Como se toma uma boa decisão… sem saber tudo?
A política pode viver com dúvidas?
A ciência deve hesitar?
E nós — cidadãos comuns — conseguimos agir em tempos de incerteza?
Neste episódio do Pergunta Simples, conversamos com Alexandre Quintanilha: cientista, professor, antigo deputado e uma das vozes mais lúcidas e humanas da vida pública portuguesa.
🔹 O poder das boas perguntas
🔹 O que é uma verdade científica
🔹 A lentidão do conhecimento e a pressão das decisões políticas
🔹 A coragem de errar e voltar atrás
🔹 Democracia, confiança e polarização
🔹 Amor, identidade e envelhecimento
🔹 E uma pergunta inesperada que mudou tudo: “Porque é que só há dois sexos?”
Este episódio é um convite a pensar devagar, a perguntar melhor…
e a resistir à tentação das respostas fáceis.
LER A TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO
Ora, vivam bem.
Vindos ao pergunta simples, o vosso podcast sobre a comunicação.
Se esperam uma conversa cheia de certezas absolutas e de caminhos lineares, esqueçam, esta é uma conversa a 1000 à hora, sobre a condição humana pelos olhos, pela mente e pela voz.
0:29
De um dos mais brilhantes cientistas portugueses, Alexandre Quintanilha, alguém que acredita no poder das perguntas, do saber, que leva tempo e de como se aceita ter de tomar grandes decisões mesmo sem saber tudo.
A conversa foi gravada em vídeo e em áudio.
0:45
Encarre se no alto Minho, a 2 passos de cristelo, em caminha, onde agora vive.
Fizemos uma viagem pelo mundo, perguntei muito e evitei responder às perguntas dele.
São perigosamente difíceis de responder.
1:09
Como é que se toma uma boa decisão sem saber tudo?
Como é que se escolhe um caminho quando o mapa ainda está a ser desenhado?
A vida não espera, a política não espera, a ciência às vezes também não.
E nós, como decidimos quando não temos todas as respostas.
Vivemos num mundo em que tudo pede urgência, respostas rápidas, opiniões prontas, certezas absolutas servidas em frases curtas.
1:32
Mas a verdade, a verdade mesmo, é que decidir bem exige mais do que certezas, exige escuta, exige dúvida e acima de tudo, exige coragem.
Coragem para dizer não sei, coragem para perguntar e, se for ao contrário, coragem para voltar atrás quando for preciso no episódio de hoje.
1:51
Converso com alguém que passou a vida a fazer perguntas difíceis e mudar de direção quando foi preciso.
Cresceu em Moçambique, estudou na África do Sul, foi investigador na Califórnia, nos Estados Unidos, e regressou depois a Portugal para lidar centros de ciência.
Mais tarde, foi até ao parlamento.
2:07
Enquanto deputado, Alexandre Quintanilha é cientista, professor, pensador, mas é também cidadão, companheiro e curioso, um homem que vive bem no terreno instável da dúvida, afinal.
Foi na física que inventaram o tal princípio da incerteza.
Falamos sobre política e sobre ciência, sobre a lentidão do conhecimento, sobre o erro e de como ele até pode ser fértil, sobre perguntas que mudam tudo, como aquela jovem que uma vez lhe fez na universidade de Berkeley uma pergunta, se a reprodução sexual é assim tão vantajosa, porque é que há só 2 sexos?
2:42
E a pergunta ficou e teve de ser respondida.
Falamos sobre.
O parlamento por onde passou, sobre como se toma uma decisão política quando os dados ainda são poucos ou contraditórios ou inacabados, mas a decisão tem mesmo de ser tomada.
Falamos sobre democracia, sobre confiança, sobre as dificuldades de agir num mundo polarizado, feito de slogans e de Atalhos.
3:05
E falamos também sobre o amor, sobre a identidade, sobre o envelhecer e sobre o direito de mudar de ideias, de percurso e de vida.
Esse episódio é uma conversa sobre.
Decidir com consciência sobre aceitar a complexidade, em vez de fugir dela, é sobre o poder das boas perguntas e o risco das respostas fáceis.
3:26
É sobre política feita com dúvidas, ciência feita com humanidade.
No fundo, é sobre como viver bem sem saber tudo e por mero acaso, sem sequer iria ter anunciado que a gravação já havia começado.
Já cheguei a ele, estava fora a contar o fascínio.
3:43
De um livro que estava a ler.
Eu acabei de ler um livro que não sei porque é que porque é que não consegui deixar de ler, porque não é o meu estilo, é o livro de 1/01/1 escritor russo, o mikail bullrakov e chama se the master and Margarita, e é uma sátira.
4:12
Aliás, foi proibido na Rússia porque ele.
Porque há ali muitas coisas.
E é um livro.
É um livro fascinante, porque vai buscar o tema do Fausto, do do homem que vende a alma ao diabo, não é que que quer a vida eterna e depois da sua amante, a Margarita, a Gretchen No No texto alemão do gota e depois, no fim, são ambos salvos.
4:38
E são falvos pelo amor e pela dedicação, que é uma coisa muito cristã.
Não é a gente ter que salvos pelo amor e pela e pela dedicação, apesar de ela querer ser bruxa.
E mais, não sei quê.
Então, mas o amor nos salva, professor.
Bem, aqui acho que sim, mas eu, eu por acaso também também acho que sim, mas.
4:55
Não, não há nenhuma prova, não há nenhuma prova científica.
EE então e então porque é que porque é que porque é que foi?
Porque é que esse livro o agarrou de de tal maneira?
Não sei porque ele está tão os aquilo é uma coisa tão estranha.
O livro é uma história tão, tão fantástica que eu não sei como é que é, porque eu, em geral, não sou muito sensível assim.
5:18
Mas fala de mágica, negra.
É um livro extraordinário, porque eu não consegui deixar de ler.
Liu em são 400 páginas.
E eu li aquilo em em 5 dias, não é?
Quer dizer, não conseguia deixar de ler e ainda estou a pensar.
5:35
Na mensagem cristã, na nós estamos cheios delas à volta, sem sabermos muito bem que são, não é?
Porque ela faz, faz, faz parte da nossa cultura, não é?
É.
Portanto, está cá, é EE também.
Se calhar a religião aproveitou essa cultura também para para a Rita exatamente.
5:51
Portanto, foi um ótimo.
É das 2 nas 2 direções, tudo exatamente.
Professor Alexandre Quintanilha.
Como é que quer ser apresentado?
Alexandre.
Alexandre Alexandre, o cientista Alexandre, o político também também por lá passou.
Sei lá, Oo investigador, o investigador, o cientista investigador que já teve uma vida muito, mas só que por muitos sítios.
6:13
Para quem?
Para quem não conhece.
Oo percurso, fazer uma pequenina, uma pequenina introdução.
Pai biólogo, o pai era geneticista, geneticista, foi um dos pioneiros.
Mundiais na genética dos fungos, dos champignon, dos cogumelos, dos cogumelos.
6:32
Exatamente ele foi.
Os primeiros 3 grandes trabalhos que existem sobre fungos foram publicados pela pela Spring farlac alemã.
Os primeiros 3 trabalhos que aparecem no livro, que é uma enciclopédia de um deles, é do meu pai e dos anos 30 mais ou menos, ou 20 dos anos 20.
6:56
Do século passado, portanto, há 100 anos e.
Mas depois foi corrido pelo Salazar, foi para a rua, ele era professor em Coimbra, foi para a rua, foi foi conduzir táxis em Coimbra durante uns tempos.
Foi saneado?
7:11
Foi, foi saneado naquela altura, não se chamava saneado, foi posto na rua, foi demitido.
Demitido por razões políticas por.
Razões políticas ele foi um dos dezenas que, mas ele foi na primeira leva.
A primeira leva dos professores universitários que foram para a rua.
7:31
A primeira leva foram para aí uns 7 ou 8.
E o meu pai era um deles.
Ele, aliás, porque também ele tinha criado em Coimbra uma coisa chamada a universidade livre.
É.
Arriscado que nos anos 25, acho eu.
7:47
EE outra coisa, ele jogava basquete com os estudantes, que é uma coisa, não é, não é admitível, não é que ele é um professor catedrático, não anda de calções a jogar basquete com os senhores.
E o Salazar era, era era colega dele, não é?
8:02
Porque Salazar também era professor em Coimbra e, portanto, o Salazar na primeira oportunidade, pô, lo na rua assim, compôs com muitas outras gente.
Não é, é um homem dos Açores.
É o meu pai nasceu na terceira em gra do heroísmo, em 1892, portanto há 2 séculos, e a minha mãe é de Berlim.
8:23
Uma alemã é uma alemã, isso é um cruzamento.
Alemã, o mais puro possível 11.
Ariana alemã que que que eles conheceram?
Se em Berlim o meu pai foi fazer 11 sabático a Berlim no fim dos anos 20?
8:41
Eles casaram se em 1930.
E agora imagina o que é uma jovem que fez a sua adolescência em Berlim, que nos anos 20 era a capital do mundo em todos os aspetos científicos, culturais, sociais e chega a Coimbra em 1930, que é, digamos, a coisa mais cinzenta que existe naquela altura na Europa?
9:05
Eu, eu não, eu não quero imaginar o choque cultural para a minha mãe.
E depois, em 35, ele é posto na rua.
O meu pai vai vai conduzir táxis para ganhar a vida em Coimbra e depois recebe uma bolsa do governo inglês para ir continuar os seus trabalhos onde ele quisesse, no mundo.
9:29
E para onde é que ele foi para?
Paris para Paris, onde tinha irmãos a viver.
Esteve em Paris até até ao início da guerra, quando a guerra começou.
Ele alistou se como voluntário no exército francês.
9:45
Depois, quando a França assinou o armistício, houve um amigo dele, que era diretor da da estação agronómica nacional, que era amigo do Salazar e que disse que o meu pai podia voltar porque o Salazar já se tinha esquecido dele, mas não era verdade.
Portanto, o meu pai esteve durante 2 anos, em 41 e 42.
