Share Vida em França
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O primeiro-ministro francês pronunciou esta semana a declaração política na Assembleia Nacional. Michel Barnier disse que a receita para reduzir as dívidas passa pela diminuição da despesa e pelo aumento dos impostos. Em entrevista à RFI, o economista e professor na Universidade Paris Dauphine. Carlos Vinhas Pereira, refere que "os maiores cortes vão ser feitos nas ajudas sociais".
RFI: O primeiro-ministro francês, Michel Barnier, disse que a receita para reduzir as dívidas passa pela diminuição da despesa e pelo aumento dos impostos. Quais serão os sectores mais penalizados com estes cortes?
Carlos Vinhas Pereira, economista e professor na Universidade Paris Dauphine: Os maiores cortes vão ser feitos nas ajudas sociais. As ajuda passarao ser feitas tendo em conta a antiguidade e a estabilidade da pessoa que solicitar apoio. Relativamente aos clandestinos, a França é dos únicos paises que mais apoia as pessoas que estão no território em situação irregular. Essa situação também deverá mudar, as autoridades deverão limitar o acesso destes cidadãos aos cuidados de saúde e às ajudas financeiras.
Vários especialistas já vieram dizer que essa medida representa um valor ínfimo na despesa pública francesa. Não se está sempre a fazer pagar as mesmas pessoas?
Estamos a falar de 1000 milhões de euros. É verdade que- relativamente à dívida- é uma gota de água no oceano. Mas aqui a ideia é prolongar o tempo de trabalho para que essas pessoas tenham direito aos cuidados de saúde e de subsídio de desemprego.
Todavia, quando se fala em fazer no sector saúde, ouvimos que o sector já não aguenta com mais cortes. Onde é que o primeiro-ministro pensa cortar?
Vai cortar na parte administrativa, não na parte operacional. Ele quer aumentar o número de médicos, passando de 7500 para 15.000 estudantes para que estes possam- no futuro- substituir os médicos que vão para a reforma. Nos hospitais podem ser feitos cortes na parte administrativa, considerada como muito pesada
O sector da Educação, da Defesa e da Justiça também sentirão os cortes?
A ideia era poupar, nomeadamente o sector da Defesa. Acredito que os grandes cortes serão feitos nas prestações sociais. A França é campeã do mundo na redistribuição das ajudas sociais- foi sistema que escolheu, mas esse modelo tournou-se demasiado pesado para a realidade do país.
O primeiro-ministro francês anunciou que quer que os mais ricos ajudem o país a equilibrar as contas públicas, sublinhando que será um esforço limitado no tempo. Qual é que será o formato desse esforço financeiro?
O formato será o de passar de uma taxa de imposto que vai aumentar 6% relativamente à taxa normal e estou a referir-me às empresas com um volume de negócios superior a 1000 milhões.. A ideia é j passar a taxa do IVA, do IRC a uma taxa que vai atingir uns 33% relativamente à taxa que vigora actualmente.
Michel Barnier disse que este imposto será feito de forma a evitar as estratégias de desfiscalização dos grandes contribuintes. Ele vai ser capaz de por esta medida em prática?
É simples e fácil de fazer. Ele tem apenas de eliminar certos nichos fiscais, em França há dezenas, que permitem uma exoneração de impostos. Penso que os franceses, em termos gerais, estão a favor da eliminação deste tipo de privilégios que certas pessoas benificiam.
Não está em cima da mesa o regresso do imposto sobre as grandes fortunas?
Não, isso não! Podemos dizer que era um esforço que toda a gente devia fazer, ou seja, aqueles que têm mais meios para contribuir, mas será um esforço limitado no tempo. O facto de Michel Barnier ter anunciado que o objectico é atingir-em 2025- os 5% de défice e depois-até 2029-restabelecer os 3% -que é norma europeia- demonstra que que se trata de uma medida que será aplicada até que seja diminuída a dívida francesa.
O chefe do Executivo afirmou ainda que quer fazer pagar impostos às empresas com grandes lucros, mas sem colocar em causa a competitividade. Esta equação é possível?
E possível, no sentido que ele se apoia nos 50 mil milhões de euros que que foram distribuídos em dividendos, resultantes dos lucros realizados pelas grandes empresas. O primeiro-ministro francês considera que o facto de baixar os dividendos não vai prejudicar a competitividade das empresas. Só vai impactar o montante que os acionistas deverão receber.
Foi ainda anunciada a revalorização do SMIC salário mínimo em 2% a partir de 1 de Novembro. Este aumento é suficiente para fazer face à inflação que se vive?
Já houve aumentos ligados à inflação. Este aumento é um dos primeiros a ser feito sem se ter conta a inflação. Michel Barnier quer aumentar o poder de compra e também agradar os partidos de esquerda. Claro que não aumentou como a esquerda queria, mas trata-se de um gesto como, de resto, fez com a extrema direita na questão da imigração.
Relativamente à política de imigração, considera que todas as políticas devem ter em conta que o país precisa de mão-de-obra estrangeira?
Sim, a França precisa de mão de obra estrangeira. No entanto, as autoridades querem uma mão de obra regular, que não chegue de forma clandestina. Se pensarmos nos últimos acontecimentos- a morte da jovem Philippine- vieram revelar que há um problema. Que se não existirem os meios adequados os abusos podem acontecer
Foi ainda anunciado um fundo que será utilizado para desenvolver competitividade das empresas. Há aqui a intenção do executivo de Michel Barnier querer fomentar a competitividade das empresas em França?
É uma medida que vai ajudar certas pequenas e médias empresas-PME- que trabalham com o mercado de exportação, para poderem receber ajuda mais facilmente.
O LusoJornal, diário que se dedica à cobertura de jornalística ligada à comunidade lusófona em França, comemora neste mês de Setembro 20 anos de existência. Em entrevista à RFI, o fundador e director do LusoJornal, Carlos Pereira, fala das transformações do jornal, ao longo das duas décadas, e sublinha que o jornalismo de proximidade tem sido a chave para o sucesso.
