Em Mocambique, o governo e os seus parceiros de cooperação procuram restaurar o mangal que tem sido destruído e bastante explorado ilegalmente para a construção de habitação entre outras infraestruturas bem como para fabrico do carvão.
É a luta pela sobrevivência de muitas famílias que se socorrem do mangal para vários fins.
Testemunha uma destas situações o ambientalista Carlos Serra.
Encontro -me no mangal da Costa do sol , mangal este que ao longo dos anos tem sofrido as mais diversas ameaças , infelizmente desde a poluição passando pelos aterros e construções ilegais.
Um de muitos exemplos no bairro da Costa do sol, na cidade de Maputo. Tem sido assim também em vários pontos deste vasto Mocambique onde o abate do mangal ocorre sob sob o olhar impávido e sereno de quem devia travar estas práticas.
Esta ilha não estava assim... totalmente estava ela cheia de salgal então quando acabaram de estar a cortar o salgal totalmente ficou tudo assim como ilha. E, então esta erosão está a tornar , a ir mais fora , a destruir todas as nossas casas. Aqui no meu bairro , caíram muitas casas e até o próprios cemitérios já estão danificados através da erosão.
A floresta de mangal é abatida para dar lugar a construção de residências e de infraestruturas diversas.
E há aqui várias situações de venda de terra. Também infelizmente são negócios imobiliários ilícitos que ocorrem nas nossas barbas, negócios estes que são contra a lei no sentido de que a legislação proíbe este tipo de acção em ambiente marinho e costeiro.
Nós temos um regulamento que é bastante claro sobre esta temática , portanto, não pode haver de modo algum, atribuição de um direito de uso e aproveitamento da terra quando nós estamos numa situação de uma terra com estatuto especial de protecção e o mangal está hoje protegido à luz da lei . Aliás é crime de acordo com o código penal e da lei do mar fazer este tipo de acção. É crime , portanto, crime punido com pena de prisão.
Umas por ocupação ilegal, outras sob licença e autorização das autoridades municipais o que tem estado a levantar questionamentos entre os cidadãos devido aos impactos resultantes desta acção humana .
É crime porque mesmo a erosão já nos está a invadir, estamos em perigo mas tudo isso podemos ver que não é por acaso, porque quando queremos ver , estas casas estão construídas nos mangais e as vezes estão parceladas mas não sabemos quem parcelou.
E dos ambientalistas como Regina Charumar também se levantam discussões e questionamentos.
Retira-se quantidade imensa de mangal sem conhecimento nenhum. Porque acredita-se que é uma árvore , que é qualquer especie que não seja tão importante e não se faz a relação da perda do mangal e perda de espécies. Então, quando nós chegarmos ao ponto de que o próprio cidadão ja tenha conhecimento suficiente sobre isso, nós teremos consideravelmente a redução da perda do mangal.
Apesar de existir uma legislação que penaliza a destruição do mangal , este recurso tem sido alvo de exploração elevada devido à pobreza avança o Fundo mundial para a natureza o que leva à sua degradação em alguns locais.
As maiores taxas de degradação do mangal estão localizadas ao redor das principais cidades como Maputo, Beira, Quelimane e Pemba , uma situação que é preciso reverter, é preciso fazer cumprir a lei diz Regina Charumar.
Esta lei é para ser usada e é para justamente dar esse suporte legal para a questão ambiental, para a questão dos mangais na essência . Então, não podemos olhar só para a lei de forma teórica . As leis só são exequíveis, são eficientes se tiverem o suporte no sentido de ter alguém que vá fiscalizar.
Nos últimos tempos, a população tem estado a ganhar consciência do mal que se causa as especies marinhas e ao ambiente neste país que é Moçambique cada vez mais vulnerável aos desastres naturais.
Testemunhos de populares: “Não sabíamos que protegia-nos nem . Cortávamos para usar para casa.”
“Cortava o mangal, também não sabia que o mangal protege muita coisa”
“Até que muito mais é para o caranguejo. O que eu sei dizer , ja ouvi que caranguejo produz mais nos mangais , no matope , ( lama) , agora quando já há construção de casa eles também ficam sem como sobreviver no mar.”
As autoridades ligadas ao sector do mar pescas e águas interiores de Mocambique consideram que a comunidade deve continuar a ser sensibilizada a proteger o mangal.
É preciso dizer as populações que este mangal é importante para a vida delas para a vida de pessoas e a vida dos animais, em particular, aqueles aquáticos , portanto, temos que sensibilizar e também fazer com que eles participem e eles assumam, apropriem-se desta actividade.
O governo moçambicano corre contra o relógio para a reposição do mangal .
São já milhares de hectares perdidos mas também recuperados nos últimos três anos, através do replantio com base na estratégia de gestão do mangal aprovada em 2020.