10:07
A única coisa que o António Câmara conseguiu para ele foi tomar conta da cantina da estação agronómica nacional para lhe dar um trabalho, um salário, e depois ele convenceu o Salazar que se o meu pai fosse para Moçambique, dirigir um centro de investigação era longe e portanto, eles foram para Moçambique em 43.
10:28
E eu nasci em 45, portanto eu sou um africano de alma e coração e tudo mais africano mais possível.
Há uma mistura, portanto, entre a cultura alemã com todo esse rigor, com um português de que dos Açores que vem para Coimbra?
Pois mas, curiosamente, a minha mãe.
10:47
Temperamentalmente era muito portuguesa, era muito emocional, era uma pessoa que dava beijinhos a toda a gente.
Sim, os meus amigos.
Não, os alemães, nada.
A minha mãe era muito emocional, no bom sentido.
Quer dizer, adorava os meus amigos e amigas, e era.
11:03
E o meu pai era muito mais germânico.
Se calhar, sim, sim, mais distante a um professor catedrático, genética, cientista, um bocado.
O que é que o que é que?
O Alexandre quintarilha traz hoje no seu coração, deste, deste pai e desta mãe.
11:22
Olhe do meu pai.
Eu eu acho que dos meus pais, aquilo que mais mais importante me deram foi enorme Liberdade para eu fazer as perguntas todas e imaginar as respostas todas que eu quisesse.
11:40
Um luxo.
Portanto, um luxo.
Foram.
Nunca fizeram pressão nenhuma sobre mim, para eu ser isto ou aquilo, seguir esta carreira ou aquela carreira.
Eu fui um mau aluno até ao quinto ano do liceu, eu passava com 10.
Não posso acreditar.
É verdade, passava com 10 a Sério.
11:57
Estou a falar a Sério.
Mas porquê?
Porque só estudava aquilo que me interessava.
O que eu não interessava, não estudava, portanto, estudava o mínimo possível para passar.
E no quinto ano, no fim do quinto ano, quem agora chama se o nono ano?
No liceu, eu tive um professor que nos levou a conhecer o ecossistemas africanos que eu não conhecia, uma Barreira de corais, uns mangais Na Na ilha da inhaca, e eu comecei a estudar e, portanto, eu conto esta história muitas vezes.
12:25
Eu no primeiro trimestre do quinto ano tive 10 a ciências naturais, que era assim que se chamava.
No segundo trimestre tive 14 e os meus pais já acharam aquilo estranho.
Naquela altura, um 14.
Não é como agora, não é era.
Era uma nota.
Robusta, uma nota, uma nota boa, não é?
12:43
E no terceiro trimestre eu tive 19.
Uou.
EEO meu pai achou que se calhar, tinha lá um a mais, não é que.
Este rapaz, se calhar está aqui a trazer uma nota, é melhor levar o rapaz ao.
Médico?
EE, portanto, eu.
Aí comecei a estar e depois veio em diante.
12:59
Adorei a cadeira que eu mais gostei no liceu.
Foi geometria descritiva.
E por isso, ainda, durante muitos anos, eu tive o sonho de ir fazer arquitetura.
E agora já, já, já não, já não dá.
Tive um professor de física completamente despassarado, não é?
13:19
Mas que tornou a física fascinante, porque vamos lá ver a física do século 20 é, se calhar, AA cadeira mais.
Mais misteriosa, não é?
Quer dizer a teoria da relatividade, a teoria quântica.
Difícil de entender?
É difícil de entender.
Tudo muito, muito grande e tudo muito, muito, muito.
13:35
Pequeno, é verdade.
E, portanto, ele ele tornou essas coisas fascinantes.
Eu não percebia metade do que ele dizia.
Ele escrevia as coisas em cima umas das outras, no quadro caía do estrado era um desastrado, mas eu fiquei fascinado.
EE, quando cheguei à universidade.
13:52
Eu gostava de geometria descritiva, gostava de matemática, física, de, biologia de e portanto, escolhi engenharia porque era uma coisa que tinha muitas coisas.
Engenharia civil, civil, por causa dos desenhos.
Eu adorava a geometria.
Bem, isso é isso, é um percurso completamente.
14:08
Eu não sei.
Eu fiz o primeiro ano aleatório completamente e eu devo isso aos meus pais.
E agradeço porque eu acho que foi das coisas melhores que me aconteceu.
Foi ao poder andar AA, navegar.
Um pouco à procura de daquilo que me fascinava.
14:24
Eu mudei de eu mudei de continente 2 vezes.
Eu mudei de áreas de trabalho e interesse várias vezes.
Não é durante o meu percurso.
E eu acho que o ter a confiança necessária para fazer isso não é fácil, porque as pessoas não têm.
14:40
Era filho único?
Hum.
Era filho único.
Filho único.
Tinha 2 irmãs do primeiro casamento do meu pai.
Mas muito mais velhas.
Quando eu nasci, já eram casadas, uma delas já tinha filhos e, portanto, eu não cresci com elas.
Elas viviam em Portugal e eu cresci em Moçambique, em África e na África do Sul.
14:58
E depois fiz a universidade toda em Joanesburgo, também com um ou 2 professores fora da série.
E fiz outra coisa no terceiro ano da universidade, novamente à procura.
No terceiro ano da universidade, eu tirei o ano inteiro da física e matemática.
15:14
Para fazer filosofia, literatura francesa e literatura.
Alemã, isso tem nada a ver.
Tem nada a ver.
Mas também tive um professor de alemão absolutamente Fora de Série.
Eu fiquei porque eu também achava uma vergonha eu ter uma mãe alemã.
15:30
Não falar alemão.
E, portanto, eu, antes de tirar essa cadeira, fui passar umas férias de verão.
Com famílias alemãs na Alemanha, onde não falavam mais outra língua senão alemã, portanto, já sabia um bocadinho, não é?
Mas eu fiquei a adorar a literatura alemã que eu não conhecia, não é o gut, é o Chile, é o muzil, toda aquela profundo profundo, a alemã profunda, não é, e depois os novos os, o Peta handka alemão EAEAEA nova literatura alemã por aí fora.
16:02
Depois continuei e também quando quando cheguei ao fim.
Ah, no primeiro ano fiz engenharia civil e quando cheguei ao segundo ano, entrei Na Na Na turma, na classe na engenharia civil do segundo ano e estavam à volta 100 alunos.
16:18
Não havia uma única rapariga e eram tudo de jovens sul africanos que jogavam rúgbi, que que é uma coisa que eu odeio.
Que bebiam muita cerveja, que é outra coisa que eu também não gosto nada, e portanto eu passado 2 semanas, mudei de curso, fui fazer física e matemática, onde isto é a maior coisa que as pessoas sabem pouco sobre a África do Sul era um curso de 15 alunos, curso muito pequenino, só que restrito era um era o curso era suposto ser difícil, não é física e matemática era suposto.
16:49
Ser exigente, tinha 15 alunos, metade eram raparigas.
E cada um dos alunos vinha de um de uma nacionalidade diferente.
Não é porque Joanesburgo era uma espécie de Mini Nova Iorque, era muito cosmopolita.
17:05
Era uma espécie de Torre de Babel de alunos que ali estavam para aprender.
Talvez um bocadinho, mas era mais a diversidade, digamos, étnica da África do Sul na cidade de Joanesburgo, Joanesburgo era uma era a capital da diversidade era.
17:20
Era Nova Iorque em miniatura, não é?
Adorei a viver em em Joanesburgo, apesar do apartheid.
Não tinha muitos amigos.
Que que que eram que ativamente lutavam contra o apartheid?
Eu também, a um nível mais menos, menos terrorista também.
17:42
E depois, quando estava a acabar de outro momento, conheci uma pessoa que me fascinou, um homem que uns anos mais tarde, a 10 anos mais tarde.
Veio a ter o prémio Nobel, que era também sul africano e que veio a Joanesburgo para lhe darem um doutoramento honorários causa pela minha universidade e escolheram me a mim para ser uma espécie de chaprome do senhor.
18:05
Era assim, pequenino, com os olhos azuis lindíssimos e muitos pelos tinham umas sobrancelhas cheias de pelos, pelos assim dos ouvidos, das sobrancelhas, do nariz.
Era um indivíduo fascinante e era era trabalhava em em biologia molecular, não é?
18:22
E a biologia molecular é a área do fim do século 20, não é?
Quer dizer, a genética, essas coisas todas.
E eu disse lhe que tinha gostado muito de física, mas, se calhar, queria mudar.
E ele olhou para mim com aqueles olhos muito bonitos.
E então, se queres mudar, muda.
Assim, com essa facilidade?
Assim.
18:38
E eu disse, mas eu depois vou ter que começar desde o início outra vez.
E digo, e qual é o problema?
Se é o que tu queres fazer?
E foi o que eu fiz.
Foi para, foi para Berkeley, na Califórnia, e.
E comecei a aprender a matar ratos para produzir mitocôndrias, para estudar.
18:55
Mas os cientistas têm que matar os ratos.
Eu tinha que matar os ratos.
E a primeira vez que eu matei ratos veio o laboratório todo a ver como é que o físico teórico matava ratos e gozar comigo.
Não é porque eu congelei.
Depois de matar um animal simpático, eu fiquei completamente não era capaz de fazer mais nada, não é?
19:13
E depois, passados outros 20 anos, o desafio foi vir para Portugal.
Vim para Portugal e agora?
Não sei.
Eu às vezes penso que, se calhar, vou para a Nova Zelândia passar os os últimos 20 anos da minha vida.
Mas é muito longe.
Agora estou muito bem aqui em castelo.
19:28
No alto Minho, no nosso alto Minho, quer dizer, aliás, estamos estamos a gravar, isto é uma.
História longuíssima não valia a.
Pena?
Não, claro, claro que claro que vale a pena, porque subitamente decide dar um pezinho na política, decide aceitar candidatar a deputado.
19:43
É verdade o que, o que é que?
Quem é que o convenceu?
Ora, ou melhor, com que argumento aquilo que convencer?
É assim, eu, eu acabei.
Eu tinha dado a minha última aula em julho de 1900 e ano em 2015.