RFI: Como surge a ideia de lançar um jornal dedicado à comunidade portuguesa em França?
Carlos Pereira, fundador e director do LusoJornal: O que nós tínhamos- há 20 anos- eram jornais mensais que falavam essencialmente do movimento associativo português em França. Jornais que iam buscar informação às associações e onde era depois distribuído. Todavia, [quando avançamos com o projecto] achamos que havia lugar para passar a um ritmo semanal, com informação que iria para além do movimento associativo. Lançamos este desafio, o de ir buscar os portugueses ou outros lusófonos ligados a Portugal, ou aos outros países de língua portuguesa, com uma história interessante e que os pudéssemos entrevistar.
Nessa altura, tínhamos a informação de que havia à volta de 10% dos portugueses que frequentavam as associações e o nosso desafio era ir buscar os outros 90%. Ou seja, aqueles que não frequentavam as associações.
Como foi chegar a essas outras pessoas? O jornal teve de se adaptar?
É um trabalho de formiga. Ir buscar um português que está na área do teatro e ele vai partilhar a informação, fazendo com que cheguemos até outros portugueses. Muitas vezes, o que acontece, são as pessoas que entrevistamos que nos sugerem outras entrevistas, outro português que está ligado ao cinema, à pintura ou à política. Hoje mostramos que há portugueses em todas as áreas e que há também portugueses em todas as áreas geográficas da França.
Há 20 anos não havia as ferramentas que existem hoje. Considera que é mais fácil trabalhar hoje?
O mundo mudou muito e nós temos uma concorrência muito grande nas redes sociais. Quando começamos era uma evidência passar a semanário, mas mais tarde decidimos que o LusoJornal passaria a diário. Tínhamos consciência que a informação circulava muito mais rápido. Hoje, o Lusojornal é um diário, mas deixamos de ter um jornal em papel , optando pela versão online. Quando fizemos essa escolha devíamos ter mais ou menos uns 40 mil leitores. Neste momento, devemos ter uns cerca de 210 mil…
Conseguem chegar a um público maior?
Sim e a um público muito mais diverso. Sabemos que temos um público muito heterogéneo. Há muita gente da primeira geração –sabemos porque nos chegam muitas vezes informações de pessoas que nos questionam sobre o facto de falarmos de determinados assuntos, como grupo de folclore, de um determinado grupo político e não falamos de outros- [mas também chegamos a outros portugueses].
Como é feita a escolha editorial?
A escolha editorial é a mesma desde o primeiro dia. A nossa missão é falar da vida dos portugueses, dos lusófonos que vivem em França e da relação entre a França e os países lusófonos. Essa é a nossa linha editorial e não mudamos um só centímetro. No fundo, falamos do que não falam os outros jornais. Um jornal francês não vai falar especificamente dos portugueses porque são portugueses. Ou um jornal em Portugal não vai falar dos portugueses de França.
Muitas vezes até passa despercebido e nós falamos desta comunidade que não é uma comunidade, mas sim um conjunto de muitas comunidades. É isso que faz, se puder falar em sucesso, o nosso sucesso. É isto que faz com que as pessoas partilhem a nossa informação, uma vez que não a encontram noutros sítios. A primeira entrevista, a descoberta, digamos assim, passa muitas vezes por nós. Andamos à procura deles e falar deles e de falar do pulsar da comunidade. Essa é uma missão que nós nos auto atribuímos.
Ao longo dos anos, foram muitos os jornais que tiveram de se adaptar. Falou aqui na questão de ter deixado de haver LusoJornal em papel e passar a haver online. Que outras mudanças tiveram de ser feitas ao longo destes 20 anos?
Infelizmente, o COVID veio trazer-nos alguns problemas financeiros. Hoje, o nosso grande desafio é retomar uma actividade normal. No jornal temos a particularidade de ter-ao mesmo tempo-uma equipa profissional muito pequena, que reduziu bastante com o Covid, e uma equipa amadora, pessoas que não são profissionais, que não são jornalistas, não têm carteira profissional, mas que escrevem bem.
Este misto -entre uma equipa profissional e uma equipa amadora- sempre nos caracterizou. Todavia, devido às dificuldades financeiras, a parte profissional tem vindo a ser reduzida, mantendo uma grande parte da equipa amadora, que espero ainda guardar. O nosso desafio agora é de desenvolver uma área comercial-que não temos sabido desenvolver ao longo dos anos e que é que vai ser preciso pô-la aí a trabalhar. Isto porque sem a área comercial o jornal não pode viver. Trata-se de um jornal gratuito e que vive unicamente da publicidade. Se não vender publicidade, o jornal não existe.
Lembra-se da notícia que mais o marcou ao longo destes 20 anos?
Essa é uma pergunta muito difícil… Quando, nas últimas eleições autárquicas, aqui em França, demos a notícia de que havia cerca de 8 mil luso-eleitos, não se sabe muito bem quantos são, mas andará por aí. Eu achei que nós demos um contributo muito grande, já que a nossa primeira notícia sobre os luso-eleitos era de que havia 320 ou 330. Considero que, ao longo dos anos, contribuímos para que esse número crescesse. Evidentemente que ainda poderia haver ainda muito mais; esse é outro debate. Mas o facto de passar de 300 a 8000 em poucos anos, em 20 anos, foi também um pouco resultado do nosso trabalho. Na altura, essa notícia fez-nos, pelo menos, falar bastante numa reunião de redacção sobre esse assunto, pensar que a nossa contribuição foi importante nesta matéria.
Os atentados de Paris-13 de Novembro de 2015 ficam para a história da França como um período sombrio. Como foi feita a cobertura deste episódio?
Quando foi anunciado o primeiro morto, em frente ao Stade de France, nós conhecíamos a filha do senhor que morreu. Naquela altura “pusemos a máquina a funcionar” e fomos directamente falar com a pessoa que sofria mais naquela altura, porque tinha perdido o pai. E isto também é um pouco resultado de um jornal de proximidade.
