 538 membros. O candidato que conseguir ter um grupo de 270 votos é eleito. Mas pode até acontecer que um dos candidatos tenha mais votos populares, mas menos delegados neste tal colégio eleitoral. Já aconteceu. Além disso, os eleitores têm de seguir um conjunto de regras no Estado onde votam, desde a forma como se podem recensear até se podem votar presencialmente ou por correspondência. O sistema é complexo e acaba muitas vezes por levar a longas conversas em tribunais estaduais ou nacionais. Falta muito pouco para a eleição. Agora é a vez de Kamala ou Trump. Um deles será o novo presidente dos Estados Unidos. A América vota. Mas a decisão também tem consequências para a nossa velha Europa. Até para a semana.
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