20:00
Eu fazia 70 anos este ano.
Esse ano tinha dado a minha última aula em julho e passado 21 a 2 dias telefona me alguém, um amigo meu, que me diz que o António Costa queria falar comigo?
Eu não sabia quem era o António Costa na altura EEE.
20:20
Perguntei quem é, quem é o António Costa?
Disse, Ah, é o é Oo líder do partido socialista, quer falar contigo?
E disse, está bem e combinámos um encontro na em serralves às 5:00, quarta-feira ou terça-feira já não me lembro.
EE eu fui para serralves e às 5 e 10 eu vinha me embora, porque eu em geral sou.
20:44
Muito ponto.
E o homem não tinha Aparecido ainda.
E o homem vinha a entrar quando eu IA a sair, não é?
E ele foi direito ao assunto, disse que me queria convidar para ser cabeça de revista pelo Porto nas eleições deles, até me rir, disse, está a brincar comigo, não é?
21:01
Quer dizer, eu nunca, nunca acho, tive, nunca tive um cabo, não, não, não tenho experiência nenhuma.
E ele deu uma resposta muito inteligente.
Ele disse, é precisamente por isso.
Nós queremos pessoas que não façam parte já da da.
Da máquina da máquina do da.
21:17
Máquina do do processo, queremos pessoas que possam trazer outras formas de olhar para os assuntos.
Argumentos.
Espertam um argumento muito inteligente.
E eu disse, olhe, não sei, olhe, tenho que falar com o Richard, porque nós estamos nessa altura.
21:33
Estávamos casados há 37 anos.
Richard, gente, leve escritores agora para para quem ainda não sabe.
E tem que dar uns dias para eu pensar e falar com ele, porque nós tínhamos muitos outros planos.
E eu falei com o Richard.
Ele disse, olha, se tu quiseres experimentar, não tem nada AA opor EE.
21:53
Eu aceitei e não estou nada arrependido.
Foram 9 anos, eu estive em 3 legislaturas, eu fui eu fui escolhido para presidente da comissão de educação e ciência, a comissão parlamentar de educação e ciência e também.
Uma vez da da comissão de cultura e Juventude, estive muito envolvido no parlamento de jovens.
22:15
Estive muito envolvido nas discussões sobre a lei de bases do clima, em que eu fui o relator na nas leis sobre a eutanásia.
E muitos anos antes, muitos anos antes, estive muito envolvido na lei portuguesa sobre a toxicodependência, que é, se calhar, uma das leis mais avançadas do planeta.
22:34
E que ainda hoje recebo telefonemas de jornalistas da Nova Zelândia, da o que é que querem saber?
Querem saber como é que como é que foi possível em Portugal passar uma lei em que os tóxicos independentes deixaram de ser criminosos e passaram a ser doentes?
E numa altura em que os em que os tóxicos dependentes eram eram mesmo olhados pela sociedade, como?
22:53
Em que como via a guerra?
Aqueles que roubavam o nosso rádio, aqueles que partiam o nosso vidro, o.
Que levei EE é, os Estados Unidos tinham a guerra.
Contra a toxicodependência muito forte e, portanto, o Jorge Sampaio, que era presidente na altura, e o Guterres, que era primeiro-ministro, sofreram acusações incríveis no mundo Internacional, mas passou.
23:13
Lembro me do Congresso do CCP, que onde isso foi, onde foi foi discutido com com o presidente Sampaio.
Tenho curiosidade de saber como é que o cérebro de um cientista lidou.
Com uma casa cheia de políticos profissionais.
23:29
Olhe, eu vou lhe dar uma resposta muito simples primeiro.
Não me vai dar uma resposta politicamente.
Correta?
Não, não, não vou, não, não vou é.
É assim uma a coisa, se calhar mais importante que eu aprendi no parlamento, eu, eu aprendo lentamente.
Eu não sou de apreensão rápida, eu levo tempo para aprender e acho que é bom porque as coisas só se aprendem bem se forem.
23:51
A coisa mais importante que eu aprendi é que o conhecimento leva muito tempo.
Quer dizer, a você faz uma pergunta e até ter uma resposta a essa pergunta em todos os domínios, não é?
Quer dizer, na, na física, na engenharia, na, no, na, no ambiente, na, na, na medicina, na sociologia, na psicologia, você faz uma pergunta.
24:17
A resposta pode levar décadas.
Mas nós não temos tempo, professora.
Pois e a grande diferença é que a política não tem esse luxo.
E, portanto, muitas vezes, quando a gente gostaria que as leis fossem baseadas no conhecimento mais robusto que existe na altura, esse conhecimento às vezes é parcial e, portanto, é necessário tomar decisões.
24:43
Porque se não toma decisões, não é político.
É necessário tomar decisões sem ter toda a informação que se gostaria de ter.
E.
Então, como é que se resolve esse dilema?
Resolve se percebendo que é que é possível que tenha que se voltar atrás, se aquela decisão não for a decisão correta e muitas vezes tem que se voltar atrás, mas não se pode deixar de tomar uma decisão.
25:04
Então, e como é que como é que o Alexandre, pessoalmente, lida com essa neura?
Já estou a fazer uma interpretação com essa neura de ter que tomar uma decisão, tendo uma cabeça formatada exatamente para.
Uma verdade que é científica, que se vai tentar perceber antes para depois decidir.
25:21
Eu acho que.
O princípio de incerteza no fundo.
Sim, exato.
Por um lado, porque a própria física foi quem introduziu o princípio da incerteza.
Não é?
Quer dizer, portanto, cientificamente.
Eu estou muito bem balizado.
Faz parte dos culpados.
Faz parte do meu, da minha forma de olhar para o mundo, não é?
25:38
Por outro lado, eu acho que por ter tido um pai e uma mãe tão diferentes.
E perceber que muitas vezes, lá em casa nós, as decisões eram sempre tomadas depois de muita conversa, não é?
Em que o meu pai argumentava a minha mãe, argumentava EE.
25:59
Muitas das coisas que me foi permitido a mim fazer foi como resultado de diálogos em casa.
Portanto, eu estava habituado a ouvir pessoas que não tinham sempre a mesma opinião.
26:15
Eu acho que isso me ajudou muito e depois eu acho que pela minha própria natureza, eu sempre eu sempre fui mais.
Eu sempre tive mais curiosidade pelas coisas que eu não sabia.
Eu sempre e gostava muito.
São 2 características que eu fui aprendendo também.
26:33
Eu também tinha.
Eu nunca tive medo de arriscar e isso tem a ver com uma certa autoconfiança.
Lúcida entre aspas, que eu fui adquirindo com a ajuda de muita gente e, portanto, o não ter medo de arriscar ou achar que arriscar é uma coisa boa também faz parte da.
26:58
Política então, e como é?
E como é que lida com o erro que é numa determinada altura, a gente olha para.
Trás muito natural a gente.
O erro é uma coisa o mais natural possível, não é?
Quer dizer, a gente tem é que ter.
Tem que ter a lucidez para perceber que foi um erro.
De de dizer que foi um erro e tentar resolver ou voltar atrás e tentar outra estratégia no processo?
27:23
Suspeito que os políticos, em particular aqueles de topo, já nem sequer estou a passar na António Costa, mas poder pensar nele, são um bocadinho teimosos são quando tenho uma convicção sobre uma determinada, um determinado ponto de vista, eles eles não largam aquele aquela visão é.
27:39
Agora, o que para mim, a diferença entre os bons políticos e os menos bons políticos é que os bons políticos têm a abertura para ouvir opiniões diferentes.
Não é para mim, a pessoa que mais me a pessoa Na Na Na política portuguesa, que mais me impressionou nesse aspeto que eu gostava muito de ouvir, foi o Jorge Sampaio.
28:02
O que é que ele tinha de especial?
Ouvia.
Ele gostava de ouvir as pessoas, ele gostava de falar com as pessoas.
E de ouvir as diferentes opiniões das pessoas.
Eu acho que ele às vezes até era criticado por levar muito tempo para tomar decisões.
Lá está porque, porque, porque pronto, ele queria ouvir o Mário Soares.
28:22
Era, era mais era era uma personalidade, quer dizer, era um, era um era um indivíduo que tinha 11 charme especial e que tinha uma certa sedução da forma.
Como intuitivo também.
Intuitivo, muito intuitivo.
O António Costa também tinha um pouco disso, não é?
28:37
Quer dizer.
Aspeto, eu, eu, quer dizer, eu, eu acho que o António Costa arriscou se ao me convidar a mim pela cabeça de lista do do Porto.
Não sabendo o que é que IA acontecer?
Não sabendo o que IA.
Acontecer ainda por cima, os eleitores do Porto são especiais que eles nem sempre votam da maneira como.
28:55
Ops do Porto é muito complicado.
Ops do Porto.
Eu percebi isso, pois a seguir, já lá está, já lá está.
Mas eu fui muito acarinhado, não é?
Quer dizer, não houve.
Se calhar houve pessoas que acharam.
Que eu não devia ter sido escolhido, mas nunca senti isso.
29:13
Senti sempre uma.
Eu é que no fim já estava.
Achava que chegou, não é quando se chegou.
Havia algum cansaço também, não é?
Depois um.
Cansaço e depois perceber que o que em Portugal estávamos a entrar numa fase de grande crispação, como estamos neste momento de.
29:31
Polarização no fundo de?
Polarização das pessoas o crescimento da Extrema direita assusta me muito.
Isso é a causa, o é o sintoma.
Eu acho que é as 2 coisas.
Eu acho que são as 2 coisas, acho que é uma, OOO.
29:49
Há há várias teorias sobre isto.
Não é quer dizer, porque é que porque é que os 2 partidos como OPSEOPSD, que são partidos com uma certa história, não é e com gente muito boa não é gente muito competente.
Estão a perder?
30:04
Porque é que de repente estão a perder?
E eu tenho a sensação de que há várias razões, se calhar.
Uma delas é que depois da Segunda Guerra Mundial, a nossa vida dos portugueses foi e depois das guerras coloniais foi uma vida que foi melhorando sistematicamente, não é?