O LusoJornal comemora 20 anos de existência. Que balanço faz deste projecto?
Faço um balanço positivo. Isto tem sido uma aventura. Se fosse recomeçar agora, talvez pensasse duas vezes, mas altura não tive muito tempo para pensar. Era novo demais para isso.
Quando começamos, muito pouca gente acreditava neste projecto. Diziam que não existiam assim tantas notícias, que não se faziam um trabalho jornalístico num jornal gratuito. Defendiam que o jornal tinha que ser pago, vendido, senão não tinha qualidade. E isto tudo foi por água abaixo. Hoje ninguém pensa nisso.
Sei que continuamos a ser um jornal pequeno, mas na nossa dimensão, na nossa área, queremos ser bons e, sonhamos com isso. Temo-nos batido para isso-numa área muito específica que é a das comunidades portuguesas em França e só em França, porque não actuamos nos outros países. Achamos que já há matéria suficiente e é aqui que nós queremos fazer jornalismo.
A avenida dos Campos Elísios, na capital francesa, acolhe neste sábado, 14 de Setembro, um desfile que conta com a presença dos atletas franceses olímpicos, paralímpicos e com as equipas da organização dos Jogos Olímpicos de Paris 2024. Em entrevista à RFI, Hermano Sanches Ruivo, vereador na Câmara de Paris, considera é que a iniciática encerra com chave de ouro os Jogos Olímpicos de Paris 2024.
Esta será a quinta cerimónia desenhada por Thierry Reboul, director criativo dos Jogos Paris 2024. Um enorme palco – com 400 metros de comprimento – em forma de anel será instalado ao redor do Arco do Triunfo. O desfile terá início nos Campos Elísios, com os atletas a percorrerão a famosa avenida antes de serem condecorados pelo Presidente da República, Emmanuel Macron.
Mais tarde terão lugar vários espectáculos musicais, os nomes dos artistas que ainda não foram, até ao momento, revelados. Em declarações ao jornal desportivo L’Equipe, Thierry Reboul explicou que este espectáculo, pensado para encerrar a “aventura em grande estilo”, que irá encerrar as cerimónias de abertura e encerramento dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos.
Em entrevista à RFI, Hermano Sanches Ruivo, vereador na Câmara de Paris, considera é que esta iniciática encerra com chave de ouro os Jogos Olímpicos de Paris 2024.
“Acabar com mais uma festa à volta dos atletas franceses, fazendo-os desfilar e viver um momento com música tem lógica, uma vez que os sinais da presença dos Jogos Olímpicos ainda estão visíveis na capital”, explicou.
Além dos atletas, vão desfilar milhares de pessoas, incluindo “voluntários e todos aqueles que contribuíram para a organização destes Jogos”, anunciou o chefe de Estado francês que esteve na criação deste evento. Emmanuel Macron pretende também anunciar, no mesmo dia, as medidas destinadas a garantir o legado destes Jogos de Paris.
As tecnologias assistidas, como cadeiras de rodas e próteses, desempenham um papel fundamental nos Jogos Paralímpicos de Paris, permitem que atletas com deficiência possam competir a alto nível. Vamos perceber de que forma é que estas tecnologias são utilizadas e qual o impacto que elas têm tanto na vida dos atletas como nos resultados das competições com o doutorado em Ciências do Desporto, com especialidade em Biomecânica, Tiago Barbosa, do Instituto Politécnico de Bragança.
RFI: De que forma é que o uso destas tecnologias assistidas, como é o caso de próteses de cadeiras de rodas adaptadas, influenciam o desempenho dos atletas paralímpicos nas competições?
Tiago Barbosa: Nós estamos numa fase em que muita gente tem interesse em ver estes atletas e estes super atletas nos Jogos Paralímpicos e nós vemos algumas diferenças, comparativamente com os outros, os outros jogos que são os Jogos Olímpicos. Aqui nos Jogos Paralímpicos vemos os nossos atletas utilizarem um conjunto de equipamentos de tecnologias que são um pouco diferentes dos outros colegas e que habitualmente chamamos de tecnologias assistidas. A tecnologia assistida é uma tecnologia, uma aplicação de conhecimento com objectivo prático, se for numa pessoa com deficiência em contexto normal, natural, antes da competição propriamente dita, vai proporcionar acessibilidade e autonomia a essa pessoa ter uma cadeira de rodas normal para poder, por exemplo, deslocar.
Mas depois, quando falamos nessa mesma pessoa, praticar desporto e praticar desporto de alto rendimento, como neste caso nos Jogos Paralímpicos, nós entramos num nível muito mais complexo e com tecnologias bastante mais avançadas. Nestas tecnologias, as mais conhecidas e mais icónicas sejam talvez as cadeiras de rodas e as próteses.
Em que medida é que estas inovações tecnológicas nas áreas, por exemplo, do monitoramento e análise de desempenho ajudam os atletas paralímpicos a melhorar as habilidades e as estratégias de competição?
Há muitas coisas que não podemos fazer quando estamos a falar em monitorar estamos a falar em sensores. Nós tentarmos colocar, por exemplo, sensores em alguns equipamentos da respectiva modalidade de desporto permitirem para nós obtermos um conjunto de dados que possamos fazer a respectiva análise do desempenho desportivo do nosso atleta. Mas isto é uma área que é muito interessante, que, por um lado, permite o acesso à prática desportiva da pessoa com deficiência, mas é uma faca de dois gumes porque por outro lado, estas tecnologias são de tal forma avançadas que dão uma vantagem desproporcional a países desenvolvidos.
Só para termos uma ideia, o valor de uma cadeira de rodas que nós vemos numa prova de atletismo pode-se aproximar de quase que um carro utilitário. O preço de próteses que vemos utilizar também no atletismo são valores bastante elevados. O que cria aqui uma desproporção de acessibilidade a estas tecnologias de atletas que vem de países bastante mais desenvolvidos, de países menos desenvolvidos e, portanto, depois reflecte se também no respectivo desempenho na quantidade de medalhas de que cada país percebe.
