Share Semana dos Convidados
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Em Cabo Verde, decorre a campanha para as legislativas de 18 de Abril. Pandemia, crise, diversificação da economia, turismo e transportes são alguns dos temas a marcarem o debate. A RFI falou com todos os presidentes dos partidos na corrida aos votos e destaca algumas das propostas neste programa.
Ulisses Correia e Silva, Presidente do MpD, acredita na reeleição para primeiro-ministro, ainda que sublinhe que a pandemia tudo pôs em causa. O líder do MpD afirma que apesar da forte dependência do turismo, o sector vai continuar a ser o principal motor da economia mas com “maior desconcentração” e “diferenciação de produtos”. Ulisses Correia e Silva não exclui a nacionalização da Cabo Verde Airlines mas só “se houver necessidade disso” porque “em nenhuma circunstância” deixaria a empresa “ser destruída ou desaparecer”.
Ulisses Correia e Silva: “Se houver necessidade disso, portanto, seria uma medida extrema. Primeiro porque a Cabo Verde Airlines significa um procedimento estratégico de Cabo Verde no Atlântico Médio, o conceito hub está associado à transportadora nacional. Segundo: representa a nossa relação com a diáspora. A terceira razão é que a Cabo Verde Airlines representa 300 trabalhadores e representa uma história de aviação civil e um capital e um activo para o país que, em nenhuma circunstância, nós iríamos deixar ser destruída ou desaparecer. É por isso que nós fazemos forte aposta no sentido de garantir as condições para que a companhia continue a existir...
RFI: “A economia sofreu com a pandemia. Que propostas para a retoma económica?”
Ulisses Correia e Silva: “Primeiro a vacinação e atingirmos os 70% da vacinação dos cabo-verdianos de acordo com os grupos de risco porque isto é importante, em primeiro lugar, para a saúde, depois é importante para a retoma da actividade económica, particularmente o turismo.”
RFI: “A pandemia veio mostrar justamente que Cabo Verde está muito dependente do turismo. Como é que se pode diversificar a economia e não estar tão dependente do turismo?
Ulisses Correia e Silva: “Ora, em primeiro lugar é preciso dizer que esta pandemia pôs em causa tudo. Não só países que vivem do turismo, mas outras actividades económicas. É algo muito anormal e deve ser encarado como tal. Claro que nós temos uma dependência forte do turismo. O turismo irá continuar a ser o principal sector de actividade económica com maior desconcentração, aproveitando melhor as oportunidades e potencialidades de cada uma das ilhas e com maior diferenciação de produtos.”
Por sua vez, Janira Hopffer Almada, a presidente do PAICV, diz que “a prioridade das prioridades é garantir um país seguro em termos sanitários”. Depois, o objectivo é “relançar a economia”, através de um “novo turismo”, “nova agricultura”, “o cluster de pescas e do mar”, as economias criativas e a economia do conhecimento. A líder do PAICV quer renegociar o acordo de privatização da TACV, “renovar a companhia e recapitalizá-la” e “retomar as operações domésticas”.
Janira Hopffer Almada: “Para nós, a privatização dos TACV foi intransparente, foi um processo que não beneficiou o país, não beneficiou os cabo-verdianos e a nossa primeira proposta é renegociar o acordo de privatização dos TACV para servir os interesses do país.
Depois, pretendemos sim renovar a companhia e recapitalizá-la. Para nós, a companhia de bandeira é muito mais do que somente uma questão financeira. É uma questão de soberania, é uma questão de coesão territorial, é uma questão de mobilidade de pessoas e cargas, é uma questão também de ligação com a nossa diáspora pois nós devemos ser dos poucos países no mundo que tem mais cabo-verdianos fora de Cabo Verde do que no próprio país.
Em terceiro lugar, nós queremos, sim, retomar as operações domésticas. Não é aceitável que tenhamos ilhas com apenas um voo semanal como a ilha do Maio e a ilha de São Nicolau, sabendo claramente que nessas ilhas e em outras ainda não temos todas as respostas de saúde que são necessárias. Portanto, nós entendemos que as operações domésticas, aéreas, também são um factor de coesão territorial...”
RFI: “A economia sofreu com a pandemia. Que propostas para a retoma económica?”
Janira Hopffer Almada: “A prioridade das prioridades neste momento é garantir-se um país seguro em termos sanitários, portanto, nós priorizamos a vacinação. A nossa meta é garantir a vacinação de 70% da população cabo-verdiana até ao mês de Outubro porque temos de salvar a próxima época turística, a época alta, que é de Outubro até Março porque o turismo é o motor da economia cabo-verdiana.”
Quanto ao Presidente da UCID, António Monteiro, a prioridade é a regionalização, que vê como “o trunfo” do partido para viabilizar um governo sem maioria, através de alianças pós-eleitorais ou acordos de incidência parlamentar. O líder da UCID acredita que este ano o partido vai conseguir romper com a bipolarização política em Cabo Verde.