30:27
Cadê os os meus pais sabiam que a minha vida, e eu já nem sou dessa.
Eu sou uma geração ainda anterior.
Sabiam que a minha vida IA ser muito melhor que a deles.
Os seus pais também a mesma coisa.
E, portanto, houve aqui e a entrada depois da da revolução.
30:44
Houve também um aumento da capacidade de Liberdade das pessoas.
AA ideia.
De que o futuro IA ser sempre o melhor, IA ser melhor.
E agora?
E agora?
Já.
Isso já não é já não é?
Já não faz parte da da mensagem que alguém acredite.
Quer dizer não é.
A gente pode dizer que vamos trabalhar para construir numa sociedade mais justa.
31:04
Mas o que muitos jovens veem é que não é isso que está a acontecer.
Não é que os muitos jovens estão a sofrer uma estão a ficar muito ansiosos.
Eu, eu bem os compreendo, não.
Eu também não é fácil conseguir um emprego.
Não é fácil arranjar uma casa.
31:19
Nós prometemos demais e nós também facilitamos demais.
Eu acho que houve os eu acho que houve uma altura em que tudo aquilo que os homens queriam era lhes fornecido.
E não aquela ideia de que tinham que trabalhar para eu agora estou a ser um bocadinho moralista.
31:40
Não, não te não te preocupes, porque se tu não conseguires, nós arranjaremos uma solução para ti.
Não, não, não.
Mas eu acho que Oo acho que isso é verdade.
Acho que Oo hoje em dia também porque os também é outra questão que é curiosa.
Eu penso isso.
Às vezes as famílias têm muito menos filhos e, portanto, cada um deles é muito mais importante e, portanto, querem que aquele filho ou aquela filha.
32:03
Seja a paparicado o mais possível para poder ter um futuro melhor do que eles.
Estamos a projetar nos neles.
Por um lado, a dizer que eles vão conseguir, que a gente não fez e aquilo que vão fazer.
E a sentir a frustração, e.
Eles e eles, infelizmente, até um certo ponto, acreditam que isso é possível.
32:21
E depois, quando chegam ao mundo real, veem que isso, afinal, não é assim, não é?
Quer dizer que há muita.
Eu, aliás, esta questão da ciência, as pessoas perguntam, porque é que há tantos, tantos cientistas com com com empregos precários?
32:37
Não é que é um?
Não faz grave, em princípio, não faz sentido nenhum não.
É, quer dizer, não faz e faz porque quando a gente aposta, quando a gente apaixona por uma determinada área.
E vai trabalhar para aquela área.
Um investigador nunca está à espera de ganhar milhões, não quer dizer, anão ser que seja um empresário, não é, quer dizer, depois pego naquilo e se transforma numa aplicação, numa inovação, e depois vende milhões, não é?
33:00
Mas a pior vai, porque é curioso.
Quero saber mais sobre como é que os negros funcionam, como é que o cérebro funciona, como é que o coração funciona.
Mas a sociedade tem a sociedade em momentos diferentes da sua história, tem, tem necessariamente.
33:17
Digamos, prioridades diferentes, não é?
Os problemas de hoje não são os problemas.
Quando apareceu a pandemia de repente, a pandemia foi a prioridade principal e, portanto, a pessoa ficar à espera que durante toda a sua vida, aquela área em que está a trabalhar é uma prioridade para aquela sociedade?
33:35
É.
É fictício.
Portanto, a gente precisa de tentar acertar 10 ou 15 anos antes daquilo que pode ser no futuro.
Ou se consegue?
E não conseguimos.
Não é futurologia e eu costumo dizer eu mudei de.
Direção várias vezes é.
Tenho uma personalidade para isso.
33:51
Muita gente não tem.
Não estou nada arrependido, mas se calhar, foi também aquilo que me permitiu crescer.
Agora, ficar no mesmo sítio, como há muitos que ficam à espera que um dia reconheçam a sua.
Não vai acontecer.
Acho que é um bocadinho, é um bocadinho.
34:11
Qual é a palavra?
Não é inocente, não é realista e, portanto, é ilusório.
É ilusório.
Portanto, o mundo está a mudar muito depressa e, portanto, aquilo que é uma prioridade hoje, daqui a 5 anos, já não é, não é?
Aliás, há muita gente que diz, o que você aprendeu hoje, daqui a 5 anos, só metade do que aprendeu é que é vale, portanto.
34:31
Precisamos de estar muito mais, mais atentos.
Levanta me aqui uma questão, lá está entre decisores e a sociedade.
No fundo, entre todos nós é, nós estamos a atravessar um problema de confiança?
Entre nós, cidadãos, e eu IA dizer a eles, decisores, mas o eles somos nós.
34:48
Somos exatamente.
E o problema da confiança?
Ainda bem que trouxe para a para a baila o problema da confiança também não é.
É um problema muito bem estudado, não é?
Quer dizer, a confiança leva muito tempo para construir, não é?
35:05
Quem, quem já teve vários namorados ou namoradas ou já teve vários casamentos, sabe muito bem que a confiança leva muito tempo a construir e é de uma fragilidade enorme.
Acaba com uma palavra, a palavra com uma situação como não sei quê.
35:21
E, portanto, a confiança é é um trabalho diário, como a democracia.
É um trabalho nunca acabado, não é?
Aliás, é uma frase maravilhosa de um qualquer que a democracia tem que ser, tem que nascer em todas as gerações.
35:39
E que a melhor parteira da, da, da, da, da, do conhecimento e da e acho que é do conhecimento que ele falava é, é AI, como é que é a expressão?
35:55
E agora está me a falhar.
A democracia tem que ser, tem que nascer em todas as gerações, tem que ser, tem que tem que Renascer em todas as gerações.
E a melhor parteira para a democracia é o conhecimento, não é?
E, portanto, como o conhecimento também é frágil, não é, porque a verdade com v grande não existe.
36:19
A verdade com v grande só existe na religião, não é?
E porque eles dizem?
Que é verdade com vigrante a outra é uma verdade que é sempre até se descobrir.
Qualquer coisa de novo é transitória e, portanto, a gente tem que se tem que se habituar.
36:38
Isto não quer dizer que não haja coisas que a gente sabe que funcionam, não é?
Quer dizer, a gente sabe que 11 corrente elétrica ao longo do fio produz Campos magnéticos à volta.
Em princípio, intuímos quer dizer, nós, os que não somos físicos.
Nós, nós, quer dizer.
Você, se quiser provar, pega numa numa um fio elétrico, põe uma bússola ao lado, liga e vê a bússola a mexer, portanto, sabe que há Campos de magnético.
36:59
Poderão fazer.
Então essas experiências estão a fazer.
E eu pensava que eu precisaria dizer, pega no fio elétrico, corta EE vê logo que ali há eletricidade, e isso era mais arriscado, tem que passar.
Tem que passar a eletricidade, mas há coisas que são óbvias e que são falsas.
Então vamos lá ver.
A coisa mais óbvia de todas é que o Sol e a Lua fazem exatamente a mesma trajetória no céu.
37:18
Exatamente da mesma trajetória, nascem a leste, põe se a Oeste e qualquer qualquer pessoa a quem se diga que um não anda à volta da Terra.
É um idiota, como é óbvio, porque eles ambos andam à volta da Terra, nascem todos os dias.
37:35
Portanto, a coisa mais óbvia aos nossos olhos, ainda por cima, é falsa.
Então, e porque é que estão a prolifrar os idiotas?
Não os o problema do os idiotas às vezes podem ser muito úteis.
Fazem perguntas diferentes, não é?
37:50
Veem o problema de outra maneira, veem o problema de outra maneira e às vezes podem fazer uma pergunta a que já não está habituada.
Eu vou lhe dar um exemplo maravilhoso que aconteceu comigo.
Eu, a cadeira mais interessante que eu dei no em em Berkeley, foi uma cadeira de fisiologia, para não cientistas.
38:10
Era uma cadeira que tinha 1000 e tal, alunos, era um anfiteatro enorme, porque Os Americanos jovens estão fascinados.
Como é que o corpo funciona?
Não é?
Quer dizer, são muito dos Desportos e, portanto, querem saber como é que o corpo funciona, o corpo humano.
E, portanto, a cadeira estava dividida em 3 partes.
38:25
A fisiologia geral que a respiração, circulação, digestão, aquelas coisas todas e que a gente aprende.
A segunda parte era o cérebro.
Como é que o cérebro funciona?
A última Fronteira?
EAA última Fronteira e a terceira era o sexo, não é?
Como é que funciona o sexo?
E era uma cadeira que tinha imensa gente, gente fabulosa.
38:44
E eu, uma vez na última, Na Na última parte, expliquei, estava a explicar que a grande vantagem.
Do sexo.
Quando há a mistura de de de material genético, as coisas podem melhorar ou piorar, se pioram.
39:00
Eliminando as melhoras vão ficando por aí fora.
Portanto, a evolução tem a ver com este processo.
A reprodução assexuada não tem esta vantagem.
É uma fotocópia.
É uma fotocópia mais ou menos com algumas mutações, mas é uma fotocópia e, portanto, a reprodução sexuada é uma vantagem, tem uma vantagem evolutiva.
39:20
E no fim da aula, veio uma jovem que estava a estudar a aula.
A área dela era o francês, era aluna de francês e de literatura, uma miúda, pequenina assim, com os cabelos cor de rosa, mais ou menos, quase com 2 puchos muito grandes e veio ter comigo e disse, ó, professor, eu fiquei fascinada porquê, porque eu nunca tinha pensado que havia uma vantagem na reprodução sexual.
39:46
E hoje percebi porquê.
O professor explicou porque é que há esta vantagem e eu, pela primeira vez na minha vida, percebi.
Teve uma epifania?
Exatamente.
Mas já agora gostava de perguntar, porque então, se há uma vantagem, não é porção sexuada?
Porque é que só há 2 sexos?
Porque é que não há mais para misturar mais?
40:05
E eu olhei para ela e disse, isso é talvez das perguntas mais difíceis e mais inteligentes que eu ouvi na minha vida.