Estas tecnologias assistidas, por um lado, facilitam o acesso à prática desportiva, mas por outro lado, pois queria aquilo um telhado de vidro que, às vezes, é difícil compreender porque é que alguns países têm maior dificuldade do que outras. Estas tecnologias estão de tal forma de ponta, de tal forma elaboradas e que envolvem custos e pessoal que criam estes níveis de assimetria.
Existe algum tipo de regulamentação do ponto de vista ético quanto ao uso destas tecnologias avançadas que podem, como dizia, dar vantagem a alguns atletas paralímpicos sobre outros?
Não existe regulamentação, mas existe a discussão e às vezes esta discussão começa por uma discussão bastante mais filosófica. Por exemplo, este tipo de atleta que tem este tipo de produtos, que tem uma atitude bastante biónica, de biologia e electrónica, a ideia que normalmente muitos de nós temos daquela mão biónica é que ela não parece quase robótica. Curiosamente, isto é um parênteses na cerimónia de encerramento dos Jogos Olímpicos de Tóquio ao momento, que é transmissão da passagem de testemunho para os próximos jogos. E neste caso, foram os de Paris de 2024. E há uma coreografia que foi desenhada preparada por um coreógrafo francês espectacular. Esta coreografia, feita exclusivamente com os membros superiores, a primeira imagem que surge é de um jovem, de um adolescente, em que surge com esta mesma mão biónica e, portanto, esta extinção, esta fusão do organismo do ser humano com a tecnologia. Há pessoas que colocam estas questões porque é uma perspectiva de super-humanos, não é uma perspectiva de super humano. Será que afinal, estes atletas têm mais vantagem competitiva do que com os ditos normais. Portanto, há muitas questões deste domínio e da perspectiva da ética.
Regulamentar isto é sempre muito difícil e muito difícil, porque há sempre opiniões diversas. É difícil chegarmos a opiniões consensuais. Por exemplo, há uns anos atrás havia a questão daquelas próteses em forma de J que um atleta utilizou um atleta sul-africano chamado Oscar Pistorius porque liderou durante muito tempo as provas de atletismo nos Jogos Paralímpicos e quis ir competir nas provas ditas normais dos Jogos Olímpicos e do Campeonato do Mundo.
À época, houve algumas reticências em permitir este atleta ir fazer as provas de atletismo em detrimento das de para atletismo. O argumento que estava a ser utilizado na altura e que por um lado, era a segurança do próprio. Em segundo lugar, é que estas provas que eu utilizaria poderiam dar-lhe uma vantagem comparativamente com os outros sujeitos. Bom, a partir daí surgiu uma grande discussão sobre esta matéria relevante. Realizam-se vários estudos: Há quem diga que há vantagem, há quem diga que dá desvantagem e, portanto, continuamos numa eterna discussão sobre este assunto.
De que forma é que a tecnologia de análise de movimento e monitoramento fisiológico contribui para o treino e a prestação, o desempenho dos atletas? Que características é que são mais importantes quando estamos a falar destas tecnologias assistidas: o peso, a dimensão?
Depende muito da modalidade. A primeira coisa que temos que saber e qual é o objectivo da modalidade e em função deste objectivo, quais são os factores que vão condicionar atingir esse mesmo objectivo se não existir factores determinantes do rendimento. Ora, os factores determinantes de rendimento variam bastante em função da modalidade e do próprio evento dentro da modalidade. Por exemplo, os 100 metros de atletismo e natação são diferentes, por exemplo, fazer 1500 metros na natação ou atletismo, nós temos que terminar em provas mais longas, a caracterização fisiológica é bastante importante. Por exemplo, o consumo de oxigénio, se o sujeito é eficiente, se não é eficiente numa prova mais curta. A fisiologia é relativamente potente, mas há factores mais importantes do ponto de vista biomecânico. Só para dar um exemplo, novamente do atletismo e destas próteses, estávamos a falar de correr com próteses. Há dois tipos de prótese duas formas de próteses que as pessoas vão verificar a uma prótese, como a forma em J. e é uma prótese como a forma em C. Nas provas mais longas, tipicamente os atletas utilizam as próteses com a forma em C. Porque? Porque eles conseguem ser mais eficientes e gastar menos energia numa prova que é bastante longa e que demora bastante tempo.
Como por exemplo numa maratona...
Exactamente uma prova assim tão longa. Se for uma prova bastante curta. 100 metros, 200 metros, 400 metros. Tipicamente eles vão utilizar uma prótese com uma forma em J, porque o que é importante já não é tanto a eficiência, mas a capacidade de produzir potência e reutilizar a mesma potência ou essa mesma energia.
Quanto às tecnologias de comunicação, elas são adaptadas para ajudar atletas com deficiência visual e auditiva durante as competições. Isto já é possível?
Depende muito dos regulamentos do desporto para desporto. Há desportos em que depois, por exemplo, o atleta tem um guia que é uma outra pessoa que vai fazer o respectivo apoio do atleta. Portanto, isso varia bastante de modalidade para modalidade. Tecnologicamente é possível. Muitas dessas tecnologias são criadas, são desenvolvidas e depois há uma tentativa de as introduzir na perspectiva do desporto, mas que está dependente da autorização do organismo desportivo que supervisiona a respectiva modalidade.
Estas tecnologias são adaptadas sempre junto de atletas que vão acompanhando e testando as tecnologias passo a passo.
Sim, exactamente. Os atletas são sempre parte integrante e muitas destas tecnologias e muitas vezes estas adaptações são feitas de forma individualizada em função das características do respectivo atleta. No meu caso particular, e durante muito tempo trabalhei como um sprinter de cadeira de rodas e o que nós andávamos a fazer constantemente era ver como melhorar o design no desenho da respectiva cadeira de rodas, no sentido de maximizar o seu rendimento. Há um vasto conjunto de detalhes que, do ponto de vista tecnológico, cujo objectivo se é para melhorar o rendimento daquele atleta, têm que ser customizados e individualizados em função do respectivo atleta. E ele próprio, esse atleta, também que vai ter que dar o seu contributo.