António Monteiro: “A UCID defende a regionalização desde os primórdios, desde a altura em que o partido foi criado na Holanda em 1978. (…) Mas a UCID insiste. Será um dos trunfos que nós vamos ter agora depois do dia 18 de Abril para estarmos com possibilidades de viabilizar este ou aquele governo e criarmos as condições para que os partidos todos se sentem à mesa e, portanto, consigamos encontrar a melhor forma de regionalização que o país precisa, apesar de nós, a UCID, defendermos a regionalização política, o que implicaria uma reforma profunda do Estado de Cabo Verde.”
RFI: “Já está a falar na possibilidade de alianças. Está a considerar essa possibilidade?”
António Monteiro: “Esta possibilidade está em cima da mesa. A questão aqui é ou haver acordos de incidência parlamentar ou mesmo haver a possibilidade de alianças e a UCID entrar para o governo caso tenhamos o número de deputados suficientes que rompa com a maioria absoluta e os dados que nós temos neste momento apontam nesse sentido.”
Este ano, também o PTS quer mudar o cenário político do país. Cláudio Sousa, presidente interino do partido, acredita que vai conseguir “abrir a sociedade para uma nova realidade política”. O jovem de 29 anos diz que Cabo Verde é um país rural e que a retoma económica passa pelo investimento na agricultura, pecuária e pescas. Cláudio Sousa defende, ainda, a nacionalização da Cabo Verde Airlines e o investimento em hospitais e recursos humanos.
Cláudio Sousa: “O que nós queremos neste momento é uma retoma da economia porque a situação do país não é muito boa e porque mesmo antes da epidemia/ pandemia da covid-19, a situação económica do país já estava péssima e com a pandemia a situação acabou por piorar cada vez mais.”
RFI: “A bipolarização política continua no país entre MpD e PAICV. O que é que o PTS tem feito contra isso e porque é que ainda não se conseguiu afirmar?”
Cláudio Sousa: “Nós não estamos num Estado bipolarizado. No caso cabo-verdiano nós não temos dois partidos, nós temos um só partido. Tanto o MpD como o PAICV ambos pertenciam ao PAIGC (…) Em Cabo Verde ainda estamos no sistema de partido único porque quando estamos a votar no MpD estamos a votar no PAICV e vice-versa. É uma elite que governa a sociedade.
O PTS - nós somos jovens que vieram de vários grupos sociais, nomeadamente de grupos de cidadãos que participaram nas últimas eleições autárquicas de 2020. Queríamos dar o nosso contributo ao nível legislativo para candidatar-se à Assembleia Nacional (…) Acreditamos que vamos abrir a sociedade para uma nova realidade, mas ainda vivemos uma única realidade desde 1975.”
Face ao choque da pandemia, Amândio Barbosa Vicente, Presidente do PP, considera que a economia deve deixar de estar “atrelada ao turismo” para passar a ser alavancada pelas pescas, agricultura, construção naval, energia limpa e uma reconfiguração do sistema político. O líder do PP é contra a privatização da Cabo Verde Airlines e defende a nacionalização da companhia apenas no mercado doméstico.
Amândio Barbosa Vicente: “As pescas e a agricultura deverão ser o motor da economia cabo-verdiana, muito ao contrário da posição que esses sucessivos governos vêm tomando, fazendo com que a economia cabo-verdiana esteja vinculada grandemente ao turismo.”
RFI: “Precisamente, a pandemia veio mostrar que Cabo Verde está muito dependente do turismo. No vosso programa defendem o turismo como “actividade económica complementar, nunca como actividade principal”. Mas o turismo é o motor da economia. Que propostas para o turismo e como diversificar a economia? “
Amândio Barbosa Vicente: “A diversificação da economia é ter uma economia vinculada a vários outros sectores. (…) Pesca, construção naval, aproveitamento da energia limpa, para além da reconfiguração do Estado. Temos de alterar a política fiscal, temos de ter uma reforma do sistema político. (…) Temos que começar passo a passo porque a economia cabo-verdiana não pode ficar atrelada ao turismo."
Quanto ao PSD, o presidente do partido João Além denuncia a privatização dos transportes em Cabo Verde e promete lutar contra a corrupção na política. O líder do PSD, de 85 anos, quer apostar em reformas na educação e saúde.
João Além: “Nós vamos, com certeza, começar pela saúde. A nossa saúde é uma saúde doente porque carecemos de todo o tipo de coisas. De maneira que nós teremos que, em primeiro lugar, trabalhar para evitar a transmissão desse vírus aqui em Cabo Verde, mas essa transmissão do vírus parece que continua no mesmo caminho. Os indivíduos vão fazer o teste e se saírem positivos vão para casa. Passam 14 dias e depois recebem um telefonema dizendo que já estão bons, sem nenhum medicamento e, pronto, já não são novamente testados e já estão por aí a andar. De maneira que nós temos em primeiro lugar saber se, de facto, o vírus aqui em Cabo Verde contamina e como é que nós devemos evitar essa contaminação.”