A.
Pergunta faz sentido a?
Pergunta faz todo o sentido se há vantagens evolutivas?
E, de facto, nos fungos eu vim a saber mais tarde.
40:21
Nos fungos não há só 2 sexos, há vários e que não se chamam sexo, mas chamam se compatibilidades.
Portanto, os sexos já há muita mistura, muito mais interessante do que nos seres humanos.
Portanto, nós humanos apenas temos, lá está 2 sexos.
Biologicamente a gente julga, não é?
40:36
Que exatamente?
O que o que nós sabemos até agora é Oo que me levanta agora, há aqui uma outra questão que é.
Mas, vá lá, voltamos à pergunta do idiota.
Não é a pergunta da jovem que não sabia nada sobre biologia.
Retiniu e fez todo o sentido e.
Que fez e que fez uma pergunta que é talvez das perguntas mais interessantes que alguém talvez me fez, não é?
40:57
E eu fiquei muito envergado.
Quem tinha mostrado esses fatores de incompatibilidade nos fungos tinha sido o meu pai, nos anos 20.
E quando estudou fungos e, portanto, eu disse, lhe vamos para a biblioteca, estou e eu à procura de evidência, não é?
E Na Na aula a seguir eu disse lhe, olha isto, afinal, há mais do que 2 sexos noutros noutros reinos.
41:16
Os cogumelos é que é que sabem, eu eu não queria ofender os idiotas.
Porque há os os idiotas e há os manipuladores dos idiotas EEEEE.
É a minha pergunta.
Tem muito a ver com isso.
Quer dizer, neste mundo altamente polarizado, onde a comunicação é profundamente instantânea.
Nós vimos a emergir com cogumelos se quisermos ir ir aos cogumelos outra vez.
41:38
Pessoas que de uma forma que eu suspeito francamente deliberada, usam a informação, manipulam a informação, dão prismas que são claramente não verdade.
E a minha pergunta é, como é que nós tontos vamos caindo na esparrela?
41:57
Pois eu acho que eu.
Se calhar a resposta mais simples é que hoje em dia, vamos lá ver primeiro.
As mentiras não são só 2.
Já houve mentiras no passado, não é?
Houve muita gente.
O Hitler subiu ao poder contando mentiras, não é?
42:15
Bem, e, portanto, as mentiras não são de hoje.
Mas o que eu acho que é diferente hoje é que enquanto há há uns anos atrás, as pessoas.
Sabiam que tinham que ir à procura da evidência para aquilo que estavam a ouvir, para aquilo que estavam a tentar meter a sua cabeça.
42:43
Hoje em dia, as pessoas não têm tempo e, portanto, as mensagens são do TikTok, que são coisas de uma frase ou 2 frases ou 3 frases.
E se tu repetes a mesma coisa muitas vezes e vem a mesma coisa, de vários origens diferentes.
42:59
Eu suspeito que é muito fácil a pessoa começar só até inconscientemente a pensar que a mensagem é, é, é.
Tem alguma verdade por trás.
43:14
E, portanto, o que eu acho que hoje é necessário é é Na Na parte da educação.
A parte mais difícil da educação é tentar convencer as pessoas de que.
É necessário ir à procura das Fontes da informação, é necessário fazer o screening das Fontes de informação.
43:36
Só que isso dá trabalho.
Dá muito trabalho e leva tempo.
E muita gente, muita gente de propósito não quer fazer isso, porque, às vezes, as respostas simples também vão ao encontro daquilo que é que as pessoas acreditam, não daquilo que as pessoas sentem, mas não sabem muito bem o que é.
43:54
Vamos lá ver o racismo não é uma coisa de hoje, não é?
A homofobia não é uma coisa de hoje.
A misoginia não é uma coisa de hoje.
Isto sempre existiu.
Se é diferente e nós tendemos a acreditar que há uma verdade sobre a diferença.
Eu acho que durante o pós revolução houve a pouco e pouco uma evolução da sociedade para as pessoas que eram racistas, fomofóbicas, misóginas.
44:24
Terem vergonha de o, de o de o exprimir publicamente.
E hoje já não há essa vergonha.
Perdeu se isso, perdeu, se isso, e, portanto, há e se calhar até é uma vantagem, porque a gente agora sabe quem são.
Antigamente não sabia como não falavam, como não diziam, tinham vergonha daquilo que pensavam.
44:44
Agora temos a vantagem de saber quem são as pessoas que pensam assim, não é?
EE depois houve também um eu acho que houve um esforço grande da parte dos dos educadores, da, da, da, da sociedade em geral, de de tentar mostrar que as as as posições extremas, em geral dão, dão, dão nações, dão civilizações.
45:20
Que são, que são fechadas, que são que não, não, não, não, não progridem na forma como como como gostariam que que cada um de nós pudesse realizar se da forma que achar melhor para si próprio, esta dar a Liberdade às pessoas de elas se descobrirem aquilo que gostariam de ser.
45:48
Eu não estou a dizer aquilo que são porque eu não acredito na identidade, não é.
Quer dizer esta coisa da gente dizer a minha identidade, eu, a identidade é uma coisa que a gente vai construindo ao longo da nossa vida.
E é a maneira como nos sentimos.
É a maneira como nós sentimos, a maneira como nós olhamos para o mundo, a maneira como os outros olham para nós.
46:05
E eu e eu, por exemplo, acho que eu vou fazer 80 anos para o mês que vem.
Eu não sou a mesma pessoa que era aos 60, não sou a mesma pessoa que era aos 40.
Se calhar algumas coisas que ficaram.
E que a gente às vezes gosta de chamar de essência, mas eu não acredito nas essências também.
46:22
Acho que a gente evolui na forma como como até pensa sobre si próprio.
Quer dizer, Oo que é que o que é que eu ando a fazer não é as quem são as pessoas, por exemplo, eu aprendi ao longo dos anos e aprendi com o Richard, principalmente com ele, a afastar me das pessoas que a gente considera tóxicas.
46:46
Isso é uma coisa difícil de aprender, a gente não afastar se das pessoas que considera tóxicas.
E muitas vezes as pessoas tóxicas são na nossa família, porque às vezes a gente não escolhe aprender.
A gente se afastar da toxicidade dos outros é uma coisa difícil de aprender, arranjaram uma.
47:06
Espécie de cordão sanitário.
É uma questão de cordão sanitário, porque eu não eu não quero, eu não quero ter que me defender.
Nem quero, nem quero fazer de, de, de educador do outro, essas pessoas envenenam os envenenam, não envenenam a vida deles e a e a nossa, e, portanto, afastar se da gente e todos eu.
47:29
Quando digo isto, as pessoas ficam às vezes ficam a olhar para mim.
Depois eu acho que percebem que na sua vida pessoal há há muita gente tóxica.
Às vezes é difícil a gente isolar se completamente a gente que.
Drena a nossa energia.
Exatamente, não é.
E que a gente e a gente paga um preço alto por por aturar a gente tosca.
47:51
Mas eu aprendi isso com o Richard e já estou com ele há 46 anos e só aprendi nos últimos 10 ou 15 anos.
E.
Eu tenho curiosidade de saber qual é a receita, porque as.
Pessoas que não estão anão há receitas.
É uma.
É um trabalho todos os dias.
48:07
É como a democracia, é um trabalho de todos os dias.
É como o conhecimento.
É um trabalho todos os dias, mas olhe que vale a pena em princípio.
Eu, eu, eu estou a ouvir o professor, o professor falar e, em princípio, a ideia de que mais conhecimento, mais diversidade, mais abertura aos outros, mais diálogo, são receitas para nações de sucesso e sociedades de sucesso.
48:31
E depois eu olho para a Alemanha no tempo do Hitler, ou eu olho para os Estados Unidos agora, ou, se calhar, olho para a China.
E vejo que nações muito evoluídas.
Com grande cultura, com uma estrutura importante da sociedade civil, optam por esse caminho?
48:50
Não sei.
OK, é uma boa pergunta.
É um enigma e é um enigma.
Não é tanto.
Eu vou lhe dizer, eu na China, não, não, não conheço muito pouco.
EEE, não, não sei, acho que.
É só a ideia das grandes nações que subitamente ao mesmo.
49:08
Nos Estados Unidos.
Isto da teoria não é minha.
Há alguém que há uns uns anos atrás, explicou o que se passou com o senhor dos cabelos de cor de laranja.
E eu?
A explicação para mim faz sentido.
49:25
A explicação é esta.
Nos Estados Unidos, se você olhar para o mapa, vê 2 coisas.
Primeiro, as grandes cidades.
As grandes cidades votaram todas em Kamala.
Ou votaram todas em Hillary na altura da Hillary e é o meio rural que votou no Trump das 2 vezes?
49:48
É uma América profunda e uma América urbana Na Na, na, na zona das faixas mais.
Livre do país se você for AAAA.
Nashville, no tennessee, por exemplo, a cidade também é democrata.
50:04
Não é só.
Há também a segunda parte, que é na faixa oriental e na faixa ocidental onde estão as grandes universidades.
Não é onde está o estado da Califórnia, Berkeley, Los Angeles, Stanford, Na Na Costa, esta onde está Yale, Princeton, Harvard, Pensilvânia.
50:26
Nestas 2 costas das elites universitárias, ao ao longo dos anos foi se desenvolvendo um certo desprezo.
Pela América inculta e isto é a desforra da América inculta, não é?
50:42
Quer dizer, vocês acham que são tão especiais, não é?
Esqueceram se de nós não é?
Mandaram muito do trabalho que existia aqui para outros países que era mais barato, não é?
E, portanto, agora a gente vai arranjar alguém que supostamente pense em nós, estão enganadíssimos.
50:59
O Trump não pensa nada entre eles.
Mas interpretou esse sentimento melhor primeiro que os outros todos.
Sim, sim, e usou.
E continuou a usar, não é?
E na Alemanha a questão é ligeiramente diferente.
Eu não sei muito é nos Estados Unidos, acho que esta explicação é uma explicação muito robusta.
51:16
O que é que dizem os seus amigos?