As tecnologias assistidas são essenciais para os atletas proporcionam mobilidade, segurança, eficiência. Estas tecnologias têm um impacto também na qualidade de vida e na independência dos atletas paralímpicos?
Existe um outro vasto conjunto também de tecnologias que são utilizadas no dia-a-dia. O melhor exemplo é dizer que em vez de utilizar a cadeira que custa milhares de euros na prova de atletismo, há uma cadeira de rodas que se calhar algumas componentes tecnológicas estão inspiradas na tal cadeira de ponta, mas que o sujeito vai utilizar, esta pessoa com deficiência e vai utilizar no seu dia-a-dia. Quem fala da cadeira de rodas pode falar de muitos outros elementos para falar nas próteses. Pode falar nos elementos que facilitam a audição ou visão e por aí fora.
A artista moçambicana Eurídice Zaituna Kala desconstrói a imagem de Nova Iorque e até do “sonho americano” numa exposição patente na Galeria Anne Barrault, em Paris. As fotografias montadas em estruturas de vidro e metal mostram ausências, desigualdades, relações de poder entre os homens e entre estes e a natureza. Eurídice Zaituna Kala mostra como a arquitectura é mais uma ferramenta de implementação de disparidades sociais e como a cidade vai tapando as camadas do seu próprio passado.
A exposição "En quelques gestes : as if two suns were setting", patente até 5 de Outubro, é constituída por obras realizadas durante uma residência em Nova Iorque e questiona o peso que a arquitectura urbana tem sobre a natureza e sobre as próprias pessoas.
“Quando propus um projecto de pesquisa para ir a Nova Iorque, era para olhar para a arquitectura. Para olhar como a arquitectura, de uma forma violenta, ocupa o espaço natural e cria uma sensação de betão (...) Eu queria desconstruir essa noção e, ao mesmo tempo, olhar para os arquivos: como é que a cidade foi ocupada na época pré-colonial, no pós-guerra, no pós-Segunda Guerra Mundial, que tipos de arquitectura chegaram. E como eu tenho, na materialidade do meu trabalho, materiais como o metal e o vidro, era claro que eu queria entrar também nessa noção de como esses materiais interagem com a cidade. Quais são as janelas que esses materiais criam? Quais são os ecrãs que eles criam? Como é que esses objectos obstruem a possibilidade de comunicar uns com os outros? Em Nova Iorque, tu passas em frente a um prédio e tens a sensação que não podes interagir com as pessoas que estão no interior. Quer dizer, a interioridade é completamente coberta, submersa, a partir desses materiais”, descreve a artista.
Continuando as suas pesquisas em torno dos arquivos, a artista moçambicana estudou as raízes da cidade, originalmente habitada pelo povo autóctone Lenapes e desenhada com várias colinas e rios, hoje substituídos por arranha-céus. “Havia uma natureza, uma fauna ou uma flora que esteve lá antes de uma colonização violenta que mudou completamente a topografia da cidade”, recorda. Por outro lado, ela interessou-se pela relação entre Nova Iorque e a água, um elemento que outrora dominava a paisagem e que passou a ser dominado pelas ambições arquitectónicas.
“Chegar a Nova Iorque e falar em água é quase impossível. Nós imaginamos sempre uma cidade de betão, tudo coberto, tudo numa submersão, socialmente falando, uma submersão humana, densa. Mas a história topográfica de Nova Iorque é completamente oposta a essas paisagens que nós temos do nosso imaginário. Nessa oposição, tem a água que foi coberta pela arquitectura num plano de urbanização do Robert Moses, que veio obstruir essas fontes de água que atravessavam Manhattan, Brooklyn, Bronx para criar espaços de construção”, acrescenta.
Eurídice Zaituna Kala também explorou o conceito da arquitectura contemporânea como “soft power”, em que os arranha-céus luxuosos olham de cima para os prédios sociais, os quais são reservados aos pobres e sujeitos à subida das águas durante as inundações.
“Isso foi também um dos contextos que me interessava muito compreender. Eu tive a oportunidade de subir ao andar 86 de uma torre e de viver essa experiência. Foi super estranho porque são espaços que são vendidos muito caros e que representam um contexto de arquitectura, mas, ao mesmo tempo, representam um contexto de consumo espacial, um contexto de movimento, de liquidez de espaço. Quis compreender o que quer dizer essa disparidade entre esses prédios que hoje em dia são vendidos muito caros e os prédios sociais porque Nova Iorque é uma cidade de prédios, sempre teve uma relação com a verticalidade. Os prédios sociais que foram construídos para as famílias menos ricas são também arranha-céus, mas criaram uma completa desconexão entre gerações de famílias que não puderam entrar em relação, que causaram questões sociais complexas, criminalidade, uso de drogas, etc, etc. Quer dizer, esses dois contextos propõem duas formas de criar sociedade”, continua.
Outra linha de força da exposição são as ausências, figuradas por vidros sem imagens ou pelo simbólico capuz vazio de uma camisola encontrada numa rua qualquer. Esta é também uma homenagem ao jovem negro assassinado Trayvon Martin, ao movimento Black Lives Matter e ao artista David Hammons.
Há, ainda, uma imagem criada por Inteligência Artificial que ilustra os próprios limites da tecnologia, ainda que crie uma nova camada que tende para a abstração pictórica e fotográfica. Eurídice Zaituna Kala recolheu textos inscritos em monumentos de Nova Iorque a prestarem homenagem ao povo autóctone que, outrora, viveu naquela zona e pediu à Inteligência Artificial para criar imagens. O resultado são duas imagens sobrepostas, em que se percebe uma paisagem verde luxuriante e vários espectros pálidos.
Na segunda sala, há fotografias em tons azulados que remetem, mais uma vez, para o universo da água, mas também para o imaginário cinematográfico de Nova Iorque. A artista conta-nos que se inspirou nos tons do filme “La Nuit Américaine” de François Truffaut para mostrar que a sensação de se estar numa "cidade que não dorme" pode ser esgotante e uma metáfora de que o “sonho americano” é impossível.