Espaço também essencial para a qualidade do ar que nós respiramos , portanto libertando oxigénio e absorvendo dióxido de carbono e outros gases poluentes . Espaço também essencial por causa de ser berço da biodiversidade. Sem mangal não há peixe junto a costa , espaço também essencial em termos de cartão de visita da cidade, é um lugar verde, mas aqui está mais uma situação de agressão e de violação da lei.
Moçambique ganha entretanto um novo aliado na restauração do mangal. A empresa Blue Forest, especializada em projectos de carbono azul que detém um dos maiores projectos de restauração de mangais no mundo e vai abranger as províncias de Sofala e Zambézia, em Moçambique.
Este projecto considerado demasiado ambicioso e denominado MozBlue, propõe se a plantar cerca de 200 milhões de árvores de mangal numa área total de 155 mil hectares, com vista à recuperação dos ecossistemas costeiros da região.
E sabe-se já que num primeira fase, o projecto MozBlue irá restaurar 5 116 hectares de costa degradada na província da Zambézia.
Este projecto, de acordo com a empresa implementadora, não se limita à recuperação ambiental, mas também traz benefícios para as comunidades locais.
O MozBlue será o primeiro projecto de remoção de carbono que vai ajudar as comunidades envolvidas a obter certificados de terras, promovendo a segurança fundiária nas zonas abrangidas.
Até 2030, espera-se a criação de cerca de 5 mil empregos sazonais e permanentes em 300 comunidades nas províncias da Zambézia e Sofala, oferecendo novas oportunidades económicas para a população local.
Pio Matos governador da província da Zambézia, não tem duvidas da mais valia deste projecto de restauração do vasto ecossistema de mangais de Moçambique, o segundo maior de África.
O mangal é preservar todo o ecossistema que está a sua volta. Estamos a falar dos peixes, dos caranguejos, de tudo, estamos a nós auto-preservar. É preservar a espécie humana porque Deus criou a natureza e depois disse ao homem: Gere, usa mas usa não para destruí-la mas sim para aproveitar dela para o seu melhor sustento, para a sua melhor utilidade . Então, é isto que nós viemos dar o alerta porque este deserto que nós encontramos aqui é também resultado da mão humana. É verdade, não por mal mas porque precisávamos da estaca do mangal para construirmos a nossa casa , precisávamos da estaca, do tronco do mangal para fazermos a nossa lenha e assim fomos avançando. Mas hoje precisamos de ver que ficamos sem a lenha, ficamos sem a estaca mas continuamos a precisar e aí, ficamos até sem o peixe , ficamos sem o caranguejo então é muita coisa e depois ficamos com esse clima todo completamente adverso aquilo que era ontem. Precisamos também para além de fazer esta actividade de criar meios alternativos para que a comunidade possa ter , continuar a construir as suas casas sem usar as estacas.
O coordenador provincial do Instituto oceanográfico de Mocambique na Zambézia revela que só nesta província serão restaurados mais de 18 mil hectares de mangal à luz do projecto Moz Blue.
A primeira fase começa em Novembro e vai terminar em Janeiro do próximo ano. Portanto, está estimado a restauração de cerca de 1200 hectares nessa fase e depois noutra fase , de fevereiro até Setembro do próximo ano , está previsto restaurar perto de 2 216 hectares. E a outra fase, e a última, para o primeiro projecto e o restante tempo do próximo ano está previsto para restaurar 1700 hectares. Então, como é um projecto grande, na estratégia deles de implementação , eles vão ter parceiros com que vão trabalhar.
Daniel Maualeque acredita no sucesso da restauração tendo em conta que a província da Zambézia detêm mais de 150 mil hectares de floresta de mangal e, pouco abaixo da metade está em risco de desaparecer por fatores combinados ação humana e a erosão.
A Blue Forest: eles vão vender o carbono sequestrado nestas áreas e, desta venda 30 a 35% será revertido a favor das comunidades, em projetos sustentáveis lá nas comunidades porque esta questão do corte de mangal aparece como alternativa de subsistência.
Ao longo dos 60 anos de duração do projecto MOZ BLUE, perspectiva-se que a plantação de mangais remova aproximadamente 20,4 milhões de toneladas de dióxido de carbono da atmosfera, contribuindo deste modo para a mitigação das alterações climáticas a nível global, segundo explicação dada em comunicado pela Blue Forest, empresa com sede nos Emirados Árabes Unidos.
Segundo os ambientalistas, os mangais são conhecidos pela sua capacidade de absorver mais dióxido de carbono do que outras espécies de árvores, além de protegerem as zonas costeiras contra fenómenos climáticos extremos e de sustentarem os recursos pesqueiros.
Este projecto faz parte de um portfólio mais amplo da Blue Forest, que inclui iniciativas de remoção e prevenção de carbono em África e na Ásia, cobrindo mais de 215.000 hectares em países como Tanzânia, Guiné-Bissau, Costa do Marfim, Vietname e Indonésia.
E é pela sua importância que se comemora a 26 de Julho de cada ano, o Dia Mundial para a Conservação do Ecossistema de Mangal.