Com quem fala meus amigos não sei se têm dos Estados Unidos cheios de medo.
Cheios de medo.
Cheios de medo.
E há por causa dos filhos.
Não querem que os filhos queiram, estão lá.
Nós temos vários amigos que estão a pensar, vir para a Europa, vir para Portugal, viver, principalmente quando têm filhos jovens.
51:32
Não querem que os filhos cresçam naquele ambiente.
Não se esqueça, há 2 outras partes dos Estados Unidos.
Muito importante que as pessoas em geral não, não, não pensam.
Primeiro, que o supremo tribunal está preenchido com gente.
Foi metida lá pelos presidentes republicanos e, portanto, é muito mais conservador do que era.
51:51
E eles só saem quando morrem.
E eles só saem quando morrem em princípio ou que se demitem?
Não é não é tão, tão normal.
Não é tão normal, mas há outra coisa é que os estados têm a sua próprias leis e, portanto, mesmo com o Trump, a Califórnia no empsure New York, podem ter leis.
52:15
Que diminuem o impacto daquilo que o Trump está a fazer.
Não é, por exemplo, o acesso.
Como é que se diz o acesso ao aborto, por exemplo, que é uma forma mais elegante dizer, mas o acesso à à?
52:31
Interrupção voluntária da.
Gravidez voluntária da gravidez EE, sobre a vida própria da da mulher, apesar de o tribunal supremo.
Decidir que o roversweid era abolido.
Muitos dos estados mantêm as leis que permitem que as pessoas tenham acesso.
52:49
E têm a capacidade de o fazer e.
Têm a capacidade de o fazer e fazem no.
É mesmo um estado federado, numa lógica que não é de um país só, mas é um conjunto de estado.
É, há certas coisas que são do total, a parte da defesa é total militar, é tudo total.
Mas em relação a certas leis locais.
53:06
Sobre educação, por exemplo?
Não.
A educação é decidida a nível do que do da do Condado, que também é perigoso, porque pode haver condados muito, muito conservadores.
Não é o.
Condado é também do nosso distrito.
Sim, talvez.
53:21
Eu não sei.
Também com um governador eleito também.
Com um xerife eleito?
Sim, sim, sim, sim.
Os condados, os counties têm o seu próprio, e depois há o state, que é o conjunto dos counties, não é?
Portanto, há há muitos estados agora em que o grande problema agora é que as mulheres dos estados em que não é permitido o acesso à interrupção vão a outro lado.
53:40
Têm que, mas têm que ter dinheiro para viajar, não é?
E, portanto, é a mesma história de antigamente.
Ou que havia na Irlanda?
Na Irlanda não era permitido.
As pessoas tinham que ter dinheiro para ir a Inglaterra fazer a interrupção.
Lá temos um problema da desigualdade da outra.
Vez ou outra vez é imenso, um grande problema de imenso, mas também há essa outra, esta outra faceta, quer dizer.
54:01
Os estados podem podem resistir e podem introduzir formas de se protegerem em relação à às decisões do supremo tribunal.
Na Alemanha, eu acho que a questão é diferente.
Na Alemanha, A direita Extrema cresceu muito naquilo que é o Alemanha oriental.
54:23
E aqui eu não li isto em sítio nenhum, acho eu.
Mas também acho que possa haver a mesma explicação.
A Alemanha oriental esteve muito tempo à espera de se juntar à outra para sua vida melhorar, melhorar muito.
E não melhorou assim tanto.
Não melhorou assim tanto.
54:39
Lá está as expetativas outra vez.
Exatamente, e, portanto, eles estão a ver.
Muitas das coisas que eram garantidas mesmo a um nível muito baixo, estão a desaparecer e, portanto, eles querem 11 e acham que a culpa da falta de trabalho é dos imigrantes, como também em Portugal, não é?
54:58
Quer dizer, também há muito essa ideia de que os imigrantes é que estão a tirar o trabalho aos portugueses.
E depois há os portugueses da Extrema direita que acham que os direitos, os portugueses não querem trabalhar.
Eu já ouvi isso muitas vezes, não é?
Quer dizer, nos restaurantes.
Todos nos restaurantes hoje em dia, em Portugal, a maior parte das pessoas que estão a servir são brasileiras.
55:17
Então, estamos no pleno emprego.
Não temos necessidade mais pessoas para trabalhar?
Não, não há.
Não há uma questão sobre isso, não é?
Mas esta ideia de de, no fundo, de apontar o dedo ao diferente.
Pois exatamente, tem que ser, é óbvio e funciona muito bem.
55:32
Então, EE, eu e.
Portanto, eu acho que na Alemanha essa é a explicação do crescimento da Extrema direita.
E depois há no resto dos outros países.
A Extrema direita não cresceu só na Alemanha.
A Extrema direita é muito forte em França, é muito forte em Itália, é muito forte, na Holanda, é muito forte em muitos sítios.
55:49
E eu acho que tem a ver também.
Voltamos àquela questão que eu, que eu, no início também passamos por cima, que é a questão da identidade, não é?
A ideia de que nós andamos à procura, estamos com medo da gente perder a identidade portuguesa ou a identidade francesa?
56:06
E o que é que é essa história da?
A nossa é francamente misturada, não é?
Totalmente, totalmente misturada, EAE é uma identidade que foi construída ao longo.
Não.
Nós volta e meia fazíamos limpezas, corremos com os judeus todos e os mouros, sim.
A nossa história também não é, também não é também não é assim, bonita e política?
56:23
Não vale a pena estarmos assim tão orgulhosos, porque não é assim tão, tão cor de rosa como a gente gostaria.
E eu quero ir à ideia da das promessas e das expetativas, porque volta e meia entre a ciência e a tecnologia se inventa uma tecnologia que esta é que vai ser este é que vai mudar a nossa vida e vai transformar nos aqui numa coisa absolutamente extraordinária.
56:45
Estamos a viver todos.
A inteligência artificial é desta?
Estão a exagerar manifestamente ou devemos estar assustados que os robôs daqui a bocadinho tomam conta disto?
E deixem me fazer umas analogias antes de responder à pergunta.
57:01
Porque o fogo mudou qualquer coisa que a gente sabe e a roda também.
Exato, isso.
Mas mais interessante que essas, porque essas são fundamentais, não é?
Quer dizer, a roda, a roda também pode esmagar pessoas, não é?
Sim, também pode.
Mas eu vou pegar em 2 exemplos.
57:18
Um é a descoberta da impressora do gutenberg, OK?
Nós não vivíamos o mundo que vivemos hoje se não tivéssemos acesso aos livros todos que queremos a preços absolutamente irrisórios.
57:33
Até esse momento, havia a tradição falada, nós contávamos histórias uns aos outros e o conhecimento de lá se IA arrastando.
Ou então eu não estava escrito a trabalhar demais.
E, portanto, não havia ninguém lia, não é?
Quer dizer, havia os os nos conventos, as pessoas que transcreviam, as os monscopistas OOOA descoberta de gutenberg, que foi talvez das descobertas mais importantes na civilização europeia, teve como resultado 12 guerras da reforma e da comparreforma que mataram milhões de europeus.
58:12
Porquê?
Porque de repente, o senhor, o senhor lutero, que se queixava da autoridade do papa, não era menos autoritário.
Mas de repente as pessoas tiveram acesso ao livro, ao livro com el grande e não precisaram de ter pessoas para as interpretar o livro.
58:33
E, portanto, as pessoas começaram a ler o velho e o novo testamento e começaram a perceber que, se calhar, aquilo que estavam a impingir não era a mensagem de Cristo.
Nem era a mensagem dos dos velhos profetas e.
Começaram a pensar pela sua própria cabeça.
Exatamente, e, portanto, a guerra da reforma e da contra reforma foi uma consequência direta da descoberta da impressora do gutenberg.
58:55
Então, mas não, não tinhas dito que era uma coisa boa.
Pois eu tinha dito que era uma coisa boa.
Aliás, é boa porque a gente não, não eu não era, não estava aqui se eu não tivesse lido os livros todos que tinha à minha disposição.
Portanto, é uma coisa boa.
Mas, entretanto, matou uns milhões uns.
Milhões, dezenas de milhões já agora não é a eletricidade.
59:11
É outra grande, você não vive sem eletricidade.
Aliás, esta coisa toda que está aqui à nossa volta, isto é, tudo elétrico, vocês sem eletricidade não vive, não havia um português hoje que vivesse um dia.
Aliás, viu se quando houve o apagão e quando descobrimos que a eletricidade era verdadeiramente importante, não é?
59:27
E, no entanto, há muitos estados nos Estados Unidos que ainda têm cadeiras elétricas para matar pessoas, OK, há alguns deles ainda não não têm usado.
Mas estão a voltar a usar.
Mas está lá, mas está lá e faz parte da lei.
Portanto, a.
59:42
Eletricidade e, portanto, a eletricidade.
É uma coisa coberta, em princípio, boa.
Exato.
E portanto, eu costumo dizer que todas as ferramentas, quanto mais o Francis Bacon tem 11 expressão maravilhosa now Edge is Power OKO, conhecimento é poder e quanto quanto mais poderosa for uma ferramenta.
1:00:06
Mais perigosa e mais fabulosa é e, portanto, a inteligência artificial não é diferente das outras, não é?
Têm coisas, aliás, para já não é uma coisa nova.
Nós já usamos a inteligência artificial há décadas.
Tínhamos outros nomes, chamava se machine learning, tinha outras internet.
1:00:22
Ganhou, ganhou um número sexy.
E, portanto, é, é, é, tem, tem capacidades absolutamente extraordinárias que estão agora a evoluir de uma forma muito, muito, muito grande.
Tem obviamente muito riscos, muitos riscos de poder, poder, por exemplo, fazer com que as decisões que já está a acontecer, as decisões médicas, jurídicas, decisões de várias áreas, sejam feitas através da comparação de milhões de dados, não é EE.
1:00:53
Isso tem riscos porque os dados muitas vezes incorporam as nossas.
As nossas, qual é a palavra?
Os nossos vieses, os nossos vieses, as nossas.