“Tem uma certa referência a “La Nuit Américaine”, que é este filtro usado no cinema que projecta uma sensação de noite, uma sensação de estar no exterior, de uma continuidade do dia. Eu acho que Nova Iorque tem essa forma de se querer projectar como algo que não acaba, como um dia que não acaba. Há também a questão do conceito americano que fala do sonho americano porque se o dia não acaba e se não podemos descansar, quer dizer que não temos tempo para sonhar! Ou seja, o fim desse sonho americano é mesmo uma consciência de como vivemos nestas cidades”, conclui.
É a primeira vez que a Galeria Anne Barrault acolhe uma exposição a solo de Eurídice Zaituna Kala, depois de ter apresentado uma obra dela no Jardim das Tulherias, na FIAC Hors Les Murs, em 2021.
“É verdade que a obra dela tem uma vertente de denúncia, mas é mais do que isso. Nesta exposição vemos – e é bastante impressionante –várias camadas e há um lado pictórico muito presente. Ou seja, podemos abordar o trabalho dela de diferentes maneiras. Claro que ela fala das suas origens, da colonização, mas não fala só sobre isso. Por isso é tão interessante este trabalho na cidade de Nova Iorque, que não é a cidade onde ela cresceu, mas ela cria elos com a sua própria história, com Moçambique que também foi colonizado e com a América que é também um território que foi colonizado. Estes paralelos são apaixonantes e permitem olhar para o seu trabalho sob diferentes ângulos”, descreveu Anne Barrault à RFI.
No âmbito desta exposição, inaugurada a 31 de Agosto e que decorre até 5 de Outubro, Eurídice Zaituna Kala teve "carta branca" do Cinema L'Archipel em Paris para apresentar um filme a 3 de Setembro e escolheu "AI: African Intelligence" de Manthia Diawara.
Actualmente, a artista participa na exposição "Passengers in Transit" à margem da Bienal de Veneza (até 24 de Novembro de 2024).
Em 2025, Eurídice Zaituna Kala vai apresentar o seu trabalho no Centro de Arte Contemporâneo de Rennes (La Criée) de 7 de Fevereiro a 27 de Abril e vai também ter uma exposição na Ferme du Buisson, em Noisiel, de 15 de Março a 13 de Julho.
A 25 de Agosto de 1944, há 80 anos, depois de vários dias de insurreição popular e com os aliados às portas de Paris, o exército francês entrava na capital, sob as ordens do general de Gaullle, pondo fim a quatro anos de ocupação nazi.
Revisitamos, com o historiador e Professor auxiliar na Universidade de Paris Nanterre, Christophe Araújo, um episódio da história francesa da segunda Guerra Mundial. É preciso recuar até ao dia 25 de Agosto de 1944 quando, sob as ordens do general De Gaulle, o general Leclerc entrou com as tropas em Paris e libertou a capital, pondo fim a quatro anos de ocupação nazi.
A batalha de Paris matou 1 600 franceses e mais de 3 000 soldados alemães. "Paris ultrajada, Paris quebrada, mas Paris libertada", é a famosa frase proferida por Charles de Gaulle na noite de 25 de Agosto.
Mas a libertação começou dias antes com a organização da resistência, com greves da polícia, dos correios e do metro parisiense. A rádio suspendeu as suas emissões e a 19 de Agosto, o Comité da Libertação de Paris, composto por resistentes apelava a população a rebelar-se.
Ministérios e locais da administração municipal foram ocupados. Na rua, arrancavam-se pedras da calçada, construíram-se barricadas à pressa e os grupos da resistência passaram a lutar em combates de rua.
Os aliados estavam às portas de Paris, mas De Gaulle desejava que fosse o exercito francês o primeiro a entrar. Muitos estrangeiros reforçavam no entanto o exercito francês e foram recebidos como heróis pela população francesa.
A 9 de Setembro de 1944 tomou posse um governo de união nacional sob a presidência de De Gaulle. O general cumpria a missão a que se tinha proposto: libertar o país, restabelecer a República e organizar eleições livres e democráticas em França.
Alain Delon foi um ícone da história da 7ª Arte. Trabalhou com Luchino Visconti, Michelangelo Antonioni, Louis Malle, René Clément, Jean-Pierre Melville, Jean-Luc Godard, Romy Schneider, Monica Vitti, Claudia Cardinale, Jean-Paul Belmondo, Jean Gabin e tantos outros. Foi considerado "o homem mais bonito da história do cinema”, mas tinha uma personalidade reaccionária que nunca escondeu. Guillaume Bourgois, professor de Estudos Fílmicos, falou-nos sobre a “força magnética” e “tenebrosa” de Alain Delon.
Alain Delon foi descrito como “o homem mais bonito da história do cinema” pela revista New Yorker, enquanto o jornal Corriere della Sera fala de uma lenda e de "estrela bela e maldita”. O El Pais recorda uma “aura incomparável” e “um ícone do cinema europeu conhecido pelo seu talento e pelo seu poder de sedução”, mas não esquece os seus comentários machistas e homofóbicos, nem a sua amizade declarada com a figura da extrema-direita francesa Jean-Marie Le Pen.
O francês, que morreu aos 88 anos, entrou na 7ª Arte “por acidente” – dizia ele - e acabou por ser um dos seus protagonistas mais lendários. Foi actor em cerca de 90 filmes, foi realizador, produtor e até argumentista. Trabalhou com os melhores e maiores realizadores do seu tempo: Luchino Visconti, Michelangelo Antonioni, Louis Malle, René Clément, Jean-Pierre Melville, Alain Cavalier, Jean-Luc Godard. A sua história também cruzou os maiores actores de então: Romy Schneider, Monica Vitti, Claudia Cardinale, Jean-Paul Belmondo, Jean Gabin. As suas personagens integram o panteão de símbolos universais: Delon foi "O Leopardo", "Rocco", "Monsieur Klein", "O Samurai" e tantos outros.