RFI: “Quais são os principais investimentos que faria em relação à saúde?”
João Além: “Os hospitais parece que têm o necessário só que a corrupção não deixa avançar. Quando se importa uma máquina para o hospital, dias depois a máquina está emperrada e não trabalha e não se ataca a responsabilidade de quem quer que seja. Nós temos as autoridades que parece que estão a dormir e nós estamos aqui para os despertar.”
As legislativas em Cabo Verde, que elegem 72 deputados, realizam-se a 18 de Abril. Há quase 600 candidatos a tentar conquistar os votos de mais de 393 mil eleitores no arquipélago e na diáspora. A concorrer em todos os 13 círculos eleitorais estão o MpD, PAICV e UCID. PTS e PP concorrem em seis círculos e PSD em quatro.
Os temas em destaque ao longo da semana foram a violência em Angola, no Cafunfo, bem como a morte de um activista guineense.
Obviamente falámos também do golpe de Estado em Myanmar, sem esquecer a questão de Alexei Navalny, na Rússia.
Finalmente interessámo-nos também pela fotografia moçambicana em foco actualmente em Paris.
Neste olhar dos nossos convidados pela actualidade destacámos o mandado de captura da justiça guineense contra Domingos Simões Pereira, mas também a infecção do presidente francês com Covid-19.
E isto numa semana de protestos dos agentes franceses da cultura e onde os países pobres davam conta dos seus receios quanto a conseguirem atempadamente uma vacina.
Falámos ainda do escândalo no Serviço português de estrangeiros e fronteiras e da confirmação da vitória de Joe Biden nas eleições norte-americanas.
Os conflitos no norte de Moçambique no Saara ocidental, e na região setentrional da Etiópia foram destaque.
Fizemos também o rescaldo pós conflito no Nagorno Karabakh e falámos ainda das vacinas em teste para a Covid-19 nesta rubrica sob o olhar atento dos nossos convidados.
Esta semana ficou marcada pela homenagem prestada na terça-feira em Houston a George Floyd, afro-americano de 46 anos, morto asfixiado por um polícia branco em Mineápolis no passado dia 25 de Maio. Este novo caso entre vários outros de violência policial e racismo, provocou uma onda de indignação mundial que analisamos ao longo destes dias com os nossos convidados, outros temas da actualidade, como a luta contra o trabalho infantil e ainda o futuro do Burundi depois da morte do seu presidente cessante, Pierre Nkurunziza, tendo sido igualmente abordados.
A mobilização após a morte violenta em Portugal de um estudante cabo-verdiano foi um dos temas aqui evocados.
Abordámos também a eleição do senegalês Sadio Mané como futebolista africano do ano.
E isto num contexto internacional marcado pela crise militar entre os Estados Unidos e o Irão.
Esta semana ficou marcada pelo início do julgamento em Angola do general António José Maria, antigo chefe do serviço de inteligência e segurança militar e homem forte do regime de José Eduardo dos Santos, acusado de insubordinaçao e extravio de documentos secretos. Abordamos igualmente com os nossos convidados a controvérsia em Moçambique em torno da reestruturação dos 726,5 milhões de dólares da dívida da Ematum, anunciada hà dias pelo governo, pouco depois desta última ter sido anulada em Junho pelo Conselho Constitucional. Em foco esteve ainda a questão da ética entre os fabricantes de armamento, uma problemática levantada pela Amnistia Internacional.
Esta semana esteve colocada sob o signo da visita do Papa Francisco a Moçambique, enquanto na vizinha África do Sul se vivenciavam dias de violência xenófoba e o Zimbabué perdia o seu antigo Presidente, Robert Mugabe, acontecimentos que recordamos aqui com os nossos convidados.
No recapitulativo desta semana vista pelos nossos convidados, focamos o nosso olhar essencialmente sobre o G7 assim como os incêndios na Amazónia e na Bacia do Congo. Também em foco estiveram os elos de África com o Japão que esta semana organizou a sétima edição da TICAD, Conferência Internacional de Tóquio sobre o Desenvolvimento de África, um encontro durante o qual o Japão prometeu investir mais de 20 mil milhões de Dólares nos próximos três anos no continente africano. Angola e Cabo Verde que estiveram entre os países presentes, deram-nos conta das suas expectativas.
Desafios migratórios na Europa, incêndios gigantescos na Amazónia foram destaque na antena da RFI. Em África, em Moçambique, a crise da Renamo e em Angola o êxodo de refugiados da RDC rumo ao seu país natal estiveram também em foco.
A Europa esteve confrontada com dois navios de migrantes socorridos no Mar Mediterrâneo.
Enquanto isso na América do Sul o Brasil e a Bolívia têm-se debatido com enormes incêndios na Amazónia.
Em África, em Moçambique, a Renamo defronta-se com o caso da autoproclamada junta militar e em Angola foram muitos os refugiados provenientes da RDC a deixar o campo de Lóvua rumo ao Kassai.
Estes foram os temas abordados ao longo da semana com os nosso convidados.
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