Como é que se chamam quando a gente, os nossos preconceitos, as nossas preconceitos, as nossas, as nossas convicções?
1:01:15
Muitos dos dados que existem são o resultado de muitas decisões que incorporam sem a gente saber as nossas, os nossos preconceitos.
Portanto, não são puros nesse sentido de que são neutros, não são neutros.
Não.
Agora que é muito, que é de uma utilidade fabulosa, o médico que está, que está no Uganda e que possa ter acesso a informação no momento para poder tomar certas decisões e poderem ir ver.
1:01:47
Não há dúvidas.
Nenhumas não é.
Se se tivermos uma máquina que consiga comparar milhares de doentes, conseguimos trazer dali evidência.
Podemos trazer alguma evidência que possa ser útil depois.
Precisamos sempre de ter alguém que faça a análise daquilo?
Não.
É então, e se, se e quando?
1:02:02
Não sei se até já as máquinas começarem a fazer sistematicamente, sistematicamente, coisas melhores que nós e a aprender neste processo.
E já EEO, que é que nós fazemos à vida.
Deixamo Los fazer e ficamos sossegados.
Quer dizer?
Resistimos.
1:02:18
Não analisamos.
Nós também já inventamos muitas coisas que fazem melhor que nós.
Nós inventamos os carros que andam muito mais depressa do que nós.
Não andamos a cavalo, nem andamos de trotinete, nem não sei quê.
Andamos de de avião e andamos dessas coisas todas os aviões.
1:02:37
Olha, eu tenho outro exemplo que eu gosto muito de dar as AA passagem é para energias sustentáveis, não é aquelas da das ventoinhas que estão lá estão.
Aqui em cima.
Montes não é um dos grandes dilemas atualmente na Dinamarca e na Alemanha são os cemitérios destas pás, destas pás não duram para sempre.
1:02:56
E, portanto, quando se?
Ficam em cemitérios, ficam lá, sabem o que fazer, porque são enormes.
O que é que se vai fazer com aquilo?
Não é e, portanto, há Montes de sítios cheios de paz.
E no fundo é é como a energia nuclear, não é que nós pensamos quando é para montar, mas depois os resíduos que lá ficam, o que é que a gente faz?
1:03:12
Exatamente, e, portanto, agora, a energia nuclear também não produz gases de efeito de estufa, tem essa vantagem, tem a desvantagem que o lixo leva milénios a desaparecer e, portanto, a gente tem que fazer uma escolha e as escolhas mais sensatas, acho eu, é a gente.
1:03:30
E porque depois?
Vamos lá ver.
A gente também não gosta dos apagões, não é?
E, portanto, temos que arranjar um sistema.
Eu diria mais, nós exigimos a luz exatamente que é um bocadinho até mais mais agressivo, não é?
Mas é só esta aqui dentro.
Temos muito pouca geral, mas essa cá dentro não exigimos muito com a mesma frequência do que a de cá de voto.
1:03:54
Aliás, nem sequer sabemos discriminar.
Eu já estou como outro, mas, portanto, AA melhor forma de nós termos o segurança.
Energética, é se calhar termos várias formas de produzir energia quando falha uma poder preencher com as outras a tal redundância, a tal redundância, exatamente.
1:04:13
Só que lá está, depois chegaram aqui os os economistas e dizem assim, olha que isto da redundância custa mais euros do que e, portanto, se calhar, é melhor não investir.
É, mas a gente tem que pensar.
A gente tem que pensar se vale a pena ou não, se vale a pena arriscar a ter.
1:04:31
Não redundância e ter determinadas situações em que isto vai falhar.
Voltamos ao início.
Os os políticos têm que decidir agora para um ciclo muito curto e não têm que decidir agora.
Deveriam ter, mas não têm para daqui a 10 anos ou daqui a 20 anos.
1:04:46
Não, porque nós também não os deixamos fazer isso.
Não é a culpa, não é só deles, é nossa não.
A gente exige deles, sim.
A gente passa o tempo a exigir que eles tenham soluções para amanhã.
Sim, do nosso problema amanhã, amanhã e o resto logo se vê.
Eu acho que se que fica nas nas calendas, portanto AA gente, eu não gosto muito desta separação de nós e os políticos, porque os políticos são o reflexo do que nós somos.
1:05:13
Não vale a pena estar agora com com nós.
Ainda temos sorte, não temos que tomar decisões, a nossa sorte é essa, isso também nós somos também é confortável, não é muito mais confortável porque ninguém nos chama, ninguém vai pedir contas, não é?
E portanto, há aqui qualquer coisa este.
1:05:29
Esta esta literacia da democracia também leva tempo a aprender.
Portanto, nós somos uns cidadãos francamente irresponsáveis, muito mimados, que exigem coisas aos nossos concidadãos que que têm que decidir e, na dúvida, achamos que ele é um malandro.
1:05:48
É.
É uma forma muito binária, não é, é.
É uma forma, pois e as cores binárias são sempre muito fracas.
As explicações binárias são muito fracas, não é esta discussão agora toda do género e do sexo é outra discussão, não é?
As pessoas esquecem se que Oo aquilo que a gente acha que é OXX é necessariamente uma mulher EOXY é necessariamente um homem.
1:06:12
É completamente falso, porque se você tem OXX, não é.
Ou tem OXY?
Vamos falar do XY.
Tem OXY, não é?
Nasceu com XYE durante o crescimento do no útero.
À medida que o feto vai crescendo, vão aparecendo hormonas que fazem a diferenciação dos órgãos e, portanto, você pouco e pouco vai desenvolvendo o órgãos masculino por aí fora, se você não tiver no seu corpo.
1:06:42
Os receptores para as hormonas pode produzir as hormonas todas que quiser e não há diferenciação e portanto, você é XYE, nasce com o corpo de uma mulher, tem um outro reduzido, tem, tem seios não muito desenvolvidos, tem 11 vagina também não muito desenvolvida e é XYE, no entanto não se diferenciou.
1:07:09
Isto é outra coisa, nós, se não nos diferenciarmos, ficamos todos como OXXE.
Portanto, OX também.
Depois tem diferenciação para criar o útero mais desenvolvido, et cetera.
Mas há vários casos de pessoas que são XY, que não faz, produzem a testosterona, que é hormona masculina, mas não têm os recetores da testosterona.
1:07:32
Em si, porque rei?
Nos divertimos ou nos agoniamos todos a ter discussões sobre isso.
Porque somos ignorantes.
Quando eu explico isto às pessoas, as pessoas ficam a olhar para mim como se fosse a primeira vez que ouviram falar disto.
Se calhar foi se.
Calhar foi, se calhar foi e, portanto, a questão da, da, da, da, daquela, da da questão binária do XXXX até nos até nos cromazonas não é binário porque há há há.
1:08:00
Há casos de pessoas com 3 x, há casos de pessoas com XE, com 2 y.
Há casos pessoas que só têm um único x.
Então eu já descobri quem é o culpado.
O culpado é o cientista, porque tornou isto cada vez mais complexo.
Isto cada vez é mais difícil.
1:08:16
É verdade na biologia, a gente.
Gostava que as coisas fossem simples.
E não são simples.
As coisas não são simples.
A culpa é do cientista.
Mas os cientistas não estão a complicar isto muito ou não, ou é a natureza do conhecimento?
Desculpe, eles estão.
Eu não sei se estão a complicar ou estão a complicar.
1:08:32
Estão no fundo a desvendar.
Aquilo que é a realidade, e.
Depois, dá para mastigar e para simplificar um bocadinho.
Há quem há quem goste de simplificar, não é eu, por acaso, gosto de cumplificar as mais.
Interessantes porque?
1:08:49
Porque às tantas, nós olhamos para o mundo e vemos explicar.
Oo infinitamente grande.
O universo é afinito ou não é infinito, que é uma coisa.
É uma ideia tão abstrata que é difícil de imaginar até.
E por outro lado, vamos olhar para a coisa mais.
Pequena dos pequenos, mais mais pequeno que o nato, que o czar e a partícula de Deus.
1:09:07
E o busão é assim, e onde é que a gente vai parar?
Eu não sei.
Vai parar onde, onde a gente deixar de fazer perguntas.
Mas eu não estou a ver os humanos a deixar de fazer perguntas.
Você vê um bebé que nasce, mete tudo à boca.
Para experimentarem, para para experimentarem, você já viu já.
1:09:25
Aliás, os pais têm Montes de dificuldades que eles andam a catinhar no chão e a coisa que pendem metem à boca não é, quer dizer, até metem a própria, as fezes que fazem metem à boca.
A curiosidade é quase uma coisa animal.
Eu não gosto muito de falar em essências, não é?
1:09:42
Mas quase no Reino animal a curiosidade faz parte da sua sobrevivência, porque eles para irem à procura de comida.
Têm que ser curiosos, têm que ir à procura de coisas diferentes, não é?
E nós somos curiosos por natureza, acho.
1:09:59
Aliás, acho que muitas vezes a educação que nos é dada é para destruir essa curiosidade, que eu acho que é uma coisa absolutamente assustadora.
O que é que estamos a fazer às pessoas, não?
Estamos aos miúdos, estamos a exigir que elas não façam certas perguntas, que certas perguntas não são, não são adequadas.
1:10:19
E que vamos lá ver.
Há muitas áreas da investigação que não são e muito bem.
Há muitas áreas de investigação que não são permitidas.
Estou a pensar Na Na genética, por exemplo.
Não é ou ou naquilo que os que os médicos nazis faziam às pessoas para saber se resistiam ao frio ou se resistiam ao calor.
1:10:40
Quer dizer, há muita, há muita experimentação não ética e não ética.
Portanto, não é ética.
Em relação à genética, é mais complicado porque a gente também há outro, há outra grande, há outra grande discussão que é se nós somos essencialmente produto da nossa genética ou somos produto do nosso ambiente, não é?
1:11:05
E há 2 watsons, um que nos anos 20, o John Watson dizia que dei lhe meia dúzia de bebés.
E ele, através da educação, cria qualquer um deles, seja o que ele quiser, super humanos ou engenheiros ou artistas ou não sei quê, através da educação.