Neste programa, Guillaume Bourgois, professor de Estudos Fílmicos na Universidade de Grenoble, falou-nos sobre “a força magnética” e “misteriosa” de Alain Delon, um autodidacta que se tornou num dos monstros sagrados do cinema francês e europeu.
Alain Delon foi um actor e uma figura importantíssima da história do cinema, especialmente da história do cinema moderno, desse novo cinema que aparece nos anos 60. Foi, sobretudo, graças a Visconti que o mundo ficou a conhecer o Alain Delon. Ele convidou Alain Delon a participar no “Rocco e i suoi fratelli” que é um filme extraordinário. Eu acho que foi mesmo o Visconti que descobriu a força magnética, quase aristocrática, que tinha o Delon na interpretação dele, na intensidade dos seus olhares, dos seus gestos. Depois, grande parte dos cineastas mais importantes foram sempre buscar essa energia, essa dimensão tenebrosa, misteriosa, enigmática que tinha o Delon e que fez com que ele pudesse ter essas interpretações extraordinárias nos papéis mais famosos.
Alain Delon foi um artista que “fez avançar o cinema moderno”, mas também construiu “uma personalidade mediática extremamente egocêntrica”. O actor falava de si na terceira pessoa e inscreveu-se numa “tendência reaccionária da história da indústria cinematográfica francesa que sempre existiu de contestação dos meios de esquerda que estavam a tentar utilizar o cinema para desenvolver as suas ideias”. Defendeu, várias vezes, as posições do amigo Jean-Marie Le Pen, líder da extrema-direita francesa, e nunca refreou comentários machistas e homofóbicos.
“Nos anos 90, essa legitimação [da extrema-direita] não existia e houve figuras que participaram francamente e de forma assumida para essa legitimação. Alain Delon foi uma delas, outra foi Brigitte Bardot. É sempre importante relembrarmos isso quando se fala do Alain Delon”, acrescenta o professor de Estudos Fílmicos.
Neste programa, oiça a entrevista a Guillaume Bourgois sobre quem foi Alain Delon, quais foram os principais filmes, papéis e o legado que ele deixa para o mundo do cinema.
Os Jogos Olímpicos que decorreram em Paris, a capital francesa, foram palco de uma nova modalidade, o breaking.
Pela primeira vez na história dos Jogos Olímpicos, o breaking foi introduzido como prova oficial em Paris em 2024. O breaking é uma prova de dança urbana conhecida como break dance.
Uma competição que poderá ser a primeira e a última por enquanto, visto que não está no programa de 2028 em Los Angeles nos Estados Unidos.
Em Paris, a prova arrancou a 9 de Agosto no Parque Urbano da Praça da Concórdia com as mulheres a estrearem o breaking nos Jogos Olímpicos.
Uma portuguesa estava presente, a "B-Girl" Vanessa. A atleta lusa acabou por perder os três ‘battles’ (confrontos), terminando no último lugar na primeira fase, uma fase de grupos com quatro atletas em cada agrupamento.
No primeiro embate, Vanessa perdeu frente a India, atleta dos Países Baixos, sendo derrotada nas duas rondas com um total de 3 votos contra 15.
No segundo confronto, a portuguesa foi derrotada pela atleta da China, 671, nas duas rondas com um total de 4 votos contra 14.
Por fim, no terceiro e último ‘battle’, Vanessa perdeu perante a norte-americana Sunny nas duas rondas com um total de 5 votos contra 13.
Isto significa que em cada embate, os juízes preferiram a actuação das adversárias.
Em declarações à RFI, Vanessa lembrou que não foi fácil estar presente na prova e afirmou que deu tudo nos ‘battles’.
Em relação ao espectáculo apresentado, a portuguesa admitiu que o público estava um pouco longe das atletas, isto apesar de estar feliz com a estreia da prova.
Vanessa ficou, no entanto, maravilhada com a experiência em Paris, com o ambiente em torno das Olimpíadas.
O breaking não estará presente nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, nos Estados Unidos, em 2028, no entanto, há a esperança que, após a experiência em Paris, a prova regresse por exemplo em Brisbane em 2032 na Austrália.
Para a B-Girl Vanessa, o breaking é uma modalidade que tem provas todos os meses, afirmando que acredita que um dia regresse aos Jogos Olímpicos porque é uma modalidade que traz algo diferente às Olimpíadas.
Vanessa, a atleta portuguesa, terminou no 13° lugar na prova feminina de breaking. A vencedora foi a japonesa Ami, que derrotou na final a lituana Nicka, sendo que o terceiro lugar foi conquistado pela chinesa 671.
Do lado dos homens, o canadiano Phil Wizard triunfou, à frente do francês Dany Dann e do norte-americano Victor.
Os Jogos Olímpicos de Paris terminaram a 11 de Agosto, mas os Jogos Paralímpicos começam a 28 de Agosto igualmente na capital francesa e serão para acompanhar nas antenas da RFI e no nosso site rfi.fr/pt.
A Torre Eiffel está no centro das celebrações dos Jogos Olímpicos de Paris e continua a receber visitantes mesmo com provas a decorrer a escassos metros deste monumento emblemático. Manter a Torre Eiffel aberta durante este evento e fazê-la brilhar para promover Paris durante estes Jogos Olímpicos sempre foi o objectivo de Patrick Branco-Ruivo, presidente da sociedade que gere a Torre Eiffel.
Durante os Jogos Olímpicos, o Desporto é rei, mas a Torre Eiffel, durante esta edição em Paris é definitivamente a rainha. Desde o lugar de destaque dado em toda a imagem visual deste grande evento à apoteose na cerimónia de abertura em que Celine Dion cantou para milhões de pessoas a partir do primeiro andar desta grande dama de ferro, a Torre Eiffel voltou a invadir o imaginário de milhares de milhões de pessoas em todo o Mundo.