1:11:27
E depois vem o James Watson nos anos 60, com a genética a dizer nós não somos mais do que os nossos genes.
Os genes são tudo.
E eu acho que também há esta nós também, muita e agora faz parte também da conversa dos economistas.
Eles falam do DNA das empresas, não é?
Você já ouviu falar disso?
1:11:43
EODNA do partido, OADN do partido não é, quer dizer, já fez parte da nossa linguagem.
Nós adotámos a genética para falar de muitas outras coisas, como se os genes fossem a nossa identidade.
Voltamos à questão da identidade.
1:11:58
E não são.
São e não são.
Quer dizer, os genes são aquilo que pode.
Se podem desenvolver, aliás, vamos lá ver as células todas do teu corpo têm o mesmo ADNE.
Umas células são de osso e outras são de pele e outras são de fígado e outras são de cérebro e portanto, o mesmo ADN expressou se de uma maneira diferente dá tecidos completamente diferentes e portanto tu com ADN que tens.
1:12:27
Também dependendo do sítio onde tu cresces e da influência de ambiente, também és coisas muito diferentes.
Tu teres crescido aqui em em em em carreço ou teres crescido no ganda 11 século atrás, não eras a mesma.
1:12:43
Pessoa é diferente, como é que é o como é que é o futuro?
Eu não sei nem quero saber nem e tenho quase raiva a quem sabe ou quem julga que sabe, porque o futuro.
Nós já tivemos tantas tantas.
1:13:00
Eu acho que a história nos mostra que já houve tantas surpresas.
Vamos lá ver você.
Olhe, olhe, olhe para a África.
Foi foi o continente onde eu nasci.
As Fronteiras dos países em África foram todas desenhadas na Europa.
1:13:17
SIM, 1 mapa cor de rosa.
Não, isso é um detalhe pequeníssimo, mas cor de rosa é Portugal e Inglaterra a chatearem se um ao outro, mas depois lá está.
Mas todos os outros países, o Congo, o Sudão, a Nigéria, a África do Sul, Oo bassutolândia, não sei tudo.
1:13:35
Todas aquelas Fronteiras foram desenhadas pelos europeus.
A que propósito é que aquela gente tem que viver junta, porque a gente disse que havia ali uma Fronteira.
Você já nos viu a viver com os espanhóis?
No mesmo no mesmo país, não os.
Galegos não era mau eu.
Não sei.
Depende.
1:13:51
Portanto, há quem.
Não há quem ache que os alentejanos não são bem portugueses.
E é uma questão de cultura.
Não sei se é uma questão, é uma questão de de a escolha, a escolha da, da, da identidade nacional deles.
Não foram eles que decidiram.
Foi alguém que desenhou?
1:14:07
Foi alguém que decidiu por eles.
Porque é que eles hão de andar em paz?
Porque é que pessoas de etnias diferentes, com línguas diferentes, as línguas que são faladas no sul de Moçambique, não tem nada a ver com as línguas do norte.
Nada, nem nem nem se falam a mesma língua.
E.
Portanto, não se identificam uns com os outros.
1:14:24
Provavelmente.
Ou.
Ou, se calhar.
Quando veem que há injustiças, que há uns que estão a ser tratados melhor do que outros, revoltam.
Se não é.
E depois há os interesses externos, não é.
Quer dizer que há outra história.
Tudo se mistura, então.
Mas o futuro é otimista ou é pessimista?
1:14:40
Voltamos ao.
Princípio da da incerteza.
O que é que quer dizer ser otimista ou pessimista?
Quer dizer otimista?
Quer dizer que ninguém vai morrer, que vamos todos ser felizes até ao resto dos nossos dias.
Eu não acho que isso seja otimismo.
Eu acho que as pessoas com mau feitio não deviam sobreviver muito ou não se deviam reproduzir muito, por exemplo, não é, quer dizer, se há uma, se há uma, se há uma característica genética que tem a ver com mau feitio, que eu não sei se há ou não.
1:15:10
Podíamos, podemos tentar acabar com ela.
Não, não é.
Quer dizer, não é acabar, não é autocraticamente, mas é não encorajar a sua reprodução, digamos.
Eu agora volto um bocadinho ao início.
Você sabe que isto eu não vocês?
Está está a rir se.
Mas isto existe.
1:15:26
Na comunidade judaica de Nova Iorque, por exemplo, há certas doenças genéticas que são características da da, da cultura judaica.
Não é?
Quer dizer, e havia, e acho que ainda há pessoas responsáveis por decidir quais os casamentos que fazem sentido para que aquela doença de doença tem sex, por exemplo, que é uma doença grave.
1:15:48
Não, não, não apareça, não é.
E, portanto, há pessoas que têm como responsabilidade guardar a comunidade, proteger a comunidade, não é?
E aqui em Portugal, a doença dos pezinhos, por exemplo, se calhar também seria muito útil haver pessoas.
1:16:07
Isto agora é o Geni, a funcionar, não é, quer dizer, haver pessoas, não é que obrigassem, mas que informassem as pessoas de que aquela aquele casamento.
Podia, podia ter consequências genéticas complicadas.
1:16:22
Hoje em dia AA genética já permite isso.
As pessoas já podem, já podem estar.
Eu eu volto.
Ao início da da conversa, falávamos do do amor que é às tantas.
Esta nossa experiência genética que é de nos misturarmos e de nos reproduzirmos, pode ser muito pouco romântica, afinal nós podemos é apaixonar nos pelo, pelo cheiro, pelo olhar, pelo uma pré programação.
1:16:43
Totalmente.
Ou pelo olhar.
Quer dizer, eu, eu sei lá porque é que as pessoas que eu, eu, eu, durante a minha vida tive paixões não muito longas, por várias pessoas que foram muito importantes para mim.
1:16:59
Não é?
As minhas primeiras 2 namoradas.
Uma era chinesa em Joanesburgo, e quando os pais descobriram que ela estava apaixonada por mim, a primeira coisa que fizeram foi mandá la para Hong Kong.
Porque não criam um genro português?
Nem pensar.
1:17:15
Na África do Sul, os portugueses são cidadãos de segunda classe, não é?
Quer dizer, são merceeiros, são não sei quê por aí fora.
E os pais pertenciam a uma classe, uma casta, uma casta alta chinesa e, portanto, AA menina foi imediatamente para Hong Kong, não é a minha segunda namorada era inglesa, de uma família também muito escocesa, com um nome pomposo.
1:17:41
E os pais também não acharam nada engraçado a filha estar agora com 11 português de Moçambique, ainda por cima meio alemão, meio açoriano.
A minha terceira paixão foi por 11.
Jovem que foi foi já faleceu, foi professor em Oxford durante muitos anos e também a família.
1:18:02
Ele casou se e eu fui padrinho de casamento dele.
Teve 2 filhos.
O primeiro filho dele chama se Alexandre.
EEE, portanto, foi uma, mas crescemos, não é?
Quer dizer, ele casou, se eu fui à minha vida, EE ele quer dizer, porque é que eu me apaixonei pelo Richard, porque porque achei que ele era assim à distância.
1:18:26
Isto foi uma coisa que encontrámos no café, não é?
E eu achei que ele era lindo e ele achou que ele era lindo e, portanto, começou e no início era só uma atração puramente física, acho eu não é.
E depois fomos, fomos crescendo, fomos crescendo um com o outro, passámos por momentos muito difíceis.
1:18:46
Ele, por exemplo, tem um irmão que morreu de sida e, portanto, foi uma coisa muito difícil para ele.
Eu em Berkeley, na minha, no centro que eu dirigia, também apareceram 2 jovens investigadores, 11 australiano, um de Boston e uma australiana.
1:19:04
Na mesma semana vieram me dizer que estavam infetados com Hive.
Isto eram nos anos 80.
Nos anos 80 não há cura e, portanto, eles morreram pouco tempo depois.
Portanto, nós aprendemos muito das 2 maneiras com as coisas boas, porque a gente também às vezes tem a mania que só aprende com as coisas más, não é verdade?
1:19:20
Aprendemos com as coisas más e com as coisas boas.
EE, portanto, eu agora acho que eu eu sou a primeira vítima dos romances que ele escreve, eu sou a primeira.
Dá para ler?
Dá para ler ele, ele só dá para ler quando acabou, porque ele escreve o livro muitas vezes.
1:19:40
Ele escreve aqui à mão, ao computador, ao computador e só só no fim, aquele, aquele que partilha.
É que ele partilha e, portanto, eu sou a primeira, a primeira cobaia.
O primeiro leitor a.
Primeira cobaia e eu digo sempre, eu, não eu sobre.
Técnica de escrita, não sei nada.
Eu posso dizer quais são os personagens que me que me que me interessam, não é?
1:20:00
Quer dizer, isso é é útil para um escritor saber e portanto, eu acho que AA forma como a gente se apaixona, eu acho que muitas, se calhar começa muitas vezes pela parte física, a gente olha para uma pessoa e gosta, não é?
Quer dizer, não se vai apaixonar por uma pessoa de que não gosta, uma afinidade, uma afinidade qualquer, e depois às vezes tem sorte.
1:20:21
Para além da do gosto físico, existe também é outra parte, mais emocional, mais intelectual, mais até racional.
É preciso sorte.
Acho que sim.
Acho que é preciso sorte.
Onde é que eu pensava uma vez nascido em Lourenço Marques, que vou encontrar uma pessoa nascida em Nova Iorque, em long Island, num café?
1:20:43
Na Castro, em São Francisco, e que 47 anos depois estamos juntos em em em cristelo, no em Portugal.
Isto é uma coisa que não faz sentido nenhum, não é?
Quer dizer, é um encontro, um encontro de desencontros.
Quer dizer, é uma coisa totalmente não previsível.
1:21:01
Isto não é, não é planeado, não é nenhum.
Uma vida sem planos e que correu por vários continentes.
Muitos estudos, muitas perguntas e uma busca incessante pelo saber e pela Felicidade.
Aprendi nesta conversa.
Talvez um guia de viagem ou um mapa sejam coisas dispensáveis nisto da arte de viver