A Torre Eiffel vai mesmo para casa com todos os campeões olímpicos, já que dentro de cada medalha olímpica está um fragmento deste monumento. Em entrevista à RFI, Patrick Branco-Ruivo, presidente da sociedade que gere a Torre Eiffel, explicou o papel deste monumento nos Jogos Olímpicos e respondeu à questão de um milhão de dólares, ou seja, de onde vêm os fragmentos que estão dentro das medalhas dos atletas – e não se preocupe, a Torre Eiffel não foi danificada para produzir as medalhas!
"Temos um armazém fora de Paris a mais ou menos 100 quilómetros e é um sítio secredo onde temos ainda peças antigas da Torre Eiffel, porque quando fazemos as obras na torre, às vezes temos que retirar umas partes, mas acontece raramente. Há cerca de dois anos, o Comité de Organização dos Jogos Olímpicos veio com essa ideia e a ficámos logo entusiasmados com a ideia, já quetambém estávamos envolvidos com o projecto dos Anéis Olímpicos também, que marca estas Olimpíadas. A imagem da Torre com os anéis é a imagem que vai ficar dos Jogos Olímpicos. Então, isso é um prazer trabalhar com o comité de organização e desde o início fomos associados e até ao fim com a cerimónia de abertura, mas com uma confidencialidade muito importante", contou Patrick Branco-Ruivo.
Para o presidente da Torre Eiffel, era essencial que o monumento continuasse aberto durante toda a duração dos Jogos Olímpicos para que franceses e turistas vindos de fora do país pudessem visitar este emblema parisiense.
"Eu, desde o início, insisti muito para a Torre ficar aberta durante as provas, porque, por razões de segurança, não era simples de garantir uma acessibilidade com todas as provas à volta da Torre quer seja com o vólei de praia ou um bocado mais longe o judo e a luta greco romana, mas também as provas no Rio Sena, por exemplo, a maratona vai tudo passar à beira da Torre. Isto dá-nos uma imagem fantástica de Paris que fica uma cidade fantástica e tão bonita. Nunca vi essa cidade assim tão bonita e isso é o resultado de um trabalho feito aqui na Torre Eiffel", contou.
E como manter o segredo sobre a actuação de Celine Dion na cerimónia de abertura? É simples, mantendo esta informação fechada a sete chavez e até dando um nome de código à diva canadiana.
"As minhas equipas é que trabalharam muito para o sucesso desta cerimónia. Preparamos esta cerimónia já há mais de um ano e meio e estávamos com um código especial para não nomear a pessoa. Há mais ou menos um mês, não sabíamos quem era a artista? Até as pessoas das minhas equipas, encarregados da cerimónia não disseram quem era. E eu não quis saber porque o que foi importante foi também esse efeito surpresa. Então os jornalistas querem sempre ter assim um scoop. Querem sempre saber o que se vai passar. Não souberam e acho que era importante para criar uma emoção. E esse efeito surpresa ao fim da cerimónia, com a chama a subir e depois a Celine Dion na Torre Eiffel. Toda a gente ficou completamente entusiasmada e muita gente, incluindo eu, teve uma lágrima de emoção quando viu assim a Torre Eiffel assim tão bela, com a força da Celine Dion e com a força dos anéis olímpicos", concluiu o gestor de origem portuguesa.
Paris, a capital francesa, acolhe desde a passada sexta-feira 26 de Julho, os Jogos Olímpicos, o maior evento desportivo do Mundo.
Uma das provas mais polémicas era o triatlo, visto que a prova conta com uma parte de natação que tinha como palco o rio Sena.
Desde a cerimónia de abertura, com chuva torrencial à mistura, os triatletas não tinham treinado e a prova masculina tinha sido adiada de terça para quarta-feira, isto devido aos níveis de poluição do Rio Sena.
As amostras concluíam que os atletas não podiam entrar nas águas parisienses devido também ao nível alto de bactérias.
Vários factores que dificultaram o decorrer da prova, mas na quarta-feira, as mulheres como os homens foram autorizados a dar o pontapé de saída do triatlo, que conta com natação, ciclismo e atletismo, isto devido a níveis ‘aceitaveis’ para a prática da modalidade no Rio Sena.
Do lado masculino, o vencedor foi o britânico Alex Yee, enquanto os portugueses arrecadaram dois diplomas olímpicos, terminando no 5° lugar para Vasco Vilaça e no 6° para Ricardo Batista.
Em entrevista à RFI, Vasco Vilaça admitiu estar feliz com o resultado obtido, ele que chegou exausto e até teve de ser evacuado de cadeira de rodas da linha de chegada.
Igualmente ao microfone da RFI, Ricardo Batista afirmou que a prova não foi fácil, mas mostrou-se satisfeito por ter acabado a prova com o seu colega de equipa, Vasco Vilaça.
Do lado das mulheres, a vencedora foi a francesa Cassandre Beaugrand, enquanto as portuguesas terminaram respectivamente no 11° lugar para Maria Tomé e no 45° posto para Mélanie Santos.
Em entrevista à RFI, Maria Tomé, que não estava à espera de alcançar este resultado, realçou sobretudo o facto da prova ter decorrido no Rio Sena.
Igualmente ao microfone da RFI, Mélanie Santos estava decepcionada com a sua prova e já apontava as baterias para a prova de segunda-feira, a estafeta mista por equipas.
A selecção portuguesa na estafeta mista por equipas vai contar com as duas atletas femininas e os dois masculinos.
No entanto a polémica em torno da qualidade da água do Rio Sena vai voltar à ribalta para a prova que decorre na segunda-feira 5 de Agosto, e também antes das provas de águas abertas, uma maratona de 10 quilómetros de natação que vai também decorrer nas águas parisienses, a 8 de Agosto para as mulheres e a 9 de Agosto para os homens.
Tanto na terça à noite, bem como quinta-feira de manhã, houve chuva na capital francesa, o que vai ditar novas análises nos próximos dias para tentar salvaguardar a saúde dos atletas.
Os Jogos Olímpicos em Paris decorrem até 11 de Agosto.
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